sábado, 30 de junho de 2012

Pancadas

Não é que eu goste de levar umas pancadas na cabeça. Muito pelo contrário. Como a maioria das pessoas, prefiro muito mais levar uma vida em que só acontecem coisas boas. O que não posso fazer é dizer que essas cacetadas não são úteis às vezes. Elas servem para te sacudir e te fazer pensar. Levei uma cacetada dessas essa semana e isso serviu para que eu começasse a pensar em antigas questões minhas, mas também sobre coisas que escrevi em um dos meus romances em progresso. De repente percebi que o final de um de meus personagens tem de ser alterado. Alterado e aprofundado. Percebi que no texto original eu não fui fundo o suficiente. Mais uma vez eu me vejo andando naquela estranha linha que separa vida e ficção. O que, no meu caso costuma me acontecer ao contrário. Acho que já falei disso. Escrevo sobre uma coisa e depois ela me acontece. E é extremamente estranho me ver passando por uma situação sobre a qual eu escrevi, acreditando plenamente que ela ficaria só no reino da ficção, para depois vê-la se materializar na minha frente. A única vantagem disso é que eu entendo muito melhor aquilo sobre o que escrevi depois de ter efetivamente vivido o momento. A verdade é que imaginar certas coisas intelectualmente só pode te levar até um certo ponto. Só a experiência pode te dar a bagagem necessária para ir além.

domingo, 24 de junho de 2012

O que me sustenta

Sexta à noite, o evento a que eu fui reuniu vários escritores e chegou uma hora em que um dos escritores inevitavelmente falou da necessidade de escrever e do sofrimento de escrever. Tenho de confessar que essa colocação sempre me incomoda. Porque toda vez que tenho um dia como hoje, quando posso exercer minha grande paixão, eu saio da livraria tão cheia de energia que é muito difícil conseguir dormir. Tá, estou arrancando os cabelinhos tentando montar a estrutura do romance em progresso 2 ao mesmo tempo em que estou digitando tudo. E tem a frustração de não ter conseguido publicar até agora. Intelectualmente, eu sabia que seria difícil. Experimentar isso na prática não é nada divertido, mas a gente segue em frente. Mas o ato de escrever em si? Esse é o meu êxtase. É o que me sustenta.

sábado, 23 de junho de 2012

Sacrifícios

Fui a um evento hoje (sexta). Minha intenção era ir a um bar com o amigo que fui prestigiar, mas o evento demorou muito e não pude ficar até o final. Ser assalariada tem essas desvantagens. Antes eu dormia às duas da manhã, podia ir a um bar e acordar tarde no dia seguinte. Não há como não sentir falta disso. A sobrevivência exige certos sacrifícios. Minha liberdade foi um desses sacrifícios. Talvez mais para a frente eu possa voltar a trabalhar em casa. Estou aprendendo muita coisa no emprego, até acho que estou me tornando mais flexível do que era antes. Na minha idade vetusta, isso é algo muito bom. E inclusive significa que posso oferecer meus serviços a mais lugares, o que talvez me ajude a conseguir mais clientes e voltar para casa. Um emprego estável é muito bom, mas me custa um pouco ficar enfiada naquela caixinha todo dia. E saio para voltar para casa, olho as pessoas andando na rua e fico pensando "gado". Tento focar naquilo que realmente interessa, que é me sustentar, ter a minha vida, mas tem dias em que isso é mais fácil do que em outros.
Esta semana fez 35 anos que cheguei ao Rio vinda de Nova York para ficar em definitivo. Sinto-me menos estrangeira depois de tanto tempo, mas tem um lado meu que sempre será mais americano que brasileiro. E como essa data precede meu aniversário em precisamente um mês, entrei na contagem regressiva para meu aniversário. Adoro me dar presentes nessa época. É um perigo para minha conta bancária. Veremos se ainda estou no azul no final do mês.

