terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ser cão

Sento aqui no escritório, trabalhando, e no corredor está minha grande baleia peluda, Wilson, dormindo tranquilo, roncando. Invejo a capacidade dos cães de poderem dormir em qualquer lugar e a qualquer hora. Especialmente no meio do Festival do Rio, quando estou caindo de sono e precisando de um cochilo, eu queria fazer que nem o Wilson e simplesmente deitar no chão e dormir em cinco segundos. Ser cão pode ser tudo de bom.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cozinhar é bom, gostoso

Nossa, como esse mussaman curry é gostoso. O prato ficou uma delícia e pretendo repetir assim que puder. Talvez fique gostoso também com carne de porco. Vou testar. Cara, como é bom saber cozinhar.

Monday, monday

O Festival do Rio já vai acenando à distância. Tenho meu primeiro filme, um documentário sobre catadores de lixo no Egito. Vou começar a traduzi-lo hoje. Espero fazer mais um filme ainda esta semana, mas isso não depende só de mim. Enquanto isso, vou equilibrando outros trabalhos, um livro, duas séries, uma para dublagem e outra para legendagem, alguns textos para uma agência de tradução técnica. Hoje é dia de ter preguiça. Também é dia de pensar no meu cardápio da semana. Ainda estou tentando reproduzir a comida que vi ser feita no Thai Brasil em Paraty com resultados promissores. Na sexta, fiz um curry verde de frango com batata doce ao qual acrescentei jiló. Ficou super bom. Hoje vou fazer um curry mussaman, ou seja um curry de carne com batata. Eu não como carne há séculos. Ando me entupindo de frango. Tenho de voltar para a loja de produtos orientais esta semana para comprar alguns ingredientes que faltam para que eu possa tentar fazer o frango agridoce que aprendi na minha última aula de culinária asiática. O sabor do frango ficou super. E quero experimentar fazer esse frango com uma mistura de outros sabores. Acho que vai ficar legal.

domingo, 29 de agosto de 2010

Diálogos

Me perguntaram no sábado para onde eu viajaria no Brasil se eu pudesse viajar de férias. E me ocorreu que se eu pudesse sair de férias, eu não iria viajar. Minha ideia das férias perfeitas é passar um mês inteiro na Travessa, escrevendo. Faz tempo que não consigo passar o fim de semana todo na Travessa e desconfio que vai levar um tempo até que eu possa fazer isso de novo. Mas eu precisava relaxar e foi muito bom, hiper, super, ultra, fantástico fechar a cena que comecei no sábado e chegar num ponto completamente diferente para a personagem de um jeito que a iluminou e revelou uma fragilidade até então inédita. Esse é o grande barato de escrever para mim, chegar naquele ponto em que surpreendo a mim mesma.
Foi um longo diálogo e eu ando percebendo que escrever diálogos está ficando mais complicado a cada ano. Antes eu escrevia diálogos longos, enormes sem pestanejar. Agora eles custam um pouco a vir. Dei algumas caminhadas pela livraria para tentar pensar no próximo passo. E as falas me vêm um pouco de cada vez. Primeiro tem uma base, depois começo a acrescentar os detalhes, as reações, os gestos. E depois vou acrescentando mais e mais camadas até achar que o quadro está terminado.
Só desanimo um pouco quando penso que vou ter de digitar essas 400 páginas de caderno para poder começar a terceira versão. Quem me dera eu pudesse contratar uma secretária para fazer isso por mim. Mas a coitada teria de entender minha letra (o que não é fácil, acreditem) e saber inglês também já que tenho a mania de escrever tanto em inglês quanto em português. Isso não daria muito certo. Vou acabar achando um jeito qualquer, nem que eu acabe acampando na livraria com meu notebook.

Oito horas

Quando você vira noites e noites para terminar trabalhos que estão atrasados ou para que não atrasem, dormir oito horas direto se torna um grande luxo. Acordo e minha vontade é virar pro lado e continuar dormindo. Não posso. Preciso sair para um almoço. O tempo abriu, está ensolarado (eca!), ouço o barulho de crianças brincando em algum lugar próximo daqui. Preguiça. Mas assim que eu sentar no café da Travessa e pedir minha primeira Coca-Cola, a preguiça vai passar e as palavras vão começar a correr da pena com toda velocidade. Eu posso sentir.

