segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Preparando para a guerra

O período entre o leilão de sessões e o momento em que você senta a bunda na poltrona do cinema para a sua primeira sessão é sempre um momento de fazer preparativos de guerra. Basicamente vou desaparecer dentro de uma sala de cinema e só sair duas semanas depois. Então há sempre uma correria de última hora para abastecer a geladeira de comida pronta, comprar muita ração para os cães, não esquecer de comprar papel higiênico e Omo. Porque vou usar cada peça de roupa que tenho no armário, mesmo aquelas camisas que tem furos ou faltam um botão porque chega uma hora em que eu me toco que não tive tempo para lavar roupa e tudo o mais está suado e amassado na cesta de roupa suja. E aí os vizinhos querem te matar porque você está centrifugando roupa às três da manhã. E rapidamente descobri na casa nova que não existe isso de entrar em casa discretamente às altas horas porque o raio do cachorro do andar de baixo late até para baratas passando lá fora na vila. Geralmente é o momento para tosar o cabelo porque você vê que está muito cabeluda e não quer pensar em como vai se pentear pelas próximas duas semanas. Você vê se tem pilhas para a lanterna (afinal de contas, você está trabalhando num cinema escuro), se o guarda-chuva está na mochila, se não esqueceu de buscar seu crachá (que felizmente não tem uma foto horrenda, ao contrário do crachá da Mostra de São Paulo) e que o pen drive está contigo. Você compra biscoitos de cachorro para dar como uma pobre compensação para os seus peludos que vão ficar largados em casa o dia todo. Você chega, cai dura na cama, acorda cedo, trabalha furiosamente para fechar sei lá o que e sai voando para mais uma sessão e vai ser isso até o fim do festival. Os coitados ficam meio carentes.
Isso sem falar que você está voando baixo para fechar os filmes que está traduzindo e se toca que pegou filmes demais de novo para o tempo que tem. Mas compromisso é compromisso e você vira noites para entregar o trabalho.
E por último, geralmente na véspera, preencho um caderninho com as sessões de cada dia, horários, cinema, duração. É uma maneira de guardar onde vou estar a cada dia. E sempre anoto o dia da semana porque inevitavelmente você perde a noção do tempo quando sua vida vira uma sala de cinema, um laptop e apertar um botão.
A guerra vai começar. Temos de chegar vivos do outro lado.

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