domingo, 31 de outubro de 2010

Seriedade em excesso

Às vezes, eu acho que poderia morar aqui. A arquitetura da cidade é interessante, tem trinta mil restaurantes (eu morro pela boca, né, gente?), muitos lugares para visitar. Mas eu fico esbarrando nessa coisa meio travada que tem aqui e desanimo um pouco. Parece que não há lugar para a informalidade, para a brincadeira. Todo mundo que me conhece sabe que não dá para me levar muito a sério, estou sempre brincando, fazendo piadas. Aqui o pessoal me leva a sério e isso é meio cansativo. Relaxa, gente, pelo amor de Deus, a vida não é para ser levada a sério. Você quer fotografa nos lugares e não pode. Que mal faz fotografar dentro da livraria ou do cinema. Só estou registrando o evento para mim mesma. E se eu fosse espiã, não estaria andando por aí com uma câmera tão grande. No Rio, eu fotografo aonde quero e ninguém me enche a paciência. Não acho lugares aqui que tenham a informalidade da Travessa. O mais perto que cheguei foi o Vanilla Café na Antonio Carlos onde ando fazendo ponto para trabalhar porque trabalhar no quarto de hotel é meio incômodo. Não tem mesa e eu acabo dormindo se trabalho na cama. Não, para escrever, eu preciso de um lugar como a Travessa, que não liga para o fato de eu me apossar de uma mesa por seis horas e só consumir quatro, cinco Cocas, uma ocasional porção de batata frita. Preciso de um lugar relaxado e anti-cricri. Acho que não vou achar isso aqui.

sábado, 30 de outubro de 2010

Amizade

Ontem passei uma noite agradável com uma amiga que mora aqui em São Paulo. Nós nos conhecemos no Rio, mas há alguns anos ela se mudou para a Pauliceia, o que eu pessoalmente lamento já que estamos mais próximas agora do que quando morávamos na mesma cidade. Ela até me hospedou aqui em Sampa durante um pedaço da Monstra e foi uma ótima experiência. Foi muito legal. Ela preparou um lanche para a gente, sentamos em volta da mesa, conversando, contei algumas das minhas histórias de festival. Lamentei muito quando nossa noite terminou porque eu teria alegremente passado mais algumas horas na sua companhia. Agora quero retribuir a gentileza e levá-la a um restaurante no Rio da próxima vez que ela for para aquelas bandas. Torço que a gente possa se ver ainda mais uma vez antes que eu volte para casa. De todo modo, a viagem já valeu pelos nossos dois encontros aqui. E, se eu voltar ano que vem, podemos nos reencontrar de novo.

Simpática

Uma moça hoje veio me perguntar antes da sessão se havia almofadas no cinema para ajudá-la a sentar mais alto na cadeira. Ela foi tão gentil e simpática que me deu pena ter de dizer que eu não trabalhava para o cinema, só para a legendagem e por isso não tinha essa informação.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

All we need is love?

Praticamente na frente do meu hotel tem um outro hotel, um pouco mais modesto, chamado Luver Hotel. Ele anuncia o preço de sua diária na porta. Mas eu desconfio que as pessoas não passem tanto tempo assim nele. Em frente ao Luver Hotel, uma igreja. As pessoas precisam de amor de todo tipo, não é?

Quem diria, acabei na Liberdade

Liberdade. Esse lugar já me pareceu mais com um país estrangeiro. No meu primeiro ano de Monstra, passei uns dois dias maravilhada com o que vi aqui. Aquelas lojas cheias de artigos que não sabia o que eram, escritas em japonês ou chinês ou tailandês. Você anda por uma loja e uma das vendedoras está atracada com um celular, falando em chinês, e é uma maravilha você não conseguir entender uma só palavra. Nada te dá mais a sensação de estar longe daquilo que se conhece do que se ver cercado por uma língua estrangeira. Mas agora que estou tendo aulas de culinária asiática e fazendo compras pelo menos uma vez por mês em mercados de produtos orientais, parte do mistério sumiu. Eu sei o que são aqueles produtos, reconheço o maço de bok choi, admiro os lindos maços de cebolinha nas mercearias. Almocei no mesmo restaurante tradicional onde fui há dois anos. Desta vez a clientela estava mais ocidental (na época eu era a única mulher caucasiana, fora as duas garçonetes, em um mar de executivos de descendência japonesa), mas a comida continua farta e gostosa. Ainda quero voltar um dia para comprar um novo wok para mim, um com tampa. Não consegui me decidir, mas achei alguns ingredientes que não consigo achar no Rio e comprei uma certa quantidade para levar de volta comigo. Desconfio que terei de comprar uma caixa e despachar algumas coisas como bagagem em vez de tentar atochar tudo na mala como fiz ano passado. Quase arrebentei o fecho. Não vou repetir o feito. Finalmente comecei a tirar fotos da cidade e pretendo continuar nesta última semana da Monstra. Meu olho fotográfico está começando a encaixar. Estou fazendo umas experiências interessantes que pretendo continuar amanhã, sábado. Quero andar um pouco pela Paulista. Fico sempre para fazer isso, mas nunca consigo, e sempre que quero, está um calor absurdo. Mas como estão prevendo um fim de semana de chuva, lá vou eu.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pílulas de São Paulo

