domingo, 15 de agosto de 2010

Sutileza

Este sábado foi um bom dia. Escrevi coisas novas, inspirada pela releitura de We Need to Talk About Kevin, agora já devidamente autografado pela Lionel Shriver. O surgimento de cenas novas é sempre um bom sinal para mim. O que eu vejo mais uma vez é o quanto esse último personagem já está fixado na minha cabeça ao contrário das duas personagens do meio, cuja coerência eu ainda estou buscando. Aos poucos, acho que estou entendendo a cabeça delas, o que provavelmente significa ter de reescrever pedaços enormes do texto, mas eu não ligo. O desafio é que me interessa. Uma das coisas que eu falei para Lionel Shriver em Paraty enquanto estava alugando ela é que muitas vezes o que fica mais para mim de um livro é a estrutura, especialmente uma estrutura que é essencial para o entendimento do livro. O grande barato do Kevin é que como é um livro epistolar, você acaba supondo um monte de coisas sobre o casamento da protagonista Eva, sobre onde estão o marido e a filha dela depois da separação. E nisso, você acaba enganado sobre uma série de coisas e ela consegue dar a grande surpresa do livro lá no final. Kazuo Ishiguro é outro escritor que eu admiro muito por só nos contar parte da história. Mas ele usa isso com outro efeito. Por exemplo, em The Remains of the Day, narrado em primeira pessoa por Stevens, o mordomo e protagonista da história, a ideia é manter a fachada impecável do mordomo e ocultar tudo aquilo que poderia manchar isso. É só na reação de outros personagens que você descobre o que Stevens não está contando.
A verdade é que por mais que eu admire esses escritores, nunca consigo escrever desse jeito. Na vida, assim como na literatura, eu sou uma matraca. Tenho de contar tudo até o fim. Sutileza nunca foi muito comigo. Talvez eu acabe aprendendo um dia.

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