domingo, 29 de novembro de 2009

A conspiração dos inocentes

Nunca tive muita afinidade com crianças. Nunca soube o que fazer com elas. Não sei falar com elas, não sei como lidar com elas. E, para espanto de muita gente, sou absolutamente imune ao encanto dos bebês. Na época em que eu trabalhava na Intercorp, quando uma mulher atrás da outra resolveu ter filho, todas vieram ao escritório apresentar os pimpolhos após o parto. O mulherio corria todo para ver. Eu continuava sentada na minha baia, trabalhando. Pensei que isso melhoraria quando minha irmã teve seu primeiro filho, mas como ela logo em seguida se mudou para Londres, meus sobrinhos são meio que virtuais e continuo não entendo nada de crianças.
Por isso desconfio que as crianças agora estão se vingando de mim. Ano passado, em São Paulo, numa loja na 25 de Março, fiquei sendo atropelada por uma criança num andador que insistia em passar por cima do meu pé. Hoje, num shopping, umas crianças de uns cinco, seis anos ficaram se jogando na minha frente, impedindo minha passagem e quase me fazendo tropeçar. Ontem, na livraria, uma menininha de vestido rosa ficava parada do lado da minha mesa, me encarando como que para dizer, "Estamos de olho em você". Não foi a primeira vez. Volta e meia pego uma criancinha me encarando. É tudo uma conspiração. Elas estão me observando. Elas estão vindo me pegar.

Quatro patas

Wilson, o novo bonitão que anda aqui em casa, é muito inteligente. Ele entendeu rapidamente onde ele não pode entrar, quando estou brincando e quando quero que ele obedeça a uma ordem. Claro que ele nunca perde uma chance de pedir uma coçada na barriga e ele adora ficar olhando o movimento da rua. Eu o levo até o portão de casa uma ou duas vezes por dia para que possa ver as pessoas e ônibus passando. Ele também aproveita para batizar uma das plantas do pátio de entrada. Minha única grande frustração é que ele não entende para que serve uma bola. Eu jogo a bola e ele não demonstra qualquer interesse. Podia ser uma folha caindo da árvore pela atenção que ele dá a isso. E eu que achei que ia poder brincar de bola com ele. Saco.

Morte súbita

Estou desolada. Meu MP3 player morreu de repente. Fiquei sem minha trilha sonora particular. Socorro!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A influência de Pompéia

Minha avó tinha um livreto sobre a cidade de Pompéia. Não lembro se ela tinha o livreto porque ela tinha visitado Pompéia ou se tinha apenas porque a cidade a fascinava. De todo modo, o livreto tinha fotos das ruínas e páginas em acetato com pinturas que você podia sobrepor sobre as fotos das ruínas e ver como era a cidade antes da erupção do Vesúvio. Ela também tinha uma coleção de livros da Time-Life sobre astronomia, a Grécia clássica, Roma antiga, o mundo natural. Vi e revi esses livros, suas lindas páginas coloridas, cheias de fotos e ilustrações. Minha eterna fascinação por civilizações antigas, eu sei, vem das tantas horas que passei olhando esses livros. E a arqueologia é, dessas ciências todas, a que mais me interessa porque com os menores indícios é possível reconstruir a história de toda uma civilização. Essa ideia de conseguir contar toda a história de um povo a partir de cacos de cerâmica, ruínas de templos, ossos, o que foi deixado para trás é uma que sempre me interessa, ainda mais porque, de certo modo, é isso o que faço toda vez que escrevo. Eu começo com pequenas coisas, gestos, rituais, rotinas, e aos poucos vou construindo personagens, uma pessoa que, com sorte, respira e vive. Dos cacos, um romance inteiro.

