quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Trinta anos

Este mês faz trinta anos que comecei a escrever. Por que eu escrevo e por que é tão essencial para mim é uma pergunta que não sei responder. Também não tenho uma data para quando comecei a escrever. O que é uma pena, pois sou obesessiva com as datas em que começo e termino a escrita de qualquer texto. De todo modo, há trinta anos acendeu uma luz na minha cabeça e eu percebi que essa era a minha vocação. Passei os próximos dez anos aprendendo a escrever, tentando entender o que era estrutura, personagem, tempo, diálogo, essas coisas todas. Até escrever o romance, acho que eu tentei entender qual era realmente a minha voz e agora tento aperfeiçoar essa voz. Só o que falta agora é publicar meu primeiro romance e, com alguma sorte, darei o passo decisivo para isso no início do ano que vem.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Livro em construção

Olhando vários blogs de outros escritores, dou de cara com essa expressão "livro em construção". E quanto mais eu penso nela, mais eu gosto. Quando eu morava na Pinheiro Guimarães, eu era vizinha de uma oficina de marceneiro e gostava de passar pela porta e ver o que ele e seus assistentes estavam fazendo. Um armário, uma mesa, uma estante. Escrever um romance me sugere essa imagem do marceneiro fazendo um móvel, grande ou pequeno, cortando a madeira, lixando, medindo as peças, prendendo tudo com pregos. Você vai juntando as peças, colocando-as no lugar, vendo se tudo combina. Se não dá certo, você desmonta o móvel e tenta de novo até acertar.
Neste momento estou reescrevendo as cenas referentes a uma personagem no meu romance. Eu tinha pensado em escrever a parte dela a partir de um ponto cronológico anos após os eventos centrais e ela narraria tudo em flashbacks. Mas eu percebi que não estava conseguindo captar a mudança pela qual a personagem passa durante a história. Aí foi preciso voltar atrás e começar a escrever tudo de novo de forma cronológica. Mais tarde, com tudo escrito e digitado no computador, será fácil rearrumar tudo do jeito que desejo. A ideia é que a história dela se encaixe com a história do outro personagem do núcleo dela, que é o irmão, mas ele começa a contar a história dele no ponto cronológico mais distante, quase dez anos após os eventos que provocam todo o resto do que acontece. E tudo na seção dele é essencialmente um grande flashback. Eu também dei a ele a última cena do livro, que será uma forma de juntar todos os pedaços da história.
Esse romance tem alguns desafios que inventei para mim mesma. Um foi criar estruturas diferentes para as duas metades do romance. A primeira metade é basicamente linear, com a ação acontecendo essencialmente no espaço de uns poucos dias. A segunda metade avança dez anos após os eventos da primeira metade e vai e volta no tempo. Outro desafio foi o de ter quatro personagens narrando sua história em primeira pessoa, ter de achar meios de diferenciar esses personagens. Eu tradicionalmente só tenho um ou dois personagens contando a história. E o outro desafio é o de criar uma história que é ligeiramente diferente para cada personagem e como as variações nos eventos do romance implicam uma direção diferente para cada personagem. Passei séculos sem saber como eu iria ordenar as cenas do romance, mas agora sei que para conseguir o efeito de simultaneidade que desejo vou ter de misturar as cenas todas. Cada uma das quatro seções está sendo escrita e estruturada separadamente para ter uma lógica interna, mas depois tudo vai ser alternado na narrativa final. Ufa.
Ou seja, tudo isso tem um enorme potencial para dar errado, mas se eu não sentir que estou criando um desafio para mim mesma a cada coisa que escrevo, então não vale a pena. Você não cresce enquanto escritor. É provável que eu passe todo o ano de 2010 trabalhando nisso. Com sorte, a esta altura do ano que vem eu já tenha algo para ser lido e criticado pelos amigos. Cruze os dedos.

sábado, 26 de dezembro de 2009

O lugar do escritor


Durante a semana que antecedeu o Natal, eu me instalei na Travessa e escrevi todos os dias. E, progressivamente, a livraria ficava mais e mais lotada de gente. E uma vez ou outra, alguns clientes me confundiram com uma funcionária da livraria. Talvez seja porque com o MP3 player pendurado no pescoço parece que estou de crachá ou talvez por que estou tanto lá que acabam achando minha cara familiar. Eu me virei para o Pelé, o mestre absoluto da seção de CDs e DVDs, e comentei que os clientes achavam que eu trabalhava na livraria. Ele me respondeu na lata, "Mas você trabalha aqui". Ele tinha razão. Aquele lugar é meu escritório tanto quanto meu escritório em casa.
E a verdade é que esse é o trabalho que eu quero fazer para o resto da vida. Recentemente me falaram sobre aposentadoria, de me preparar para isso. Mas essa é uma ideia estranha para mim. Preciso me manter ativa sempre, seja trabalhando para me sustentar, seja escrevendo para me manter feliz. Sei que vou definhar no momento em que eu parar.
Mas independentemente de todo o resto, escrever é o meu ofício. Nunca abrirei mão disso. É só isso que me interessa. Hoje vou me vestir e fazer o trajeto até a livraria como faço todo sábado e o prazer desse dia vai me alimentar, me sustentar de formas que não são tangíveis. E é o intangível que é o grande barato da coisa.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Frustração

Sim, é Natal. Tem crianças enlouquecendo em volta de árvores de Natal em todo o mundo ao verem o que ganharam de presente esta manhã. Deve ter papel de presente rasgado para todo lado, caixas vazias de brinquedos, gritos de crianças brincando e pais contando até mil para não darem uns petelecos nos moleques porque criança correndo e gritando é de enlouquecer qualquer um. Ainda mais se forem aqueles gritos bem agudos. Outra coisa que me deixa maluca em crianças é quando elas são bem pequenas e desandam a falar e você não entende patavina. Eu achei que era só uma inabilidade de entender meus sobrinhos, mas depois descobri que é qualquer criança pequena, o que foi ao mesmo tempo um alívio e muito frustrante. Tem toda uma parcela da população que é incompreensível para mim. Ó céus.
De todo modo, cá estou em casa, neste dia morto, e tudo o que eu quero é ir para a Travessa escrever porque comecei a chegar num ponto interessante com a personagem que estava escrevendo. Ela de repente se abriu para mim e comecei a enxergar um caminho para ela que eu não conseguia ver antes. Só o que posso fazer então é continuar matutando enquanto espero o sábado. E aí vamos recomeçar tudo amanhã, cinco dias seguidos escrevendo, agora felizmente sem as hordas natalinas que estavam começando a me irritar. Então amanhã voltaremos à rotina. Por enquanto, vou cochilar um pouco.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Preguiça

Só quero dormir. Zzzzzzzzzzzzz...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Férias

