domingo, 29 de julho de 2012

Mais dez páginas

Mais dez páginas de caderno ontem. E depois, como sempre, fiquei indócil, querendo fazer mais algumas coisa. Só consegui dormir lá pelas três da manhã. A diferença é que agora tenho vontade de falar com alguém sobre o que estou fazendo, discutir a lógica da montagem da estrutura. E nesse romance, a ordem das cenas é bem importante. Decidi fazer sequências de cenas em vez de cenas simplesmente intercaladas entre 1989 e 2009. E no meio delas, ocasionalmente, uma cena de flashback que não se encaixa nesses dois anos, mas que, espero, ilumine aquele momento específico da história. Ainda tenho muito o que fazer, falta digitar meio caderno. Mas pelo menos já posso ver que terei umas 60 mil palavras no romance. O que não é nada mal.

sábado, 28 de julho de 2012

Thai, Thai, Thai

Falei de tanta coisa de Paraty, mas esqueci de falar de uma das coisas que mais me deu satisfação, que foi ver o Thai Brasil de volta ao centro histórico, cheio de gente, num espaço lindo na Rua do Comércio. E a loucura na hora do almoço e, especialmente, durante o jantar. As cozinheiras todas trabalhando feito umas loucas, os garçons correndo de um lado para o outro, as mesas todas cheias de gente. Os clientes antigos apareciam, gente que não conhecia a casa, e a Marina recebendo todo mundo com o máximo carinho. Quando descobri que o restaurante estaria aberto para o almoço e o jantar durante a FLIP, fiz questão de fazer todas as minhas refeições ali. Ainda mais porque a comida é uma delícia. Quando voltei para o Rio, percebi o quanto fiquei mal acostumada depois de cinco dias de refeições tailandesas gostosas. Marina é uma pessoa que eu admiro. Ela brigou, brigou e conseguiu voltar para o centro histórico. Trabalha feito uma louca, cozinha que é uma maravilha e recebe todos os clientes com enorme carinho. Só lamento que o Thai Brasil não tenha uma filial aqui. Ela ficaria rica, tenho certeza.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Tempo em falta

Meu problema eterno, como o de todos os escritores que não ganham a vida escrevendo, é tempo. E também que não sou a datilógrafa mais rápida do mundo. Quando tento acelerar, eu erro muito. Tenho uma profunda inveja da minha supervisora, Monique, que senta do meu lado no trabalho e parece uma metralhadora. Daí o processo de ter de digitar todo um romance, passando-o do caderno para um arquivo de Word, pode ser bem frustrante porque leva uma vida inteira. No sábado só consegui digitar dez páginas de caderno. Ainda faltam cem. Vou ter de começar a digitar durante a semana também ou essa digitação não termina nunca. Pelo menos uma das coisas que está dando certo é ordenar as cenas ainda durante a digitação. Está me ajudando a ter uma visão mais clara da história, dos dois períodos da história e também do personagem e se sua evolução. Mais sobre isso um outro dia.

sábado, 21 de julho de 2012

Happy birthday to me

Hoje é meu aniversário e decidi que a melhor maneira de comemorá-lo, aproveitando que, para variar, ele caiu num fim de semana, é me dedicar ao que mais gosto de fazer: escrever. Amanhã, um encontro com as amigas. Nada melhor para fechar um fim de semana que estar entre gente de quem se gosta.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Fragmentado

Faz quase duas semanas que eu voltei. Os livros que comprei ainda estão empilhados na sala, os jornais que trouxe não foram separados. Tenho que recuperar os ingressos que comprei e quero guardá-los junto com o livro do programa como sempre faço para ter de lembrança. Na prática, a FLIP só termina para mim quando compareço ao último evento pós-FLIP. Ainda tenho de separar as fotos, jogar online. E fico repassando o que passei lá pela cabeça. Mas uma coisa que percebo cada vez mais é que a FLIP é sempre uma experiência meio fragmentada. São pequenos flashes, breves momentos, são pedaços de conversas que você ouve na fila esperando para entrar. São todas as refeições que você faz. Depois você vê as entrevistas que passaram na TV, vê as reportagens e é sempre uma coisa meio estranha pensar que não há nada que realmente consiga cristalizar o que é a experiência da FLIP. A gente escreve blogs, tira fotos, conta o que aconteceu aos amigos. E você só consegue captar aquela sensação do que é a FLIP quando está diante da Tenda dos Autores no ano seguinte, esperando ansioso pela primeira mesa do evento.

