terça-feira, 6 de setembro de 2011

Diário a céu aberto

Durante toda a vida eu quis ter diários. Eu achava que seria interessante ter um registro do meu cotidiano. Mas toda vez que eu tentava, imediatamente me vinha um certo desconforto. O que eu tenho de tão interessante na minha vida que vale a pena registrar? Minha conclusão: porra nenhuma. E no rastro de Anne Frank, era meio inevitável desconfiar que o que se escrevia era não para consumo próprio, mas para alguma geração futura e isso era um pouco de megalomania demais para mim. O blog tem esse lance de ser um diário a céu aberto. Foi o Ramones que me meteu nessa, me aconselhou a ter um blog. E acabei gostando, mesmo desconfiando que só haja uma meia dúzia de pessoas me lendo. Não tenho trinta mil amigos. Não sou extrovertida e nem tenho uma vida social intensa. Nunca soube me promover, o que obviamente ajuda a explicar porque passei anos sem me tocar que eu podia tentar publicar os poucos contos que considero decentes. Passo a semana em casa, trabalhando sozinha e saio nos fins de semana para escrever. As pessoas que mais vejo são os vendedores do segundo andar da Travessa. É uma vida praticamente monástica. E agora tenho essa janelinha que abro para pessoas que não faço ideia de quem são. Tem dias em que isso me bate como muito estranho. Mas, sei lá, de uns tempos pra cá a gente meio que vem vivendo a vida particular meio que no meio da rua mesmo. Falamos ao celular coisas super íntimas no meio da rua. Uma das conversas mais íntimas da minha vida aconteceu no meio da Travessa, falando ao celular com uma grande amiga que mora nos EUA e que soube de uma situação difícil que eu estava passando. Então, porque não discutir coisas minhas em um blog? Confiro ocasionalmente quantas visitas recebo, que passaram das cinco mil de acordo com o medidor que instalei. Não sei se isso é verdadeiro. E não sei quem me visita. Sigo achando isso estranho, mas tudo bem, todo mundo pode entrar. A casa é sua.

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