Pela primeira vez na vida vi um curta sumir. Minha sessão seria composta de um curta e um longa metragem. Fico com o arquivo do curta no ponto para lançar e... cadê o curta? Passam direto para o longa. Achei estranho, mas já vi acontecer algumas vezes. Invertem a ordem natural de curta+longa. Carrego correndo as legendas do longa e seguimos em frente. Só que quando é para o curta começar, nada. Vou para a cabine de projeção e descubro que o curta não está no cinema. Passam rádios para lá e para cá e o curta continua desaparecido. O público esperou um tempo, depois foi embora e eu pensei, beleza, mais um tempinho para trabalhar nos meus outros arquivos. Passou mais um tempo e acharam o curta. Onde estava, quem sumiu com ele, eu não sei, não perguntei, não queria parecer intrometida. De repente, essas coisas podem ser muito pessoais. De todo modo, passou-se o curta e tudo teve um final feliz.
No Rio, terminada a sessão, botam todo mundo para fora sem choro nem vela, mesmo que o espectador vá ficar para a próxima. Aqui, deixam ficar e aí tem toda a trabalheira de conferir o ingresso, verificar o banheiro para ver se não tem ninguém escondido. Numa cidade onde tradicionalmente todo mundo é bem cricri, acho essa atitude estranha, mas cada louco com sua mania.
No final de uma sessão, estou a caminho do banheiro para o pipi preventivo quando a coordenadora da sala me diz que um espectador veio reclamar que eu fiquei falando ao celular durante o filme. Foi mais ou menos a mesma coisa que me acusarem de sair voando de vassoura sobre a Avenida Paulista. A sessão em questão, inclusive tinha sido difícil, exigindo toda a minha concentração já que as legendas na cópia vinham em francês. O lançamento de legendas exige muita concentração e a menor distração pode fazer com que você perca legendas, como alguém perguntando onde é o banheiro ou onde fica a saída ou quanto tempo ainda falta para o filme terminar. Não sei como alguém que eu estivessa falando ao celular, ainda mais porque eu fico bem no cantinho da sala. O mais provável é que fosse alguém ali perto do espectador incomodado, mas eu acabei levando a culpa.
Estou começando a receber perguntas sobre meu trabalho ao final das sessões. Acho que o pessoal ficou mais corajoso no final da primeira semana. Mas ainda estou esperando pela primeira anta que vai me perguntar se eu traduzo o filme na hora. Sempre tem. Todo ano.
Na outra noite, a caminho do hotel, vi um sujeito pulando o muro de uma casa. Fiquei olhando, tentando lembrar qual o número da polícia aqui em São Paulo (na prática, não sei qual o número no Rio), mas não foi necessário dar uma de boa cidadã. O sujeito pulou o muro de novo e deixou a casa.
Fui conferir um restaurante chamado Temakeria que serve, adivinha, temakis. Temakis gigantes, aliás. Me lembrou um pouco aquele programa que fala de comida gigante, o Man vs Food, só que bem mais refinado. Muito bom. O temaki de enguia é delicioso. Fica na Oscar Freire, perto da Augusta. Se eu puder, vou voltar lá antes de viajar de volta para o Rio.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

