quarta-feira, 30 de março de 2011

Esperando por mim

Fui ao centro de novo hoje. Coisas a resolver. Aquilo que os americanos chamam de errands. E no meio de executar esses errands, houve um momento em que me mandaram esperar por meia hora. Tudo bem. Fui a um café ali perto da loja, pedi uma Coca, abri o caderno e comecei a escrever. Não precisei nem pensar um minuto. O texto veio na hora, como se tivessem se passado apenas cinco minutos entre eu sair da Argumento e sentar naquele café. As ideias estavam fresquinhas na minha cabeça. E olha que nesse meio tempo já traduzi um filme e meio e mais um programa, revisei e marquei dois programas. Mesmo com toda essa bagagem na cabeça -- porque, acredite, você guarda essa tralha toda na cabeça -- e um grande déficit de horas de sono, o texto ainda estava ali, esperando por mim. E essa é uma sensação maravilhosa.

domingo, 27 de março de 2011

Abrir uma porta

Tem sempre um momento durante a escrita em que de repente se abre uma porta e você se encontra em um ponto completamente diferente do texto, do personagem, da história. E isso aconteceu ontem, quase no final do dia, na Argumento. É difícil descrever o que se sente nesse instante. O que me deixa animada é perceber, mais uma vez, que esses personagens ainda têm muito a ser explorado. O grande barato de criar personagens é que você sempre pode encontrar mais alguma coisa a ser dita sobre eles, mais alguma coisa que vá iluminar quem eles são. Esse é um dos grandes prazeres da escritura. Eu ainda não terminei a cena que eu comecei na Argumento. Preciso encontrar um jeito de encaminhar a cena para o fim. Ter de esperar até o próximo sábado para continuar escrevendo vai ser fogo.

Vestindo a armadura

Vou confessar à minha meia dúzia de leitores. Todo sábado, quando me visto para ir à livraria, eu tenho a nítida sensação de estar executando um ritual. Eu penso imediatamente naquelas cenas de super-heróis vestindo seus uniformes pela primeira vez. É a mesmíssima roupa de todos os outros dias em que saio para fazer alguma coisa na rua. Mas no sábado, ele faz parte do ritual propiciatório da escrita. Do mesmo jeito que entrar às pressas na Travessa e subir correndo as escadas para pegar uma mesa o mais rápido possível, sacar da mochila os livros e cadernos que vou usar durante o dia. É uma forma de, desde cedo, já ir focando a cabeça no que se vai escrever. Gosto do foco que essa disciplina de sábado me dá. E com isso estou escrevendo direto há nove anos. O que não é nada mal considerando que passei muito anos antes disso quase sem conseguir produzir. Agora é uma ideia de romance atrás da outra. Para mim, o antídoto para a falta de inspiração sempre foi ler e escrever. E se depender de mim, vai continuar sendo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Passeando com o celular

Todo dia eu preciso sair com o Wilson. Não só porque é a coisa tradicional a se fazer, como também, se eu não o levo, ele fica muito chateado. Esse é um cachorro que nasceu para andar na rua. Ele adora passear, ver os carros, as pessoas. E nessa história de passear com meu amado cão, eu vejo as pessoas que circulam no bairro. Tem o pessoal que frequenta a academia aqui do lado de casa, o pessoal que vem da empresa aqui perto, a turma que mora por aqui, as crianças que morrem de medo do Wilson apesar de ele ser o cachorro mais boa praça do mundo. E tem um sujeito que eu vejo volta e meia. Esse é uma verdadeira figura. Ele está sempre falando alto ao celular, de bermuda, sem camisa, descalço, parecendo que está na sala da casa dele pela facilidade com que ele circula pela calçada como se nada fosse, como se não fosse bizarro ter um homem tendo conversas tão íntimas e em trajes tão sumários no meio da rua. Ele anda para cima e para baixo tendo essas conversas que sempre parecem ser importantíssimas e parece ignorar todos que passam por ele. Eu meio que cheguei à conclusão que ele leva o celular para passear do jeito que levo o Wilson na rua. Acho que só falta a coleira. Vai entender.

