sexta-feira, 13 de maio de 2011

Disciplina

Ter descoberto a disciplina de escrever foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Ter tempo para escrever quando eu estava estudando era muito fácil. Eu não tinha emprego enquanto fazia a faculdade, não precisei correr atrás de dinheiro para pagar pela PUC (e meus quatro anos e meio fazendo Pilotis I, II, III e IV), e eu tinha todo o tempo do mundo. Era muito comum eu sair da PUC e ir para Ipanema ver os livros na falecida Dazibao ou então me enfiar no cinema para ver um filme do Woody Allen e ficar por duas sessões seguidas. Eu tinha tempo. E tinha tempo para ficar no meu quarto, sentada na cama, ouvindo música, escrevendo, lendo. Minha produtividade nessa época era fantástica. Nada que preste, mas foi parte do processo necessário de aprender a escrever. (Um belo dia vou queimar tudo para não correr o risco de ficar famosa e alguém resolver publicar essas coisas horrorosas depois que eu morrer.)
Depois, quando comecei a trabalhar, ficou mais complicado achar tempo. E depois que virei freelancer, achar tempo para escrever era praticamente impossível. Não entendo direito que mudança se processou (o que é muito comum no meu histórico de escrita), mas quando eu comecei a escrever meu primeiro romance, alguma coisa fez clique na minha cabeça e eu consegui achar algo que nunca tinha conseguido achar antes: disciplina, coisa que eu nunca tive. Escrever é fácil quando você tem todo o tempo do mundo. O complicado é abrir um espaço na sua vida para escrever e ser sempre nas mesmas horas e dias. Eu achei uma solução que é meio antissocial, admito. O sábado é meu e de mais ninguém. Não aceito convites para fazer nada nesse dia, não admito que nada atrapalhe a rotina de me instalar na Travessa por seis, sete horas e escrever. Só abro mão do meu sábado em casos excepcionais. Fale comigo de domingo a sexta, mas esqueça de mim no sábado. Claro que isso é facilitado pelo fato de eu não ser casada ou ter filhos. Cachorros não reclamam muito porque você os abandona um dia por semana. Eles ficam imensamente felizes quando você chega tarde em casa, pulam muito em você para deixar marcas de patas na sua roupa, mas eles não reclamam. O que as pessoas talvez não entendam é que ter esse dia para escrever garante uma felicidade quase inabalável. Durante a semana eu tenho a cansativa necessidade de ganhar o meu sustento. No sábado, eu sou feliz por poder exercer minha vocação, que sustenta quem eu sou. Depois de ter passado anos num esquema de altos e baixos, a felicidade absoluta que sinto no final de um dia de escrita, emergindo da livraria, na noite fria é tudo o que eu quero. E escrevendo continuamente há quase dez anos, eu sinto que melhorou em muito o meu controle e minha objetividade sobre o que escrevo.
Meus sábados são sagrados e vão continuar sendo por muito tempo.

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