quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Na ponta dos cascos

Os audazes tacadores estão na ponta dos cascos. Já marcamos o primeiro chope da temporada para esta sexta. É o aniversário de um de nossos corajosos líderes. E só sendo corajoso para ser um líder dessa tropa de malucos porque deve dar um trabalho enorme. A troca de e-mails está a todo vapor. Basta o primeiro para todo mundo meter a colher. Ou seja, quando chegarmos no leilão no domingo, vamos estar todos devidamente calibrados. Já estou carregando minha câmera para captar esse momento histórico, o início do meu 14º festival. Já estou bem adaptada aos meus óculos novos e só falta terminar meus filmes o mais rápido possível. Outubro vai ser um mês muito, muito longo. Longo e estafante, mas divertido.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Enxurrada

Três da manhã, estou trabalhando numa tradução. Recebo um e-mail de um dos lançadores pela nossa lista do festival. Eu respondo e, quando vejo, tem um monte de respostas. Não interessa o tema ou a discussão. São três da manhã e o fato de ter pelo menos umas dez pessoas mandando e-mails é sintoma de apenas uma coisa. O festival está chegando. E hoje, assim que o leilão de sessões é anunciado para o domingo, começa nova enxurrada de e-mails. Um claro sinal que todos estão ansiosos para que comece a maratona. Para não perder o hábito, eu sacaneio os novatos. Adoro meter medo neles. Mas é só no leilão, depois não os vejo mais até o ano seguinte. Mas é divertido.

Cadê o festival que estava aqui?

Normalmente, o festival teria começado na sexta passada. É um pouco estranho estar em plena época de festival de cinema e não estar nem perto de um cinema. Mas deconfio que depois de um mês direto num cinema, o que vai começar no dia 7 de outubro, não vou chegar na porta de um cinema por pelo menos um século. Este domingo vai ter o leilão de sessões. E semana que vem devemos ter as sessões de imprensa. Acho que por uma vez na vida não vou me oferecer. Quero me concentrar nas traduções. Estou sentindo falta daquela adrenalina. Vai ser bom quando eu sentar naquela cadeira e tacar a primeira legenda.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sono

Cansada. Foi pior do que imaginava. Só consegui dormir às cinco da manhã. Agora me deem licença que vou tirar um cochilo.

Quicando, quicando, quicando

Estou com minha vida atrasada, preciso fechar um episódio de uma série que deveria ter ficado pronto na sexta e não ficou porque o primeiro trabalho atrasou e aí no sábado de manhã quando pretendia terminar tudo, acordei me sentindo super, super mal, enjoada, com uma puta dor de cabeça. Mas depois de ter um dia como hoje em que tudo corre maravilhosamente bem e eu me permito começar a acreditar que tenho algo muito bom nas mãos, chega a hora de voltar para casa e ficar quicando das paredes e não há meio de conseguir dormir antes das quatro da manhã, mas também não consigo fazer alguma coisa útil justamente por estar quicando e por querer muito conversar com alguém. Claro que são quase três da madrugada e é sacanagem ligar para alguém nesse horário a não ser que esse alguém more em Tóquio ou Cingapura ou Hong Kong e as únicas pessoas que conheço que moram nesses lugares são os âncoras da CNN que vejo todo dia na TV, mas claro que não tenho o telefone de nenhum deles e eles não fazem ideia de que tem uma louca querendo conversar com eles de madrugada. O que me sobra? O bendito blog, tadinho, tão sofrido, que fica me ouvindo dizer essas besteiras dia após dia sem reclamar. Talvez um dia ele se revolte. Mas não hoje, espero.

Novos olhos

Não sei bem se foi o telefonema que recebi no início da tarde da amiga que está lendo o romance em progresso e os comentários que ela fez ou se foi o alívio que senti por ter passado o mal estar que me deixou de cama boa parte do sábado e incrivelmente frustrada por não poder ir para a livraria. O que sei é que durante todo o dia de hoje senti que estava revisando o romance com uma visão muito mais clara. Não tive dificuldades para enxergar soluções ou em ver o que estava errado, o que estava fora do tom. Ou talvez fossem os óculos novos. Não ter de brigar para enxergar o que se está lendo ajuda muito. De todo modo, ficou super claro que só preciso de mais uma leitura antes de fechar o manuscrito para leituras alheias. E foi um dia tão proveitoso que cheguei exatamente no ponto em que queria para fechar tudo na semana que vem. Não sei quando terei tempo para aplicar as correções no arquivo e gerar um último manuscrito para a sexta e última leitura já que o Festival do Rio começa no início de outubro, mas veremos. De repente eu consigo me dar uns minutinhos por dia para fazer isso aos poucos. Ainda mais por que não escrevi mais nenhuma cena nova. O que também é mais um sinal de que não há mais nada a acrescentar da minha parte por enquanto. Estas duas semanas agora tenho de emburacar com as traduções para o festival. O bom é que até agora peguei filmes legais. Isso ajuda. E muito, acredite. Fim de semana que vem deve ter o leilão de sessões. Mal posso esperar. Quero quebrar meu recorde este ano.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Adventures in seeing 2

