domingo, 24 de outubro de 2010

Adrenalina

Tá, vamos admitir. O lançamento de legendas é uma das atividades mais estranhas concebidas pelo homem moderno. Você senta dentro de um cinema escuro com um laptop no colo, apertando um botãozinho que vai causar a projeção de uma legenda na tela de cinema. E é uma atividade manual, ainda por cima. Você precisa ficar alerta o filme todo (o que pode ser muito difícil, acredite) para apertar aquele botãozinho para cada santa legenda. Se você está odiando o filme, se quer cometer hara kiri ou se lançar do balcão sobre a plateia cinéfila lá embaixo em protesto, não pode. Você é obrigado a lançar as 900, 1034, ou 457 legendas do filme. Tradicionalmente, existe uma razão inversa entre a quantidade de legendas e a chance de você odiar o filme. Quanto menos legenda, mais provável é que esse será daqueles filmes que é uma bomba do início ao fim e promove desejos quase que incontroláveis de matar o infeliz diretor. Pela primeira vez em 13 festivais, eu chamei minha mãe para ver um filme que eu estava lançando. Custou um pouco, mas ela veio. Expliquei a ela o meu trabalho e, no final da sessão, tive a nítida sensação que ela estava com uma cara de "jura que é isso que você faz todo ano?". Porque tem uma coisa de absurdo nisso. Mas, ao mesmo tempo, tem um suspense, uma adrenalina. Esportes radicais não são comigo. Se vir alguém que se parece comigo andando de skate, fazendo alpinismo ou pulando de paraquedas, por ter certeza, não sou eu (ou então surtei e preciso ser internada no hospício). Lançar legendas é meu esporte radical. Nunca se sabe o que vai acontecer durante uma sessão. Vai dar algum pau, o filme foi editado mais uma vez e não bate mais com o DVD que receberam, a lâmpada do projetor vai estourar do seu lado ou o laptop vai dar pau? Nunca se sabe. Adrenalina. Por isso, ano após ano, lá estou eu, lançando filmes. Tacadora de legendas quase que desde o berço. E com muito orgulho.

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