Decisões

Nada como um bom dia de trabalho na livraria. Decidi mexer no que seria o ponto chave da conversa entre os irmãos na quarta parte do romance já que um dos personagens chegava a exatamente a mesma conclusão que na parte anterior e vi que isso não teria graça nenhuma. Quando comecei o romance, me propus a criar uma história em que os personagens tomam decisões que os levam a conclusões diferentes em cada história. O dilema é o mesmo para todos eles e cada um responde a seu modo. Ainda tenho que terminar de encaminhar a cena que comecei hoje, mas acredito que ter a chance de descansar e refletir sobre isso antes de retomar este domingo vai ser bom. Já tenho 380 páginas escritas em três cadernos. Nada mau. Depois vou ter de sentar e reescrever toda a segunda parte como um monologo. Acho que faz parte mudar de ideia e ir em outra direção. Fiz isso no outro romance também. Se for fácil demais não tem graça. Avante.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Saindo pelas orelhas

Cansada, com sono, com trabalho saindo pelas orelhas. Fui e voltei da FLIP e nada mudou muito nesse quesito. E nada vai mudar até eu chegar em meados de novembro. Esses são os meses mais movimentados do meu calendário profissional e tenho de aproveitar para criar uma reserva. Com sorte, poderei tirar dezembro de férias. Quero me dedicar a fechar o romance. Por ora, vou me dar o fim de semana para descansar, recarregar as baterias e na segunda, recomeçar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Os três mosqueteiros (2)


Aqui estão os cães animados de Paraty.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Lindas capas

O blog da revista portuguesa Ler está publicando durante o mês de agosto uma série com lindas capas de livros. Vale a pena conferir. Se não achar uma série de quatro capas logo de cara, é só rolar para baixo e você vai ver várias. O blog da Ler fica aqui.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mesa 10, o livro do filho

Eu achei ontem uma descrição perfeita da mesa do Salman Rushdie, escrita pela jornalista portuguesa Isabel Coutinho no blog dela. Eu já comentei sobre a mediação do Sílio Boccanera, que não foi tão boa quanto poderia ser. Para mim, o que acabou ficando como o destaque da mesa foi Rushdie chamar ao palco o filho, todo envergonhado, no início da mesa, para exibi-lo ao mundo. Foi uma coisa carinhosa e muito típica de pais orgulhosos. Achei uma gracinha. Bom, para saberem mais da mesa 10, com a palavra, Isabel Coutinho.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cinco dias

Paraty significa uma série de coisas para mim. É um dos poucos lugares onde minha cabeça silencia. No Rio, assim que eu saio de casa, começo a pensar no texto que estou escrevendo e se tenho a chance de sentar em algum lugar, é quase inevitável que eu comece a escrever. Mas em Paraty, sentada no café da Tenda dos Autores ou no Café Paraty, eu me contento em ficar quieta, vendo a vida passar. Os cinco dias da FLIP acabam virando um tempo para eu descansar mentalmente, esvaziar a cabeça. Cada dia parece ser muito longo e vale por dois. Tenho dificuldade para lembrar o que fiz no dia anterior, que parece ter sido há séculos. Eu gosto das mesas da FLIP muitas vezes porque me permitem descobrir escritores que eu não conhecia. Em 2005, eu não conhecia Salman Rushdie e gostei muito do texto dele. Também não conhecia Will Self ou David Grossman ou Ronaldo Correia de Brito ou Gonçalo Tavares. Para mim, essa descoberta de novos escritores é uma das melhores coisas da FLIP. E é sempre uma chance de poder observar as pessoas. Num lugar com 20 mil pessoas, há sempre várias figuras interessantes. Este ano foi um dos intérpretes de estátua viva vestido de Jack Sparrow e que imitava perfeitamente os gestos do Johnny Depp. E tem sempre a comida do Thai Brasil cuja morte prematura foi anunciada nos jornais, mas continua vivo fora do Centro Histórico e servindo pratos deliciosos. Fui lá toda noite e fui recebida com enorme carinho. Comer bem é sempre um componente importante da viagem a Paraty. São cinco dias em que posso descansar, esvaziar a cabeça e recarregar a bateria para o que vou enfrentar na segunda metade do ano. E é sempre uma delícia.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mesa 8, os estrangeiros

O que me pegou nas mesas deste ano é que quase todas tocavam em alguma coisa que me interessava literariamente. A mesa com William Boyd e Pauline Melville me interessou por juntar literatura e a condição de ser estrangeiro em sua própria terra, uma sensação que conheço bem. E acho que dava para ver nos dois escritores que eles não são pessoas que estão completamente à vontade no mundo. E isso é algo que me interessa. Gosto de personagens que estão deslocados, que não estão à vontade na situação em que se encontram, seja um casamento, um país, um emprego. Tem algo incomodando e é esse incômodo que vai mover a história. A leitura do trecho do romance da Pauline Melville descrevendo a queda de um avião foi impressionante, mas ainda mais impressionante foi a descrição que ela fez de um ataque que ela sofreu em seu apartamento há alguns anos, especialmente porque ela se manteve calma e racional e até conversou com o seu agressor. Muito louco.
Eu já tinha ouvido falar do William Boyd há alguns anos, o romance dele Any Human Heart está na listagem do The Guardian de 100 livros que você precisa ler. E a cereja do bolo foi a pequena aula que ele deu da classificação dos diferentes tipos de contos. Essa parte foi bem iluminadora.

