Fiz uma coisa um pouco diferente este fim de semana. Eu tinha muita coisa a fazer em muito pouco tempo e achei que se eu saísse de casa para trabalhar, isso me daria um maior foco. Os imprevistos da semana que passou bagunçaram meus prazos e eu precisei recuperar o tempo perdido. E sair de casa, mesmo que para trabalhar, me daria algum alívio depois de passar a semana olhando para essas mesmas paredes. Então lá fui eu para a Travessa, me apossei da mesa mais próxima da única tomada no café e mandei ver. E tudo correu tão bem que nos dois dias eu tive um tempinho para revisar o romance em progresso. E aí conversei um pouquinho com um dos vendedores depois de jantar hoje sobre um filme que admiro muito por sua estrutura incomum, O Violino Vermelho. E comecei a pensar sobre uma dúvida que tenho sobre a estrutura do romance. Eu alternei as cenas de cada um dos personagens, então você lê todas as histórias juntas ao mesmo tempo. Não foi assim que eu escrevi o romance, claro. Eu escrevi cada história de uma vez e depois montei a estrutura alternante. Uma cena do Bernardo, uma da Betina, uma da Marisa, uma do Adriano e voltamos ao Bernardo e assim por diante, meio como aquela música Dó, Ré, Mi, de A Noviça Rebelde. O que me preocupa é se essa alternância não torna a coisa um pouco confusa para quem está lendo. Eu sou a pior pessoa para avaliar isso, conheço todas as variações da história. O que me ocorreu hoje ao pensar no Violino Vermelho foi voltar à narrativa em blocos inteiriços, do jeito que eu escrevi, e na passagem entre um bloco e outro, as cenas das mães, formando uma espécie de espinha dorsal do romance como ocorre no filme, em que a leitura do tarô e o leilão do violino formam essa espinha dorsal. Assim eu teria garantido que o leitor entenderia minha intenção. Só vou ter uma resposta para essa dúvida quando botar o romance na mão de alguém que não conhece a história. Pelo menos é bom saber que tenho uma alternativa se a dança dos personagens não der certo. Vou desencavar meu vídeo do filme para estudá-lo.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
Autobiografia ao contrário
Acho que não tem uma FLIP ou evento literário a que eu compareça em que uma criatura qualquer deixe de perguntar ao escritor no palco o quanto tem de autobiografia no livro, especialmente se ele é narrado em primeira pessoa. É uma pergunta tão previsível quanto a eterna "Você está traduzindo o filme na hora?" que ouço pelo menos uma vez por festival de cinema. Já falei sobre isso aqui algumas vezes. O escritor é como um ator. Ele não é um bandido (ou médico ou santo ou violinista), ele só interpreta um na TV. Por exemplo, no meu primeiro romance tenho um irmão suicida, um pai que abandona a família, entre outras coisas. Todos na minha família estão vivos e bem, meu pai não largou minha mãe quando éramos pequenos, ninguém tem pensamentos de suicídio, nada disso é verdade. Mas acontece que comigo eu escrevo sobre certas coisas e elas acontecem depois. No primeiro romance, a irmã precisa dispor dos pertences do irmão morto. Enquanto eu escrevia o romance, minha avó morreu un tanto subitamente e tempos depois me vi no quarto dela, selecionando objetos dela para ter de lembrança. A sensação de déjà vu foi fortíssima. Agora, no romance atual está ocorrendo algo semelhante. Escrevi sobre determinados eventos pelos quais nunca tinha passado, foram coisas que determinei logicamente porque encaixavam na trama e, tempos depois, eu me vejo cara a cara com a mesma situação na vida real. Muito, muito estranho. É como se estivesse escrevendo minha autobiografia ao contrário. Talvez se eu escrevesse um romance sobre um escritor famoso e premiado isso se torne verdadeiro para mim também. Não custa tentar. Em tempo, voltei para o primeiro romance em progresso e realmente o tempo que passei longe dele está me permitindo ver algumas coisas mais claramente, como uma cena que soa como se fosse de outra personagem. O que está pegando é o tom, que está informal demais e irrevente. Esta personagem nunca é irreverente quando fala do pai. Tenho de achar outra maneira de passar as mesmas informações, que são importantes para entender a relação dessa personagem com o pai. Também está mais fácil detectar as pequenas incosistências entre as versões dos personagens e que não foram criadas de propósito, fui eu que não lembrava dos detalhes entre uma história e outra. Depois percebi que isso só reforçava o efeito que eu queria. Se a estrutura desconjuntada vai funcionar para um leitor que não conhece a história ou não, ainda não dá pra saber. Obviamente, eu conheço a história bem demais para poder avaliar. Acho que vou dormir daqui a pouco porque amanhã tenho mais um dia de trabalho e quero estar bem descansada.