domingo, 20 de março de 2011

Harmonia no lar

A obra foi concluída, o cano novo instalado, a harmonia do lar restaurada. Obra é sempre um saco. Especialmente porque eu não consigo desligar do que está acontecendo e trabalhar ao mesmo tempo. Dito isto, terminado o conserto, tudo o que eu queria era pegar e sair correndo para a livraria para continuar trabalhando no romance. Quando tenho um dia excelente, o dia seguinte é sempre o mais difícil. Mas eu preciso fechar um filme e terminar um programa então vamos seguir em frente.

Obama, canos, releituras

Comecei o meu dia hoje com Obama e o encanador. Obama chegava aqui na terrinha e, ao mesmo tempo, eu recebia meu encanador para medirmos as distâncias do apartamento para comprar a quantidade correta de canos para uma obra que vai acontecer no domingo. E aí lá fui eu com o homem para a loja de ferragens, tendo que correr para acompanhá-lo porque ele andava muito rápido. E na volta foi pior porque ele praticamente disparou na minha frente carregando metros e metros de canos e eu na retaguarda, carregando o resto do material, botando os bofes pela boca, tradutora sedentária que sou.
Por conta disso acabei chegando mais tarde do que queria na livraria, onde já me esperava minha amiga. Quis bater com a cabeça contra a parede porque nisso o nosso tempo juntas ficou muito curto. Mas pelo menos deu para tirar um pouco da saudade. Eu queria ter jantado com ela, mas isso terá de ficar para um encontro futuro.
Depois que ela partiu, eu me dediquei à segunda leitura do romance. Eu apliquei todas as correções e imprimi um novo manuscrito esta manhã. E com todos os textos adicionais queacrescentei, o manuscrito espichou para 200 páginas. E ainda deve crescer mais. Hoje mesmo eu estava escrevendo duas cenas novas para um dos personagens. Mas é da natureza da estrutura que eu montei que cada personagem precisa ter a mesma quantidade de cenas para quando eu for intercalar as cenas de cada personagem. Daí tenho de pensar no que vou acrescentar à história dos outros personagens. Essa é uma chance para aprofundar algumas questões. E ainda tenho de adaptar as cenas da segunda personagem para que elas se transformem em cartas. Depois que terminar a segunda leitura, o romance vai para a gaveta por um tempo para eu ganhar distância dele e poder vê-lo de uma forma mais objetiva. Nessas horas eu me sinto um pouco impaciente porque esse é um trabalho bem lento e eu queria terminar tudo logo para passar ao próximo projeto. Quem me dera poder viver de escrever.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Para variar

Amanhã, para variar, Travessa. Mas com um adicional. Uma amiga de São Paulo vem me visitar na Travessa neste sábado. Ainda estou debatendo se levo o laptop comigo ou não. Estivemos juntas pela última vez no dia em que voltei de Sampa ano passado. Adoro nossas conversas, especialmente quando pode ser em volta de uma mesa de jantar. Pelo menos quando uma visita a outra podemos tirar a saudade.

domingo, 13 de março de 2011

Brunch

Hoje é o aniversário de uma grande amiga minha que mora nos Estados Unidos. E acordei hoje pensando nela, lembrando da vez em que ela me levou a um restaurante perto da casa dela em Chicago para um brunch. Eu me empanturrei de panquecas com maple syrup, sabendo que não teria chance de fazer isso de novo tão cedo. Gostaria muito de poder sair com ela hoje, comer um brunch, conversar, dizer besteira. É disso que mais sinto falta aqui na minha fortaleza da solidão, de poder ter essa troca mais vezes, o chopinho sem compromisso no bar numa sexta no fim do dia. E também tem um lado meu que quer ficar de lado, só observando o que acontece à minha volta. Hoje acordei com uma vontade enorme de sair andando por aí, ver gente. Não vai dar. Preciso trabalhar. Tem dias em que ser freelancer é uma merda.