domingo, 15 de julho de 2012

Chove chuva

É um pouco engraçado que este fim de semana está fazendo o tempo que eu queria que tivesse feito durante a FLIP. Tudo bem que as fotos ficam mais bonitas com o sol, mas andar para lá e para cá debaixo do sol quente e por conta disso ficar suando feito uma porca não é muito agradável. A FLIP que mais me agradou em termos meteorológicos foi a primeira, em 2005, notável por ser a mais fria até o momento. Quem não veio com um casacão ficou tiritando de frio durante os cinco dias. Eu fui a Paraty com dois casacos enormes e rodei pela cidade feliz da vida. Fui feita para o inverno, não para o verão. Sempre achei que Paraty combina perfeitamente com neve. A cidade ficaria linda coberta de neve. Mas para isso vou ter de esperar até a próxima era glacial.
Na sexta, esperando numa fila para conseguir um autógrafo, me desfazendo em suor, reclamei tanto do calor que o tempo acabou por virar. Na Tenda do Telão, que é mais aberta, durante a mesa com o Ian McEwan e a Jennifer Egan, percebi que o tempo tinha começado a mudar. Na noite anterior, assistindo à TV na pousada, vi que estava chovendo em São Paulo e torci para aquela chuva vir na nossa direção. Mas talvez eu tenha exagerado um pouco, porque pouco depois de voltar para a pousada, começou a cair uma chuva forte e até faltou luz por uns 15, 20 minutos de madrugada. Resultado, no dia seguinte a temperatura estava super agradável e andei pela cidade mais contente. Só não fiquei cem por cento feliz porque sabia que teria de ir embora em poucas horas, voltar para minha vida normal. Esse é o único grande problema da FLIP. Ela sempre acaba e é sempre cedo demais.

sábado, 14 de julho de 2012

Pós-FLIP

Compareci na quarta ao evento pós-FLIP da Globo na Travessa do Leblon em que falavam sobre os dez anos da FLIP. E achei interessante quando, no meio da palestra, uma mulher começou a reclamar de alguma coisa, provavelmente relacionado ao fato de ter pouca poesia na FLIP. Como ela não tinha um microfone, não dava para entender direito. Mas pela resposta do pessoal na mesa, deu para deduzir que tinha a ver com poesia. Isso num ano em que havia leituras de poesia antes de toda mesa e em que o homenageado é provavelmente um dos poetas mais amados do Brasil. A poesia realmente recebe menos atenção que outras formas de literatura, não só aqui no Brasil, mas em outros países também. Ela é uma forma mais difícil. Eu, por exemplo, sou meio impermeável a poesia. Ela só me chega meio que contrabandeada, inserida dentro de outros veículos, como uma música, citada em um filme. Mas o que interessa é que essa reclamação não tem nada de novo. Há anos que as pessoas criticam a FLIP. E isso é um resultado da importância que a festa adquiriu no país, gerando inúmeros outros festivais literários. As pessoas querem que a FLIP seja todas as coisas para todas as pessoas. E isso obviamente não é possível. A festa não vai salvar a literatura, não vai fazer as pessoas lerem mais, não vai transformar o país. Mas por cinco dias pode divertir as pessoas, pode nos fazer pensar e rir e descobrir coisas que não sabíamos antes. É isso o que me interessa.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Espalhando Drummond

Uma coisa que gostei na edição deste ano foi a leitura dos poemas do Drummond. Antes de toda mesa tinha uma leitura de um poema, seja através de uma gravação da voz do próprio Drummond, seja através da leitura de um dos escritores. A que causou mais impressão foi a do Fabrício Carpinejar que começou a ler e então pulou do palco e saiu andando pela tenda e as pessoas ficaram meio sem saber o que achar. Já passei por FLIPs em que era facílimo esquecer quem era o homenageado. Mas talvez pelo Drummond ser uma figura tão querida, ele meio que estava por toda parte. Este ano, a Companhia das Letras demitiu o pinguim da Penguin e botou uma reprodução da estátua do Drummond no banco na frente da casa que usaram como sede no evento. Deus e todo mundo sentava no banco ao lado da estátua para tirar uma foto com o Drummond. Tinha uma fila o dia todo. Perto da Tenda do Telão, uma empresa teve a mesma ideia, mas em vez de uma estátua de fibra de vidro ou sei lá o que era aquele material, tinha um cara fazendo estátua viva. Passando por ele na saída da Tenda do Telão depois de ter visto o Jonathan Franzen, levei um susto ao ver a estátua se mover. Um segundo depois, caiu a ficha. Tinha Drummond pra todo lado, inclusive no guardanapo no restaurante. Isso é que é espalhar Drummond.