sábado, 27 de agosto de 2011
A melhor novela
Esta semana, fora Roque Santeiro, a melhor novela na TV tem sido a revolta na Líbia. A tomada do QG do Kadafi, a libertação dos jornalistas mantidos presos no Hotel Rixos, a briga pelo aeroporto, o detalhe inusitado da descoberta do álbum de fotos da Condoleezza Rice nos bunkers do Kadafi. Ninguém sabe o que vai acontecer a seguir e por isso passo os dias grudada na CNN, vendo os jornalistas se meterem em situações incríveis. Essa gente realmente tem que ter coragem. Com todo mundo em volta atirando pra cima ou pra cima de você, a chance de você se ferir ou morrer é real. Essa novela tem perigo, suspense, vilão, mocinhos e uma história que ninguém sabe no que vai dar.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
A queda que houve
Hoje eu dei de cara com o que acontece com uma pessoa quando ela se torna verdeiramente frágil. A queda que não tinha acontecido aconteceu hoje. Corrida para o hospital, pontos, tomografia, médicos. Complicado. A distância entre ser velho e ser frágil pode ser muito curta. Ainda estou tentando absorver o que houve.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Glamour zero
Os americanos resolveram pegar Prime Suspect, a fantástica série policial com Helen Mirren, e refazer a série do jeito deles. Vi um trailer outro dia num site e não fiquei muito entusiasmada. Tenho visto muitas séries inglesas de uns tempos pra cá e, sinceramente, acho que elas ganham da maioria das séries americanas. Pra começo de conversa, os ingleses são especialistas nas séries policiais e de mistério. Segundo, os atores são imbatíveis. E três, eles não estão interessados em glamour. Por exemplo, no Prime Suspect original, Helen Mirren tinha por volta de 47 anos. Ela tinha uma cara cansada, era uma pessoa às vezes desagradável e logo no primeiro episódio ela se aproveita da morte de um colega para assumir a investigação que ele chefiava, o que foi eticamente meio duvidoso. E ela faz de tudo para levar a investigação até o final. Os sets são os mais prosaicos possíveis, tem aquele aspecto de um lugar usado há muito tempo e meio desgastado, os policiais têm cara de gente normal, ninguém é bonito. A investigação é feita de pesquisas chatas e repetitivas, longas esperas, e o instinto infalível da Jane Tennison (Helen Mirren) para achar o culpado. E isso é muito comum em séries inglesas. O protagonista não é jovem e lindo, musculoso. Aliás, a grande maioria dos detetives deles são pessoas de 50 para cima. Um exemplo recente é o Luther, um policial que tem um instinto infalível para achar criminosos, mas separado da mulher, ele mora em um apartamento que é um buraco, sempre tem a barba por fazer e parece viver à beira de algum tipo de colapso mental. Glamour zero. Agora vejamos as séries americanas. Todo mundo é lindo, jovem, musculoso, os sets são estilosos e tem aquela edição ágil de videoclipe. E nas séries de TV aberta, tudo é diluído em 22 episódios quando os ingleses costumam concentrar seus dramas em temporadas de seis, dez episódios e eles nunca têm medo de ir até as últimas consequências de uma trama. Protagonistas morrem de verdade. Novos atores entram para tomar o lugar do ator que partiu e ninguém pensa duas vezes em fazer isso. Por isso e outras coisas, acabam sendo séries mais densas e muitas vezes inovadoras. Quem