domingo, 15 de agosto de 2010

Mesa 4, Allende e Antonio Banderas

Eu já falei sobre a mesa da Isabel Allende, que foi divertidíssima. E acho que muito disso se deveu à mediação do Humberto Werneck, que basicamente a entrevistou com bom humor e carinho. Acho que ele estava se divertindo tanto quanto o público. Nem sempre escritores são personagens interessantes. Muitas vezes eles são apagados e tímidos, ainda mais jogados na frente de uma plateia de 600 pessoas. Isabel Allende não é nada apagada, muito pelo contrário. É uma mulher vaidosa, extrovertida e sempre tem muito o que dizer. Algumas das partes mais divertidas da mesa tiveram a ver com sua vida particular, como quando ela descreveu como o marido pensa que fala espanhol e acaba contaminando o texto que ela escreve com o seu "espanglês". Daí ela tem de mandar alguém revisar seu texto para remover as influências do marido. E perguntada se ela ainda era apaixonada por Antonio Banderas, ela não titubeou, disse "sim" na lata. A gargalhada foi geral. Foi uma ótima maneira de terminar o meu primeiro dia de mesas.

Totens na noite

Eu gosto do frio que anda fazendo. Gostei que fez frio durante quase toda a FLIP. E nas noites de sábado, quando saio da Argumento por volta da meia-noite, sentindo a satisfação de um bom dia de labuta literária, adoro sentir aquele frio da noite, 16, 17 graus, e passar pelos fradinhos pintados de totens do Pacífico Sul por algum grafiteiro a caminho do supermercado para comprar meu suprimento semanal de coentro e cebolinha e frango e, quem sabe, um pouco de Ruffles de cebola ou sorvete de chocolate da Kibon que eu não sou de ferro. E agora estão tirando os fradinhos e fico me perguntando quando é que vão sumir os meus totens. Eles meio que viraram meus amigos. Quando passo por eles, eu sempre avalio como foi meu dia, procuro aquela sensação de satisfação que frequentemente vem à tona justo na hora de atravessar a rua. E se eu penso, Life is good, e tenho vontade de sair pulando pela rua, então foi um bom dia. Tomara que demorem para retirar os totens porque minha rotina do sábado não será mais a mesma sem eles.

Sutileza

Este sábado foi um bom dia. Escrevi coisas novas, inspirada pela releitura de We Need to Talk About Kevin, agora já devidamente autografado pela Lionel Shriver. O surgimento de cenas novas é sempre um bom sinal para mim. O que eu vejo mais uma vez é o quanto esse último personagem já está fixado na minha cabeça ao contrário das duas personagens do meio, cuja coerência eu ainda estou buscando. Aos poucos, acho que estou entendendo a cabeça delas, o que provavelmente significa ter de reescrever pedaços enormes do texto, mas eu não ligo. O desafio é que me interessa. Uma das coisas que eu falei para Lionel Shriver em Paraty enquanto estava alugando ela é que muitas vezes o que fica mais para mim de um livro é a estrutura, especialmente uma estrutura que é essencial para o entendimento do livro. O grande barato do Kevin é que como é um livro epistolar, você acaba supondo um monte de coisas sobre o casamento da protagonista Eva, sobre onde estão o marido e a filha dela depois da separação. E nisso, você acaba enganado sobre uma série de coisas e ela consegue dar a grande surpresa do livro lá no final. Kazuo Ishiguro é outro escritor que eu admiro muito por só nos contar parte da história. Mas ele usa isso com outro efeito. Por exemplo, em The Remains of the Day, narrado em primeira pessoa por Stevens, o mordomo e protagonista da história, a ideia é manter a fachada impecável do mordomo e ocultar tudo aquilo que poderia manchar isso. É só na reação de outros personagens que você descobre o que Stevens não está contando.
A verdade é que por mais que eu admire esses escritores, nunca consigo escrever desse jeito. Na vida, assim como na literatura, eu sou uma matraca. Tenho de contar tudo até o fim. Sutileza nunca foi muito comigo. Talvez eu acabe aprendendo um dia.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