Eu não tenho férias oficiais. Como freelancer, eu resolvo a época para me dar férias, ou seja, eu tenho de decidir bancar um período sem fazer nada, quer seja duas semanas ou um mês, como já fiz uma vez quando resolvi investir na revisão final do meu romance. Este ano aproveitei o recesso de fim de ano quando não entra nada mesmo para descansar e fazer ponto na livraria.
O chato nisso é que tem sempre aquele meu lado workaholic que fica meio perturbado por não ter algo a fazer no computador, nada complicado para destrinchar, uma legendagem, um timing, uma dublagem numa linguagem que não estou acostumada a usar. É aquela vozinha que pergunta se não estou esquecendo alguma coisa. Eu lembro na época da Intercorp que se eu tirasse férias e não viajasse, quando estava chegando na terceira semana, começava a ficar inquieta em casa por não ter o que fazer. Isso de quem adorava ter três meses de férias quando estava no colégio e faculdade. Pelo visto, meu negócio nunca foi estudar, mas sim trabalhar. Apesar de ser boa aluna, nunca fui fã da escola. Realmente não é à toa que não quis seguir uma carreira acadêmica, dar aulas, joguei fora meus livros escolares assim que ficou claro que não precisava mais deles. Posso tranquilamente dar aulas de outras coisas, como já dei aulas no uso de certos softwares, mas aquele papo acadêmico da faculdade no final estava me enchendo o saco. Eu realmente sou uma pessoa bem pão, pão, queijo, queijo.
Bom, logo voltarei para a Travessa, tentarei adiantar o novo romance mais um pouco e lembrar que este é, de muitas maneiras, meu escritório também.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Frankly, my dear

Quando éramos crianças e morávamos em Nova York em meados dos anos 70, a gente tinha a HBO em casa. A TV a cabo estava começando e tinha meia dúzia de canais. Mas, francamente, tendo a HBO, não precisávamos de mais nada. Daí, a infância minha e de meus irmãos foi povoada pelos filmes que assistimos trinta mil vezes na HBO, como E o vento levou, Rollerball, 007 contra o homem da pistola de ouro. Também foi povoada por todos aqueles seriados daquela épocas, mas isso é outra história. Eu me lembro de me instalar no quarto dos meus pais com um saco enorme de barbecue potato chips e assistir E o vento levou pela centésima vez. Sabíamos os diálogos de cor e podíamos sacar uma citação apropriada para a ocasião. Uma de nossas preferidas era "Great balls of fire, (hic) it's Rhett". A outra, claro, era "I'll never be hungry again". Chegou num ponto em que não assistíamos o filme do começo ao fim. Bastava pegar o filme em seja lá que ponto que fosse e seguir dali pois ele estava indelevelmente gravado na lembrança.
Tempos depois, meus irmãos se dedicaram a ler e decorar o romance original e comentar as diferenças entre o romance e o filme. Eu não me animei a ler aquele calhamaço. Calhamaço sempre foi com meus irmãos, que também fizeram questão de ler Guerra e paz e outros tijolaços do gênero.
A outra coisa que ficou indelével na nossa lembrança (ou na minha pelo menos) foi a paródia que Carol Burnett fez no seu programa de E o vento levou. Há uma cena que ficou antológica na TV americana que é quando Carol, no papel de Scarlett, aparece para Rhett usando a cortina que ela arrancou da janela e... o pau da cortina sobre os ombros. Rhett elogia o vestido e ela responde, "Thank you, I saw it in the window and just couldn't resist it". Eu desconfio que parte do motivo pela minha fascinação por esses filmes antigos e melo dramáticos tem a ver com assistir filmes como E o vento levou quando eu era criança.
Aos poucos venho comprando esses filmes clássicos que povoam minha imaginação, como A Noviça Rebelde e Os Dez Mandamentos, e hoje eu comprei, finalmente, Gone with the Wind, em todo o seu esplendor. Será a atração principal do meu Natal.

Disciplina

Foi preciso eu escrever o romance para encontrar a disciplina. A vontade, a disposição de sentar a bunda na cadeira toda semana no mesmo bat-horário e bat-local para escrever. Isso é muito importante. Você realmente precisa escrever sempre para se aprimorar. E para terminar as coisas. Eu nunca teria terminado o primeiro romance sem a disciplina dos meus sábados sagrados. Meu novo texto não estaria no ponto em que está sem essa disciplina. É um velho clichê, mas você realmente tem de afiar a pena. Isso faz com que o texto esteja sempre na sua cabeça, fervendo baixinho, mesmo que você esteja trabalhando em coisas que não tem nada a ver. As rodinhas continuam girando. Se você escreve apenas esporadicamente, perde contato com as ideias do seu texto, com o que você quer transmitir.
Outra coisa que tento fazer é me colocar algum tipo de desafio, algo que não tenho absoluta certeza se vou conseguir realizar. Depois arranco os cabelos porque tenho certeza que não vou conseguir, mas é uma forma de tentar evoluir no que se escreve, de crescer. Se eu consigo ou não é uma coisa que os outros vão me dizer. Eu não faço ideia. Mas pelo menos eu tento.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Sagrado

Meus sábados são sagrados. Mesmo. Não abro mão deles. Passo toda a semana trabalhando. Enquanto eu tiver uma tarefa na minha frente, eu trabalho. Escrever é uma das poucas coisas que eu faço para mim. A disciplina que preciso para escrever exige isso ou eu não chegaria a lugar algum. Meu tempo é muito pouco, precioso. Nisso eu preciso ser egoísta. Sei que posso irritar as pessoas que conheço por causa disso, já deixei outras coçando a cabeça de porque nunca quero fazer nada no sábado.
A verdade é que eu não abro para todo mundo o que eu faço aos sábados. E como este blog não tem uma foto do meu rosto (e nem nunca terá), quem não me conhece vai ficar chutando quem eu sou. Parte do barato dos sábados é ver os olhares curiosos que atraio na livraria, sentada na mesa, cercada por livros e cadernos, a pergunta estampada no rosto. O que essa mulher tanto faz aí? O bom é que já não sou a única. Ocasionalmente vejo outras pessoas sentadas, escrevendo. Não sei se fiz escola ou se há outras pessoas que resolveram sair do armário depois que me viram assumir o meu lado Super-Homem ou se elas sentariam ali escrevendo mesmo sem o meu exemplo.
Há coisas que fazemos por nós mesmos e sem as quais não podemos passar. Preciso da escrita para minha sanidade, minha felicidade. E não vou abrir mão disso.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Descobertas

Não sou uma escritora que traça toda a trajetória do texto e dos personagens. Eu começo com uma premissa básica e depois saio inventando o resto. Daí parte do grande barato de escrever é o que eu descubro durante o processo, as coisas que você escreve e depois percebe que encaixam perfeitamente com algo que vai escrever mais adiante sem que isso tenha sido uma decisão consciente, sentir o surgimento das personalidades, das manias, defeitos, ver os personagens começarem a ficar de pé. De repente achar uma nova faceta, um novo aspecto do personagem que não me havia ocorrido antes é o que me faz sair saltitando de alegria da livraria, esse é um dos grandes barato de escrever.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Estas são as viagens