teria inventado uma série sobre um lobisomem, um vampiro e uma fantasma que são amigos e dividem uma casa? Talvez seja o fato de eles trabalharem com menos dinheiro e bem longe do esquema de Hollywood. Talvez seja uma influência de toda uma longa tradição literária no país e que tem Shakespeare como grande ícone. Não sei direito. Mas ao ver a versão glamurizada de Prime Suspect, fiquei meio desanimada, achando que os produtores da série não tinham entendido qual era o sentido da série original, que era oferecer uma visão mais realista da investigação policial e do papel da mulher em uma força policial machista.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Coragem
Estou desde cedo ligada na CNN, vendo as incríveis imagens dos rebeldes na Líbia entrando no complexo do Kadafi e carregando armas, quadros, munição, uniformes dos soldados. Você vê rebeldes atirando no ar, crianças passando, é uma loucura. E no meio disso a repórter Sara Sidner, que chegou a Tripoli junto com os rebeldes e por isso estão deixando ela entrar e mostrar tudo. A mulher sabe se meter numa roubada. Quando terroristas tomaram aquele hotel em Mumbai, ela estava na frente do hotel, debaixo de fogo dos terroristas, por horas a fio, fazendo a reportagem. Agora cá está ela em mais uma roubada, no meio de um monte de gente atirando para o ar (o que é perigoso para caramba), e dá para ver que ela está assustada, mas segue com o trabalho dela. Você precisa mesmo ter coragem para fazer esse trabalho. Incrível.
O vazio no ar
Já começaram os especiais sobre 11 de setembro. Não é para menos. Faz dez anos da data mais absoluta da vida de todos nós. Nada se compara com aquilo que aconteceu naquele dia. Nem outros atentados, nem guerras, nem revoltas que acontecem diante de nossos olhos nos noticiários da TV. Aquele foi um dia de uma violência tal que até hoje estamos tentando entender o que houve. Multiplicam-se as narrativas sobre aquele dia. Mesmo que sejam só as das pessoas que estavam na frente da TV, vendo tudo acontecer sem entender nada. A narrativa é nosso meio de tentar entender as coisas. Lembro de um documentário fascinante que assisti sobre a famosa foto do homem que caía do WTC e das pessoas que tentaram descobrir a identidade desse homem. Por extensão, o documentário também entrevistou os parentes de pessoas que se jogaram das torres. E cada uma dessas pessoas tentava entender o que foram os últimos momentos de seus entes queridos simplesmente porque eles não tinham como contar essa história até o fim. E a fascinação com o voo 93 que caiu na Pensilvânia deriva da mesma coisa, de não podermos contar até o fim o que houve nesse avião. As lacunas, os espaços em branco são sempre irresistíveis. Eu, que morei em Nova York quando o WTC ainda era muito novo, estive lá em cima, toda vez que vejo a silhueta de Manhattan, ainda sinto falta daquelas torres, sinto aquele vazio no ar. Faz dez anos, mas ainda vamos sentir essa ausência por muito tempo.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Água
Eu tinha mandado meu romance para um concurso literário e o resultado saiu hoje. Água. Não será agora que vou virar uma escritora premiada, rica e famosa. Vai ter que ficar para a próxima. O que vai ser esta semana, já que vou despachar o bicho para mais outro concurso. Se a gente insistir, quem sabe um dia não sai?
