domingo, 9 de maio de 2010

Na fila do caixa

No mercado, na fila do caixa, fiquei olhando as compras da moça à minha frente e foi um pouco estranho constatar que o que ela estava levando para casa lembrava muito o que eu costumava levar para casa há alguns meses. Comida congelada, muitos salgadinhos, nada de legumes ou verduras. Eu tinha no meu carrinho frango, quiabo, coentro, cebolinha, milho, ervilhas, batatas. Só não levei mais coisas para casa porque eu não sabia direito o que queria preparar durante a semana e, se necessário, sempre posso pedir algo para o mercadinho aqui da esquina. E minha geladeira está meio abarrotada. Tenho de abrir espaço nela antes de poder comprar mais legumes e outras coisas.
Outro rapaz na minha frente tinha uma cesta cheia de latas de cerveja e uma garrafa de vodca. Creio que as prioridades dele estavam bem claras. Observar as compras das outras pessoas no mercado é sempre um exercício interessante. Você vê direitinho quem está comprando comida para um batalhão e quem tem cães ou gatos, quem está de dieta, quem não está dando a mínima para o peso. Já escrevi um conto sobre um casal com base nos objetos que eles tinham em casa. Talvez um dia eu escreva algo com base nas compras de supermercado. Os gestos que as pessoas fazem me interessam e daí me interessam também os atores que se transformam para incorporar outras pessoas. Os gestos, as inflexões, as coisas com que nos cercamos, o que comemos. Gosto de tudo isso como uma série de pistas para desvendar quem é a pessoa na minha frente. Essas são as coisas que interessam ao escritor.

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