Quando minha avó morreu em dezembro de 2006, já fazia quatro anos que eu escrevia um romance sobre morte e perdas em família. Fazia pelo menos uns vinte anos desde que tinha havido uma morte na minha família. Eu não escrevia por experiência, mas de ter visto de camarote o que acontecia quando ocorria um suicídio. Um homem para quem eu trabalhava cometeu suicídio um dia. Todo mundo na empresa cerrou fileiras em torno da esposa dele, a outra dona da empresa. A gente viu ela juntar os cacos e seguir em frente, inclusive porque ela não tinha opção. Eles tinham uma filha de uns 6, 7 anos. Fui embora da empresa algum tempo depois, mas não esqueci esses meses após o suicídio, e especialmente de ver a esposa entrar numa sala para juntar as coisas do marido. Na época, sem entender o que isso significava, eu me ofereci para ajudar. Ela naturalmente recusou minha oferta.
Foi só ao me propor esse desafio de escrever sobre um suicídio e seus efeitos numa família que eu parei para pensar no que isso significava para as pessoas diretamente envolvidas. Sei que pode parecer meio estranho, mas eu pensei nessas coisas de maneira racional. Deduzi logicamente que determinadas coisas seriam necessárias, providências práticas, mas também repercussões emocionais. Não pensei em tudo, como uma amiga me lembrou quando leu uma cena do romance. Faltava a culpa de quem ficou para trás. Eu incorporei isso. E aí minha avó morreu, um tanto repentinamente, e enfim entendi o que é perder uma pessoa para sempre. A dor, antes uma categoria abstrata, tornou-se um objeto sólido e com endereço certo. Foi uma transformação surpreendente e talvez necessária. Eu estava falando disso há 4 anos, mas sem entender de verdade. Mexi em coisas no romance, acrescentei uma cena em homenagem a ela e finalmente terminei o romance, passei para o próximo. Só depois de três anos é que consegui falar da minha avó sem imediatamente começar a chorar. É esta lembrança que levo para o atual romance em progresso.
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