segunda-feira, 30 de maio de 2011

Memória

A memória está no centro desse novo romance em progresso. O romance anterior tem muitas lembranças do pai morto, da história das duas famílias envolvidas, mas são lembranças que eu inventei de uma família que eu não tive. Mas no novo romance eu preciso voltar vinte anos na minha cabeça, lembrar como era essa época para montar o personagem central. E de novo não sou eu e nem é a minha história (e para variar não é a história de uma família), mas eu precisava reencontrar aquela pessoa cheia de esperanças, planos, ambições incríveis e pouco realistas, cujo humor tinha altos e baixos praticamente diários, aquela inocência. Na história, esse personagem cheio de ideias e sonhos vai virar outra pessoa na parte de 2009. Estabelecer essa diferença é essencial. Daí a memória é tão importante. É aquela coisa do escritor funcionar como o ator. Você puxa um monte de coisas do baú e as usa para escrever. Normalmente eu não costumo voltar tanto assim no tempo. Estou quase sempre falando do tempo presente em que estou escrevendo. Aliás, no primeiro romance, como ele demorou tanto para ser escrito, eu tive de fixar o ano em que a história acontecia porque eu ficava ferrando a cronologia dos eventos. Não sou experimental, não escrevo thrillers ou romances históricos que são tijolaços e poderiam facilmente matar alguém se jogados na cabeça de alguma criatura. Meu projeto literário sempre foi e sempre será simples. Escrever sobre pessoas da classe média da Zona Sul do Rio de Janeiro no século XXI e seus problemas. Nem mais, nem menos. Por isso eu me vejo voltando agora aos meus 25 anos e 1989.
Não sou nostálgica. Eu sinto falta de todo o tempo que eu tinha então, mas não de muitas outras coisas. 1989 não foi uma boa época para mim. Fiz muita besteira, dei muito com a cara na parede. Não sei se aprendi muita coisa, mas felizmente, vinte anos depois estou inteira, numa boa. Sou Clark Kent e tenho minha identidade secreta.

Nenhum comentário: