sábado, 16 de junho de 2012

Fora do exílio

Eu sofro do eterno problema de todo escritor. Tenho de ter um emprego para sobreviver, mas tudo o que quero fazer o dia inteiro é escrever. Como freelancer, em casa, essa necessidade me pesava às vezes, mas não tanto quanto me pesa agora que tenho de pegar um ônibus todo dia e sentar diante de um computador que não é meu e trabalhar em projetos que não sei quais são até abrir os arquivos. Esta não é uma crítica à empresa em que trabalho. Na verdade, esta é uma das empresas que melhor respeita o funcionário em que já trabalhei, oferecendo benefícios que eu nunca tive em outros empregos. Eles inclusive estão me deixando ir para a FLIP este ano. Duvido que as empresas em que trabalhei antes teriam permitido isso. Mas a verdade é que depois de 15 anos trabalhando em casa, fazendo o que eu queria na hora em que queria, é muito mais difícil voltar a me encaixar na caixinha que me oferecem no trabalho. Pois isso faz parte de qualquer emprego. E até mesmo da vida. Vou vai para a escola e tem de se encaixar no esquema do colégio, se comportar de uma determinada maneira, usar um uniforme, manter uma certa disciplina. O mesmo vale para qualquer emprego. Qualquer matéria de jornal sobre como ter sucesso no emprego diz que você tem de entender a cultura da empresa em que trabalha. Ou seja, entenda o que querem de você e cumpra esse papel. Isso tem sido um aprendizado. Porque eu esqueci que a convivência com muita gente ao mesmo tempo pode ser difícil. Você nem sempre é entendido. Suas ações podem ser mal interpretadas, ainda mais se as pessoas à sua volta não a conhecem direito. Eu sabia isso melhor quando trabalhava fora de casa nos anos 90. Depois iniciou-se esse quase que exílio interno e esqueci que essas coisas acontecem. Ralei os joelhos uma ou duas vezes, mas acho que agora já encontrei meu modo de me encaixar na nova empresa. Meter a cara no trabalho, ficar quieta, observar e só então tentar me espalhar. É bom saber que a essa altura do campeonato ainda sou flexível o suficiente para me adaptar a novas situações. Claro que ainda busco o trabalho perfeito que me permita trabalhar com literatura e cubra todas as minhas despesas. Quem sabe eu o consiga depois de publicar. Um amigo meu entregou meu romance para outra editora e vamos cruzar os dedos. O Prêmio Sesc obviamente não rolou, outras tentativas não decolaram, mas alguma hora algo vai dar certo.

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