É um pouco estranho me olhar no espelho e ver esse novo par de óculos que escolhi semana passada, sozinha, cegueta. Só Deus sabe por quê, mas toda vez que vou escolher novos óculos, estou sozinha, sem alguém que possa ver se a armação que eu escolhi é minimamente decente. Afinal, sendo míope e sem o costume de enxergar sem óculos, não vejo nada bem a não ser que esteja bem na minha cara. Mas acho que não ficou trágico. Achei por bem não escolher uma armação muito quadrada ou muito grossa para não ficar com um jeitão excessivamente nerd. Já sou suficientemente nerd sem precisar alardear isso a todo mundo. Aos poucos estou me acostumando com as lentes. Não há uma sensação de estranheza tão forte quanto ontem, quando, no centro, eu tinha a nítida sensação de estar desbravando um novo mundo. Vamos ver o que acontece no sábado, quando eu for para a Travessa. Estou ansiosa para ir e testar meus óculos novos lá.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Adventures in seeing

Fui alegremente buscar meus óculos novos esta tarde. E como são óculos multifocais, a experiência é um pouco como quando botei meu primeiro par de óculos há 40 anos. Preciso me ajustar a uma nova forma de usar os óculos, mas a alegria de voltar a enxergar é a mesma de tanto anos atrás. Ver de perto e de longe é fácil. O negócio é me acostumar à distância média. Mas não achei tão desconfortável quanto imaginei que seria. Inclusive, sai direto da ótica com eles no rosto. Eles me recomendaram só usá-lo assim que eu chegasse em casa. Mas, sinceramente, não queria esperar. Passei tempo demais sendo cegueta para conseguir esperar um segundo que fosse. Aproveitei para almoçar no centro. E, claro, escrevi um pouco. Poder enxergar sua própria letra direito depois de tanto tempo é uma maravilha. Eu andava escrevendo com o caderno a uma certa distância para poder enxergar alguma coisa. Agora posso parar com isso. Não há nada melhor que poder enxergar de novo. Clark Kent está de óculos novos. Graças a Deus. A visão de raios-x do Super-Homem não estava funcionando direito.

domingo, 18 de setembro de 2011

O grande medo

O grande medo de todo escritor, claro, é que ninguém goste do que você escreve. Outra coisa que eu pessoalmente odeio é quando você passa um original para alguém e ele meio que cai num abismo negro. Você nunca mais tem notícias da pessoa ou do manuscrito, que é o que interessa. Claro que não é legal receber uma crítica negativa, mas eu prefiro isso ao silêncio. Sem falar que pode te apontar um problema real no texto. O silêncio não me ajuda em nada. O mais raro é acordar com um e-mail como o que recebi de uma amiga (a quem dei uma cópia do romance em progresso esta semana) esta manhã quando acordei. "Anna, não consigo parar de ler. Acho que esse é o maior elogio que se pode fazer a um escritor. Tu é foda, mulé! Escreve bem pra caraio!! Achei que vc ia gostar de saber." Isso faz um bem enorme ao ego, eu garanto.

Minha casa de campo

Fiquei acordada até tarde passando as correções da minha quarta leitura para o arquivo do romance em progresso para poder gerar um novo original para a quinta leitura do romance. Continuei hoje e acabei chegando tarde na livraria porque esse processo leva tanto tempo. Até deu para avançar um pouco hoje, mas o mais importante foi perceber que além desta leitura é provável que eu precise de mais uma antes de passar o romance para alguma pobre vítima para leitura. Ainda não sei direito quem serão as pobres vítimas. Tem de ser pelo menos umas duas pessoas. Três seria melhor para desempatar. E aí tudo vai depender do que me disserem. Vou acertar o destróier ou acertar na água. E enquanto estiver esperando pelos veredictos, vamos voltar ao romance em progresso 2. O coitado ainda está muito desmazelado, preciso botá-lo numa estrutura mais sólida. Isso vai me manter ocupada durante o ano que vem. 