15 minutos


Acredite se quiser, vou ter meus 15 minutos de fama. Serei entrevistada na Rádio Nacional 1130 AM pelo Oswaldo Sargentelli Filho neste sábado, ao meio-dia e o programa vai até às 14h. Vou falar principalmente da FLIP. Se vou pagar mico ou não, não sei. Acho que depende do quanto eu fique nervosa. De todo modo, assim que terminar, vou direto para a Travessa. Desconfio que se fico tempo demais longe de lá, começo a ter uma crise de abstinência. No domingo, durante uma das mesas, começou a vir um texto muito forte e quero terminá-lo porque não tive tempo para mais nada naquele domingo já que ia viajar de volta às 21h. Preciso retomar o romance, estou começando a ficar impaciente com todas as interrupções que tenho sofrido ultimamente. Mas este sábado eu vou produzir bastante ou vou ficar muito pê da vida.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Clark Kent em Paraty 2010


O melhor de Paraty foi poder simplesmente sentar e não fazer nada.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mesa 3, os brasileiros

O que eu achei legal da mesa 3 é que apesar dos três escritores, Beatriz Bracher, Ronaldo Correia de Brito e Reinaldo Moraes, não terem muita coisa em comum literariamente, ainda assim foi uma mesa super interessante. Talvez até pelo fato dos três serem brasileiros. Reinaldo é uma figura interessantíssima, cheio de histórias engraçadas. Já tinha visto o Ronaldo em 2005 e gostei muito do texto dele. E tenho muitos livros da Beatriz. Mas o que ficou para mim foi a questão de como o projeto literário sempre que fica sujeito às circunstâncias, à conjunção dos fatores. Por exemplo, o Ronaldo contou de como tinha uma ideia para um conto inspirado por um paciente que ele tratou, mas que só conseguiu ser escrito quando ele reuniu todos os elementos que precisava. E todos eles tinham histórias semelhantes para contar. Gosto da ideia de que há sempre algo de imponderável na escrita, algo que não controlamos completamente, sendo escritores experientes ou não.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mesa 2, crimes e escolhas

A Mesa 2 foi a minha primeira. E, sinceramente, era a Lionel Shriver que eu queria ver. Até tinha há alguns anos chegado para o curador da FLIP e sugerido o nome dela. Gosto do texto dela, do seu senso de humor e sentia que esta seria uma mesa interessante. E foi. O mais engraçado foi o mediador, Arnaldo Bloch, dando uma de tiete da Lionel. Ele claramente gostou de The Post-Birthday World, algo que ele reiterou hoje no Prosa na Livraria desta noite. O que ficou para mim de mais forte dessa mesa foi o tema das escolhas, tanto a escolha amorosa, quanto a escolha de ter ou não um filho, a escolha de cometer ou não um crime. E gostei de algo que a Patrícia Mello falou, de que muitas vezes você não parece ter uma escolha, mas na verdade só não quer enxergá-la. Esse é um tema que anda me interessando bastante por conta do que estou escrevendo agora.

La Allende

Uma excelente descrição da mesa da Isabel Allende, um dos pontos altos da FLIP deste ano, ao menos para mim. Uma coisa que eu aprendi nesses anos de frequentar a FLIP é que o que constitui uma boa mesa depende da visão e expectativas de quem assiste. Eu achei ela muito divertida. Só senti falta da leitura de um trecho do livro dela para sentir como é seu texto. A descrição é da jornalista portuguesa Isabel Coutinho e você o encontra aqui.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Clark Kent descansando em Paraty


O barato da viagem é que, ao voltar, parece que você passou semanas fora. É tão bom poder relaxar para variar.

O pinguim e o segurança


O casal do ano em Paraty.

A volta

A melhor coisa da volta foi a alegria dos meus cachorros. Pularam, brincaram, passaram o resto da madrugada se esfregando em mim. Hoje de manhã, ao acordar, Wilson já estava fazendo meu braço de chiclete de novo. O amor para mim não é azulzinho. É grande, preto, meio gordo, e adora ficar de língua de fora.

Flipílulas (2)

