terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Hordas consumidoras

Uma das melhores coisas desse feriado de Natal é poder passar mais de um dia na Travessa. Por uma série de circunstâncias, não tive compromissos sociais, então pude escolher o que fazer. Minha mãe vai viajar e passar uns dias com minha tia, irmã dela numa casa de campo. Eu até tinha pensado em viajar para São Paulo ou Paraty, mas gastaria muito mais (se bem que na Travessa estou mais exposta às tentações) e no fim das contas, tudo o que eu quero é o que sempre quero. Tempo para escrever. E para mim, o lugar mais confortável para escrever é a Travessa. Mesmo com trinta mil pessoas na loja para comprar presentes, continua sendo o melhor lugar. Sinto-me um pouco invadida, especialmente na hora em que desço ao primeiro andar para dar a volta de praxe para refletir. Bato na parede, não sei como seguir com a cena. Levanto e vou dar uma volta lá embaixo para sacudir a cuca. Costuma funcionar. Eu sei, a livraria não é minha, mas vou lá há 10 anos, desde que eles abriram e aquele lugar virou meio que meu escritório oficial. A tal ponto que é mais fácil para mim escrever fora de casa do que dentro.
Não rendi tudo o que eu queria, mas isso é normal quando você está no início. Ou melhor, reiniciando um romance. É provável que eu renda melhor no próximo fim de semana. E sem as hordas consumidoras rodando em volta deve ser mais fácil me concentrar. Está sendo uma experiência interessante reescrever um texto sem voltar ao original. Coisas novas estão surgindo, uma maneira diferente de dizer as mesmas coisas. Percebi que não devia entregar determinadas coisas logo de cara, inclusive porque isso me forçava a repeti-las o tempo todo. Mas esse cara é como um viciado no sentido de que ele não quer reconhecer aquilo que o prejudica. E daí me pareceu fazer mais sentido que ele não pudesse contar a própria história. Podia ter usado o famoso "unreliable narrator". Mas de algum modo me pareceu que seria mais natural um narrador na terceira pessoa vendo tudo de fora e escondendo aquilo que o leitor não precisa saber. Neste caso é mais um "untrustworthy narrator" pois ele só conta aquilo o que quer. Gosto disso.

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