domingo, 17 de junho de 2012

Raridade

Uma raridade. Um fim de semana em que posso descansar os dois dias. E francamente estou precisando. Antigamente, eu podia tirar cochilos no meio do dia para compensar qualquer noite passada trabalhando até tarde. Agora não tenho mais esse luxo. Tenho de cumprir meu horário de trabalho não importa o quê. Resultado: tenho de ficar brigando contra o sono no trabalho. Amanhã eu pretendo dormir tudo o que puder, me atualizar em todas as séries que costumo assistir, digitar o texto do novo romance. Passei o dia de hoje digitando o texto do romance em progresso 2. Mas, de novo, não é só digitar, é colocar as cenas em ordem. É uma ordem meio subjetiva, meio instintiva. Só vai dar para saber se deu certo quando eu sentar para ler tudo. Resolvi me basear na estrutura do Nixon, do Oliver Stone, que é mais temática do que qualquer outra coisa. Eu podia esperar para fazer isso no final, mas acho que vai me poupar tempo mais para a frente. Sem falar que me ajudar a pensar no romance. Inclusive, já deu para ver que uma certa cena acontece cedo demais. Preciso de mais cenas para permitir que uma personagem perceba uma coisa sobre outra. Que cenas serão essas, eu ainda não sei. Terei de pensar um pouco.

sábado, 16 de junho de 2012

Fora do exílio

Eu sofro do eterno problema de todo escritor. Tenho de ter um emprego para sobreviver, mas tudo o que quero fazer o dia inteiro é escrever. Como freelancer, em casa, essa necessidade me pesava às vezes, mas não tanto quanto me pesa agora que tenho de pegar um ônibus todo dia e sentar diante de um computador que não é meu e trabalhar em projetos que não sei quais são até abrir os arquivos. Esta não é uma crítica à empresa em que trabalho. Na verdade, esta é uma das empresas que melhor respeita o funcionário em que já trabalhei, oferecendo benefícios que eu nunca tive em outros empregos. Eles inclusive estão me deixando ir para a FLIP este ano. Duvido que as empresas em que trabalhei antes teriam permitido isso. Mas a verdade é que depois de 15 anos trabalhando em casa, fazendo o que eu queria na hora em que queria, é muito mais difícil voltar a me encaixar na caixinha que me oferecem no trabalho. Pois isso faz parte de qualquer emprego. E até mesmo da vida. Vou vai para a escola e tem de se encaixar no esquema do colégio, se comportar de uma determinada maneira, usar um uniforme, manter uma certa disciplina. O mesmo vale para qualquer emprego. Qualquer matéria de jornal sobre como ter sucesso no emprego diz que você tem de entender a cultura da empresa em que trabalha. Ou seja, entenda o que querem de você e cumpra esse papel. Isso tem sido um aprendizado. Porque eu esqueci que a convivência com muita gente ao mesmo tempo pode ser difícil. Você nem sempre é entendido. Suas ações podem ser mal interpretadas, ainda mais se as pessoas à sua volta não a conhecem direito. Eu sabia isso melhor quando trabalhava fora de casa nos anos 90. Depois iniciou-se esse quase que exílio interno e esqueci que essas coisas acontecem. Ralei os joelhos uma ou duas vezes, mas acho que agora já encontrei meu modo de me encaixar na nova empresa. Meter a cara no trabalho, ficar quieta, observar e só então tentar me espalhar. É bom saber que a essa altura do campeonato ainda sou flexível o suficiente para me adaptar a novas situações. Claro que ainda busco o trabalho perfeito que me permita trabalhar com literatura e cubra todas as minhas despesas. Quem sabe eu o consiga depois de publicar. Um amigo meu entregou meu romance para outra editora e vamos cruzar os dedos. O Prêmio Sesc obviamente não rolou, outras tentativas não decolaram, mas alguma hora algo vai dar certo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Good-bye, Ray Bradbury