Sexta

Sentada aqui no escritório, vendo o vento agitar as árvores que ladeam o pátio de minha muy humilde cabana, fico torcendo que chova para aliviar o calor. Rolo no chão com os cachorros, deixo que o Wilson faça meu braço de osso (eu sei, eu sei, ele fica todo babado depois) e tento explicar à Zequinha o que são meus seios e porque ela não deve ficar pulando em cima deles. Penso no que fazer para o jantar, aproveitando para usar o wok que comprei na Paulicéia. Após assistir Julie & Julia (o filme é a Meryl Streep), estou ainda mais inspirada para tentar aprender a cozinhar comida tailandesa. E não, não vou fazer um blog sobre isso. Mas, claro, amanhã é sábado e estou contando as horas até ir para a cama e acordar no dia seguinte e correr para a livraria.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mistérios

Não sou uma pessoa particularmente meditativa ou que fique ponderando questões filosóficas. Sempre fui muito pão, pão, queijo, queijo. Mas há alguns mistérios nos quais penso de tempos em tempos. Como, por exemplo, por que todos os lugares onde eu moro têm invariavelmente os azulejos mais horrendos do mundo no banheiro, por que sou péssima fisionomista mas consigo lembrar do rosto de atores coadjuvantes em séries de TV com a mais absoluta clareza e quem foi a infeliz criatura que inventou que Coca-Cola tem de ser necessariamente servida com gelo e limão.
Há outras coisas que também fico ponderando. Por que certas famílias são tão unidas que moram todos no mesmo prédio enquanto outras se veem tão raramente que nem parece que existe uma família? O que faz um filho ser parecido com a mãe ou o pai e por que outro não tem nada a ver? Por que alguém nasce tímido e outra pessoa não? O que realmente sabemos um do outro quando dizemos que conhecemos bem uma pessoa? Como é que um mesmo evento atinge diferentes pessoas de uma família de formas diferentes? E será que somos diferentes dependendo da pessoa com quem estamos? Sei que nunca vou responder a essas perguntas quando escrevo. Mas são essas as questões que me fascinam e que fazem com que eu volte ao tema universal da família.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Minha pátria é minha língua

Outro dia, num evento, fiquei conversando em inglês com um americano. Hoje, num outro blog, achei essa antiga frase, "Minha pátria é minha língua". Não é a primeira vez que penso nisso e com certeza não será a última, mas de certo modo minha única pátria real são as duas línguas que eu falo, o inglês e o português. Passei toda a infância e o início da minha adolescência longe do Brasil ou estudando em escolas americanas ou as duas coisas ao mesmo tempo. O resultado disso é que eu nunca me senti realmente brasileira. Na prática, acho que tenho um pé em cada país, o que significa que eu observo os dois a uma certa distância. Sempre me sinto um pouco estrangeira aqui e lá e é uma posição que eu gosto. Ir a São Paulo foi interessante porque me colocou de novo na posição de viajante, que é algo que eu gosto. Ainda não foi a mesma coisa que ir a um país em que não conheço os costumes e a língua, mas quando você não viaja para o exterior há quase vinte anos, qualquer passeio pela Liberdade já vale como uma visita ao Japão.
Durante muito tempo, o inglês foi minha língua secreta, íntima e eu escrevia apenas em inglês. Com o tempo, o português foi entrando de mansinho e passei a escrever em português. Hoje em dia, eu escrevo na língua que me ocorre na hora. É uma coisa que eu não discuto. Claro que tenho de traduzir tudo o que foi escrito em inglês depois, o que é meio chato, mas não deixa de ser uma maneira de trabalhar o texto, pensar na escolha das palavras. E eu sempre acho que meu vocabulário em inglês é melhor, daí sou forçada a achar diferentes soluções quando passo tudo para o português. Não sei direito se o que eu escrevo é a minha pátria, mas é aquilo que mais gosto de fazer. Minha metade Super-Homem é a melhor parte da minha vida. E que venha o próximo sábado.