Debaixo d'água

A FLIP é um pouco como um sonho. Uma vez que você acorde da viagem de quatro horas na rodoviária no Rio, a coisa toda meio que evapora. Você meio que tenta se agarrar ao que houve com as reportagens, os ingressos, as fotos. Vou passar os próximos dias separando esse material e olha que eu trouxe muita coisa de volta. Acho que nunca trouxe tanta coisa de volta de uma FLIP. Talvez fosse significativo que hoje de tarde, pouco antes de minha última mesa (com Hanif Kureishi e Gary Shteyngart, uma delícia), a maré tenha subido tanto que estava cortando o caminho para a tenda da Livraria da Vila e a Tenda do Telão. A FLIP estava terminando, submergindo. Logo ali ao lado da tenda da livraria (e tenda não é uma boa descrição para aquela livraria enorme praticamente do mesmo tamanho do primeiro andar da Travessa de Ipanema), nosso amigo de outras FLIPs, o imitador do Jack Sparrow estava sobre um pedestal, encantando os passantes com suas poses e solicitando uma contribuição para o rum. As pessoas faziam fila para tirar fotos com ele. Com a maquiagem (ele estava coberto com aquela pintura de estátua viva), não deu para saber se era o mesmo cara que andou vestido de pirata pela cidade, fazendo cara de mau, mas sem nenhuma pose fora a de representar um pirata, completo com barba, espada e várias pistolas metidas no cinto. Eu o vi várias vezes ao dia, exceto no domingo.
Não sei o quanto estarei inteira na manhã de segunda. Normalmente, é quando tudo começa a doer. Meus cães pelo menos estão aliviados que a mamãe voltou.

Todo dia é dia de Hare Krishna

Tem aquela música que diz, "Todo dia é dia de índio". Bom, ontem, em Paraty, foi dia de Hare Krishna. Saindo da mesa do Jonathan Franzen, me deparei com um grupo de monges Hare Krishna cantando e dançando aquela musiquinha da seita perto da ponte. Aliás, tenho visto dois monges todo dia ali perto da Tenda dos Autores, mas só ontem foi que eu vi que tinha mais de um. Figuras curiosas são o que não faltam aqui na FLIP. Tem um cara vestido de pirata circulando por aí. Tem o clown que eu vejo todo ano desde 2005. Tem o cara que faz performances de estátua viva. Que, aliás, no ano retrasado, estava caracterizado de Captain Sparrow e imitava o Johnny Depp perfeitamente em todos os trejeitos. Tem os músicos que se apresentam nas esquinas e a moça do tarot adivinhando o destino dos passantes. Tem os índios vendendo artesanato e que me deprimem porque eles deveriam poder de sustentar vivendo do jeito que viveram por milênios e não como objeto de curiosidade da gente endinheirada que vem do Rio e de São Paulo.
Outra tradição da FLIP, pelo menos comigo, é que toda vez que eu venho acontece um evento importante. Em 2005, foi o atentado terrorista em Londres. Eu sentada na cama, vendo a TV e descobrindo que várias bombas explodiram no metrô e em ônibus de Londres. Minha irmã mora em Londres. Gelei por dez segundos até me tocar que se tivessa acontecido alguma coisa com ela, minha mãe já teria me ligado. Anos depois, foi a libertação da Ingrid Betancourt das FARCS naquela operação cinematográfica. Este ano foi a conquista da Libertadores pelo Corinthians. Eu estava caminhando para o Centro Histórico na noite de quarta quando parei em uma loja de conveniencia no caminho para comprar refrigerante para abastecer o minibar quando o Corinthians fez o segundo gol. E fiquei surpresa com a quantidade de fogos e o grau da comemoração das pessoas assistindo. Não é muito comum pessoas que morem no Rio torçam por um time de São Paulo. Talvez seja a proximidade com o estado de São Paulo. É mais fácil achar a Folha de São Paulo aqui do que o Globo. No dia seguinte, vi um monte de gente com camisetas do Corinthians. E ainda estavam soltando fogos. Vai entender.