Hoje, no caminho para a livraria, me ocorreu que há toda essa tradição do escritor que vai para uma casa de campo para escrever, afastando-se das distrações da sua rotina. Minha visita semanal à livraria nada mais é do que uma expressão dessa mesma tradição. Eu me afasto das distrações da minha casa (telefone, internet, TV, cachorros carentes) para conseguir escrever. Do contrário, não sairia nada. É, eu sei, é uma casa de campo meio estranha, cheia de gente, música, papo, mas ela funciona para mim. Cada um tem a casa de campo que pode.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O narrador essencial

Assisti a um debate no sábado em que todos os três escritores disseram que a escolha do narrador era essencial e, às vezes, a coisa mais difícil de decidir. E achei isso curioso pois o narrador para mim é sempre muito claro. Acho que essa decisão meio que já vem embutida na história que quero contar. Por que a história que eu conto é sempre a do narrador. E não interessa o que ele faz ou deixa de fazer, mas é sempre ele que conta sua história. Minha maior preocupação é sempre a estrutura, não o narrador. Confesso que sempre uso um narrador em primeira pessoa (com raras exceções) e no tempo presente porque simplifica a minha vida. Não me sinto tão segura com tempos verbais em português quanto me sinto em inglês. Eu dei uma mexidinha nesse esquema no romance em progresso 2, introduzindo um narrador em terceira pessoa, mas não onisciente. Ele fica grudado no personagem principal. É uma estratégia que me ocorreu para distinguir o personagem principal nos dois momentos da história em 1989 e 2009, e também para tornar clara a diferença na maturidade do personagem nessas suas épocas. E me parece que funcionou. Mas eu só devo conseguir voltar a essa história depois dos festivais, em novembro. Melhor assim. É tempo para deixar a coisa de molho.

Em busca de uma fresta

Uma frestinha, uma porta aberta. É só o que eu quero. Tem dias em que essa espera por uma oportunidade de publicar me exaspera. Tem dias em que eu esqueço dela completamente. Mas aí você vai na Bienal, ou fica olhando aquela longa mesa de lançamentos na entrada da Travessa e a espera se torna insuportável. E aí você respira fundo e espera mais um pouco. Acabo de mandar o romance para mais um concurso. O resultado sai no ano que vem. Em novembro, passada a loucura dos festivais, vou montar uma lista de editoras e mandar o romance para elas. Mais espera. E vai seguir a espera por aquela fresta. Nos filmes é mais fácil. Tem sempre alguém que abre a porta para o escritor iniciante. E logo ele vira um best-seller. Duvido muito que eu vire a Thalita Rebouças do romance deprê, mas pelo menos alguém podia dizer sim e publicar o romance. Isso não é pedir demais, é?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Finalista

Elvira Vigna com seu romance genial Nada a dizer agora está entre os 10 finalistas do Portugal Telecom. Vou cruzar os dedos. Depois do prêmio de fiçcão da Academia Brasileira de Letras, quem sabe sai esse também.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ramones ataca novamente

Ele mesmo ainda não falou disso, mas o multidisciplinar Ramon Mello (o homem joga nas onze, não é?) colocou as entrevistas que fez para a Saraiva em um blog separado do outro blog dele, o Sorriso do Gato de Alice. Desconfio que ele ainda está organizando o blog, mas já se encontra muita coisa, de Adriana Lisboa a Lourenço Mutarelli. É mole de achar o que você quer e rever algumas das ótimas entrevistas com escritores que o Ramon fez. O novo blog se chama, muito apropriadamente, Ramon Mello. Não é simples? Confiram. Vale a pena.

I want it now!

Como uma criança, agora que eu finalmente tomei as providências para ter óculos novos, estou impaciente para ter os óculos comigo. Eu quero os óculos agora! Existem esperas que eu não suporto bem.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Óculos

Entrei oficialmente para o grupo de pessoas que têm vista cansada. Finalmente consegui achar tempo para ir a um oculista fazer um exame de grau para ter uma receita para fazer um óculos novo. E vai ser multifocal. Sempre fui míope, desde os 7 anos de idade. Então a essa altura os óculos já são parte do meu corpo. Mas de uns tempos para cá, eu andava tendo que tirar os óculos para ler coisas em letras miúdas, especialmente em lugares com pouca iluminação. Só que para o míope, você não afasta o texto, você o mete debaixo do seu nariz. E eu cheguei a um ponto em que isso me encheu o saco. Não aguento mais. Quero voltar a enxergar as coisas direito. Ainda mais com dois festivais de cinema vindo aí. Preciso poder enxergar as legendas nas telas dos cinemas onde vou lançar. Então, em meados da semana que vem, se tudo der certo, terei meus novos e estilosos óculos prontos. Tá, estilosos é exagero. São óculos de aro de metal prateado e preto, como nove entre dez dos óculos que tive na vida. Mas estreitos, como a maioria dos óculos que se veem hoje em dia. Acho que vai ficar legal, considerando que eu fui sozinha e escolhi os óculos meio cegueta. De todo modo, só o alívio de não ter que ficar segurando meus óculos com fita isolante é enorme. Todos os meus óculos acabam cacarecando no final, que nem os fuscas que minha mãe tinha. Quando os fuscas da mamãe já não abriam mais as janelas ou as portas ou caíam os para-choques quando ela subia uma ladeira, aí ela tomava vergonha na cara e trocava o fusca por um mais novinho ou mais inteiro. Eu demoro um pouco mais a tomar vergonha na cara. Eu devia ter trocado de óculos quando a segunda haste caiu, mas estou sempre tão ocupada que pode demorar para a ficha cair. Neste caso, foi mais um acúmulo de irritação porque ficou cada vez mais difícil escrever porque eu não enxergo direito o que escrevo. Numa distância que nunca me deu problemas, de repente tudo ficou fora de foco. Não dava mais para continuar assim. Vai me custar uma baba, mas não tem jeito. Quero voltar a ver o mundo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Domingo

A revisão do romance em progresso está quase no fim. Se eu pudesse voltar para a Travessa hoje, eu terminaria. Mas como tenho de fechar uma tradução, nada feito. Não tem problema, a gente termina sábado que vem. O que me deixa mais contente é a mudança do quarto personagem. Eu tinha dado a ele um enfoque diferente do de outros personagens, mas em outros aspectos ele ainda era muito parecido com os outros. Mas ao ver o vídeo da Adriana Lisboa sobre a experiência dela no projeto Amores Expressos, tive um insight que apliquei agora nas cenas dele. E isso tem mudado a figura desse personagem ainda mais e de uma forma que me agrada muito. Pois ele é o personagem que não se deixa abater pelo peso de nada do que acontece na história. Claro que ainda tem muito trabalho a ser feito. Mas eu acho mesmo que estou na reta final desta versão. Vou fazer mais uma, duas leituras pelo menos. E aí veremos.

Terça

Eu virei a noite para fechar esta porra desse filme coreano. Como eles falavam, meu Deus. Eu teria preferido um filme tranquilo de longos silêncios e aí aquela meleca estaria pronto e eu estaria dormindo. Faltava dez dias para o Festival do Rio começar. Eu queria terminar o filme, pegar outro, terminar aquele logo e pegar mais outro.Quanto mais filmes, mais você fatura. Fiz uma pausa porque estava de saco cheio. É capaz de eu ter levantado, ido na cozinha para pegar mais Coca-Cola na geladeira. Resolvi checar meus e-mails. E vários deles diziam que um avião tinha batido no WTC. Não havia meio de eu lembrar o que WTC significava, mas como viciada em cobertura jornalística de grandes eventos, passei a TV do canal de filmes em que estava para a CNN. Dei com um âncora da CNN em cima de um prédio, mostrando a torre que tinha sobrado e falando do avião que tinha batido no Pentágono. Levei um tempo para entender o que estava acontecendo. Ainda mais porque eles ficavam reprisando as imagens de pouco minutos antes, como o impacto do segundo avião, a queda da primeira torre. Depois teve o desabamento daquela seção do Pentágono. Não sei direito por que, mas passei a mão no telefone e liguei para quem eu pude para saber se elas estavam vendo a mesma coisa que eu. E enquanto estava falando com minha melhor amiga, a segunda torre começou a cair. Ela desligou para procurar uma TV e eu passei o resto do dia na frente da minha TV, morta de cansada, mas sem conseguir desgrudar do que estava acontecendo, porque tinha começado uma espera, a espera pelo próximo evento horrível. Meu irmão mora em San Francisco. Será que aconteceria algo lá? Passei todo o resto do dia e da semana grudada na CNN, vendo a cobertura sobre os ataques e o que aconteceria em seguida. Acho que só terminei o filme no dia seguinte, não tenho certeza. Nem sei direito quando fui dormir. Depois de dez anos, uma série de detalhes ficou vago, mas não o que eu senti vendo tudo aquilo acontecer em Nova York. Isso segue fresco na minha cabeça.