  • Na noite de sábado quase fui atropelada por Cristovão Tezza, Flávio Carneiro e Luiz Ruffato. Os três estavam vindo a toda velocidade para pegar uma mesa num restaurante na Praça da Matriz e eu, por um acaso, estava no meio do caminho, parecendo uma tartaruga porque meus pés não aguentavam mais as pedras da cidade.
  • Eu, por minha vez, quase atropelei o Luiz Schwarcz na quinta de manhã na porta da Casa da Penguin ao virar e de repente ver o homem atrás de mim.
  • Hoje, manhã de domingo, passo pela porta da Casa da Penguin e cadê o segurança mal encarado? Nada. Mais tarde, voltando pelo mesmo caminho, lá estava o homem de novo, com a mesma cara de desagrado. Ano passado, o casal mais comentado foi a Sophie Calle e o ex-namorado. Este ano foi o pinguim e o segurança.
  • Hoje de manhã, na Tenda dos Autores, avistei um rapaz com camiseta do Lanterna Verde. Já tendo visto um Super-Homem e uma Mulher Maravilha, comecei a me perguntar onde estava o Batman, pois era só ele que faltava na festa.
  • Uma melhoria excelente foi o alargamento da ponte velha que liga o centro à Tenda dos Autores. Ali costumava engarrafar terrivelmente nos horários mais movimentados.
  • Outra coisa que funcionou super bem: não ficarem segurando o público horas e horas na fila antes de permitir a entrada na Tenda dos Autores. Eu só esperei na fila para a mesa do Salman Rushdie. Em todas as outras, sentei no café da Tenda dos Autores e só fui para a fila quando abriam as portas. Foi infinitamente menos cansativo dessa forma.
  • A cidade fica cheia de pessoas se apresentando, mímicos, atores, músicos, artesãos, o que seja. Só hoje eu vi uma banda de jazz e uma bateria de escola de samba. Então quando ouvi uma gritaria na Tenda dos Autores enquanto esperava a mesa do Benjamin Moser, achei que fosse uma apresentação teatral ou coisa que o valha. Não era. Uma mulher, aparentemente bêbada, estava no balcão do café, gritando impropérios para os atendentes do café sei lá por que motivo. Começou a juntar gente e vi dois armários indo na direção dela. E foram eficientes porque a gritaria terminou imediatamente. Barraco na FLIP é a primeira vez para mim.

There's no place like home

Home again. Depois de sofrer nas pedras de Paraty, minha vontade ao desembarcar aqui no Rio é de beijar o asfalto. Tenho de lavar minha roupa toda, guardar os livros que comprei, guardar todas aquelas coisas que te dão nas ruas e que eu coloco numa caixa como memória da FLIP daquele ano. Tenho muitas anotações que fiz durante a FLIP e que vou postar aqui. Só que eu descobri a duras penas que embora seja mais fácil atualizar o blog se você carrega o notebook com você, no fim do dia você quer jogar o notebook longe porque não aguenta mais carregar aquele trambolho pesado por aí. O remédio é tentar atualizar o blog quando se volta para a pousada. Só que aí você está morto e desmonta cinco segundos depois de botar o pijama. Mas não se preocupem, minha meia dúzia de fieis leitores, eu continuarei meu diário da FLIP mesmo aqui no Rio.

domingo, 8 de agosto de 2010

Os três mosqueteiros

Um dos pontos altos do meu sábado. Três cães de rua brincando na grama na rua de terra que dá de frente para a Baía de Paraty. Tinha um casal de seus vinte e poucos anos sentado na grama, tentando ler, mas os cães estavam tão absortos em sua brincadeira que meio que atropelaram o casal. E quando o casal tentou se afastar, os cães começaram a brincar com eles. Detalhe, entre os cães tinha um poodle (branco que virou cinza de tão sujo) com cara de tarado que só queria saber de transar com um dos cachorros do trio. Havia um grupo de turistas visitando a igreja que fica ali perto e logo estava todo mundo só olhando os cachorros. Uma hora lá, os cães cansaram daquela brincadeira e saíram correndo para outras paragens. Mas por uma boa meia hora eles viraram a atração do dia.

Flip, terceiro dia

Terminei o dia com o perfume de curry tailandês, uma fisgada de gengibre, como não podia deixar de ser. Esta também é uma de minhas razões para vir à Paraty. O novo Thai Brasil fica instalado numa casa de madeira linda no Portal. O plano é aberto e o terreno em volta está repleto de plantas, árvores, arbustos, o que reforça ainda mais a sensação de se estar na Ásia. Eu moraria numa casa dessas sem hesitar. Eu teria de virar milionária para poder pagar por uma casa dessas, mas moraria. Poucas vezes em minha vida fui recebida com tamanho carinho nos lugares que gosto de frequentar. Isso fez de mim uma cliente fidelíssima. A comida é saborosíssima, feita com carinho, o que é outra coisa que garante que eu volte sempre. Foi a melhor maneira de fechar o meu dia, com boa comida e entre amigos.
Minha primeira mesa do dia não começou tão bem, mas acho que detectei no William Boyd e a Pauline Melville aquele ligeiro mal estar no mundo que acompanha as pessoas que vivem numa espécie de desterro permanente. Se você junta duas pessoas assim, o resultado é meio desconjuntado, mas interessante. E a mesa terminou com o Boyd descrevendo a classificação dos diferentes tipos de contos, o que foi uma aula por si só. Muito bom.
A mesa com Salman Rushdie não foi bem o que eu esperava, mas talvez a comparação seja injusta. A primeira mesa que assisti dele em 2005 tinha a presença de uma jornalista inglesa que o conhecia muito bem e conduziu a conversa de maneira maravilhosa. Sílio Bocanera, o mediador da sexta, ficou muito tempo focado em questões políticas para irritação do próprio Rushdie. Mas quando a coisa virou para a literatura, a conversa ficou infinitamente mais interessante.A melhor hora foi quando ele falou dos deuses descartados, os deuses romanos, gregos, nórdicos que foram descartados com o passar dos anos e que deixaram para nós um rico tesouro de histórias, as diversas mitologias em que podemos nos alimentar para escrever outras histórias.
No sábado só terei o Colum McCann e um dia vazio pela frente. Aí sim, quero ser Super-Homem, quero voar. Não tive muita chance de escrever até agora, fora minhas anotações para o blog. Afinal de contas, sábado é dia de Clark Kent voar.