No meio do caminho

Final da primeira semana e parece que cheguei em São Paulo há um mês. Cada dia é muito longo e muito curto ao mesmo tempo. É fácil me sentir perdida nesta cidade enorme. Saudades do Rio e das ruas planas e sem ladeiras. Continuo gostando da arquitetura, da variedade desta cidade, mas eu realmente adoraria que passassem a cidade a ferro para ela ser toda plana, num nível só. Eu andaria com muito mais prazer assim. Saudade dos meus cães também. Aqui não vejo muitos cachorros, mas me dá vontade de me agarrar a todos que avisto. Agora na reta final tenho menos sessões por dia e dá para fazer mais coisas. É assim que eu gosto. Agora vamos rumo à sexta que vem e a volta para casa.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Água

Ocasionalmente, ter um espírito de explorador não compensa. Eu vim a São Paulo com o desejo de conhecer alguns lugares específicos. A Livraria da Vila era uma delas. Sempre vou no estande deles em Paraty e finalmente me ocorreu que eu poderia conhecer a verdadeira aqui na cidade. Pela Internet, eu descobri que havia uma filial da livraria há poucas quadras do cinema onde eu iria passar minha tarde e como eu tinha um buraco de uma sessão, resolvi aproveitar esse tempo livre para conhecer o local. E a livraria é legal. Ela me sugere uma Livraria da Travessa só que sem o charme de Ipanema. Ou o seu tamanho. Se bem que as grandes podem estar mais ao sul ou no shopping. Não sei. O legal foi que achei dois livros ingleses que eu queria muito. Ou seja, mais uma vez, vou sair de Sampa com trinta mil livros na bagagem. Sentei um pouco no café modesto para tomar uma Coca porque eu estava com sede de tanto andar. O que me pega aqui não são as distâncias, são as ladeiras. Eu ando as mesmas distâncias no Rio sem problema. Acho que eu teria de morar aqui para me acostumar com esse sobe e desce constante. Meus músculos não estão acostumados a isso. De todo modo, a má notícia veio quando eu fui voltar para o cinema para minha última sessão do dia. Estava chovendo. Bastante. E na ladeira na Rua Augusta, a água que descia mais parecia uma corredeira. Eu não podia subir aquela ladeira no meu passo normal. Eu tinha de ir no mesmo passo de devagar e sempre que adoto aqui em São Paulo para não morrer botando os bofes pela boca. Resultado, eu voltei ao cinema como se tivesse passado por um dilúvio. Estava molhada até a calcinha. As pessoas no saguão de espera me olhavam como se eu tivesse caído na piscina de roupa enquanto passava a caminho do banheiro. E o dia começou com um céu azul completamente sem nuvens. Mas a lição foi aprendida. Hoje, com um dia meio nublado, eu saio do hotel com meu guarda-chuva. Duas vezes, não.

domingo, 24 de outubro de 2010

Adrenalina

Tá, vamos admitir. O lançamento de legendas é uma das atividades mais estranhas concebidas pelo homem moderno. Você senta dentro de um cinema escuro com um laptop no colo, apertando um botãozinho que vai causar a projeção de uma legenda na tela de cinema. E é uma atividade manual, ainda por cima. Você precisa ficar alerta o filme todo (o que pode ser muito difícil, acredite) para apertar aquele botãozinho para cada santa legenda. Se você está odiando o filme, se quer cometer hara kiri ou se lançar do balcão sobre a plateia cinéfila lá embaixo em protesto, não pode. Você é obrigado a lançar as 900, 1034, ou 457 legendas do filme. Tradicionalmente, existe uma razão inversa entre a quantidade de legendas e a chance de você odiar o filme. Quanto menos legenda, mais provável é que esse será daqueles filmes que é uma bomba do início ao fim e promove desejos quase que incontroláveis de matar o infeliz diretor. Pela primeira vez em 13 festivais, eu chamei minha mãe para ver um filme que eu estava lançando. Custou um pouco, mas ela veio. Expliquei a ela o meu trabalho e, no final da sessão, tive a nítida sensação que ela estava com uma cara de "jura que é isso que você faz todo ano?". Porque tem uma coisa de absurdo nisso. Mas, ao mesmo tempo, tem um suspense, uma adrenalina. Esportes radicais não são comigo. Se vir alguém que se parece comigo andando de skate, fazendo alpinismo ou pulando de paraquedas, por ter certeza, não sou eu (ou então surtei e preciso ser internada no hospício). Lançar legendas é meu esporte radical. Nunca se sabe o que vai acontecer durante uma sessão. Vai dar algum pau, o filme foi editado mais uma vez e não bate mais com o DVD que receberam, a lâmpada do projetor vai estourar do seu lado ou o laptop vai dar pau? Nunca se sabe. Adrenalina. Por isso, ano após ano, lá estou eu, lançando filmes. Tacadora de legendas quase que desde o berço. E com muito orgulho.