Claro que não interessa o que me aconteceu nesse dia. Não fui afetada, não conhecia ninguém que morreu. Meu irmão seguiu inteiro e seguro em San Francisco. Mas de algum modo isso faz parte da experiência daquele dia, a vontade de contar o que você viu e sentiu. De novo, as narrativas. Elas seguirão conosco.

Setembro

Mesmo antes de 11 de setembro, eu já achava setembro um mês triste. Desconfio que isso tem a ver com Woody Allen. Do mesmo jeito que ele ajudou a cristalizar a minha visão de Nova York com aquela abertura genial de Manhattan, toda vez que o mês de setembro vem chegando eu lembro do filme dele, September, um de seus mais melancólicos. São várias pessoas reunidas em uma casa de veraneio no final de agosto, esperando chegar o fim de semana prolongado do Dia do Trabalho para encerrar o verão e voltarem para suas vidas em Nova York. E cada uma delas têm seus motivos para não querer que chegue setembro. O vizinho tem uma paixão recolhida pela dona da casa e não quer vê-la ir embora. O escritor não quer voltar ao emprego e à rotina depois de sentir que fracassou na tentativa de escrever um romance sobre o pai. A amiga da dona da casa não quer voltar para os filhos e o marido e o casamento que anda mal das pernas. Tem a mãe que chega atropelando tudo e a todos e que não vê como está ferindo a filha. E por aí vaí. Tudo foi filmado em estúdio, embora não pareça, pois a iluminação imita a luz do sol perfeitamente. O ritmo é lento, lembrando uma peça, já que a ação fica confinada à casa. E corre pelo filme a melancolia dos amores frustrados, dos desejos não realizados, das expectativas decepcionadas. Traduzi esse filme certa vez para o Telecine. E depois pude revê-lo para um festival de filmes do Woody Allen que passou no CCBB já que precisei preparar as legendas para o lançamento. É um daqueles filmes que não consigo deixar de gostar apesar de enxergar seus defeitos. E por isso o mês de setembro será sempre um tanto triste quanto a lembrança desse filme.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Depois de dezembro

Quando minha avó morreu em dezembro de 2006, já fazia quatro anos que eu escrevia um romance sobre morte e perdas em família. Fazia pelo menos uns vinte anos desde que tinha havido uma morte na minha família. Eu não escrevia por experiência, mas de ter visto de camarote o que acontecia quando ocorria um suicídio. Um homem para quem eu trabalhava cometeu suicídio um dia. Todo mundo na empresa cerrou fileiras em torno da esposa dele, a outra dona da empresa. A gente viu ela juntar os cacos e seguir em frente, inclusive porque ela não tinha opção. Eles tinham uma filha de uns 6, 7 anos. Fui embora da empresa algum tempo depois, mas não esqueci esses meses após o suicídio, e especialmente de ver a esposa entrar numa sala para juntar as coisas do marido. Na época, sem entender o que isso significava, eu me ofereci para ajudar. Ela naturalmente recusou minha oferta. 

Foi só ao me propor esse desafio de escrever sobre um suicídio e seus efeitos numa família que eu parei para pensar no que isso significava para as pessoas diretamente envolvidas. Sei que pode parecer meio estranho, mas eu pensei nessas coisas de maneira racional. Deduzi logicamente que determinadas coisas seriam necessárias, providências práticas, mas também repercussões emocionais. Não pensei em tudo, como uma amiga me lembrou quando leu uma cena do romance. Faltava a culpa de quem ficou para trás. Eu incorporei isso. E aí minha avó morreu, um tanto repentinamente, e enfim entendi o que é perder uma pessoa para sempre. A dor, antes uma categoria abstrata, tornou-se um objeto sólido e com endereço certo. Foi uma transformação surpreendente e talvez necessária. Eu estava falando disso há 4 anos, mas sem entender de verdade. Mexi em coisas no romance, acrescentei uma cena em homenagem a ela e finalmente terminei o romance, passei para o próximo. Só depois de três anos é que consegui falar da minha avó sem imediatamente começar a chorar. É esta lembrança que levo para o atual romance em progresso.

Mitologia

Lembro-me de ver um documentário sobre o Titanic há muitos anos que dizia que o século XX começou de fato com o naufrágio desse navio e da ideia que a tecnologia podia conquistar tudo, uma confiança que vinha do final do século XIX. Depois de 11 de setembro, foi meio inevitável pensar que o século XXI foi inaugurado de verdade naquele terça. E tem outra coisa de que me lembro sempre, algo que uma amiga jornalista me disse algum tempo depois, que 11 de setembro era um dia em que não tinha nada acontecendo. Não havia a previsão de nada muito interessante. E foi algo que ouvi repetido de uma jornalista da CNN em um dos documentários que a CNN passou em 2002 e que eu gravei na época. 

