Paraty. Cheguei e o tempo já começou a se comportar de uma forma estranha, a hora passando cada vez mais devagar até quase parar. Sentei de tarde no Café Paraty e fiquei olhando para o nada. É meio estranho não ver a Tenda dos Autores do outro lado do rio ou as bandeiras na ponte, as multidões literatas. Mas tem a vantagem de não ficar tropeçando em cima das pessoas a caminho do restaurante ou do bar. Cheguei super cansada hoje. Amanhã vamos engrenar no trabalho literário. Clark Kent precisa aproveitar que está em Paraty.
terça-feira, 19 de julho de 2011
segunda-feira, 18 de julho de 2011
No more camera
Acabo de descobrir que minha câmera pifou. Vou ter que ficar só na câmera do celular. Pena. Parte da graça de Paraty é poder fotografar a cidade. Pelo menos agora as câmeras estão mais baratas e vou poder comprar uma a prazo no Ponto Frio ou coisa parecida.
domingo, 17 de julho de 2011
Escrever é preciso
Já comecei a fazer minha mala para Paraty. Como sempre, gosto de preparar a mala com antecedência suficiente para garantir que não vá esquecer nada. Especialmente carregadores e tal. Vou levar minha câmera e meu laptop comigo. Não sei se vou fazer um diário de Paraty, não sei que fotos vou tirar. Da única vez em que estive em Paraty sem FLIP foi quando trabalhei como intérprete num laboratório de roteiros patrocinado pelo Sundance de Robert Redford. Então era ralação durante o dia e nada de tempo para passeios. Claro que, de noite, depois do jantar, o pessoal gostava de ir a um barzinho da área para tomar uma cachaça. Resultado, eu ia dormir de madrugada e tinha de acordar cedo para trabalhar no dia seguinte. Minha sorte é que eu não bebo, então não tinha de enfrentar uma ressaca braba. Ser boa moça tem suas vantagens volta e meia. Mas nessa história toda, eu realmente não fui muito longe do entorno da Praça da Matriz, onde ficava a pousada que hospedava o pessoal do laboratório. A mesma pousada, aliás, que agora hospeda as estrelas da FLIP. Agora, claro, não terei horários nem obrigações, nem vou precisar correr na hora do almoço com medo de perder a hora da próxima mesa. Tudo que quero fazer é escrever. E essa semana de descanso encaixa bem com uma necessidade de reavaliação que senti hoje durante meu "expediente" na Travessa. Eu escrevi algumas cenas que precisam ser empurradas para o final do texto. E desconfio que minha ideia de alternar cenas de 1989 com 2009 não vai dar certo. Vou ter de imitar um pouco a estrutura de "O tempo e os Conways". Com a diferença que a parte de 1989 vai ser o miolo e 2009 terá de ficar nas extremidades. Inclusive, eu venho resistindo a aceitar a constatação que não tenho tanta história para contar em 1989 quanto em 2009. A primeira versão é sempre cheia dessas mudanças, dessas constatações do que funciona e do que não funciona. A ideia de explorar o passado é boa, mas inevitavelmente na passagem entre 89 e 09, eu revelo o que aconteceu nesse meio tempo e mata a primeira narrativa. Sei lá, vou pensar. É pra isso que existe computador mesmo. Depois de tudo digitado, você pode colocar as coisas na ordem que quiser. O lado bom é que a escrita está correndo muito bem e muito rápida. Gostaria de ter a primeira versão pronta até final de agosto ou setembro. Depois posso voltar para o primeiro romance em progresso com alguma distância. Ontem, conversando com a Elvira Vigna, perguntei como andava o novo texto dela e ela me disse que não tinha pressa. Eu, ao contrário, estou com toda pressa do mundo. Quero produzir e produzir muito. Escrever é preciso.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Mãe, Ramones, cervejas