Fazendo ao vivo

A grande verdade é que a maioria das pessoas não sabe o que estamos fazendo dentro da sala de cinema. Eu me lembro de quando colocavam a mesa do lançador na passagem do Unibanco 2 e na saída das sessões, muita gente ficava me olhando ali sentada como se eu fosse uma alienígena. Minha função é muito simples, eu lanço cada legenda do filme manualmente enquanto o filme está correndo. Mais nada. É como fazer a marcação do tempo de um filme, só que ao vivo. Tinha aquela frase do Faustão, "Quem sabe, faz ao vivo". E é isso o que os audazes tacadores de legenda fazem. O problema acontece quando a pessoa com quem você está lidando não sabe o que você faz. Então querem que você mexa na altura da legenda no meio da sessão, querem saber comigo onde está sentado o diretor do filme enquanto estou lançando, perguntam a hora, pedem para baixar o ar, aumentar a luminosidade da projeção, reclamam da seleção de longas daquele ano e sei lá mais o quê. Ontem reclamaram comigo que eu estava falando ao celular durante a sessão. Eu não entendi nada. Pra começo de conversa, meu celular não tocou a sessão inteira. Sem falar que é inviável conversar com alguém durante uma sessão, seja pelo celular ou ao vivo. Qualquer papo atrapalha sua concentração e você perde legendas. As pessoas devem achar que o tacador aperta um botão e o resto é automático. Não é o caso. O audaz tacador realmente tem de ficar acordado e alerta durante o filme todo, mesmo querendo cortar os pulsos depois dos primeiros cinco minutos, o que é uma ocorrência bem comum, eu garanto. Bom, hoje teremos mais sessões para enfrentar num cinema que não conheço. E, graças a Deus, saio cedo do cinema hoje e vou poder jantar numa hora decente. Estou com saudade de um bom kebab de cordeiro.

sábado, 23 de outubro de 2010

Entre Sampa e Manhattan

Saio do Belas Artes após minhas sessões e dou de cara com uma noite de sexta nublada, fria, a Paulista cheia de gente jovem rumando para alguma balada. Adoro a sensação de liberdade que me dá ao andar pela Paulista a cata de algum lugar onde eu possa jantar rapidamente pois tenho uma última sessão às 22h no Arteplex. Estar desligada do resto da minha vida, toda a bagagem, solta, faz com que eu me sinta leve. E isso que eu quero sentir quando eu viajo. E São Paulo tem essa coisa intensamente urbana que não encontro no Rio e de que sinto falta. Sempre digo que odeio mato. Cidade pequena, sítio, esquece. Eu quero cortar os pulsos. Preciso de movimento, barulho, muita gente na rua. No Rio você sempre pode ver onde a cidade acaba. Basta chegar na praia. Aqui não. É cidade em todas as direções e você não vê um fim. Isso me lembra um pouco Chicago, Nova York. Fui mal acostumada pelo meu passado. Morei em Manhattan e adorava mesmo criança andar pela rua, saltava do ônibus várias quadras antes da minha rua e vinha caminhando o resto do caminho, olhando vitrine. Minha Nova York é aquela do Manhattan de Woody Allen, filmado dois anos depois de eu partir de lá. É uma Nova York de Central Park e Degas no Metropolitan e Whitney Museum para ver filmes sobre pop art, Burger King e restaurantes de crepes francesas, brunch no Plaza Hotel. Vir a Sampa me leva um pouco de volta a essa época, esta cidade que tem tantas opções que é difícil saber o que fazer. É disso que eu gosto.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

É hoje e amanhã também

Vai começar. Transferi parte das sessões da planilha para o novo caderninho que estou estreando hoje. Acabaram as páginas no meu antigo caderninho de sessões, infelizmente. Vou levar meu crachá, pen drive e novo MP3 player para rodar pela Pauliceia nesta minha terceira Monstra. No jantar, vou tirar as saudades da Bela Paulista. Até que dormi razoavelmente bem na cama do hotel. Mas também pudera, o que eu andei ontem não está no gibi. E daqui a pouco estarei no escurinho do cinema de novo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Na Pauliceia, ufa