Estiva

O Super-Homem voou bem alto no sábado. Foi um dia fantástico. Não só terminei a primeira leitura do romance como consegui escrever duas cenas. Estou começando a sentir que esses personagens precisam de uma base maior para se estabelecerem, poderem respirar de verdade. Está na hora de preencher os claros, botar as filigranas, os detalhes mais finos que dão vida ao texto. No caso da primeira metade, ainda está faltando falar mais do passado. Na segunda metade falta desenhar mais as relações entre os personagens. As cenas que escrevi hoje já começam a me dar isso que eu preciso. Daqui pra frente é tudo estiva. Ler e reler o texto, fazer correções, botar as correções no arquivo, gerar nova cópia do texto, começar nova leitura, escrever as cenas que estão faltando. O texto inevitavelmente vai ficar um tempo na gaveta. Vou dá-lo para uma amiga fazer uma leitura e, nesse meio tempo, vou trabalhar no próximo romance na fila. Tudo o que eu mais queria era voltar para a livraria amanhã e continuar escrevendo, mas me caiu uma tonelada de trabalho na cabeça na sexta. Preciso do dia inteiro para adiantar esse volume todo de serviço. Clark Kent sofre, coitado.

sábado, 12 de março de 2011

Sábado at last

Graças a Deus é sábado. Minha sexta foi uma loucura de trabalho. Estou morta. Preciso do dia de hoje para relaxar, descansar. Ainda bem que existe a Travessa. Acho que ficaria maluca se eu não parasse ao menos uma vez por semana. Não está chovendo como eu gostaria, mas pelo menos não está mais aquele calor sufocante. Até consigo passar um bom tempo sem ligar o ventilador, o que é uma maravilha para minha conta de luz. E fico enormemente grata que não vai haver desfile de blocos em Ipanema. Quero um sábado o mais tranquilo possível. Estou precisando. Agora com licença, porque o Super-Homem precisa voar um pouquinho. Não esquentem, ele vai ali e já volta.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Pegando táxi a unha

O carnaval passou. Ainda bem. Foi ótimo ter três dias para escrever na Travessa. Menos divertido foi ter que pegar táxi a unha no meio da rua porque Ipanema estava cheia de gente querendo táxi também e eu tinha de driblar as turbas carnavalescas e um tanto alegres demais. Teve dia em que tive de sair correndo pelo meio da rua feito uma alucinada para pegar o único táxi vazio na cidade. Pelo menos não terei problemas para ir para casa no próximo sábado. O bom é que já estão me ocorrendo algumas ideias para eu resolver os problemas da terceira parte. A hora em que levo o Wilson na rua é sempre uma boa hora para refletir sobre questões literárias. Desde que ele não me puxe muito pela coleira, claro.

terça-feira, 8 de março de 2011

Terça molhada

Manhã de chuva. Terça de carnaval. Se a Travessa não estivesse fechada, minha tentação seria de ir direto pra lá, tentar ver se consigo dar um jeito na terceira parte do romance. A verdade é que essa sempre foi a personagem mais complicada, aquela de quem nunca tive uma visão muito clara. Fiquei muito em cima do luto e não tratei de outros temas importantes, outras questões. Está faltando a nostalgia que essa personagem teria pelo passado. E ao mesmo tempo, depois da intensidade do primeiro romance, fica complicado achar o tom do segundo. Fico achando que tem emoção de menos. Não sei. Posso estar errada. Afinal, o primeiro pode ser uma pancada na cabeça. Não dá para ter essa intensidade de emoção em tudo o que se escreve. Fica insuportável. Vamos ver o que acontece quando eu terminar de ler tudo no próximo sábado.