Minha intenção quando eu saí de casa ontem era passar nos correios, comprar minhas passagens para Paraty, tirar dinheiro do banco e ver a palesta do Valter Hugo Mãe na Travessa do Leblon. Os três primeiros itens da minha lista foram fáceis. O quarto nem tanto. Cheguei na Travessa super cedo. Imaginei poder almoçar tarde (ou jantar cedo) e ficar escrevendo e lendo no restaurante até sentir que era hora de tomar meu lugar nas cadeiras já arrumadas para o evento. Mas eu subestimei o quanto o homem tinha virado um pop star em Paraty. Quando eu vi, todas as cadeiras estavam tomadas mais de uma hora antes do evento e as que estavam vagas estavam marcadas com um papel escrito "reservado", o que dava quase metade do total de cadeiras. E com o passar do tempo a livraria ficava cada vez mais cheia. Logo, havia gente suficiente para encher meia Tenda dos Autores. Entreguei pra Deus e resolvi achar um lugar para ficar aonde desse. Acabei ficando num banco logo acima de onde estava a mesa da palestra e vi de camarote quando chegou o Valter ao som de Tempo Perdido, uma música do Legião Urbana que ele falou que adora. Eu não pude ouvir direito por estar atrás dos alto-falantes, mas o que eu ouvi eu gostei. Muito simpático, muito falante, cheio de humor e, a meu ver, autêntico. Teve uma hora em que ele disse estar mais nervoso na Travessa do que em Paraty, porque lá a Tenda fica escura e na Travessa tudo estava iluminado. Mas lá pelas tantas, apesar dos óculos vencidos, reconheci o Ramon Mello do outro lado da livraria e fui lá me encontrar com ele. E o resto da palestra ficou esquecida porque começamos a conversar e aí ele se encontrou com várias pessoas que ele conhece (e ele conhece mil pessoas, o que é sempre motivo de admiração para mim que não conheço quase ninguém) e acabamos tomando uma cerveja no restaurante da Travessa enquanto esperávamos diminuir a fila de autógrafos do Valter. Saímos da livraria por volta das onze da noite depois de uma conversa agradável, algumas cervejas, Cocas, conhecer pessoas novas. Juntando tudo, acabou sendo um bom dia. É sempre um prazer poder me encontrar com o Ramon, ainda mais porque é tão raro. Vivemos os dois atolados de trabalho. Fazer o quê. Quem sabe, a gente possa se encontrar mais esse ano. Quero mostrar meu novo trabalho para ele. E nesta sexta, mais um encontro, agora com Elvira Vigna. Lançamento de livro na Travessa, agora de Ipanema. Minha casa. Vai ser bom também.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Quatro dias
Estarei em Paraty dentro de uma semana. Férias. Ou pelo menos uma tentativa de férias. Quatro dias em Paraty sozinha para escrever. Vou dar uma olhada naqueles bares em que não consigo entrar porque durante a FLIP tudo está tão lotado. Quando falei com minha mãe (que por um acaso também está viajando, visitando minha irmã e os netinhos), ela não entendeu muito bem porque eu queria viajar sozinha. A verdade é que não muita gente entende por que me sinto perfeitamente à vontade sozinha. Quando você não tem muitos amigos quando é criança acaba descobrindo como se divertir sozinho. E a vantagem de estar sozinha é que isso permite a você observar as pessoas em volta. É um pouco como se você ficasse meio invisível quando está sozinho. Um fenômeno estranho, mas que já confirmei algumas vezes. As pessoas costumam prestar mais atenção em grupos, a não ser que você seja uma figura muito estranha. Mas para quem escreve, a observação é uma atitude vital. Quantas vezes já tive ideias para cenas a partir da observação das pessoas na livraria. Já vi um pouco de tudo. Casais, famílias, grupos ruidosos e até um barraco histórico que aconteceu no restaurante. Eu fico torcendo que possa usar esse barraco e a linda imagem de pedaços de salada voando no ar que eu testemunhei em algum romance um dia desses. Quatro dias para escrever e ficar observando as pessoas vai ser uma delícia. Ainda mais porque parece que escolhi justo a semana em julho em que não acontece nada em Paraty. Vai ser uma delícia.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Teatro escuro
Noite fria, teatro escuro, a emoção espessa no teatro de arena. Falar de coisas difíceis é necessário. Depois a luz se acende e você confirma mais uma vez o quanto o companheirismo é necessário, o simples gesto de comparecer e dizer "gostei". Em seguida, uma refeição entre amigos, algumas horas de conversa gostosa. É o que basta para você poder dizer que teve um bom dia. Às vezes, eu esqueço disso e preciso que me lembrem. Hoje foi um bom dia. Valeu, Ramones.