Há muitos anos, eu fui acolhida por um grupo de fãs de Jornada nas Estrelas. Eu era fã também e era legal encontrar pessoas com um interesse em comum. O que foi mais interessante sobre fazer parte desse grupo é que pudemos, por uma série de acasos, participar da tradução das várias séries de Jornada na VTI. E quem é o fã que não quer ter algo a ver com aquilo que adora? Obviamente, não podíamos ir para Hollywood, então fizemos aquilo que nos era possível: nos dedicarmos para que a tradução fosse a melhor possível. Montamos glossários, listas de títulos, revíamos as temporadas antes que fossem traduzidas para tentar ver quais os problemas que enfrentaríamos durante a tradução. Lembro-me de uma vez em que passei três dias ao telefone discutindo a tradução do nome de uma classe de nave espacial com uma amiga até chegarmos a uma solução. E depois descobrimos que esse tipo de nave nunca mais seria mencionado. Não tínhamos como controlar a escolha das vozes nem podíamos estar dentro do estúdio para toda santa gravação para evitar erros, então fizemos o que era possível, tentar garantir que a tradução tivesse a melhor qualidade que podíamos conseguir então. Fomos aprendendo com o tempo e, no final, minha vontade era voltar atrás e recomeçar tudo para consertar todos os erros que cometemos ao longo do caminho.
No total, foi um trabalho que durou 16 anos, começando no início dos anos 90 e que foi até 2007. E quando eu fiz a revisão do último episódio da última temporada, eu sabia que tinha sido o fim de uma era. Foi o fim de um trabalho que fizemos com amor, dedicação e orgulho. Foi o fim de uma época da qual me lembro com grande afeto pois é o trabalho do qual eu mais me orgulho.
É legal ver esse trabalho no ar de novo, agora no canal SciFi com a reprise dos episódios da Nova Geração. E em janeiro, outra série maravilhosa será reprisada de novo, Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine, na minha opinião a melhor das séries depois da série clássica. Acho que vale a pena conferir.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Wilson, Wilson

Até a morte da Dax e Neguinho, meus cachorros vinham dessa dinastia que começou com Max e Samantha no início dos anos 90. Eu os vi nascer e crescer e, infelizmente, morrer. Dax, minha labrador paraguaia (porque não era uma labrador de puro sangue) foi um presente da Claudia e a exceção na minha matilha. E eu achei que seguiria assim indefinidamente, uma geração substituindo a outra.
Adotar cachorros era uma coisa que eu tinha pensado em fazer algumas vezes, mas ao mesmo tempo eu não queria encher a casa de cachorros de novo. Para quem já teve seis, dois estava (e está) de bom tamanho. E tinha a incógnita de não saber a origem do animal, que manias, traumas ele podia ter.
E aí chega na minha casa o Wilson, grande, preto, cheio de alegria de viver, que com prazer passaria o dia vendo carros e gente andando na rua. Quando eu pego na coleira dele, ele sai correndo para a porta e é um inferno fazer ele ficar quieto o suficiente para conseguir botar a coleira para então sairmos de fato. Ele adora uma coçada na barriga, pula na minha cama cedo de manhã, doido para o dia começar quando tudo que eu quero é dormir mais um pouco, adora batizar plantas e quando está muito feliz, não consegue se controlar. Faz xixi aonde for. Esse aonde for já foi meu sapato, já foi o corredor daqui de casa, outros lugares inconvenientes. Mas o que eu mais gosto nele é a alegria que vejo nele. Nem todo cachorro tem isso. Ele alegremente se mete onde não deve, como pular dentro da janela aberta do carro da Claudia ou se enfiar em quartos onde não pode. Não custa muito para ele ficar contente e começar a abanar o rabo. Depois da morte súbita da Dax e do Neguinho, o Wilson acabou sendo meu melhor presente de Natal para mim mesma.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Famílias