Pauliceia. Cheguei apesar de complicações de última hora. E como que para compensar o fato de minha empresa de cartão rejeitar a compra da passagem e me deixar sem passagem (coisa que só descobri na hora do check-in), o voo partiu pontualmente na hora, minha mala foi uma das primeiras a despontar na esteira e tive um almoço maravilhoso com uma amiga aqui em Sampa. Me entupi de frango. Nossa conversa foi ótima e quero combinar um jantar para outro dia nesta semana. A gente se vê muito pouco e uma chance de conversar não deve ser desperdiçada. Depois fui tratar de outras providências necessárias, como ir na Livraria Cultura e comer a já tradicional torta de musse de chocolate. Logo ao entrar, achei um livro que queria comprar. Comi minha torta, comprei meus livros, fui fazer meu crachá. Sinceramente, acho que eles fazem de tudo para que sua foto saia a pior possível (eu prefiro meus crachás do Rio que não tem foto). Uma fonte de luz bem de cima causando umas sombras horríveis, um webcam vagabundo com uma resolução horrorosa, e ainda por cima achatam sua foto. Então se você já é cheinho, fica parecendo uma verdadeira bola. Se minha mãe visse, duvido que me reconheceria. Eles têm de fazer de propósito, só pode.
Passei o dia todo com meu MP3 player tocando músicas do "The Devil Wears Prada" e achei que tinha tudo a ver com eu estar andando na Paulista, contente por voltar a Sampa. Eu estava sentindo falta desta cidade desde maio, com uma vontade danada de rever a Livraria Cultura e andar aqui por essa área perto da Augusta. A cada ano eu tento explorar um pouco mais. Talvez eu possa voltar aqui sem ser a trabalho e ver a cidade com mais vagar. Por enquanto, a coisa acontece nos momentos de folga. Amanhã começamos a maratona. Novidades no próximo boletim.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Abstrato

Está meio difícil acreditar que quinta vou entrar em um avião e desembarcar em São Paulo. Ainda está meio abstrato. Tanto assim que ainda não comecei a fazer a mala, em geral uma das primeiras coisas que eu faço. Mas venho mimando meus cachorros por antecipação. Se eu pudesse, levava eles comigo. É possível que eles fizessem a maior zona no quarto e o Wilson ia assustar as arrumadeiras com aquele tamanho todo. Mas enquanto não vou, fico grudada neles todo o tempo que posso.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pré-história

Reprise de Vale Tudo na TV. Algumas coisas interessantes. Citam um salário de 28 mil. Mil o quê? Cruzeiros, cruzados, cruzados novos? A gente passou por tanto plano que não faço ideia. E outra, um personagem recebe uma Olivetti Praxis para treinar para um teste de datilografia. Esta era uma época antes do marketing então eles não ficaram mostrando a marca. Mas como eu tive uma, reconheci na hora. Minha primeira máquina de escrever foi uma Hermes Baby. Pedi a grana para meu pai para ir comprar. A Praxis já foi iniciativa de presente do meu pai mesmo. Eu achava o máximo, ainda mais por que sempre gostei de um bom design e escrevi muito trabalho de faculdade nela, muito manuscrito final de conto. Quando ela pifou depois que eu a emprestei a alguns amigos, ela já estava meio aposentada. Eu já trabalhava com computadores e a morte da máquina de escrever estava anunciada. Mas mesmo com uma máquina de escrever tão chique, nunca consegui escrever direto na máquina. Meu processo sempre foi com papel e caneta e segue sendo assim, mesmo quando é um pé no saco, como quando tenho de digitar a melecada toda que escrevi. Mas hoje me deu saudade da velha e pré-histórica Praxis.