Never give up, never surrender

Há um filme genial que passou ontem na TV e que nunca me canso de ver. Galaxy Quest (Heróis Fora de Órbita) é uma maravilhosa sátira do fandom de ficção científica, dos atores das finadas séries que permaneciam no limbo profissional porque cometeram a besteira de trabalhar numa série de ficção científica, sacaneia carinhosamente Jornada nas Estrelas a cada oportunidade e, para os fãs que conhecem, rouba a ideia de um conto publicado nos anos 70 sobre Jornada em que os atores originais vão parar numa Enterprise de verdade, e aproveita esse conceito ao máximo para fazer um filme que é simplesmente hilário do início ao fim.
A ideia básica do filme é a seguinte. Uma série de sucesso dos anos 80 foi cancelada e seus atores nunca mais conseguiram se empregar na indústria. Para ganhar uns trocados, eles comparecem a convenções de ficção científica, inaugurações de lojas, coisas do gênero. Mas após 18 anos disso, eles estão de saco cheio de viverem às custas de seus antigos papéis. De repente aparecem esses alienígenas para quem os episódios da série são "registros históricos" e reproduziram tudo que havia na série, nave, uniformes, tecnologia, num esforço para se salvarem pois eles enfrentam um terrível vilão. E aí eles levam os atores da série para a nave para ajudá-los a se salvarem. E a aventura começa.
Para quem conhece o universo da ficção científica (ou falando mais claramente, quem é nerd e anda por aí com um bonequinho do C-3PO no chaveiro), o filme está recheado de piadas internas maravilhosas. É realmente uma pena que esse filme nunca foi devidamente promovido nos EUA e aqui. Uma das melhores cenas é uma em que a Sigourney Weaver e Tim Allen precisam passar por uns pistões que esmagam tudo e a Sigourney compreensivelmente reclama que quem escreveu o episódio em que os pistões aparecem devia morrer.
Enquanto isso, na telinha, recomendo The Big Bang Theory, uma comédia genial para quem quer entender os nerds e seu universo. O texto é uma delícia e o Jim Parsons, que faz o Sheldon, foi até indicado para um Emmy este ano. Ele merecia ter levado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Verão

Céu azul, sem nuvens, pessoas curtindo o calor na Lagoa, andando de bicicleta, correndo, passeando com seus cães, nenhuma previsão de chuva no horizonte. Odeio isso. Odeio calor. Odeio suar. Odeio verão. Odeio horário de verão, prolongando o sol até tarde. Meu negócio é chuva, tempo cinzento, frio, ar condicionado. Quero poder andar pela rua sem perder litros de suor. Quero um white Christmas, quero neve, quero um Natal que se pareça com os Natais que tive quando era criança. Tenho saudade de patinar no Rockefeller Center (mas não do meu corte de cumbuca horroroso), daquela árvore gigante e da decoração de Natal cheia de luzes, de fazer bonecos de neve, de ter brigas de bola de neve quando nevava o suficiente em Manhattan, de ir esquiar (mesmo nao sendo muito boa e ter caído e levado uma pancada na cabeça), de sentir aquele frio seco e cortante. Não sou alguém muito afeita a nostalgia, mas eu sinto falta do inverno, de ter quatro estações definidas. Agora entro em contagem regressiva, torcendo que o verão vá embora logo e me traga de volta o tempo fresco.

sábado, 21 de novembro de 2009

Antecipação

Roland Barthes falou sobre o ritual propiciatório da escrita em O Império dos Signos. E esse ritual tem tudo a ver com deixar sua cabeça no ponto para escrever, permitir que as ideias possam fluir da forma mais livre e desimpedida possível.
Meu ritual passa pela antecipação, essa ansiedade para que o sábado chegue logo para que eu possa vestir meu collant azul, a capinha vermelha. Escolho minha roupa com antecedência, coloco-a de lado, considero se vou levar algum livro extra na mochila, penso na melhor hora de sair de casa para aproveitar ao máximo o tempo que tenho. Depois tem o banho, vestir a roupa que escolhi, que é meio que meu disfarce para o dia, pois ninguém pode saber que sou o Super-Homem, e aí chegar em Ipanema, comprar os suplementos literários do dia, atravessar a rua e me instalar em uma de minhas mesas de sempre, pedir uma Coca Light. O trabalho da escrita pode começar então.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Árvore

Hoje, voltando para casa, passei pela árvore de Natal sendo montada na Lagoa e que deve ser inaugurada semana que vem. Morando sozinha há uns 15 anos, eu nunca vi muito sentido em decorar minha casa para as festas, ainda mais porque há muito tempo eu parei de curtir esta época do ano. Mas eu gosto da árvore da Lagoa, gosto de passar por ela a caminho de casa nos sábados e depois que a removem no início de janeiro, sinto sua falta pelo resto do ano. É um pouco como se ela fosse a "minha" árvore de Natal. Não sei explicar direito, mas é assim que me sinto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Gastronomia

