domingo, 16 de maio de 2010

Home

Há poucas semanas, um episódio da série de TV Glee fechou com uma linda interpretação da música Home, que era do musical da Broadway, The Wiz, que eu assisti quando morava em Nova York em meados dos anos 70. E, claro, em se tratando de uma versão atualizada do Mágico de Oz, a música fala da saudade de casa e do que Dorothy aprendeu durante sua viagem pela terra de Oz. Em Nova York, nós tínhamos o disco do musical e eu o ouvia continuamente, especialmente a música Home, que mexia comigo naquela época porque eu sentia que não tinha um lar. Eu tinha uma família, um apartamento, mas me faltava a sensação de pertencer a um lugar. Eu não tinha raízes, como pode acontecer com filhos de diplomatas. Você muda de país, de cidade a cada dois, três anos, estuda numa escola americana ou internacional e só fala sua língua natal com os pais. O resto do tempo você fala a língua do país onde mora ou inglês (na escola). Aos vinte anos, voltei para Viena, Áustria, onde nasci, e meu pai me apontou o hospital onde foi feito o parto, o prédio onde morávamos. Eu não senti nada. Não tenho qualquer ligação real com Viena fora o fato de achar a cidade interessante, gostar da salada de batata alemã e ficar apaixonada pelos quadros do Gustav Klimt. Não sei mais falar alemão e o pouco que entendo hoje vem dessa viagem que fiz nos anos 80 e do que pesquei lançando filmes alemães no Festival do Rio. Eu nasci em Viena, mas podia ter nascido a bordo de um avião. Teria dado no mesmo.
Na prática, eu sempre vivi nessa espécie de exílio permanente. Por causa de minha educação, tenho um pé firmemente fincado nos EUA e outro aqui no Brasil. Ser brasileira é apenas um fato burocrático, uma necessidade. Preciso ter uma carteira de identidade, CPF, preencher formulários. Faz mais de 30 anos que eu voltei de vez para o Brasil. Aos poucos, eu fui me acostumando a morar aqui, a entender a cultura, e eu meio que criei um lugar para mim aqui. Mas não é uma questão de nacionalidade. Meu lugar no mundo tem a ver com os amigos, os lugares de conforto que descobri aqui, meus rituais semanais. Minhas raízes continuam soltas no ar. Gosto que seja assim.
E na outra semana eu dei de cara com essa música, que eu tinha esquecido porque o disco (de vinil, claro) sumiu há muito tempo. E lembrei dessa época em que me sentia exilada e sozinha. Ainda bem que ela passou.

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