domingo, 17 de outubro de 2010

Experiência

Último fim de semana antes de viajar. Por causa de um trabalho, acabei trocando o sábado pelo domingo então foi hoje que eu fui para a Travessa escrever. Na FLIP, durante a mesa do Colum McCann com o William Kennedy, uma das coisas discutidas foi a questão de escrever sobre coisas que não se conhece e não se experimentou, algo que o McCann faz bastante em seus livros. E essa é uma coisa que realmente me fascina, como certos escritores conseguem escrever sobre épocas passadas e costumes que não se usam mais. Meu cenário é sempre o aqui e agora. Para o que me interessa escrever, o aqui e agora está mais do que bom. O que eu tento fazer agora é criar personagens cuja experiência é mais distante da minha. Essa é uma das coisas que estou explorando no novo romance, falando de personagens que sofreram maus tratos quando eram crianças. A pior coisa que já me aconteceu quando eu era criança foi minha mãe me dar uma boa palmada quando ficava realmente pê da vida com algo que eu fazia. Isso era extremamente raro já que eu era a comportada da família. O castigo tradicional da mamãe era a gente ficar mofando no quarto para "pensar no que a gente tinha feito". A palmada era um sinal que a besteira tinha sido bem feia e que era melhor não repeti-la. Mas eu nunca apanhei e passei esse último ano e tanto procurando imaginar o que é isso e que efeito isso tem nas relações de uma família. E parece meio estranho que isso seja um processo racional, como foi um processo racional imaginar as repercussões de um suicídio para uma família para meu primeiro romance, mas acho que esse processo precisa ser racional. Eu costumo escrever sobre coisas difíceis e o filtro racional me protege um pouco. O que eu descubro é que por mais que consiga entender certos processos de maneira racional, sempre fica faltando alguma coisa e aí entra outro tipo de pesquisa. Preciso encontrar alguém que passou por essa experiência. Não é exatamente uma pesquisa proposital. As coisas meio que me caem no colo. O comentário de uma amiga, um documentário sobre o assunto na TV, um texto que leio na Internet. Desta vez não foi diferente. Me caiu na mão um filme sobre pessoas envolvidas em relações violentas e isso me deu uma série de respostas a coisas que eu não sabia. Passei o dia hoje incorporando algumas dessas respostas ao texto. Vou ter muito mais trabalho a fazer quando terminar a Monstra, mexendo em partes do texto que lidam com essas questões. Mas a partir de quinta, toda a minha atenção vai se voltar para a Mostra.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Como manteiga

Recebo um e-mail de uma amiga que está lendo meu primeiro romance. E ela me diz, "O texto flui como manteiga e o diálogo interior escorrega dentro da gente". É muito bom um e-mail desses. Pouca gente leu meu romance, ele ainda está na mão de editores, aguardando um parecer. Tudo bem. Eu aprendi a ser muito paciente nesse tempo todo entre o dia em que terminei o romance e agora. O que me ajuda a ser paciente é ter a atenção focada no romance atual, esse que vai meio aos trancos e barrancos rumo à terceira versão. Já comecei a digitar o texto dos cadernos, mas isso vai levar um tempo. Talvez eu consiga avançar um pouco em São Paulo. Afinal, há um limite para o que se pode fazer num quarto de hotel. De todo modo, essa coisa só vai engrenar mesmo depois que eu voltar de viagem. Aí sim teremos novidades.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Monstra à vista

Terminei o Festival do Rio no mesmo cinema em que comecei, no Estação Botafogo. Já posso pendurar meu crachá enquanto me preparo para o próximo. Dentro de uma semana estarei fechando a mala antes de embarcar para São Paulo. Mais uma Monstra. E este ano estou decidida a curtir a cidade como não consegui fazer ano passado. Estes dias agora são cheios de providências. A reserva do hotel, as passagens de avião, a hospedagem dos cães, lavar toda a minha roupa (que não é muita) para levar na viagem. A Pauliceia que me aguarde.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Overdose de preguiça

Cansaço, preguiça. Tudo o que quero fazer é passar o dia na cama, dormindo. As duas semanas do festival foram realmente exaustivas. Tenho trabalhos a fazer, mas estou sem vontade de começar. Só estou animada para voltar a cozinhar. Depois de duas semanas comendo pipoca, pastéis e o ocasional sanduíche, é bom poder voltar a usar minha wok. Quero fazer um curry verde de frango com batata doce. É um prato que eu adoro. E estou com saudade dele. Também tenho de iniciar os preparativos para ir a São Paulo. Quinta da semana que vem vou embarcar. E tenho um encontro marcado com uma amiga lá. Enquanto isso, o pessoal está marcando um chope para marcar o fim da repescagem. O pessoal está bem pinguço esse ano. E estou adorando isso.