Mais um trecho do meu romance O Que Ficou Por Fazer.
"Famílias tinham etapas, fases, evoluíam no tempo, apresentavam novas faces para o mundo. Isso era uma coisa que não tinha me ocorrido antes e agora me parece perfeitamente natural enquanto observo Vovó Ana e Chico conversando à mesa do restaurante diante de mim. Gosto da visão dos dois juntos, gosto da idéia de finalmente reunir as partes separadas de minha vida que antes tinha mantido cuidadosamente separadas por tanto tempo. Era aniversário dela e achei que tinha tudo a ver levá-la para jantar depois dos muitos programas de infância que ela nos proporcionou.
Minha avó estava encantada com Chico, contava um resumo da história familiar para ele, fazendo questão de destacar as realizações de minha mãe, a estrela dos Miranda. Vovó não sabia, mas ele tinha se vestido com extremo cuidado para a ocasião, colocou seu blazer cor de mostarda com sua melhor camisa branca e uma calça jeans nova, esmerou-se na hora de pentear o cabelo (que ele tinha mania de deixar espetado, despenteado). Ele me perguntou se devia usar uma gravata. Achei uma gracinha que ele se preocupasse tanto em causar uma boa primeira impressão. Eu sorri e disse a ele: — Ela é minha avó, não o papa.
A comemoração oficial seria no domingo, com um elaborado almoço, como sempre. Eu tinha decidido que era hora de apresentar Chico à família, mas queria fazer isso aos poucos, em pequenas doses, para não pressioná-lo. E minha avó parecia extremamente satisfeita em ter sido a primeira a ser selecionada para esta honra. Ainda assim, era estranho estar sentada aqui, escutando eles tagarelando alegremente, um muito encantado com o outro, enquanto sentia que tinha alguém faltando à mesa. De uma hora para a outra, ela parecia tão frágil nos seus 87 anos. Minha avó sempre pareceu ser eterna, sempre os mesmos vestidos elegantes, as mesmas bolsas em que ela parecia ser capaz de guardar tudo, o cabelo sempre pintado de louro, o eterno perfume de lavanda e talco. Agora, eu via que corria o risco de perdê-la. Ela, como minha mãe, envelhecera da noite para o dia.
Daniel tinha sido seu preferido. Ela não admitia, dizia que todos seus netos eram igualmente queridos, mas ninguém na família acreditava nela. Era para ele que ela fazia suas melhores sobremesas, dava os presentes mais caros, preparava os pratos preferidos dele para os almoços de domingo. Ele vivia no colo dela quando pequeno e, mesmo adulto, adorava ficar abraçado com ela, a única pessoa a quem ele demonstrava tanto afeto abertamente. Com todas as outras pessoas, ele era reservado, quase frio. E ela sempre o tratou por “meu menino”. Foi o que ela não cansou de repetir durante o velório, enquanto acariciava seu rosto, parada ao lado do caixão, meu menino, meu menino.
Quando Vovó Ana chegou no restaurante e eu a apresentei ao Chico, ela me olhou bem nos olhos e perguntou se isto queria dizer que eu finalmente iria desencalhar.
— Calma, vó — respondi, rindo. — Uma coisa de cada vez.
Mas estava patente a esperança na expressão dela. Ela queria bisnetos. Só que ela estava olhando para a pessoa errada. A idéia de ter filhos ainda me assustava. Não quis dizer que ela teria que depender dos meus primos, sempre muito mais sociáveis que Daniel e eu. Logo, um deles estaria se casando e se reproduzindo. Nossa família iria adquirir outra feição com a chegada de novas gerações, novos rostos, crianças brincando pelo chão, correndo pela casa na noite de Natal, e a ausência de Daniel se tornaria uma lembrança apagada embora querida, uma foto a ser colocada na estante.
Descubro-me começando a relaxar enquanto ouço minha avó contar histórias constrangedoras sobre minha infância e adolescência. Não me incomodo desde que ela não comece a mostrar fotos de minha fase de vítima da moda. Vovó decide contar sobre meu único grande gesto de rebelião contra minha mãe, quando eu sumi do Jardim Botânico durante um passeio. É estranho ouvi-la descrever o lado da minha mãe da história, de me procurar desesperadamente pelo parque, preocupada, imaginando os piores desfechos. O que me lembro era que minha mãe queria me levar para um restaurante que eu odiava depois do passeio e eu decidi dizer não, que queria ir para casa. Não recordo agora se estava cansada ou se armei o barraco para conseguir atenção dela, uma estratégia perfeitamente razoável para uma menina de 12 anos necessitada de carinho. De todo modo, quando ela bateu o pé e insistiu que fôssemos para o restaurante, eu simplesmente saí correndo e fui para casa. Caminhei o trajeto todo já que estava sem dinheiro para o ônibus, arrependendo-me do meu gesto impensado depois de perceber que não estava com a chave do apartamento, mas decidida a não dar o braço a torcer. Fiquei sentada na porta de casa, esperando minha mãe chegar para que eu pudesse ir ao banheiro. Dona Carolina ficou tão aliviada ao me ver que nem chegou a me dar um grande castigo. Ela esqueceu que eu podia até ser mal-criada, mas continuava sendo uma menina ajuizada. Eu ameacei voltar para casa e foi exatamente o que eu fiz.
Todos fazemos isso em um momento ou outro, essas coisas que sabemos lá no fundo que estão destinadas à mágoa e ao desastre. Algo em nós provoca um curto-circuito em todas as luzes de aviso, o alarme interior de cautela nos dizendo para ter cuidado, para dar o fora enquanto ainda é tempo. Faz parte de quem somos, todas as idiotices que cometemos e que, a seu modo, também encontram um meio de nos moldar.
Havia uma mensagem da Antônia no correio de voz do meu celular. Ao sair da sua casa, dei meu cartão de visitas a ela e agora ela me liga insistentemente, querendo se encontrar comigo de novo. Antônia parece determinada a me transformar em sua amiga, como um meio, talvez, de tentar reparar sua traição de meu irmão. Ou talvez, através de mim, ela queira saber porque Daniel se matou. De todo modo, não tenho certeza se quero me aproximar dela. Sua sedução era um tanto assustadora e tinha medo de ser puxada para seu círculo. Ao mesmo tempo, seria uma forma de ter acesso a um lado de meu irmão do qual eu não sabia muito. Enquanto pensava no que fazer, meu celular e sua mensagem pesavam toneladas no meu bolso.
Há uma sensação estranhamente familiar neste situação, uma espécie de déjà vu deslocado.
Minha avó sempre foi a guardiã da história da família. Ela conseguia listar os nomes de todo mundo nas gerações anteriores, identificar quem era quem nas fotos em preto e branco antiqüíssimas que ela guardava zelosamente na sua casa. Isto não era muito diferente daqueles almoços de domingo em que ela fez questão de instruir a mim e Daniel nas histórias de nossos tataravôs, já há muito mortos, os imigrantes portugueses que vieram abrir uma mercearia aqui no Brasil. A loja não existia mais. Ela foi vendida há muito tempo pelos meus bisavôs em função de uma crise econômica ou outra, e eles então se dedicaram ao serviço público para ganhar seu sustento. E muitos anos depois, nos anos 70, o prédio neoclássico onde a loja tinha funcionado foi vendido, demolido e um prédio de apartamentos moderno construído no lugar. Mas ela fazia questão de apontar o local e era isso o que eu sempre lembrava quando passava por lá.
Vovó Ana nos contou essas histórias várias e várias vezes. Eu há muito tinha esquecido os detalhes, não vendo muito interesse em pessoas que nunca tinha conhecido. Porém, agora eu imaginava que esta seria minha função nesta família também, a de preservar as histórias de Daniel para aqueles que o conheciam pouco ou que nunca o viram. Esse era um tesouro que valia a pena salvaguardar, uma lição que ela tentou me ensinar pouco a pouco com o passar dos anos.
Minha mãe parecia não ter absorvido nada do passado. Ou talvez sua rebelião contra a mãe a tivesse feito rejeitar o passado que Ana tanto idolatrava. De repente me bateu que esta era a mulher que tinha dado forma a minha mãe e, indiretamente, a mim também. Era estranho pensar nisso já que eu não sabia quase nada da infância de minha mãe, apenas a versão filtrada que minha avó forneceu a mim e meu irmão nesses anos todos. Eu realmente não fazia idéia se Dona Carolina tinha sido solitária ou gregária, o que ela gostava e desgostava quando adolescente. A história de minha mãe que eu tinha na minha cabeça era basicamente composta de seus anos como adulta, todas as coisas que nós mesmos testemunhamos, as pistas que reunimos das narrativas que outros nos contaram. Era como se ela tivesse sido gerada na forma adulta final que conhecíamos tão bem, como Palas Atená brotando da cabeça de Zeus, já paramentada com capacete, armadura e escudo.
Talvez, de certo modo, todos nós rejeitássemos parte do que nossos pais tinham a nos oferecer, ingratos, ansiosos por afirmar nossa independência. Não que esta rebelião tivesse produzido qualquer grande realizador em nossa família. Com a exceção de Dona Carolina, ninguém mais exibiu qualquer talento especial. Éramos todos lentos e sóbrios em empregos comuns e tradicionais. Ninguém iria ficar rico, ninguém iria se destacar. E até a morte de Daniel, a família acreditou que seria poupada de qualquer tragédia.
Ocorre-me que o que eu reconheço aqui é a essência de minha avó, a coisa que a torna ela mesma, transparecendo nessa nova aparência desgastada. Ela só foi momentaneamente ocultada da visão. Ela voltou à superfície, e estou contente que o Chico possa vê-la como ela é agora, não doente sobre uma cama de hospital, ou pior, dentro de um caixão. Não tenho mais um irmão para mostrar e assim decidi mostrar a ele os outros membros de minha família para que ele saiba que eles existem, que é deles que eu venho, estas são as minhas origens, estas são as pessoas que me fizeram ser quem eu sou.
O momento passa e me vejo admirando esta visão mais uma vez, minha avó e meu namorado juntos, conversando, e penso que fiz uma coisa boa. E sinto-me privilegiada por ser capaz de estar aqui e ouvi-los, sabendo que é algo que posso não ter por muito mais tempo, que a perda está em toda a volta agora, uma presença definitiva na sala e em tudo o que eu fizer de agora em diante."