sábado, 7 de agosto de 2010

Only in Paraty

Lionel e eu

Acho que todo mundo tem uma porção tiete que vem à tona em determinados momentos. Canso de ver atores e atrizes da Globo na Travessa. A gente pega, registra, acha legal, continua com o que estava fazendo antes, imperturbável (embora confesse que quando vi aFernanda Montenegro aparecer outro dia no segundo andar, eu fiquei meio boba). A verdade é que eles, em geral, não mexem comigo do mesmo jeito que a literatura. E aí eu caio na FLIP, cara a cara com escritores que admiro, e eu não resisto. Hoje, no final da mesa do William Boyd e da Pauline Melville, fui falar com a Lionel Shriver (que avistei do meu lugar na plateia). Conversamos um pouco, falei do quanto gostei do Kevin e do Post-Birthday World, da coisa de como a estrutura do Kevin engana o leitor para que ele chegue a conclusões que não são as corretas. Coisa de cinco minutos. Quando já estava quase indo embora, chega Patrícia Mello e tive a chance de presenciar a conversa das duas, que claramente curtiram a participação juntas na mesa da quinta. Lionel lamentou não ter tido a chance de ler algo da Patrícia e a Patrícia ficou de mandar seus romances para a americana. Elas falaram de assistir outras mesas e a Patrícia seguiu caminho. Eu me despedi da Lionel e segui o meu caminho. Foi um momento legal do meu dia.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Flipílulas

  • Logo cedo, andando pelo centro histórico, dou de cara com Isabel Allende, baixinha toda vida e em cima de uns saltos que me provocariam medo de altura.
  • Desde quarta-feira, quando eu cheguei, a cara do segurança que botaram parado do lado do pinguim na porta da Casa da Penguin/Companhia das Letras é uma só: eu tenho mesmo que ficar aqui? Uma das melhores sacadas da casa para mim é a geladeira cheia de livros.
  • Tem um sujeito andando pela cidade com uma camiseta de Super-Homem, o contraponto perfeito para o Clark Kent.
  • Costumo ficar importunando os cães de rua daqui de Paraty, sentindo saudade dos meus que deixei em casa. Mas agora que os meus são adotados, sinto mais pena do que prazer ao vê-los andando pela cidade, sem ter quem cuide deles.
  • Coisas que gosto em Paraty: a comida, os livros pendurados nas árvores na Praça da Matriz, a programação visual sempre em cima da cultura popular e do naif, os momentos de quietude sentada no café da Tenda dos Autores, só olhando o movimento.
  • A instabilidade tempo aqui é incrível. Pode esquentar e esfriar em questão de uma hora. Mas pelo menos não está chovendo. Isso é uma maravilha. Andar nessas pedras molhadas é traiçoeiro.
  • Tem um grupo de quatro cachorros correndo e brincando juntos na beira do rio na margem oposta da Tenda dos Autores. Gosto disso.
  • Outra das melhores coisas de Paraty: o Thai Brasil.
  • Não ter nada para fazer é muito bom.
  • Anoitece.