sábado, 7 de julho de 2012

Zen FLIP

Existe um estado que só me ocorre em Paraty. Minha cabeça, que está sempre agitada, nervosa, pensando em várias coisas, começa a serenar e me pego olhando para o nada por longos minutos de cada vez sem pensar em coisa alguma. É o que chamo de zen FLIP. E enfim consigo relaxar e viver esses quatro dias como se fossem oito, dez, mais.
E a cidade lotou. Eu não tinha reparado isso quando saí da minha mesa das 15h com os estudiosos de Shakespeare, uma delícia. Mas assim que saí da mesa do Jonathan Franzen e cheguei na Rua do Comércio após atravessar a ponte, ficou claro. Dobrou o número de pessoas na cidade. E, claro, não se consegue andar direito. O engarrafamento de gente é um saco, mas o que me deixa maluca são as pessoas que param no meio do caminho para cumprimentar amigos ou forma-se aquele grupo grande que fica no meio da rua simplesmente conversando. Dá vontade de pegar toda essa gente de porrada. Ontem eu rosnei para um pessoal e eles saíram da frente rapidinho. Nove da noite, a rua já estreitada por conta da apresentação de um desses artistas de rua e essas meninas param no meio do fluxo para se cumprimentarem e conversarem. Eu falei bem alto, "Não para!" e na hora elas andaram para um ponto aberto mais adiante na rua para conversarem e o fluxo de gente voltou a andar.
Daqui a pouco vou para o exílio ver Ian McEwan. É, porque ver as mesas na Tenda do Telão é como ir para o exílio. Mas para ver Jonathan Franzen e McEwan, não teve choro, nem vela. Não tinha ingresso e pronto para a Tenda dos Autores. Depois eu conto mais.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O susto

Minha FLIP começou oficialmente com um susto. Descobri na terça antes da viagem que a empresa de venda de ingressos ainda estava tentando entregar meus ingressos e entrei em pânico. Eles diziam que faziam duas tentativas de entrega e depois os ingressos iam automaticamente para a bilheteria. Às vésperas do evento, mesmo já tendo feito duas tentativas de entrega, lá estavam eles tentando entregar os ingressos de novo. Eu queria meus ingressos na bilheteria, não circulando pelo Rio. Liguei para a Tickets for Fun (que na verdade deveria se chamar de Tickets for Stress) e disse para eles mandarem meus ingressos para a bilheteria e pronto. Bom, acordei cedinho na quinta, fui correndo para a bilheteria da FLIP e o que descubro? Meus ingressos não estavam lá. Eu tive um minuto de pânico absoluto. Mas como acontece frequentemente comigo, que vivi a maior parte da vida em uma era analógica, esqueci que agora vivo em uma era digital. A supervisora da bilheteria me disse calmamente que eles iriam reimprimir os ingressos. E eu que tinha visto minha FLIP ir pelos ares, respirei aliviada.
E minha primeira mesa, a que eu fui imediatamente após pegar meus ingressos, terminou com um tombo. Ao sair da Tenda dos Autores, tropecei em alguma irregularidade no chão e lá fui eu de cara no chão. Pior ainda, uma senhora tentou me ajudar e derrubei ela também. Normalmente, quando levo esses tombos, me recupero do susto no chão e só então levanto. Nada disso. Me vi cercada por vários homens que rapidamente me ergueram e me botaram de pé, me ajudaram a pegar minhas coisas que caíram no chão. Mais tarde, eu conferi que eu tinha ralado o joelho direito naquelas pedrinhas de estacionamento que cobrem o chão em torno da tenda. Ficou uma ferida de mais ou menos um centímetro. Os joelhos só começaram a doer mesmo de noite e hoje de manhã ainda estão doloridos, mas de resto estou inteira. O resto do meu dia prosseguiu de maneira tranquila.
Na noite anterior, eu descobri que foi uma boa ideia comprar os sapatos da Timberland. Cinco minutos depois de chegar na pousada às 23h da quarta, eu larguei as malas e fui correndo para o Thai Brasil para conferir a nova localização. E assim que cheguei no Centro Histórico e pisei naquelas malditas pedras, eu senti a diferença. Aquela sola dura não deixa você sentir a pedra. Ainda é um saco andar nas pedras irregulares, mas não dói como antes. Então lembrem-se, se vierem a Paraty, usem sapatos da Timberland. Tênis não está com nada. (Pena que não estou ganhando nada pelo marketing.)
Mas voltando ao Thai Brasil. Após amargar um exílio involuntário em áreas remotas de Paraty e até ter sua morte anunciada na edição do Globo que circula em Paraty, o Thai Brasil e sua dona, Marina, estão de volta ao Centro Histórico, e bem na Rua do Comércio, quase na esquina da Rua da Lapa, pertinho do Café Paraty. O grande barato do Thai Brasil não é só a comida maravilhosa, mas o carinho com que Marina recebe todos os clientes. Sentada no restaurante, eu vi as pessoas entrarem e cumprimentarem a Marina. Quase todos os clientes a conhecem pelo nome. Onde no Rio de Janeiro você vê isso? Ontem de noite, no jantar, eu fui embora justo quando a casa estava lotando, um grupo de pessoas entrando depois do outro. Foi muito bom ver isso. Hoje, na hora do almoço, pretendo fotografar a nova casa, vai ficar legal.