Andando na chuva
Terminei. Acordei hoje muito inquieta e resolvi voltar para a Travessa para fechar a primeira versão do romance. Faltava muito pouco e eu sabia que não ia conseguir trabalhar direito essa semana faltando apenas quatro cenas para fechar o texto. O texto ficou mais curto em comparação com outros textos meus, mas inevitavelmente sei que vou encher o romance um pouco mais quando for escrever a segunda versão, preencher todos os claros que ficaram. Levei cinco meses nesse processo e foi muito bom. Agora vou voltar a O círculo que nunca se fecha, fazer o que espero sejam ajustes finais, o que deve me levar até o final do ano já que o mês de outubro vai ser todo dedicado aos dois festivais de cinema deste ano. Geralmente o Fest-Rio e a Monstra ocorrem com um intervalo de duas semanas entre o fim de um e o começo do outro. Este ano ele será de dois dias por conta do Rock in Rio. Daí este ano teremos a Monstratona. Provavelmente vou precisar do mês de novembro para me recuperar. Terminei o texto poucos minutos antes da Travessa fechar, fiz um brinde a mim mesma com minha Coca-Cola, depois andei um pouco na rua debaixo da chuva, me sentindo leve e feliz (e entendendo o Gene Kelly perfeitamente) antes de chamar um táxi para voltar para casa. Sábado que vem, voltamos alegremente ao romance em progresso 1.
domingo, 21 de agosto de 2011
Cada um com sua versão
Chegando lá. Sinto-me impaciente para terminar a primeira versão do romance em progresso 2. Claro que ainda tem muita coisa para escrever, mas agora quem está precisando de distância é esse romance. E estou doida para voltar ao romance em progresso 1, O círculo que nunca se fecha para os íntimos. Assisti a um programa da BBC que baixei da internet e que me deu várias ideias para incorporar ao romance. Acho que a essa altura já posso voltar para ele e acertar o que está faltando. Já achei uma solução para a parte da segunda personagem que não vai me exigir arrancar tudo e reescrever páginas e mais páginas. Quem me deu a ideia foi um escritor irlandês chamado Colm Toibin. Já li um romance dele que achei genial e li vários contos dele. Também já tenho uma solução para mexer na vida amorosa de outro personagem para que não fique como a de outros personagens. Também tenho mais detalhes para acrescentar no pedaço do quarto personagem. E sei que vou ter que rever o ordenamento das cenas da terceira personagem. Até agora, o que eu mais gosto desse romance é que penso ter conseguido equilibrar os personagens para que não sejam só de um jeito. Todos eles têm várias facetas, nem todas lisonjeiras, e me interessa explorar isso. Sem falar que tem o grande barato de eu estar explorando diferentes versões de uma mesma história, então não preciso ter o mesmo cuidado que eu teria em um outro romance de garantir que os detalhes batem. Cada um deles tem sua versão do que houve, mesmo que sejam versões muito diferentes. Brincar com isso me interessa. E esse é meu motivo para ter o romance em primeiro lugar. Em geral, eu costumo começar com uma história, mas este começou com a estrutura, quase como uma brincadeira. E se em vez de ir para a direita, a pessoa tivesse ido para a esquerda? O que teria acontecido? Para a direita ela poderia ter encontrado o amor da sua vida. Para a esquerda, ela poderia ter sido atropelada. Levei um tempão para entender como eu poderia fazer essa ideia dar certo. Acabei me baseando em um evento que ocorre durante uma semana na vida desses personagens e, com base nas decisões desses personagens durante essa semana, a história vai para um lado ou para o outro e o romance é o resultado dessas decisões. Cada um toma uma decisão e cada um tem uma trajetória um pouco diferente. Então, na prática, estou contando quatro histórias. O controle disso tudo é complicado, mas acho que o resultado vale a pena. Talvez eu já possa começar semana que vem. Vai depender de como render meu dia na Travessa no próximo sábado.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Meu quarto de escritor