Sendo Clark Kent em Paraty

Estou no Café Paraty, comendo batata frita, dando um tempo para minha primeira mesa do dia às 15h. Tem gente que não curte a FLIP, mas não me incluo entre elas. Entendo perfeitamente quem critica a quase ausência de escritores brasileiros. E depois da mesa da Beatriz Bracher e companhia ontem, que foi uma das mais interessantes que eu já vi de todas as FLIPs, também acho que já está na hora de trazer mais gente brasileira para a FLIP. Tem muita gente boa por aí, gente nova, velha, no meio do caminho. A FLIP é um lugar excelente para divulgar essa turma toda. E devia fazer isso com mais empenho.
Para mim, pelo menos, a FLIP sempre tem dois componentes. Uma é a possibilidade de ver escritores que respeito, conhecer autores que não conheço. A outra é a energia que tanta gente junta acaba gerando. É uma energia que reconheço do Festival do Rio, da Mostra de São Paulo. Até certo ponto, eu me alimento dessa energia. Mesmo tento dormido mal a primeira noite (a velha maldição do colchão estranho), eu aguentei firme até umas dez da noite, quando só então começou a acabar minha pilha e voltei para a pousada. Esta noite já dormi um pouco melhor, provavelmente porque eu andei feito doida pela cidade, e passei parte da manhã andando por aí, olhando, fotografando, fazendo hora até o Café Paraty abrir. A esta altura, fica mais difícil encontrar o que fotografar já que é minha terceira vez na cidade com uma máquina digital, então eu acabo me concentrando em achar a imagem inusitada, algo que não tenha visto antes. Esta deve ser uma das cidades mais fotografadas do mundo nestes cinco dias. Parece que todo mundo tem uma câmera, seja no celular, seja com as lentes monstruosas dos fotógrafos profissionais. E também é a cidade da fila. Fila do autógrafo dando voltas na tenda da livraria porque La Allende estava assinando livros, fila para comprar ingressos, fila do banheiro nos restaurantes, fila para entrar na Tenda dos Autores. E olha que as turbas literatas do fim de semana ainda não chegaram. Essas eu vou encarar ao sair da mesa do Salman Rushdie hoje à noite, aposto. Você já tinha se acostumado com a quantidade de gente na rua e, de repente, esse número parece dobrar e Paraty mais lembra um formigueiro de tão cheia.
Neste ponto também, eu começo a sentir o esforço de andar nessas pedras malditas e vou reclamar delas até o domigo. Parece que a cada ano eu desaprendo mais e mais como se anda aqui. Lama, pedras escorregadias por causa da maré alta de manhã que inundou as ruas perto do mar, os tropeços pelo caminho. Já descansei o suficiente e vou seguir caminho. As batatas já esfriaram, a Coca está aguada. Clark Kent segue viagem.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Fazendo as malas (2)

Flip, segundo dia

Estou numa pousada a cinco quadras do centro histórico e por isso preciso caminhar uns 15 minutos para chegar na Tenda dos Autores. Em outros anos, eu teria ficado vermelhona, esbaforida, com essa caminhada, mas aprendi em São Paulo que a melhor coisa a fazer é caminhar num ritmo natural, sem pressa, que eu chego inteira. O que para uma criatura dedicada ao sedentarismo como eu é uma grande vitória.
De certo modo, a passagem da parte moderna de Paraty para a histórica espelha o mesmo tipo de viagem que faço todo sábado quando parto do Rio Comprido onde moro para Ipanema. Tem o pequeno comércio, as lojas com roupas colantes demais e de gosto duvidoso, uma ou outra padaria, os cyber cafés e as indefectíveis farmácias. Aqui tem tanta farmácia que não deve ter doença que resista muito tempo. Chegando nas ruas de pé de moleque, a coisa muda de figura. Temos restaurantes chiques, lojas de objetos de decoração, butiques com roupas da última moda, pousadas sofisticadas, até luxuosas. Sem falar em toda a fauna que vem ver a FLIP e parece ter vindo aqui diretamente de Ipanema.
Hoje já estou mais no clima de Paraty. Ainda um pouco preguiçosa, mas já instalada no completo modo Clark Kent de ser, olhando, fotografando, anotando o que me interessa. Depois eu vou comentar as mesas, mas cada uma levantou questões que me interessam. E aí, no meio de uma das mesas, uma surpresa, a melhor coisa do dia, dou de cara com amigos que não esperava encontrar aqui em Paraty. Isso tornou o meu dia muito mais agradável.
Como não podia deixar de ser, fui jantar no Thai Brasil, meu restaurante preferido da cidade. Posso almoçar em qualquer lugar, mas tenho de jantar no Thai Brasil. Lamentavelmente, eles perderam a casa deles no centro histórico, mas estão vivos e bem, embora um tanto escondidos no Pontal e numa casa ainda mais bonita do que a original. A comida é boa, a dona é um amor e o atendimento é sempre carinhoso. Melhor impossivel. Tenho certeza que se ela abrisse uma filial no Rio, estaria nadando em dinheiro.
Meu gás por hoje acabou. Amanhã tem mais.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Flip, primeiro dia