sábado, 9 de julho de 2011
O personagem se esconde
Tem horas em que o personagem se esconde de você. Você o perde de vista e é preciso um certo trabalho de detetive para achá-lo de novo. Estou começando a achar que o caminho para melhor revelá-los é, mais uma vez, voltar ao passado. Como é que o personagem de 1989 vira o personagem de 2009? Esse buraco de 20 anos tem de começar a ser preenchido ou vai acabar sendo inverossímil que os dois sejam a mesma pessoa. Vou ter de responder a uma pergunta para a qual eu não sei direito a resposta. Como é que a gente vira a pessoa que é aos 40 quando era diferente aos 20? A resposta que eu inventar será ficção com certeza. Há escritores que gostam de escrever sobre épocas em que não viveram, criar grandes épicos. Confesso não ter esse tipo de imaginação. Ou paciência para fazer a pesquisa necessária sobre hábitos, costumes, história, etc. Meu negócio é inventar situações pelas quais nunca passei e a aventura é tentar dar verossimilhança a elas. Afinal de contas, a vida da gente é muito banal e é preciso inventar muita coisa para a história ser interessante. Nos últimos anos, por exemplo, o grosso da minha vida tem sido dedicado a trabalhar em casa, sozinha, acompanhada dos meus cachorros. Não passei por aventuras ou grandes viagens, não desbravei matas ou fiz grandes descobertas científicas. Sobre o que vou escrever? Não passei por casamentos ou divórcios conflituosos, não saio feito louca toda noite para encher a cara e dançar em boates até me acabar. Sou viciada em Fanta Laranja e boa comida asiática. Sou uma nerd que sempre foi muito CDF, certinha, boa moça. Very boring. Daí escrevo sobre aquilo que me passa pela cabeça, das dúvidas e inseguranças (que não são poucas), medos, neuroses, certezas, tristezas, alegrias. Duvido que algum cineasta conseguisse adaptar meus textos para o cinema porque no geral eles se passam todos na cabeça dos personagens. Mas claro que preciso publicar algo primeiro para que queiram cometer essa besteira. Amanhã vou na estreia da peça Todos os Cachorros São Azuis, baseada na obra do Rodrigo Souza Leão, adaptada pelo meu amigo Ramon Mello, curador da obra póstuma do Rodrigo. Ramon é uma pessoa talentosa que sempre batalha por aquilo que quer, um cara generoso. Levo muita fé em tudo o que ele faz, então a peça deve ser maravilhosa. E convido a todos para irem também.
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Desencantar
Descubro que a revista Granta vai abrir uma seleção para novos autores. Fico entusiasmada. Que chance maravilhosa. Só tem um problema. Eles fecham a seleção para quem nasceu antes de 1972. O que é uma grande sacanagem já que ser novo nem sempre significa ser novo cronologicamente. Costumo brincar com um amigo que sou a nova velha revelação da literatura brasileira. Eu publiquei um conto no Suplemento Literário de Minas Gerais e depois passei um longo tempo sem produzir realmente até começar a escrever meu romance em 2002. E isso levou 6 anos para ficar pronto. Por isso sigo inédita praticamente e cada vez menos elegível para essas chances que se abrem para novos autores. Bom, uma hora qualquer eu vou desencantar. E aí vamos ver o que acontece.
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Sossego
Não, não estou escrevendo de Paraty. Este ano Clark Kent não vai para a FLIP. Eu vou para Paraty na semana do meu aniversário, mas a FLIP eu vou ver de longe, pela Internet. Eu só sinto um pouco de pena de não poder fotografar a cidade, que é uma das coisas que eu adoro. Por um acaso, a semana que eu escolhi para viajar é justamente uma em que não tem nada acontecendo. Ou seja, pela primeira vez, devo pegar a cidade vazia. Mas é isso mesmo que eu quero, um tempo pra mim, pra escrever, tranquila. Clark Kent quer sossego.
domingo, 3 de julho de 2011
A seco
Desconfio que foi o cansaço dessa semana. Eu que normalmente saio de casa com a cabeça se enchendo de ideias no caminho para a livraria, fiquei completamente a seco por algum tempo até minhas leituras do dia despertarem a veia criativa. Parte do problema também é que eu estou esticando uma história que era bem mais curta. Ela não funcionava quando era curta, mas a questão é saber como e onde rechear a história, que fatos inventar e acrescentar. Outra parte do problema é que ainda não desenvolvi completamente o personagem de 1989 e daí fica complicado inventar cenas para ele. E esse é um personagem que não aprende. Ele tem de permanecer essencialmente o mesmo desde o início até o final da história. O que ele aprende será visível apenas na parte de 2009. O que fazer então? Desconfio que a melhor coisa a fazer é explorar o passado dele e tentar pintar um panorama de como esse cara chega a 1989 do jeito que ele é. Amanhã vou seguir tentando achar um caminho.
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