Minha passagem por São Paulo terminou de maneira triste, mas uma coisa que eu curti enquanto estive lá foi sair em busca de restaurantes diferentes, especialmente os de culinária típica. Tive algum sucesso com alguns lugares, menos em outros. Por exemplo, entendi porque eu odeio Miojo Lamen. O original que vem fora de um pacote também é uma droga. Mas já sei onde devo voltar ano que vem e trazer companhia para o jantar.
O que é um tanto curioso já que aqui no Rio eu não saio em busca de restaurantes diferentes. Eu tenho minha rotina e é difícil eu me afastar dela. Isso apesar de eu adorar a boa gastronomia. No meu passado negro como filha de diplomata, eu costumava almoçar em restaurantes de crepes e restaurantes japoneses. Viajei para vários países, experimentei todo tipo de comida e sinto falta disso quando passo muito tempo sem ir a um bom restaurante. Cingapura, por exemplo, era um verdadeiro festival gastronômico com quiosques espalhados por toda a cidade vendendo comida chinesa, malaia e indiana. Eles faziam a comida na sua frente e era barato a não mais poder. Eu passava o dia indo de quiosque em quiosque, me entupindo de comida. Hoje lamento não ter experimentado mais tipos de comida e ter ficado na comida chinesa.
Agora quero inaugurar um novo tipo de exploração culinária. Comprei um wok em São Paulo e quero tentar ver se consigo aprender a fazer comida tailandesa. Pior do que a comida que tento fazer em casa não pode ser. Veremos o que vai acontecer nos próximos meses.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Timeless

Nessa época do ano começam a aparecer aquelas listas de melhores do ano (e imagino que melhores da década, embora na prática a década só começou mesmo em 2001) em revistas e blogs e coisa e tal. Nunca vou fazer uma coisa dessas. Eu não lembro o que estava lendo no início deste ano, nem que filmes eu vi, nem nada disso. O tempo, para mim, é uma dimensão um tanto misteriosa. Ele passa e não consigo registrar o que aconteceu quando. Se alguém fosse me perguntar o que eu estava fazendo no dia tal num julgamente de assassinato como fazem nessas séries de TV eu estaria fudida. A única coisa da qual eu tenho certeza é de que em fins de setembro, início de outubro eu estou no meio do Festival do Rio e em início de julho eu quero estar na FLIP, em Paraty. Fora isso, esquece.
Talvez isso tenha a ver com o fato de que nos primeiros anos da minha vida, enquanto ainda estávamos nos mudando de país para país por causa do trabalho do meu pai, os eventos eram marcados não pela data em que aconteceram, mas onde aconteceram. Os dois tremores de terra que senti foram na Costa Rica, a separação dos meus pais aconteceu em Nova York assim como uma maior consciência da arte, minha grande explosão de leitura que me levou a escrever seis meses depois aconteceu numa viagem a China, minhas primeiras lembranças são todas de Nova Orleans. É tudo geográfico. Tenho poucas datas. Acho que isso até certo ponto se reflete no que eu escrevo. Os flashbacks vêm tão facilmente quanto os eventos do tempo presente e tudo é um pouco solto no tempo e no espaço. Mas é orgânico na história. Se não for orgânico, cai fora.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Convivência

Toda nova relação tem seus probleminhas. Você começa a conhecer o outro, o que ele ou ela prefere, gosta de fazer, manias. Exemplo: toda vez que eu deito na cama, o Wilson e a Zequinha acham que isso é um sinal de que quero brincar com eles e prontamente tenho os dois em cima de mim e o Wilson tentando comer o meu pé. Tentar dormir com o pé babado e dois cães em cima de você não é muito agradável. Demora um pouco para convencê-los que estou mesmo tentando dormir. Sair de casa também não anda muito fácil. O Wilson, que é um cachorro de certo porte e forte, passa direto por mim e vai se instalar na porta de casa. Não posso deixá-lo dentro de casa, onde ele pode batizar tudo o que quiser. Claro que não adianta simplesmente mandá-lo sair para o pátio. O único jeito de fazê-lo sair é botar a coleira nele e levá-lo até o pátio, onde ele prontamente sai correndo, feliz da vida. Eu não entendo nada, mas pelo menos assim posso sair de casa. Enquanto isso, a Zequinha não entra no escritório de jeito nenhum. Outra coisa que é engraçada é como o Wilson adora ir para o portão da frente do prédio, ver o movimento das pessoas na rua. Ele é o cão mais sociável que eu já tive. E assim vai, dia a dia, eu vou descobrindo mais e mais sobre eles e acho que eles sobre mim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Back in Rio