Adoro quando falam que o trabalho do escritor é solitário. É meio inevitável sorrir quando faço isso toda semana no meio de uma livraria cheia de gente. Não duvido que a solidão seja necessária para escrever. Mas não acho que ela seja necessária para mim. Desde que comecei a escrever, eu tinha o hábito de escrever no meio da sala de aula porque estava de saco cheio. Isso tinha a vantagem de fazer parecer que eu estava interessada e adiantava o que eu estava escrevendo na época. Na época em que eu trabalhava numa editora, também escrevia no restaurante onde almoçava todo dia. Parei com isso um pouco porque no meu próximo emprego eu tinha companhia para almoçar, mas eu nunca parei de escrever em público. Eu escrevia muito em casa também, sentada na minha cama, ao som da MTV, mas depois que comecei a trabalhar em casa, ficou complicado ter concentração para escrever no mesmo lugar em que eu trabalhava. E aí eu descobri o café da extinta Letras e Expressões em Ipanema. Meu hábito era ir lá toda vez que me sentia muito inquieta em casa. Passava umas poucas horas lá, escrevendo, comprava umas revistas e voltava para casa mais sossegada para continuar a trabalhar. Quando a Travessona de Ipanema abriu, eu me transferi para o café de lá e foi lá que encontrei o lugar perfeito para escrever. Os vendedores do segundo andar brincam comigo que eu devia fazer a reserva da minha mesa antes de vir para garantir que ela esteja vazia. Não faço questão de silêncio, mas preciso sim de concentração. Antigamente era na cara e na coragem. Hoje em dia tenho meu MP4 player com uma vasta seleção de músicas pop que me fornece concentração instantânea. Acho que, na prática, a única solidão de que preciso é de estar sozinha dentro da minha cabeça. Eu curto o movimento, gosto de observar as pessoas, de conversar com os vendedores. O jornal The Guardian tinha aquela série de quartos de escritores, infelizmente já encerrada. O meu quarto é uma livraria inteira.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Do valor educativo de dar de cara na parede
Li a coluna mais recente do Michel Laub para o blog da Companhia das Letras. E fiquei pensando nessa coisa de ter amigos escritores criticando o seu trabalho. Claro que pode ser uma saia justa se você não gosta do texto do amigo. Para mim, algumas das melhores críticas que recebi foram de amigos e arrasaram com o que eu tinha escrito. Foi durante o processo de escrever o primeiro romance. Eu o dei para essas duas pessoas e sinceramente esperava receber elogios, pois ambas já tinham elogiado meu texto anteriormente. E aí vieram as críticas negativas e foi como levar duas cacetadas na cabeça. Fortes, arrasadoras, definitivas. É mole quando alguém vira para você e diz que você esqueceu uma vírgula ou errou um tempo verbal. O mais difícil é te dizerem que você fez merda e ter de reconhecer que isso é verdade. É importante ressaltar que essas críticas vieram de amigos, não necessariamente íntimos, mas que eu sabia serem sinceros e que me diziam essas coisas com a real intenção de me ajudar. A validade da crítica realmente depende da origem. E acho que foi a partir deste momento em que realmente passei a acreditar no valor educativo de dar com a cara na parede. Foi um baque receber essas críticas e fiquei mal por uns dias. Mas depois desses dias, vi que elas eram corretas, respirei fundo, joguei fora dois terços do romance e comecei de novo. E o romance ficou muito melhor por conta disso. Essa é a diferença entre simplesmente meter o pau e fazer uma crítica genuína. Eu sofri com as duas coisas e aprendi a diferenciar entre elas. E em função disso, acho que hoje tenho uma visão mais objetiva do meu texto, do que dá certo e do que dá errado do que tinha antes. Até o final do ano acho que terei de colocar meu romance em progresso na mão de alguns amigos para receber criticas. Vamos ver no que dá então. Essa é uma espera ainda pior que aguardar um verdicto das editoras. O romance funciona ou não? Os personagens vivem ou não? A estrutura funciona ou deixa todo mundo perdido? As pessoas entendem a proposta? É o que veremos, provavelmente em 2012, porque ninguém nunca lê essas coisas em um ou dois dias comigo. Todo mundo leva uma vida inteira. Quando eu tiver notícias, eu conto.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Obstáculos