As narrativas seguem sendo coletadas. E sempre se pode encontrar mais uma. Mas hoje, ao ver um documentário na Discovery sobre o museu sendo construído no subsolo do Marco Zero, me ocorreu que 11 de setembro está entrando definitivamente na arena da mitologia. O museu vai reunir objetos envolvidos no que aconteceu naquele dia como um carro de bombeiros semidestruído e cujos bombeiros que vieram nele morreram todos em serviço. Peças de roupa de pessoas que morreram naquele dia. Duas das vigas que sustentavam a fachada externa do prédio, justo aquela grade que ficou em pé depois que os prédios do WTC caíram. Um suporte de bicicletas amassado e as bicicletas também amassadas ainda presas ao suporte. A identidade de um homem que ficou fazendo companhia a um colega de trabalho tetraplégico que não tinha como escapar do prédio até que houve o colapso. Eu vi essas coisas e pensei em Auschwitz.

Talvez a mitologia seja inevitável. JFK, assassinado, virou mito. Ele teria virado mito se não tivesse sido morto? E esse é um evento que segue sendo imenso, mesmo visto da distância de 10 anos. A imagem das torres caindo ainda é algo da ordem do imponderável. Se é bom ou ruim que vire mito? Não faço ideia. Desconfio que é humano. Outro desdobramento das narrativas que contamos para entender tudo o que acontece.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Diário a céu aberto

Durante toda a vida eu quis ter diários. Eu achava que seria interessante ter um registro do meu cotidiano. Mas toda vez que eu tentava, imediatamente me vinha um certo desconforto. O que eu tenho de tão interessante na minha vida que vale a pena registrar? Minha conclusão: porra nenhuma. E no rastro de Anne Frank, era meio inevitável desconfiar que o que se escrevia era não para consumo próprio, mas para alguma geração futura e isso era um pouco de megalomania demais para mim. O blog tem esse lance de ser um diário a céu aberto. Foi o Ramones que me meteu nessa, me aconselhou a ter um blog. E acabei gostando, mesmo desconfiando que só haja uma meia dúzia de pessoas me lendo. Não tenho trinta mil amigos. Não sou extrovertida e nem tenho uma vida social intensa. Nunca soube me promover, o que obviamente ajuda a explicar porque passei anos sem me tocar que eu podia tentar publicar os poucos contos que considero decentes. Passo a semana em casa, trabalhando sozinha e saio nos fins de semana para escrever. As pessoas que mais vejo são os vendedores do segundo andar da Travessa. É uma vida praticamente monástica. E agora tenho essa janelinha que abro para pessoas que não faço ideia de quem são. Tem dias em que isso me bate como muito estranho. Mas, sei lá, de uns tempos pra cá a gente meio que vem vivendo a vida particular meio que no meio da rua mesmo. Falamos ao celular coisas super íntimas no meio da rua. Uma das conversas mais íntimas da minha vida aconteceu no meio da Travessa, falando ao celular com uma grande amiga que mora nos EUA e que soube de uma situação difícil que eu estava passando. Então, porque não discutir coisas minhas em um blog? Confiro ocasionalmente quantas visitas recebo, que passaram das cinco mil de acordo com o medidor que instalei. Não sei se isso é verdadeiro. E não sei quem me visita. Sigo achando isso estranho, mas tudo bem, todo mundo pode entrar. A casa é sua.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Aniversário

Contagem regressiva para o aniversário de 10 anos de 11 de setembro. O dia que mudou o mundo, como anunciam os comerciais da CNN da cobertura especial. Há documentários para todo lado e de todos os tipos. Sinceramente não sei se esse dia mudou o mundo. Há dez anos eu estava fechando a revisão de um filme para o Festival do Rio quando resolvi fazer uma pausa e ligar a TV. Sigo sentada na frente da TV até hoje, traduzindo filmes, aguardando o próximo Festival do Rio. O meu mundo com certeza segue sendo o mesmo. Tudo o que vejo à minha volta não parece ter mudado muito. Não realmente. O que ficou foi o fascínio por esse dia e essas imagens, todas as histórias contadas sobre esse dia. Já usei essas imagens no meu primeiro romance, como uma metáfora. Alguns escritores já tentaram escrever romances sobre esse dia, com que sucesso eu não sei porque não li nenhum deles até hoje. Mas eu nunca busquei entender esse dia, apenas minha fascinação com o que houve, a maneira como cada um conta sua versão dos fatos. As narrativas, as narrativas me interessam, sempre.