Fui a um evento esta noite. E saindo do local do evento senti uma espécie de choque. Após duas semanas naquela coisa interminável que é a Paulicéia, o Rio subitamente me pareceu muito pequeno. Em certos sentidos, o Rio é uma província se comparado com São Paulo. Mas em Sampa há uma coisa meio travada, dura, que me incomoda. Exemplo: estava tirando fotos na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. De repente apareceu uma mulher do meu lado, funcionária da loja, que me disse que eu teria de pedir permissão oficialmente para poder tirar fotos dentro da loja. A mesma coisa aconteceu dentro de um dos cinemas, quando tentei tirar fotos do movimento para o meu registro fotográfico da Monstra. Se a gente estivesse numa base militar, eu entenderia perfeitamente, mas qual o problema de tirar fotos do público de um cinema ou do dragão pendurado numa livraria? Eu canso de tirar fotos durante o Festival do Rio e o pessoal aqui não dá a menor pelota. A mesma coisa na Livraria da Travessa.
Esse tipo de rigidez me desagrada. Impossível ver na Cultura as brincadeiras que vejo entre os funcionários na Travessa, os gritos de gol no fim de semana quando deixam uma das TVs que mostram DVDs no jogo do dia. Essa descontração faz parte do que torna a Travessa minha livraria preferida. E apesar daquela maravilhosa seleção de livros em inglês, a Cultura nunca vai conseguir igualar o Travessão em termos de conforto, bem-estar, informalidade, o clima gostoso que eles criam lá dentro. Por essas e outras, minha lealdade será eterna.

Afinal

Finalmente tive meu dia na Travessa depois de três semanas de ausência. Foi como voltar para casa. Sentei na minha mesinha de sempre, pedi a Coca de praxe, saquei dos meus livros e cadernos, tentei voltar para a história que tinha deixado em ponto morno quando fui a São Paulo. Até escrevi alguma coisa em São Paulo, em geral na Cultura, quando tinha alguns poucos momentos entre sessões. Mas não passou de duas páginas. Vou ter de entrar de novo no clima da história, dos personagens. Agora que acabou a trabalheira toda, posso afinal voltar parte da minha cabeça para o novo romance, para tudo que eu tinha maquinado antes de viajar. Eu fiz anotações, vou consultá-las. Semana que vem devo produzir mais. Por enquanto vou aproveitar que não tenho trinta trabalhos para fazer e descansar um pouco.

domingo, 15 de novembro de 2009

Aniversário

Faz uma semana que fui à Lagoa com minha heróica amiga Claudia e sua filha Angela para enfrentar um calor insuportável e buscar os novos moradores da casa. Bom, as "crianças" estão aqui. Wilson, o macho, tem 4 anos e prontamente se instalou como se tivesse morado aqui a vida toda. Zequinha, a fêmea, tem aproximadamente 9 anos e ainda está um pouco hesitante, tímida. Ela passa a maior parte do tempo na minha cama e quando levanta, só vai até as vasilhas de ração e água ou até a metade do pátio. Mas ela já está começando a se soltar um pouquinho, pulando em mim, brincando um pouco com o Wilson. Acho que ela passou muito tempo em abrigos e fica meio difícil para ela confiar nas pessoas.
O curioso em ter diferentes cachorros ao longo dos anos é que você realmente vê como cada um tem sua própria personalidade, seu próprio jeito, manias, preferências. Quem não tem bichos de estimação talvez não entenda isso. E também não vai entender o que eles significam para quem os têm. Eu não esqueci Dax ou Neguinho. Ainda lembro deles, lembro deles todo dia. Mas ao menos posso dar uma casa e uma nova vida para esses novos cães, para que eles tenham carinho e atenção.