Obstáculos. Cheguei à conclusão ontem que meu personagem precisa de mais obstáculos. Eu passei de uma novela em que eu resolvia tudo com três discussões e meia dúzia de páginas para um romance em que não dá para fazer a mesma coisa. Eu já violo a primeira regra dos romances, pois os meus são intimistas e com meia dúzia de personagens, se tanto, quando originalmente romances deviam ser vastos, com elencos do tamanho de um blockbuster de Hollywood e cobrir décadas de história. Eu seria incapaz de escrever algo assim. Mas como eu preciso encaminhar a história para o fim e deixar o personagem na maior merda antes de, no final, redimi-lo um pouco, preciso criar mais alguns obstáculos para ele pois percebi que dei a ele tudo o que ele queria. Agora preciso tirar um pouco dessa facilidade. E também sumi com uma personagem importante. O personagem principal consegue o que quer dela e aí ela some. Correções de rumo. E digitar este romance em progresso vai dar um trabalhão já que até agora a maioria dele está me saindo em inglês e vou ter de traduzir tudo na hora de digitar. Claro que traduzir a mim mesma é muito mais fácil pois é o mesmo processo de composição em inglês e português, exceto quando eu crio uma frase em um inglês muito específico e que levo séculos para verter. Sempre gosto desse processo de ir pensando o texto enquanto ele vai se escrevendo. Já estou sentindo que talvez seja melhor ir digitando este texto mais cedo em vez de mais tarde para já colocar ele na ordem certa. Depois eu decido.
A quase queda
Almocei com meu pai hoje. Não, não foi por causa do Dia dos Pais. Na verdade, esse foi o almoço por conta do meu aniversário que acabou sendo adiado porque ele não estava se sentindo bem. Meu pai é uma daquelas pessoas que envelheceu meio precocemente. Ou talvez o mais correto seja dizer que por ele estar com setenta e tantos, ele acredita que deva ser velho enquanto que minha mãe faz questão de não reconhecer que existe uma coisa chamada velhice não importando qual a sua idade. Desconfio que ela vai morrer sem nunca admitir que tem cabelos grisalhos. Só posso supor que ela os tem já que ela pinta o cabelo de louro desde antes de eu nascer (encontrar uma foto antiga dela poucos anos antes do meu nascimento com ela de cabelos castanhos como os meus foi uma descoberta monumental, não sei como ela não a queimou) e se eu tenho dois fios brancos de cabelo, ela tem de ter mais. De todo modo, quase um mês depois do meu aniversário, sentamos afinal para almoçar e eu devorei um prato monumental de tempura de camarão. Para não perder o hábito, fiquei admirando o prato de sashimi que chegou na mesa ao lado e lamentando não ter pedido ele também. Mas já era o final da refeição e saímos para nos despedir. Ele foi entrar no táxi, percebeu que eu não ia entrar nele (eu ia para a Travessa ali perto) e voltou-se para me dar um beijo. Só que ele perdeu o equilíbrio e quase caiu (meu pai vem sofrendo de problemas nas pernas nos últimos anos que afetam sua mobilidade). Tive de segurá-lo para evitar que ele se estatelasse na calçada. Mas deu tudo certo, ele me deu um beijo e entrou no táxi, voltou para casa. Eu segui meu caminho. E ao caminhar, refleti sobre esse estranho momento em que me vi mais forte fisicamente que meu pai, em que dei de cara com o fato de que ele se tornou uma pessoa frágil. Meu pai, o diplomata que viajou meio mundo, agora evita sair de casa porque andar se tornou muito penoso. Intelectualmente você sabe que vai ter de enfrentar momentos assim. É muito estranho quando eles aparecem de verdade. É meio como se fosse algo artificial. Como se alguém aparecesse com um roteiro e dissesse, olha, chegou a hora de... Tomara que eu não tenha de passar por isso com minha mãe por muito tempo ainda. Desconfio que ela só vai sossegar quando passar dos 100 anos. Tomara.