Pequenas descobertas

Como descrever a sensação que te dá quando você volta para casa depois de um dia muito bom na Travessa? Sua cabeça não para de funcionar só porque você fechou o caderno. O processo de pensar o romance segue enquanto você olha a Lagoa da janela do táxi. Saio da livraria para o frio da noite, feliz, quase exultante, essa energia me acompanha até em casa. Há uma necessidade de expansão. Você quer ligar para alguém, contar as pequenas descobertas que fez durante o dia, só que para quem você pode ligar à meia-noite que não vá te xingar (e com razão)? Acaba sobrando para o blog e para as paredes de onde fico quicando até acabar minha bateria e eu desmontar na cama, em geral de madrugada. E é incrível o quanto já consegui avançar nesse fim de semana. Escrevi mais uma cena hoje e daí só falta uma para fechar o quarteto necessário. E cheguei no meio do romance. O negócio agora é ver onde entram as cenas novas. Ver qual a última cena nova que tem pra escrever. Ainda não sei responder se a estrutura atual funciona para alguém que não conhece a história toda como eu. Mas eu gosto de ver os detalhes que mudam de versão para versão, coisas que eu não programei, mas que simplesmente apareceram no texto.

Sábado que vem vou para a Bienal ver Elvira Vigna no Café Literário. Meu dia na Travessa terá que ficar para a sexta ou para o domingo, ainda não decidi. Também queria ir na quarta, mas desconfio que não vai dar. Tudo vai depender do que acontecer na segunda e na terça. O trabalho precisa ter prioridade.

domingo, 4 de setembro de 2011

Cão Mistério e Segredinho

O único grande problema de ter cães adotados, especialmente cães que foram resgatados da rua, é que você não sabe nada do histórico do cachorro. Eu tinha me acostumado a ter cães que eu via nascer e acompanhava pela vida toda. De repente, eu tinha de levar um cachorro de quem não sabia nada ao veterinário. Daí, minha amiga que me ajudou a levar a cachorrada ao veterinário decretou, Wilson e Zequinha eram o Cão Mistério e Segredinho. E eu na hora imaginei os dois como uma dupla de super-heróis, com máscaras e capas e botinhas nas patas. Wilson usaria seu peso como arma e pularia nos criminosos e pisaria nos seus pés. E a Zequinha, com extensa experiência em meter as garras em mim, saltaria no ar e ao estilo Wolverine, faria os malfeitores em retalhos. E depois, claro, viriam receber um biscoitinho de mim e voltariam a mastigar o edredom na minha cama. É a vida de quem divide sua casa com quadrúpedes.

Filhos de quatro patas

Hoje tive de amanhecer no veterinário porque a Zequinha começou a reclamar de uma dor misteriosa. E descobri que consultório de veterinário no sábado é que nem fila de hospital público. Todos os donos de animais aproveitam o dia de folga para levar os filhos peludos. E, claro, demora uma eternidade. Quando finalmente a Zequinha foi atendida, a dor tinha aparentemente sumido e estava tudo normal. Mas já que eu tinha levado tanto ela quanto o Wilson (já que vi que não seria fácil sair de casa sem carregar ele junto) ao veterinário, vacinei os dois e cortei as longas garras que eles tinham nos pés. Acabou aquela história de viver arranhada. A volta foi exasperante. Descobri que aquele clichê dos cachorros enrolarem as guias em volta das pernas do dono acontece com uma rapidez estonteante e de repente você está no meio da rua, enrolada e as pessoas olhando para você como se você fosse maluca. Quase fui derrubada umas três vezes. E naturalmente, para cada poste ou obstáculo no caminho, cada um queria ir numa direção diferente. Cheguei em casa querendo matar os dois, tendo sido praticamente arrastada todo o caminho do consultório até meu prédio. Resultado: cheguei super tarde na livraria e cansada de tanto ter de puxar as coleiras. E apesar disso, foi um dia surpreendentemente produtivo. De repente, surgiram duas cenas novas que se encaixam perfeitamente com o que já estava escrito. Nem parece que passei cinco meses com esse texto na gaveta. Amanhã, em função do tempo perdido hoje, vou voltar à livraria e ver o que pinta. Não sei se vou passar o dia inteiro, mas eu queria tirar um pouco do atraso porque saí da Travessa meio frustrada por ter tido tão pouco tempo para trabalhar. Mas desconfio que esse será o último domingo por algum tempo. Tenho de engrenar nas traduções para o festival e isso vai acontecer a partir da segunda. O que a gente não faz por dinheiro.