sábado, 14 de novembro de 2009

Sobrecarga

Acho que nunca fiquei sobrecarregada dessa maneira e por tanto tempo. Vida de freelancer significa que você vai aceitando os trabalhos que lhe oferecem. Com anos de prática, fui aprendendo a equilibrar os trabalhos e quantos aceitar de cada vez. Mas de repente recebi uma avalanche de ofertas de trabalho em comparação com o início do ano, quando parecia que o mundo havia me esquecido. E fui aceitando tudo o que me ofereciam. Resultado: passei os últimos três meses trabalhando feito uma louca, numa maratona ainda mais cansativa que a maratona de dois festivais de cinema seguidos. Fiz de tudo, de tradução de séries de TV a versão de roteiros a editoração de um livro. E tudo aparentemente ao mesmo tempo. Minha roommate em São Paulo, Livia, pode atestar que dormi muito pouco durante a Mostra. Na verdade, eu já não estava dormindo direito desde o Festival do Rio. Ou seja, tenho muitas horas de sono para recuperar. Farei isso aos poucos nas próximas semanas.
Mas afinal essa super hiper ultra maratona chega ao fim neste fim de semana e vou começar a semana que vem com apenas uma tarefa. Férias, at last. E poderei curtir meus novos cães afinal.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Caras novas

Fui ontem ao Parcão na Lagoa e voltei com alguns novos moradores. São o Wilson e a Zequinha. Eles são muito fofos, cachorros resgatados da rua e que eu adotei ontem. O Wilson já se instalou como se sempre tivesse morado aqui. Zequinha ainda está um pouco tímida, mas hoje já dá alguns sinais de estar menos amedrontada com a súbita mudança após passar boa parte da vida em um abrigo para animais. Por enquanto, ela está instalada na minha cama, na colcha que ainda deve ter o cheiro da Dax e do Neguinho. Mas imagino que no final da semana ela já esteja se sentindo perfeitamente à vontada na casa nova. Vou tirar fotos deles e colocar aqui no blog em breve.

sábado, 7 de novembro de 2009

Dia seguinte

Estou em casa. Trabalhando porque é melhor assim. Foi um retorno estranho, relutante. Eu não queria ficar em São Paulo e não queria realmente voltar para casa. Desfiz a mala, joguei todo o meu guarda-roupa na máquina de lavar roupa que, desconfio, queria rapidamente pedir demissão. Pendurei meu crachá da Monstra (com minha foto horrorosa) na estante junto com meus outros crachás, empilhei os trocentos livros que trouxe da Cultura na mesa de cabeceira para depois encontrar um lugar para eles na minha já sobrecarregada estante.
Mais tarde irei ao mercado para me abastecer e jantar. Fiquei mal acostumada nas últimas duas semanas jantando fora todas as noites nos lugares mais diversos de São Paulo. Terei de me reacostumar a comer comida congelada e minhas pobres tentativas de cozinhar. Desta vez, ao menos, voltei com um wok para aprender como fazer comida chinesa e tailandesa. Ou ao menos tentar. E amanhã devo ter duas pequenas novidades em casa. Cruzem os dedos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Casa vazia


Descobri ontem que hoje eu volto para uma casa vazia. Meus cachorros, Neguinho e Dax, morreram na madrugada de quarta para quinta de motivos misteriosos. Já chorei muito e já especulei sobre o que pode ter acontecido. O que me resta fazer é voltar para casa e adotar mais dois cachorros e recomeçar. Saudade.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Último dia