Dispersa

Mais um dia na Travessa. Cheguei mais tarde do que eu queria por coisinhas que me atrasaram em casa e talvez por isso eu tenha ficado um pouco dispersa, sem conseguir me concentrar como eu queria. Ou pode ter sido efeito colateral de mais uma noite em que não dormi tudo o que queria. De todo modo, estou bem insatisfeita com o que li até agora da terceira parte do romance. Muita repetição e é um tal de bater na mesma tecla de novo e de novo. Minha personagem está muito chata. Preciso achar outras coisas para ela dizer. Pelo menos durante o jantar já me ocorreu o início de uma outra cena. Já é um começo. Agora, só no próximo sábado.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Dor em mel

O escritor Michel Laub publicou um texto no blog da Companhia das Letras sobre a relação entre autobiografia e a obra do escritor. Não concordo com a ideia de que tudo o que se escreve é biografia. Continuo achando que o exercício do escritor é como o exercício do ator, mas ainda assim é um texto interessante. O texto do Michel Laub pode ser encontrado aqui.

domingo, 6 de março de 2011

Capitão Planeta na folia

Voltando para casa hoje depois de um dia produtivo na livraria, me senti meio alienígena no meio dos foliões que sobraram dos blocos que passaram pelo bairro. De blazer e toda de preto ainda por cima. Vi gente vestida de tudo quanto é jeito, inclusive um sujeito com uma roupa de Capitão Planeta, a cara pintada de azul. Os vendedores da Travessa também mantêm uma tradição de se fantasiarem no carnaval. E algumas fantasias fazem sucesso e ficam passando de mão em mão. Ontem foi um chapéu de pirata que vi em vários vendedores. Hoje foi uma peruca black power com flores brancas que passou de mão em mão com uma frequência que demonstrava claramente sua popularidade. Quase no fim do expediente, com a livraria quase vazia, até um dos seguranças botou a peruca e fez uma imitação razoável de Toni Tornado. Quem não está acostumado ao esquema da Travessa deve achar estranho. É uma das poucas coisas que ainda me divertem no carnaval.
De todo modo, independentemente da zona que está nas ruas, os últimos dois dias foram imensamente produtivos. Terminei de digitar todos os textos e comecei a reler o romance. Cheguei quase na metade do texto e, ainda por cima, escrevi um pedaço do romance que se passa em um só dia cuja ideia eu tive outro dia. É incrível como o texto veio fácil, praticamente sem esforço. Comigo é sempre a mesma coisa. Quanto mais eu escrevo, mais eu quero escrever. Uma ideia puxa outra e mais outra e eu fico doida para registrar tudo isso. No sábado eu escrevi mais um pedaço do próximo romance. Como acho meio inevitável botar o romance atual na gaveta por um tempo, vou trabalhar nele enquanto isso. Como ele se baseia em algo que escrevi há vários anos, uma parte da história já está desenhada, a que se passa em 2009. A que se passa em 1989 nem tanto. Não quero que essa parte de 1989 seja apenas um flashback. Quero que seja uma história com começo, meio e fim, mas ao mesmo tempo tem que se encaixar com o que acontece em 2009. Como eu vou fazer isso? Não faço ideia. Desconfio que 1989 vai se desenhar melhor quando eu fechar o desenho de 2009. Amanhã tenho mais um dia na livraria. Quero ver se consigo chegar mais cedo amanhã. Com mais horas de trabalho eu posso terminar a primeira leitura do romance.

sábado, 5 de março de 2011

The daily grind

Os americanos têm essa expressão: the daily grind. E essa é a sensação que eu tenho no final da semana, que fui triturada e estou em pedacinhos. O sábado é absolutamente necessário para me remontar e conseguir aguentar mais seis dias de batalha. E é uma batalha por cada centavo porque o tipo de tradução que eu faço não é lá muito bem pago. Com algumas exceções, ainda bem. O carnaval é um presente dos deuses. Pretendo me dar três dias inteiros de folga. E o melhor de tudo é que o tempo finalmente virou e está chovendo depois de séculos de calor insuportável. É um alívio acordar com uma chuvinha fina em vez daquele sol filho da mãe. Vou sair daqui muito feliz para a livraria. Com o carnaval, ela deve estar bem vazia, apesar da chuva. Já fui mais interessada no carnaval, assistia todos os desfiles. Agora só quero a chance de descansar e escrever. Pretendo aproveitar essa chance ao máximo.