sábado, 13 de agosto de 2011
Sonâmbula
Outro sábado. Esse eu atravessei meio que de teimosa porque estava caindo de sono. A semana foi complicada e tive de abrir mão de muitas horas de sono para terminar alguns trabalhos pois de repente um programa inteiramente novo caiu no meu colo e, para variar, quando minha agenda complica, todo mundo resolve lembrar de mim, me pedindo traduções urgentes. Dormi pesadamente de sexta para sábado e mesmo assim ainda estava no déficit. Vou dormir bem esta noite e torcer para isso reestabelecer o equilíbrio. Apesar de estar sonâmbula, alguma coisa boa apareceu hoje, mais uma vez, explorações do passado, o que me parece ser um bom caminho para este romance em progresso. A arqueologia é, afinal, meu assunto preferido. Originalmente, eu tinha pensado em não explorar a família neste romance. A novela original não tinha qualquer menção a pais ou mães ou irmãos. Só que ao esticar esse material, era meio inevitável eles aparecerem. Eu os coloquei todos no passado já que, no presente, o personagem principal se mantém afastado da família. Foi bom porque pude criar uma família diferente das outras que já criei. Mas, ao contrário de outros textos, a família não está no centro da história. O próximo texto também não terá a família no centro. Mas ainda é muito cedo para saber os detalhes do próximo romance em progresso. Não sei se vou poder escrever amanhã. Tenho de fechar um filme para um festival. Amanhã eu decido.
Princípios de arqueologia
Sempre gostei de arqueologia e dessa ideia que o que você deixa para trás diz muito sobre civilizações e povos. Essa foi a ideia que levei para meu primeiro romance (ou melhor dizendo, o primeiro que deu certo). Ela começou com a observação dos objetos que as pessoas tinham nas suas salas, suas estantes, as pequenas lembranças que as pessoas guardam. E alguns anos antes eu tinha visto uma amiga dizer que precisava separar as coisas do marido que tinha acabado de morrer. Na época, sei que não entendi o peso desse gesto. Depois me peguei pensando na minha amiga olhando os objetos do marido e o peso das lembranças que eles deviam carregar. Esse foi um dos pontos de partida do romance. O outro foi meu hábito de ir acumulando papéis, cartões de visitas, cartelas de aspirina e outros objetos nos bolsos do blazer que visto sempre que vou à rua. O Batman tem seu cinto de utilidades, eu tenho meu blazer. Volta e meia tenho de esvaziar os bolsos e jogar fora o excesso de papelório. E foi nesse gesto que me veio o primeiro parágrafo do romance, escrito no meio do café de um cinema durante um dos muitos festivais de cinema em que trabalhei. Seis anos depois, apesar de becos sem saídas, recuos, recomeços, finalmente terminei o romance e desde então venho buscando a publicação. Com sorte, terei uma resposta positiva este ano. Vamos cruzar os dedos.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Arqueologia pessoal
No meu primeiro romance, a personagem central precisa revirar as coisas que o irmão morto deixou para trás e a partir disso faz uma tentativa de entender quem era esse irmão a partir de seus objetos pessoais. Curiosamente, uma poeta fala mais ou menos a mesma coisa em um artigo no The Guardian que saiu hoje. E o que ela fala bate muito com o que eu penso. O artigo pode ser encontrado aqui.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Um brilho diferente
Sempre gosto das horas em que consigo me surpreender com o texto. Fui assistir o Reinaldo Moraes falar na Biblioteca Nacional, depois catei um lugar para jantar. E enquanto jantava, dei seguimento a uma cena que comecei no sábado. E a cena que começou como uma coisa de repente deu uma virada e se transformou em outra coisa muito melhor que a direção original que eu tinha em mente. Não sei de onde surgem esses súbitos rasgos. É bom saber que eles são possíveis de vez em quando. Ainda mais porque não sou alguém que fica trabalhando muito a linguagem. Mas aí, de repente, sai uma cena que parece ter um brilho diferente e fico contente. É um dos prazeres de ser Clark Kent.