Mastering the art of Asian cooking

Nunca soube cozinhar. Nunca aprendi a cozinhar. Aprendi a fazer a receita tradicional que passou pela minha avó e minha mãe de salada de batata alemã (a verdadeira salada alemã, não essa maionese de batata que aqui passa como salada alemã). Se eu tinha de chamar gente para ir em casa ou se eu e uns amigos íamos passar um fim de semana numa casa de praia, eu fazia a salada de batata alemã. And that's it.
Sou chata para comer, sempre fui, o efeito colateral de uma infância como filha de diplomata, indo a bons restaurantes. Eu não queria aprender a fazer arroz com feijão, ensopadinho de carne moída com quiabo. Odeio essas coisas. Eu penei na época em que trabalhava em Vila Isabel e o único restaurante decente das redondezas só servia os pratos tradicionais de todo restaurante instalado perto de escritórios e gente que trabalha. Churrasco a campanha, filé a Oswaldo Aranha, bauru, filé com batata frita e arroz. Fora isso, só havia botecos, pratos feitos e aqueles ovos de cores suspeitas no balcão e que eu nunca tocaria em um milhão de anos. Daí eu sempre pensei, para que cozinhar se é isso o que há para fazer? E o que eu via em restaurantes me parecia complicado demais para tentar cozinhar em casa.
Só que aí surge na minha televisão essa figura maravilhosa chamada Nigella Lawson, a sacerdotisa da gula desavergonhada. Tudo o que ela faz no programa dela, todas as receitas soam tão apetitosas e sensuais naquele seu maravilhoso sotaque inglês que começou a dar vontade de cozinhar. Eu aprendi a fazer um assado de batata com ela, depois subverti a receita para meus próprios propósitos: me dar uma overdose de batata, algo que eu adoro. Bom, o tempo passa, eu descubro a comida tailandesa depois de descobrir a comida japonesa.
E em algum momento do ano que está quase terminando, me ocorreu que eu poderia aprender a cozinhar comida tailandesa. Comecei a ficar de saco cheio de comer comida congelada e passei a comer em restaurantes vezes demais para o bem do meu orçamento. Se eu ia aprender a cozinhar, seria para cozinhar pratos que eu adoro comer. Comprei um wok em São Paulo durante a Monstra e foi um inferno meter aquela coisa dentro da mala para trazer de volta para o Rio. Já estreei o wok, fazendo alguns pratos inventados da minha cabeça, comprei uma pancada de livros com receitas da culinária tailandesa. Só falta ir para uma loja de produtos orientais para comprar coisas como nirá e óleo de gergelim e molho de peixe. Em função disso, minha amiga Claudia resolveu me dar uma aula de culinária asiática como presente de Natal. Fomos a um lugar chamado Café Em Pauta, em Botafogo. Esperávamos ver um café mesmo, com fachada, mesinhas e o caramba. Não. Era uma casa de vila encantadora (e que me deu vontade de comprar, ou pelo menos alugar). Entramos e tivemos uma aula ótima com a chef Ana Clara Richard do Ásia, um dos melhores restaurantes asiáticos do Rio. A aula foi ótima, os outros alunos divertidos e a professora tornou muito mais fácil uma coisa que eu acharia bem complicada do contrário. Nós nos empanturramos com a comida feita durante a aula e Claudia e eu estamos pensando seriamente em fazer um Ano Novo com as receitas que aprendemos ontem. E hoje, inspiradas pela aula de hoje, vamos jantar em um restaurante tradicional chinês que tem aqui na Tijuca. Vai ser uma delícia. Como diria Julia Child, bon apetit.

Liquidificador

Existe a velha e inevitável pergunta que sempre fazem em eventos. O que o escritor escreve é autobiografia? Confesso que eu nunca entendi de onde é que vem essa ideia. Que diferença faz saber se o que o escritor escreveu aconteceu mesmo ou não quando o que realmente interessa é a qualidade do texto.
Eu pelo menos gosto de jogar tudo no liquidificador. Posso até usar pessoas que conheço ou coisas que vi acontecer. Outras horas eu meio que roubo ideias de filmes ou outros livros ou até mesmo de quadrinhos, como um conto que eu escrevi inspirada por um segmento do Watchmen (o quadrinho, não o filme). Mas quando tudo é picado e jogado no liquidificador, o que sai é pura ficção e não tem nada a ver com a minha vida, nem a vida de ninguém. E tomara que não tenha mesmo. No meu primeiro romance, há um irmão que comete suicídio. No texto que escrevo agora há um pai que dá surras nos filhos. Essas são coisas que posso garantir que nunca aconteceram na minha vida. Mesmo que você use algo que aconteceu com você é um pouco como aquele processo que os atores usam em cena. O ator lembra de algo que lhe aconteceu e que de certa forma se assemelha ao momento que ele está passando em cena. Lembrar desse momento o ajuda a trazer à tona a emoção necessária. O trabalho do escritor não é diferente disso. O ator está usando as palavras dos outros. O escritor usa as suas. E nos dois casos trata-se de usar as emoções do passado e trazê-las para o presente. E no instante em que você tira essas cenas do seu contexto original, tudo vira ficção.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Aérea

Volta e meia sou forçada a reconhecer que não vivo neste mundo real de todo dia. Eu habito minha própria dimensão, uma ligeiramente deslocada desta aqui. Não é à toa que, há muitos anos, meus amigos me deram bóias no meu aniversário porque eu "vivo boiando".
Lançando um filme durante o Festival do Rio, encontro uma dica que diz "ignore o pancadão". Eu espero ver uma briga. Quando a atriz do filme bota para tocar um funk com uma batida bem forte, a ficha cai. Pancadão é isso. Outro filme, outro dia. A dica diz, "aparece o Caio Blat". E eu, encarrapitada no balcão do Odeon, me pergunto, "Quem é Caio Blat?" Surge um sujeito que começa a falar. Esse deve ser o Caio Blat. Se eu o visse na rua, não saberia quem é. Não assisto à TV aberta, não vejo novelas há dois séculos. Não conheço nenhum desses atores novos. Caio Blat aparece em outro filme no mesmo festival. Não parece ser a mesma pessoa, mas já que estão dizendo que é ele, eu aceito. E semana passada eu saí inocentemente no domingo para escrever na Travessa e depois, como é meu hábito, fui jantar no Leblon. Para quê? Dei de cara com hordas tomando as ruas, bloqueando o trânsito. Eu não fazia a menor ideia de que era a final do campeonato naquele dia. Não presto atenção no noticiário esportivo. Eu só sei que vai ter uma Copa do Mundo porque o ufanismo aqui que é tanto que nem eu consigo ficar alheia a isso. (Aliás, desconfio que 2014 e 2016 serão anos insuportáveis por causa do ufanismo geral que tomará conta do país.)
Sentada na varanda de um restaurante ontem, esperando chegar minha comida, eu tinha a nítida impressão de ser uma pessoa diferente na rua do que sou em casa. Meu olhar é diferente, mais atento e, ao mesmo tempo, distante. É como se fosse meu olhar de estrangeira. É aquele que se foca nos menores detalhes das pessoas em volta, pequenos momentos reveladores. Para a escritora, esses são os mais interessantes.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Parede

Bater com a cara na parede pode ser uma coisa produtiva quando você escreve. Parece um pouco com um contrassenso, mas descubro vez após vez que é verdade. Se você chega a um ponto em que não pode avançar mais com o texto, é necessário parar e avaliar o que se tem nas mãos. Ocasionalmente, é preciso voltar atrás, recomeçar. E isso não é de todo ruim. Voltar atrás pode colocá-lo no rumo certo, iluminar aspectos do texto que não tinha notado antes. No sábado vou recomeçar a segunda metade do romance, mas agora com uma visão melhor do que quero e para onde vou. Este fim de semana será produtivo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Escrever

Li uma matéria publicada no site da CNN em que o escritor Junot Diaz falou da batalha que foi escrever seu primeiro romance, que mais tarde recebeu o Prêmio Pulitzer. Ele descreveu um período de cinco anos durante o qual escreveu e escreveu e escreveu todo santo dia, mas nada do que escrevia prestava. Teve uma hora em que ele decidiu engavetar tudo e tentar um outro caminho, uma outra profissão qualquer porque estava claro que ele não era um escritor. Só que aí , um dia, às vesperas de embarcar nesse novo caminho, ele sentou e olhou de novo o que tinha escrito e começou a escrever de novo. Levou mais alguns anos até que ele terminasse o romance, mas ao final do artigo ele diz que ele se tornou escritor não apenas por escrever mas por insistir quando não havia esperança de que aquele texto resultasse em um romance, que aquilo de fato fosse levá-lo a algum lugar. Ser escritor não tem a ver com publicar, com encher cadernos de textos, mas com aquela necessidade que não vai embora, as rodinhas que não param de girar na sua cabeça embora você esteja ocupado no seu trabalho ou numa festa ou no bar com os amigos. Ser escritor é perseverar.