Descobri agora há pouco que Ray Bradbury, um dos meus escritores preferidos, morreu. E isso mexe muito comigo porque ele é um dos poucos escritores que posso dizer que verdadeiramente me influenciou. Até passei um tempo tentando escrever que nem ele até descobrir que era impossível reproduzir aquilo que ele fazia, aquela prosa que era poética sem na verdade ser. Eu tenho três contos que são preferidos absolutos no meu panteão particular. Um é da Clarice, os dois outros são do Bradbury. O que sempre me fascinou nele foi essa visão um pouco estranha que ele tinha das coisas. Um terno branco podia ser a coisa mais maravilhosa do universo e um carrossel a coisa mais sinistra. Nada para ele era comum. E ele era muito incomum. Nunca houve ninguém que escrevesse como ele e agora não haverá mais ninguém que possa repetir o que ele fez.

domingo, 3 de junho de 2012

Sacerdócio

O tempo todo fico pensando o quanto é difícil transmitir o que escrever significa para mim, o prazer que isso me dá. Não é à toa que as pessoas contam histórias em que tudo dá errado. A tristeza é muito mais fácil de descrever do que a felicidade. Há algo de inefável na felicidade que é muito difícil de captar e transmitir. Tem a energia, o êxtase, o caráter rarefeito desse estado privilegiado, uma quase falta de ar. E por isso fico voltando a uma frase que ouvi pela primeira vez em uma série de ficção científica. Se você não tem fé, não há como explicar. E se você tem, nenhuma explicação é necessária. Sou a pessoa mais racional que você poderia conhecer. Nada de espiritualidade, nenhuma superstição de qualquer tipo. Escrever é o mais perto que chego de ter uma fé. Meus sábados não são sagrados à toa. Esse é meu sacerdócio.

Engarrafamento de romances

Em casa. Finalmente pude ter um sábado escrevendo. Continuei digitando o romance em progresso 2. Mas resolvi aproveitar esse processo chatinho para tentar ordenar as cenas do romance. Inicialmente, eu tinha escrito tudo alternando 1989 e 2009. Mas no meio do caminho percebi que o melhor seria organizar as cenas de maneira temática. Fazer isso agora evita que eu tenha de fazer depois. É provável que eu refine tudo depois, nas leituras, mas já é meio caminho andado. Vai demorar um pouco mais para digitar desse jeito, mas é bom pensar no romance agora, já ir tomando decisões. Do jeito que vão as coisas vou acabar com um engarrafamento de romances, mas por enquanto estou curtindo. E no domingo que vem teremos mais uma reunião do Clube da Terça-Feira Gorda. Vai ser bom. Estou com saudade do pessoal.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cinco minutos de infância

Outra sexta, vem aí outro sábado. Tudo o que eu quero da vida é descansar um pouco. E escrever. Há semanas que venho abrindo mão de escrever para terminar trabalhos. E acho que este sábado eu consigo. Cruzem os dedos. Pelo menos já tomei minha casquinha de creme e tirei minha hora para escrever no café depois do trabalho. Uma das melhores coisas da vida, acredite, depois de uma semana cansativa, é sair do trabalho, correr para o Bob's mais próximo e comer uma casquinha de baunilha. E andar pela rua com a casquinha, sentindo um pouco que tinha voltado à minha infância de inúmeras casquinhas de sorvete e a velha batalha para comer tudo antes de derreter. Por algum motivo, isso fica mais fácil quando se é adulto. São cinco minutos do seu dia dedicados ao prazer. É completamente egoísta, mas que se dane. Passei a semana toda ficando quieta numa sala cheia de gente para não imcomodar os outros tradutores, era minha hora de fazer algo por mim. E aí eu sento no café, tomo um refrigerante, escrevo por uma hora e aí o trânsito já está bem melhor e chego em casa pronta para iniciar minha segunda jornada de trabalho. E não estou falando de cozinhar ou cuidar das crianças, é fazer os meus freelas. Minha porção dona de casa está viva e bem, se chama Cristina e vem uma vez por semana para fazer a faxina. E está no hora de levar o cachorro na rua e sentar para voltar ao trabalho. Wilson!