domingo, 17 de outubro de 2010

Experiência

Último fim de semana antes de viajar. Por causa de um trabalho, acabei trocando o sábado pelo domingo então foi hoje que eu fui para a Travessa escrever. Na FLIP, durante a mesa do Colum McCann com o William Kennedy, uma das coisas discutidas foi a questão de escrever sobre coisas que não se conhece e não se experimentou, algo que o McCann faz bastante em seus livros. E essa é uma coisa que realmente me fascina, como certos escritores conseguem escrever sobre épocas passadas e costumes que não se usam mais. Meu cenário é sempre o aqui e agora. Para o que me interessa escrever, o aqui e agora está mais do que bom. O que eu tento fazer agora é criar personagens cuja experiência é mais distante da minha. Essa é uma das coisas que estou explorando no novo romance, falando de personagens que sofreram maus tratos quando eram crianças. A pior coisa que já me aconteceu quando eu era criança foi minha mãe me dar uma boa palmada quando ficava realmente pê da vida com algo que eu fazia. Isso era extremamente raro já que eu era a comportada da família. O castigo tradicional da mamãe era a gente ficar mofando no quarto para "pensar no que a gente tinha feito". A palmada era um sinal que a besteira tinha sido bem feia e que era melhor não repeti-la. Mas eu nunca apanhei e passei esse último ano e tanto procurando imaginar o que é isso e que efeito isso tem nas relações de uma família. E parece meio estranho que isso seja um processo racional, como foi um processo racional imaginar as repercussões de um suicídio para uma família para meu primeiro romance, mas acho que esse processo precisa ser racional. Eu costumo escrever sobre coisas difíceis e o filtro racional me protege um pouco. O que eu descubro é que por mais que consiga entender certos processos de maneira racional, sempre fica faltando alguma coisa e aí entra outro tipo de pesquisa. Preciso encontrar alguém que passou por essa experiência. Não é exatamente uma pesquisa proposital. As coisas meio que me caem no colo. O comentário de uma amiga, um documentário sobre o assunto na TV, um texto que leio na Internet. Desta vez não foi diferente. Me caiu na mão um filme sobre pessoas envolvidas em relações violentas e isso me deu uma série de respostas a coisas que eu não sabia. Passei o dia hoje incorporando algumas dessas respostas ao texto. Vou ter muito mais trabalho a fazer quando terminar a Monstra, mexendo em partes do texto que lidam com essas questões. Mas a partir de quinta, toda a minha atenção vai se voltar para a Mostra.

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