domingo, 6 de dezembro de 2009

É Natal

Inauguraram a árvore na Lagoa, então o Natal, pelo menos para mim, começou oficialmente. Não fico animada com o Natal, não fico contando os dias e odeio ter de comprar presentes em shoppings e lojas lotados. Inclusive acho meio ridículo que as decorações de Natal comecem a surgir cada vez mais cedo no ano, uma mania que, desconfio, importamos dos Estados Unidos. Em São Paulo, no início de novembro, o pessoal já estava começando a decorar um centro comercial que ficava na frente ao Conjunto Nacional e uma igreja ali perto.
Mas o Natal tem suas compensações. A árvore da Lagoa em si, que eu gosto de ver, as luzes que o pessoal começa a pendurar em toda parte e deixa a cidade com um ar mais festivo que eu gosto e, acima de tudo, as rabanadas que começam a ser vendidas no supermercado. Não sei fazer rabanada, nunca soube, mas eu adoro, especialmente rabanada no dia seguinte, embebida de canela e leite e meio que desmanchando. Não sou muito fã de peru ou de farofa ou essas comidas todas. Eu sinto falta é da rabanada, que a gente só come nessa época do ano. Mas para minha felicidade, há algum tempo que o supermercado que frequento semanalmente vende rabanadas nesta época do ano. Eu compro quilos e como no lanche ou no café da manhã. É uma delícia. Viva a rabanada.

domingo, 29 de novembro de 2009

A conspiração dos inocentes

Nunca tive muita afinidade com crianças. Nunca soube o que fazer com elas. Não sei falar com elas, não sei como lidar com elas. E, para espanto de muita gente, sou absolutamente imune ao encanto dos bebês. Na época em que eu trabalhava na Intercorp, quando uma mulher atrás da outra resolveu ter filho, todas vieram ao escritório apresentar os pimpolhos após o parto. O mulherio corria todo para ver. Eu continuava sentada na minha baia, trabalhando. Pensei que isso melhoraria quando minha irmã teve seu primeiro filho, mas como ela logo em seguida se mudou para Londres, meus sobrinhos são meio que virtuais e continuo não entendo nada de crianças.
Por isso desconfio que as crianças agora estão se vingando de mim. Ano passado, em São Paulo, numa loja na 25 de Março, fiquei sendo atropelada por uma criança num andador que insistia em passar por cima do meu pé. Hoje, num shopping, umas crianças de uns cinco, seis anos ficaram se jogando na minha frente, impedindo minha passagem e quase me fazendo tropeçar. Ontem, na livraria, uma menininha de vestido rosa ficava parada do lado da minha mesa, me encarando como que para dizer, "Estamos de olho em você". Não foi a primeira vez. Volta e meia pego uma criancinha me encarando. É tudo uma conspiração. Elas estão me observando. Elas estão vindo me pegar.

Quatro patas

Wilson, o novo bonitão que anda aqui em casa, é muito inteligente. Ele entendeu rapidamente onde ele não pode entrar, quando estou brincando e quando quero que ele obedeça a uma ordem. Claro que ele nunca perde uma chance de pedir uma coçada na barriga e ele adora ficar olhando o movimento da rua. Eu o levo até o portão de casa uma ou duas vezes por dia para que possa ver as pessoas e ônibus passando. Ele também aproveita para batizar uma das plantas do pátio de entrada. Minha única grande frustração é que ele não entende para que serve uma bola. Eu jogo a bola e ele não demonstra qualquer interesse. Podia ser uma folha caindo da árvore pela atenção que ele dá a isso. E eu que achei que ia poder brincar de bola com ele. Saco.

Morte súbita

Estou desolada. Meu MP3 player morreu de repente. Fiquei sem minha trilha sonora particular. Socorro!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A influência de Pompéia

Minha avó tinha um livreto sobre a cidade de Pompéia. Não lembro se ela tinha o livreto porque ela tinha visitado Pompéia ou se tinha apenas porque a cidade a fascinava. De todo modo, o livreto tinha fotos das ruínas e páginas em acetato com pinturas que você podia sobrepor sobre as fotos das ruínas e ver como era a cidade antes da erupção do Vesúvio. Ela também tinha uma coleção de livros da Time-Life sobre astronomia, a Grécia clássica, Roma antiga, o mundo natural. Vi e revi esses livros, suas lindas páginas coloridas, cheias de fotos e ilustrações. Minha eterna fascinação por civilizações antigas, eu sei, vem das tantas horas que passei olhando esses livros. E a arqueologia é, dessas ciências todas, a que mais me interessa porque com os menores indícios é possível reconstruir a história de toda uma civilização. Essa ideia de conseguir contar toda a história de um povo a partir de cacos de cerâmica, ruínas de templos, ossos, o que foi deixado para trás é uma que sempre me interessa, ainda mais porque, de certo modo, é isso o que faço toda vez que escrevo. Eu começo com pequenas coisas, gestos, rituais, rotinas, e aos poucos vou construindo personagens, uma pessoa que, com sorte, respira e vive. Dos cacos, um romance inteiro.

Sexta

Sentada aqui no escritório, vendo o vento agitar as árvores que ladeam o pátio de minha muy humilde cabana, fico torcendo que chova para aliviar o calor. Rolo no chão com os cachorros, deixo que o Wilson faça meu braço de osso (eu sei, eu sei, ele fica todo babado depois) e tento explicar à Zequinha o que são meus seios e porque ela não deve ficar pulando em cima deles. Penso no que fazer para o jantar, aproveitando para usar o wok que comprei na Paulicéia. Após assistir Julie & Julia (o filme é a Meryl Streep), estou ainda mais inspirada para tentar aprender a cozinhar comida tailandesa. E não, não vou fazer um blog sobre isso. Mas, claro, amanhã é sábado e estou contando as horas até ir para a cama e acordar no dia seguinte e correr para a livraria.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mistérios

Não sou uma pessoa particularmente meditativa ou que fique ponderando questões filosóficas. Sempre fui muito pão, pão, queijo, queijo. Mas há alguns mistérios nos quais penso de tempos em tempos. Como, por exemplo, por que todos os lugares onde eu moro têm invariavelmente os azulejos mais horrendos do mundo no banheiro, por que sou péssima fisionomista mas consigo lembrar do rosto de atores coadjuvantes em séries de TV com a mais absoluta clareza e quem foi a infeliz criatura que inventou que Coca-Cola tem de ser necessariamente servida com gelo e limão.
Há outras coisas que também fico ponderando. Por que certas famílias são tão unidas que moram todos no mesmo prédio enquanto outras se veem tão raramente que nem parece que existe uma família? O que faz um filho ser parecido com a mãe ou o pai e por que outro não tem nada a ver? Por que alguém nasce tímido e outra pessoa não? O que realmente sabemos um do outro quando dizemos que conhecemos bem uma pessoa? Como é que um mesmo evento atinge diferentes pessoas de uma família de formas diferentes? E será que somos diferentes dependendo da pessoa com quem estamos? Sei que nunca vou responder a essas perguntas quando escrevo. Mas são essas as questões que me fascinam e que fazem com que eu volte ao tema universal da família.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Minha pátria é minha língua