Estou tentando acreditar que hoje é mesmo o último dia e que amanhã estarei pegando um avião de volta para o Rio. Faço minha mala, tento descobrir como fazer caber nela os trocentos livros que comprei na Livraria Cultura, além de toda a roupa que parece ter aumentado de volume de uma hora para a outra. Tenho quatro sessões e queria que não fosse assim já que quero me ver livre disso tudo. Se no final do Festival do Rio eu chego ao último dia exausta, no final da Mostra eu chego completamente morta, esgotada e sem paciência. Quero mais que a Petrobras se exploda, que aquelas pipoquinhas saltitantes do Unibanco morram, que o pessoal que faz festa no comercial da Adidas vá fazer festa em outro lugar e me deixe em paz. Não aguento mais ver essas vinhetas toda santa sessão e tenho vontade de arrebentar a cara de quem inventou essa história de vinheta. Depois as pessoas olham para mim com espanto quando eu digo que não vou mais ao cinema. A sala de cinema virou um lugar de trabalho, não de lazer. Só nestes dois festivais eu vi mais de cem filmes em um mês e meio, fora o que eu traduzi ou adaptei. Tá bom assim, né? Não preciso ir ao cinema agora por um ano inteiro. Que é mais ou menos o que acontece.
Quero voltar para meus cachorros, minha casa, meu travesseiro, minha comida congelada na geladeira. Não quero ter horários por pelo menos um mês inteiro. Vou pendurar mais um crachá para minha coleção, botar o catálogo junto com os outros catálogos de outros festivais de cinema em que trabalhei, vou voltar para a rotina. E vai começar a contagem regressiva até o próximo ano. É uma correria, é uma maratona, uma maluquice e chego na reta final com umas olheiras enormes, parecendo aqueles corredores de maratona que vemos em olimpíadas, se arrastando para chegar e cumprir seu dever de atleta mesmo que o vencedor já tenha chegado há meia hora. Sou como a tartaruga da fábula. Carrego minha vida nas costas e aos poucos eu chego lá.
Amanhã, avião. Odeio aviões, ônibus, carros. Mas amanhã acho que vou beijar todas as aeromoças e aeromoços e pilotos (vamos ser democráticos) no caminho para o Rio.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Reta final

Já começo a enxergar a reta final. São só mais três dias de Mostra, mais três dias para fazer em São Paulo aquilo que se quer fazer, as últimas compras, as últimas idas aos museus, as últimas chances para ir a aquele restaurante que te recomendaram. Depois disso, casa, cachorro, minha cama, meu travesseiro e o barulho familiar dos vizinhos. De várias maneiras, este período em São Paulo foi o completo oposto do que foi o ano passado. Um pouco em função das circunstâncias, fiquei mais recolhida, menos afeita a procurar os colegas após minhas sessões. Mas esse é um movimento que também me agrada. Talvez no ano que vem eu equilibre esses meus dois impulsos e faça uma viagem em que eu veja as pessoas, mas também encontre tempo para mim.
Como saldo, pelo menos até agora, uma visão um pouco melhor, embora ainda muito limitada, do que é esta cidade e de tudo o que ela contém e pode oferecer. Sinto vontade de voltar aqui em outras circunstâncias, simplesmente para passear, poder andar pela rua e ver as pessoas, os prédios, toda a variedade que é este lugar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Pinguça

Esta é a minha fama. Toda vez que alguém joga na lista de e-mails da legendagem uma mensagem sugerindo que todos nos encontremos para ir a um bar, minha resposta é sempre uma só: chope!!!! Consequentemente, sou conhecida como a pinguça. A ironia é que eu não bebo. Tomo quantidades industriais de Coca-Cola, de Fanta Laranja e o pessoal me sacaneia por causa disso. Mas não me incomodo. Gosto da social, gosto do encontro com as pessoas, de voltar andando para o hotel (como aconteceu ontem) às quatro da manhã, curtindo a companhia dos amigos.
O outro lado disso são os dias em que curto andar sozinha por aí, podendo decidir que caminho tomar. Outro dia, saindo de uma sessão de noite, fui andando para um restaurante pela Paulista, o tempo nublado, ventando, frio. E gostei de ter esse momento só para mim, esse momento de quietude, perfeito, suspenso, solto no meio de duas semanas muito corridas. Na terça eu tenho boa parte do dia vazio e pretendo aproveitá-lo para fazer um pouco de turismo, andar pela Liberdade, pela Paulista, fotografar o que for possível. Às vezes, acho que vejo melhor as coisas quando estou sozinha. Acompanhada, é mais difícil encontrar aquele olhar observador, aquele foco, quando tenho outras pessoas competindo pela minha atenção em volta. Esses são os dois polos em que me movimento. O da social alegre e o da solidão confortável. Comigo, sempre será assim.