Paraty at last. Ufa!
É incrível como me sinto à vontade aqui três segundos depois de chegar. O pior da viagem não é nem o medo que despenque uma barreira na sua cabeça, é aquela última hora de viagem que não termina nunca e você já não aguenta mais ficar encaixado naquela poltrona estreita. Pelo menos em avião dá para levantar e caminhar um pouco. Mas na Rio-Santos, com todas aquelas curvas, nem pensar.
Esta já é minha quinta FLIP e já conheço o centro histórico como a palma da mão. É um pouco como se fosse a extensão da Livraria da Travessa. Tenho meus points preferidos, os restaurantes que gosto de frequentar, as rotas que faço pela cidade. Eu embarquei cedo hoje, pensando em rodar pela cidade aproveitando que a muvuca ainda não começou de verdade, mas foi juntando o meu cansaço da viagem com o cansaço das últimas semanas e fiquei com uma preguiça enorme de andar por aí, mesmo com o tempo nublado e frio. Sentei no Café Paraty, um dos meus points e fiquei olhando as pessoas passarem na rua, meio abestada. Fui jantar cedo e encerrei meu dia. Amanhã, depois de uma boa noite de sono, estarei com mais energia. Até amanhã.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Clark Kent em férias

A ansiedade é fogo. Faltam dois dias para a viagem, mas meu estômago já está todo tenso. Viagem comigo é sempre assim. Não importa se eu vou para Cingapura ou para São Paulo. A antecipação vai aumentando até que eu não consiga ficar parada quieta e fazer aquilo que preciso fazer. Normalmente, não consigo dormir direito na véspera. Este ano, eu não sei. Só a perspectiva de ter cinco dias sem fazer nada é maravilhosa. Clark Kent precisa de férias.

domingo, 1 de agosto de 2010

Chopinho em Paraty

Tem uma coisa que eu adoraria fazer em Paraty mas nunca consegui porque eu sempre vou sozinha: sentar num bar na Baixa Paraty para tomar umas e outras e conversar sobre as mesas do dia. Ano passado tive um gostinho disso pois várias pessoas que eu conhecia estavam lá, mas eu só tive um dia na FLIP para ver a Anne Enright e este ano meus amigos vão ficar no Rio. Por um lado, eu sempre gostei de ficar livre para ir aonde eu queria quando eu queria. Em 2005, por várias circunstâncias, fiquei atrelada aos amigos de uma amiga e tinha horas em que isso não era uma coisa boa quando havia sete pessoas tentando decidir aonde jantar e tudo estava lotado. Chegando a noite de sexta, a cidade enche e não dá para ficar indeciso sobre onde jantar, onde ir, as esperas vão ser longas e não tem remédio. Paciência é necessária. Sozinha, eu decido aonde quero ir e pronto. Com alguma sorte, talvez eu consiga me encontrar com pessoas que eu conheço lá como os funcionários da Travessa que estão lá todo ano. Um amigo meu estará lá trabalhando e torço que ele tenha cinco minutos para tomar um chopinho comigo. Ficar sozinha não é um problema para mim. Estou acostumada a ir aos lugares sozinha, tenho sempre comigo meu MP3 player e livros para me fazer companhia. Estar sozinha é sempre uma oportunidade para observar as pessoas em volta. Em 2007, eu escrevi um diário de Paraty para uma amiga minha que mora fora do Brasil para ela ter um gostinho do que era a FLIP e, quem sabe, tentá-la o suficiente para vir aqui e passar uma semana em Paraty comigo. Nesse diário, eu disse a ela que se people watching fosse um esporte olímpico, eu levaria todas as medalhas. E é verdade. Volta e meia me pegam fazendo isso na Travessa. Eu esqueço que não sou invisível. Mas num lugar lotado como a Tenda dos Autores em Paraty, não tem problema. E pretendo exercitar minhas habilidades até não mais poder.

Fazendo as malas

Fazendo as malas. Que camisas e calças vou levar? Tirei minha lingerie da corda? Onde estão todos os adaptadores e carregadores que preciso levar? Já comecei a preparar minha mochila de notebook com os acessórios necessários. Onde estão meus agasalhos? Na minha primeira FLIP fez um frio do cão e quem não estava preparado para o tempo frio sofreu. Eu fiquei numa boa porque levei dois casacões pesados, mas eu via o pessoal em volta, tiritando de frio. Mas mesmo quando faz sol durante o dia, as noites costumam ser bem frias. Em 2008, eu às vezes ficava no café da Tenda dos Autores, escrevendo e tinha uma hora em que não dava mais para aguentar o frio, eu era forçada a voltar para a pousada. Vou tirar alguns livros da mochila para dar lugar para a câmera, porque adoro fotografar Paraty e acho que um diário da FLIP não estaria completo sem algumas fotos. Ainda há detalhes para cuidar amanhã e vou sair para resolver essas pequenas coisas. E depois disso vou ficar quieta em casa, curtindo a antecipação da viagem, lavando uma ou outra peça final para levar, brincando com os cachorros. Quarta eu embarco, levando meu collant azul e capa vermelha comigo na mala porque, em Paraty, Clark Kent pode ser o Super-Homem pelos cinco dias. E vou curtir isso ao máximo.