sábado, 9 de outubro de 2010

Post-mortem

Nem consigo acreditar que acabou. Ontem tivemos nosso chope de encerramento e foi uma delícia. Antigamente, o ponto de encontro era o Coisas do Interior, mas depois que eles fecharam, ficamos meio sem saber para onde ir. Mas agora abriu esse bar do lado do Estação Botafogo e é um bom lugar para congregar a turma. Inclusive porque tem um prato de filé com cebola e aipim na chapa que é uma delícia. Conversamos, trocamos histórias de velhinhas iradas que vão parar no banheiro e espectadores sem noção, da distribuição de buracos negros e do bom uso de palavrões. Não fizemos a eleição do abacaxi de ouro do festival, mas comentamos vários filmes que seriam bons candidatos. Aliás, nunca há uma falta de bons candidatos. A quantidade de dinheiro que se desperdiça com alguns filmes é incrível. Nós fechamos o bar e o pessoal foi para outro mais adiante no Baixo Botafogo, mas eu queria estar inteira para escrever hoje, então voltei para casa e desmontei na cama. Depois de duas semanas dormindo duas, três horas por noite, seis, sete horas de sono parecem um luxo. De todo modo, pretendo aproveitar este fim de semana ao máximo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Últimos dias

Reta final. Eu estou mortinha. O negócio é aguentar firme até quinta. E aí pretendo dormir o fim de semana todinho. Só então vou pensar no refishing.

domingo, 3 de outubro de 2010

As fases do festival

Existe uma sequência num festival que se repete todo ano. Ai que bom o festival está chegando, essa sessão é minha, começa amanhã, estou nervosa, essa adrenalina é demais, não vai dar para dormir se eu quiser fechar meu filme, que dia é hoje mesmo, esse filme tá um saco, me tira daqui, estou morta, quando é que essa porcaria de festival termina, graças a Deus acabou, saco, vou ter de esperar um ano até o próximo. Todo ano é isso. Mas eu detestaria abrir mão dessa maluquice. Gosto demais dela.

sábado, 2 de outubro de 2010

O mundo lá fora

Durante o Festival, o mundo exterior meio que deixa de existir e é um pouco surpreendente dar de cara com ele. Indo para minhas sessões no Odeon, descubro que há uma greve dos bancos acontecendo, as fachadas dos bancos empapeladas de cartazes anunciando a greve. No Gávea ontem, de repente, um barulho ensurdecedor. Virei para uma moça me atendendo no balcão do café e perguntei o que era aquilo. Ela me disse que era chuva. Sempre acho estranho dar de cara com o que acontece enquanto estou enfiada dentro do cinema. Uma hora chove, de repente fica quente e é sempre uma surpresa porque você não viu a transição. Você entrou no cinema de dia e saiu de noite, às vezes de madrugada. E acaba sendo pior quando após duas semanas você não precisa mais ir ao cinema e voltar a viver de fato no mundo real. É meio desorientador. Você sente falta daquela existência homogeneizada e artificial do cinema. E quando volto a me acostumar, lá vou eu para São Paulo repetir tudo de novo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Chope!

Noite de quinta para sexta. Um chopinho para comemorar não só o dia dos tradutores como o aniversário de um dos nossos heróicos tacadores de legenda. Todo mundo trocando as histórias de guerra deste e de outros festivais. É um tanto inevitável. O que todos temos em comum é justamente este trabalho, esta maluquice que nos acomete uma vez por ano, esta loucura que nos faz procurar cavernas escuras em que histórias são contadas. À medida que o nível etílico da mesa vai aumentando, as histórias vão ficando mais malucas e logo estamos tendo uma conversa surreal. Houve uma vez, alguns anos, uma conversa num desses chopinhos em que os homens presentes começaram a discutir se colocariam silicone nos seios ou não. Se eles fossem mulheres, claro. Você tenta lembrar como foi que a conversa foi parar nisso, mas não há como refazer os passos desse papo maluco. Papo de bar. Inevitavelmente chega uma hora em que estou rindo sem parar e penso, estava precisando desse chopinho, desse encontro entre amigos legendísticos. Tomara que em São Paulo possamos ter uma repetição disso. Sinto falta desses chopes no resto do ano.