domingo, 7 de agosto de 2011
Feliz aniversário, Lucy
A grande dama da comédia americana, Lucille Ball, nasceu há 100 anos em 6 de agosto de 1911. Ela foi uma pioneira de várias maneiras, tendo um dos sitcoms mais populares do país, criando uma produtora poderosa que nos anos 60 produziu Jornada nas Estrelas quando os produtores eram quase todos homens. E ela era simplesmente uma das comediantes mais engraçadas da TV americana. Ela não tinha medo de tentar nada para fazer graça. Eu assistia seu programa mais popular, I Love Lucy, todos os dias quando morava em Nova York nos anos 70. Todo mundo que já a assistiu tem sua cena preferida. A minha sempre será a deste clipe. Você nem precisa saber muito inglês para entender.
Meio mastro
Fui para a Travessa mais por teimosia do que necessariamente vontade e também por que não aguentava mais olhar para essas mesmas paredes aqui de casa. Eu tinha que sair. Cheguei na livraria a meio mastro e fui melhorando com o passar do dia. Antes de começar a escrever, passei na farmácia que tem ali perto e me abasteci de remédios para combater meu resfriado. Xarope, remédio para o nariz e para resfriados, pastilhas para a dor de garganta. Devidamente medicada, eu me voltei para meu labor literário. Decidi continuar os temas da semana passada e escavar o passado dos meus personagens. A função do passado, claro, é iluminar o presente. Há uns dez anos, durante um laboratório de roteiro, um roteirista americano disse que qualquer flashback tinha de ser orgânico. Ou seja, sua colocação tinha de parecer completamente natural. O que nem sempre é fácil. Já sei que me distanciei da minha rota natural para escrever esses flashbacks e quando digitar tudo, vou ter de remanejar as cenas para encontrar sua ordem correta, sua ordem "natural". Não importa, depois eu volto para o curso normal da história. Neste momento, as descobertas desses flashbacks são importantes para iluminar os personagens. E eu gosto desses momentos de iluminação. Amanhã volto ao batente. Pena, queria descansar, mas não vai dar. Talvez no fim de semana que vem.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Lerda e burra
Esta é uma daquelas semanas em que a expressão "thank God it's Friday" nunca foi mais verdadeira. Fui pega por um meio resfriado, passei a semana meio lerda e burra e sem saco para nada. Estou tomando remédio, mas é aquela coisa que só passar o dia debaixo das cobertas, dormindo, cura. E é curioso eu estar inquieta e impaciente (ainda mais com uma obra no vizinho fazendo barulho o dia inteiro) justo quando eu andava pensando o quanto a idade efetivamente pode te trazer uma maior tranquilidade. Tinha um artigo sobre isso em um dos vinte mil sites que eu olho durante a semana. Foi um susto quando afinal percebi que ter quarenta anos não era a mesma coisa que ter vinte anos e que eu de fato havia aprendido alguma coisa nesse meio tempo. E eu penso no que me disseram, que quando eu achasse o primeiro cabelo branco, eu iria ter um treco. Acontece que achei dois cabelos brancos nascendo bem ao lado da orelha há alguns meses. E ri com a descoberta. Achei engraçado. Desconfio que não vou pintar o cabelo quando a coisa ficar mais visível. Isso é porque venho lidando com essa questão no romance em progresso atual, o que se ganha e o que se perde quando de envelhece, ou melhor, se amadurece. Inevitável não passar muito tempo pensando nisso depois que se chega aos 40. Não tenho achado muito ruim até agora.
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