Outro dia, num evento, fiquei conversando em inglês com um americano. Hoje, num outro blog, achei essa antiga frase, "Minha pátria é minha língua". Não é a primeira vez que penso nisso e com certeza não será a última, mas de certo modo minha única pátria real são as duas línguas que eu falo, o inglês e o português. Passei toda a infância e o início da minha adolescência longe do Brasil ou estudando em escolas americanas ou as duas coisas ao mesmo tempo. O resultado disso é que eu nunca me senti realmente brasileira. Na prática, acho que tenho um pé em cada país, o que significa que eu observo os dois a uma certa distância. Sempre me sinto um pouco estrangeira aqui e lá e é uma posição que eu gosto. Ir a São Paulo foi interessante porque me colocou de novo na posição de viajante, que é algo que eu gosto. Ainda não foi a mesma coisa que ir a um país em que não conheço os costumes e a língua, mas quando você não viaja para o exterior há quase vinte anos, qualquer passeio pela Liberdade já vale como uma visita ao Japão.
Durante muito tempo, o inglês foi minha língua secreta, íntima e eu escrevia apenas em inglês. Com o tempo, o português foi entrando de mansinho e passei a escrever em português. Hoje em dia, eu escrevo na língua que me ocorre na hora. É uma coisa que eu não discuto. Claro que tenho de traduzir tudo o que foi escrito em inglês depois, o que é meio chato, mas não deixa de ser uma maneira de trabalhar o texto, pensar na escolha das palavras. E eu sempre acho que meu vocabulário em inglês é melhor, daí sou forçada a achar diferentes soluções quando passo tudo para o português. Não sei direito se o que eu escrevo é a minha pátria, mas é aquilo que mais gosto de fazer. Minha metade Super-Homem é a melhor parte da minha vida. E que venha o próximo sábado.

Never give up, never surrender

Há um filme genial que passou ontem na TV e que nunca me canso de ver. Galaxy Quest (Heróis Fora de Órbita) é uma maravilhosa sátira do fandom de ficção científica, dos atores das finadas séries que permaneciam no limbo profissional porque cometeram a besteira de trabalhar numa série de ficção científica, sacaneia carinhosamente Jornada nas Estrelas a cada oportunidade e, para os fãs que conhecem, rouba a ideia de um conto publicado nos anos 70 sobre Jornada em que os atores originais vão parar numa Enterprise de verdade, e aproveita esse conceito ao máximo para fazer um filme que é simplesmente hilário do início ao fim.
A ideia básica do filme é a seguinte. Uma série de sucesso dos anos 80 foi cancelada e seus atores nunca mais conseguiram se empregar na indústria. Para ganhar uns trocados, eles comparecem a convenções de ficção científica, inaugurações de lojas, coisas do gênero. Mas após 18 anos disso, eles estão de saco cheio de viverem às custas de seus antigos papéis. De repente aparecem esses alienígenas para quem os episódios da série são "registros históricos" e reproduziram tudo que havia na série, nave, uniformes, tecnologia, num esforço para se salvarem pois eles enfrentam um terrível vilão. E aí eles levam os atores da série para a nave para ajudá-los a se salvarem. E a aventura começa.
Para quem conhece o universo da ficção científica (ou falando mais claramente, quem é nerd e anda por aí com um bonequinho do C-3PO no chaveiro), o filme está recheado de piadas internas maravilhosas. É realmente uma pena que esse filme nunca foi devidamente promovido nos EUA e aqui. Uma das melhores cenas é uma em que a Sigourney Weaver e Tim Allen precisam passar por uns pistões que esmagam tudo e a Sigourney compreensivelmente reclama que quem escreveu o episódio em que os pistões aparecem devia morrer.
Enquanto isso, na telinha, recomendo The Big Bang Theory, uma comédia genial para quem quer entender os nerds e seu universo. O texto é uma delícia e o Jim Parsons, que faz o Sheldon, foi até indicado para um Emmy este ano. Ele merecia ter levado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Verão

Céu azul, sem nuvens, pessoas curtindo o calor na Lagoa, andando de bicicleta, correndo, passeando com seus cães, nenhuma previsão de chuva no horizonte. Odeio isso. Odeio calor. Odeio suar. Odeio verão. Odeio horário de verão, prolongando o sol até tarde. Meu negócio é chuva, tempo cinzento, frio, ar condicionado. Quero poder andar pela rua sem perder litros de suor. Quero um white Christmas, quero neve, quero um Natal que se pareça com os Natais que tive quando era criança. Tenho saudade de patinar no Rockefeller Center (mas não do meu corte de cumbuca horroroso), daquela árvore gigante e da decoração de Natal cheia de luzes, de fazer bonecos de neve, de ter brigas de bola de neve quando nevava o suficiente em Manhattan, de ir esquiar (mesmo nao sendo muito boa e ter caído e levado uma pancada na cabeça), de sentir aquele frio seco e cortante. Não sou alguém muito afeita a nostalgia, mas eu sinto falta do inverno, de ter quatro estações definidas. Agora entro em contagem regressiva, torcendo que o verão vá embora logo e me traga de volta o tempo fresco.

sábado, 21 de novembro de 2009

Antecipação

Roland Barthes falou sobre o ritual propiciatório da escrita em O Império dos Signos. E esse ritual tem tudo a ver com deixar sua cabeça no ponto para escrever, permitir que as ideias possam fluir da forma mais livre e desimpedida possível.
Meu ritual passa pela antecipação, essa ansiedade para que o sábado chegue logo para que eu possa vestir meu collant azul, a capinha vermelha. Escolho minha roupa com antecedência, coloco-a de lado, considero se vou levar algum livro extra na mochila, penso na melhor hora de sair de casa para aproveitar ao máximo o tempo que tenho. Depois tem o banho, vestir a roupa que escolhi, que é meio que meu disfarce para o dia, pois ninguém pode saber que sou o Super-Homem, e aí chegar em Ipanema, comprar os suplementos literários do dia, atravessar a rua e me instalar em uma de minhas mesas de sempre, pedir uma Coca Light. O trabalho da escrita pode começar então.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Árvore

Hoje, voltando para casa, passei pela árvore de Natal sendo montada na Lagoa e que deve ser inaugurada semana que vem. Morando sozinha há uns 15 anos, eu nunca vi muito sentido em decorar minha casa para as festas, ainda mais porque há muito tempo eu parei de curtir esta época do ano. Mas eu gosto da árvore da Lagoa, gosto de passar por ela a caminho de casa nos sábados e depois que a removem no início de janeiro, sinto sua falta pelo resto do ano. É um pouco como se ela fosse a "minha" árvore de Natal. Não sei explicar direito, mas é assim que me sinto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Gastronomia