sábado, 3 de setembro de 2011

Murmúrios

Só de saber que amanhã estarei na livraria, minha cabeça já começa a se soltar, a antecipar o trabalho de amanhã. Começa uma espécie de murmúrio bem baixinho, as rodinhas querendo gerar palavras, mas como estou apenas no trabalho de revisão, é meio como se minha cabeça quisesse sair voando, mas não houvesse vento suficiente. Já na semana passada, apesar de só poder dedicar só um pedacinho do dia à revsão porque eu precisava dar prioridade ao trabalho, algumas coisas já ficaram claras para mim. Talvez saia uma cena nova, não sei. Sinto que há mais para ser dito. E se sair uma cena, mais três terão de ser escritas. Fico feliz em voltar a esses personagens, perceber que ainda os conheço bem, seus hábitos, sua dicção. A separação de cinco meses só reforçou minha visão deles. O que é preciso garantir nesta fase é que o texto reflita de uma forma verdadeira quem eles são e o que fariam. E isso vai ajudar em muitas coisas. O sono já se faz sentir. Eu vou aproveitar e me meter debaixo das cobertas quentinhas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mortinha

Cansei. Esta semana foi fogo. Entreguei dois filmes e três episódios de duas séries. Acabei de fazer minha última entrega da semana e tudo o que eu quero neste exato momento é poder jantar, ver o programa que baixei da Internet e desmaiar na cama depois de Roque Santeiro. Amanhã, escrevemos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Monstratona

As preparações para o Festival do Rio começaram. Recebi meu primeiro filme para traduzir. Parece meio tarde, eu sei, mas este ano, por conta do Rock in Rio (eu não vou!), o Fest-Rio foi adiado para o início de outubro. O que significa que ele mal vai terminar e dois dias depois vai começar a Mostra de São Paulo, em sua época regulamentar. Para nós que fazemos os dois festivais, vai ser super puxado porque normalmente o intervalo entre os dois festivais é de duas semanas. Este será o ano da Monstratona. Normalmente digo aos meus clientes tradicionais que vou sumir durante a época dos festivais. Este ano, outubro vai ser um buraco negro. Vou entrar nessa e só voltarei a ser vista em novembro. Mas o legal é que este ano poderei ficar hospedada parte do tempo com uma amiga em Sampa. Fiquei com ela apenas uns poucos dias na minha primeira Mostra e foi super. Este ano quero ir no Mercado Municipal e na feira que tem nos fins de semana na Liberdade. E tenho de pegar leve nas minhas visitas à Livraria Cultura. Ano passado eu carreguei quilos de livros de volta pro Rio. Foi a primeira vez em que paguei por excesso de peso. E olha que eu vou de armas e bagagem para lá. É laptop, câmera (claro), celular, MP4, todos os carregadores, fones de ouvido e outros acessórios, praticamente toda a minha roupa, e meus dois pares de tênis (eu só ando de tênis). As pessoas no aeroporto devem achar que estou de mudança. O que não é exatamente um exagero. Por duas semanas de cada ano, eu me mudo para São Paulo. O bom é que eu finalmente achei a mochila perfeita para mim. Ela é espaçosa o bastante para caber toda a minha tralha habitual e em outro compartimento cabe meu laptop e acessórios. Então vai acabar aquela história de carregar duas mochilas para os cinemas. Vou levar uma mochila vazia para São Paulo só por precaução, porque ano passado comprei várias coisas que precisei despachar como bagagem e como não tinha onde levar, precisei comprar uma mochila nova. Achei que seria uma boa mochila de laptop, acabou não sendo e a boa mochila de laptop eu achei aqui no Ed. Avenida Central, custando metade do preço.
De todo modo, o espírito do Festival já baixou entre os audazes tacadores de legenda. Já estamos trocando e-mails meio loucos. Tudo começa de forma inocente com um e-mail perfeitamente normal procurando um técnico de computador. Aí o pessoal não consegue resistir a fazer comentários engraçadinhos sobre o primeiro e-mail e e aí entra mais gente na roda e quando você vê, os e-mails viraram uma piração completa. Para se ter uma noção, já tivemos a estreia de novas entidades espirituais. Depois do Deus Branco, temos o São Jorge Abóbora e o Diabo Verde (que atenta os legendistas e os faz cair em pecado). Mal posso esperar pelo primeiro chope e a reunião do leilão de sessões. A Monstratona nos aguarda.