Minha passagem por São Paulo terminou de maneira triste, mas uma coisa que eu curti enquanto estive lá foi sair em busca de restaurantes diferentes, especialmente os de culinária típica. Tive algum sucesso com alguns lugares, menos em outros. Por exemplo, entendi porque eu odeio Miojo Lamen. O original que vem fora de um pacote também é uma droga. Mas já sei onde devo voltar ano que vem e trazer companhia para o jantar.
O que é um tanto curioso já que aqui no Rio eu não saio em busca de restaurantes diferentes. Eu tenho minha rotina e é difícil eu me afastar dela. Isso apesar de eu adorar a boa gastronomia. No meu passado negro como filha de diplomata, eu costumava almoçar em restaurantes de crepes e restaurantes japoneses. Viajei para vários países, experimentei todo tipo de comida e sinto falta disso quando passo muito tempo sem ir a um bom restaurante. Cingapura, por exemplo, era um verdadeiro festival gastronômico com quiosques espalhados por toda a cidade vendendo comida chinesa, malaia e indiana. Eles faziam a comida na sua frente e era barato a não mais poder. Eu passava o dia indo de quiosque em quiosque, me entupindo de comida. Hoje lamento não ter experimentado mais tipos de comida e ter ficado na comida chinesa.
Agora quero inaugurar um novo tipo de exploração culinária. Comprei um wok em São Paulo e quero tentar ver se consigo aprender a fazer comida tailandesa. Pior do que a comida que tento fazer em casa não pode ser. Veremos o que vai acontecer nos próximos meses.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Timeless

Nessa época do ano começam a aparecer aquelas listas de melhores do ano (e imagino que melhores da década, embora na prática a década só começou mesmo em 2001) em revistas e blogs e coisa e tal. Nunca vou fazer uma coisa dessas. Eu não lembro o que estava lendo no início deste ano, nem que filmes eu vi, nem nada disso. O tempo, para mim, é uma dimensão um tanto misteriosa. Ele passa e não consigo registrar o que aconteceu quando. Se alguém fosse me perguntar o que eu estava fazendo no dia tal num julgamente de assassinato como fazem nessas séries de TV eu estaria fudida. A única coisa da qual eu tenho certeza é de que em fins de setembro, início de outubro eu estou no meio do Festival do Rio e em início de julho eu quero estar na FLIP, em Paraty. Fora isso, esquece.
Talvez isso tenha a ver com o fato de que nos primeiros anos da minha vida, enquanto ainda estávamos nos mudando de país para país por causa do trabalho do meu pai, os eventos eram marcados não pela data em que aconteceram, mas onde aconteceram. Os dois tremores de terra que senti foram na Costa Rica, a separação dos meus pais aconteceu em Nova York assim como uma maior consciência da arte, minha grande explosão de leitura que me levou a escrever seis meses depois aconteceu numa viagem a China, minhas primeiras lembranças são todas de Nova Orleans. É tudo geográfico. Tenho poucas datas. Acho que isso até certo ponto se reflete no que eu escrevo. Os flashbacks vêm tão facilmente quanto os eventos do tempo presente e tudo é um pouco solto no tempo e no espaço. Mas é orgânico na história. Se não for orgânico, cai fora.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Convivência

Toda nova relação tem seus probleminhas. Você começa a conhecer o outro, o que ele ou ela prefere, gosta de fazer, manias. Exemplo: toda vez que eu deito na cama, o Wilson e a Zequinha acham que isso é um sinal de que quero brincar com eles e prontamente tenho os dois em cima de mim e o Wilson tentando comer o meu pé. Tentar dormir com o pé babado e dois cães em cima de você não é muito agradável. Demora um pouco para convencê-los que estou mesmo tentando dormir. Sair de casa também não anda muito fácil. O Wilson, que é um cachorro de certo porte e forte, passa direto por mim e vai se instalar na porta de casa. Não posso deixá-lo dentro de casa, onde ele pode batizar tudo o que quiser. Claro que não adianta simplesmente mandá-lo sair para o pátio. O único jeito de fazê-lo sair é botar a coleira nele e levá-lo até o pátio, onde ele prontamente sai correndo, feliz da vida. Eu não entendo nada, mas pelo menos assim posso sair de casa. Enquanto isso, a Zequinha não entra no escritório de jeito nenhum. Outra coisa que é engraçada é como o Wilson adora ir para o portão da frente do prédio, ver o movimento das pessoas na rua. Ele é o cão mais sociável que eu já tive. E assim vai, dia a dia, eu vou descobrindo mais e mais sobre eles e acho que eles sobre mim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Back in Rio

Fui a um evento esta noite. E saindo do local do evento senti uma espécie de choque. Após duas semanas naquela coisa interminável que é a Paulicéia, o Rio subitamente me pareceu muito pequeno. Em certos sentidos, o Rio é uma província se comparado com São Paulo. Mas em Sampa há uma coisa meio travada, dura, que me incomoda. Exemplo: estava tirando fotos na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. De repente apareceu uma mulher do meu lado, funcionária da loja, que me disse que eu teria de pedir permissão oficialmente para poder tirar fotos dentro da loja. A mesma coisa aconteceu dentro de um dos cinemas, quando tentei tirar fotos do movimento para o meu registro fotográfico da Monstra. Se a gente estivesse numa base militar, eu entenderia perfeitamente, mas qual o problema de tirar fotos do público de um cinema ou do dragão pendurado numa livraria? Eu canso de tirar fotos durante o Festival do Rio e o pessoal aqui não dá a menor pelota. A mesma coisa na Livraria da Travessa.
Esse tipo de rigidez me desagrada. Impossível ver na Cultura as brincadeiras que vejo entre os funcionários na Travessa, os gritos de gol no fim de semana quando deixam uma das TVs que mostram DVDs no jogo do dia. Essa descontração faz parte do que torna a Travessa minha livraria preferida. E apesar daquela maravilhosa seleção de livros em inglês, a Cultura nunca vai conseguir igualar o Travessão em termos de conforto, bem-estar, informalidade, o clima gostoso que eles criam lá dentro. Por essas e outras, minha lealdade será eterna.

Afinal

Finalmente tive meu dia na Travessa depois de três semanas de ausência. Foi como voltar para casa. Sentei na minha mesinha de sempre, pedi a Coca de praxe, saquei dos meus livros e cadernos, tentei voltar para a história que tinha deixado em ponto morno quando fui a São Paulo. Até escrevi alguma coisa em São Paulo, em geral na Cultura, quando tinha alguns poucos momentos entre sessões. Mas não passou de duas páginas. Vou ter de entrar de novo no clima da história, dos personagens. Agora que acabou a trabalheira toda, posso afinal voltar parte da minha cabeça para o novo romance, para tudo que eu tinha maquinado antes de viajar. Eu fiz anotações, vou consultá-las. Semana que vem devo produzir mais. Por enquanto vou aproveitar que não tenho trinta trabalhos para fazer e descansar um pouco.

domingo, 15 de novembro de 2009

Aniversário

Faz uma semana que fui à Lagoa com minha heróica amiga Claudia e sua filha Angela para enfrentar um calor insuportável e buscar os novos moradores da casa. Bom, as "crianças" estão aqui. Wilson, o macho, tem 4 anos e prontamente se instalou como se tivesse morado aqui a vida toda. Zequinha, a fêmea, tem aproximadamente 9 anos e ainda está um pouco hesitante, tímida. Ela passa a maior parte do tempo na minha cama e quando levanta, só vai até as vasilhas de ração e água ou até a metade do pátio. Mas ela já está começando a se soltar um pouquinho, pulando em mim, brincando um pouco com o Wilson. Acho que ela passou muito tempo em abrigos e fica meio difícil para ela confiar nas pessoas.
O curioso em ter diferentes cachorros ao longo dos anos é que você realmente vê como cada um tem sua própria personalidade, seu próprio jeito, manias, preferências. Quem não tem bichos de estimação talvez não entenda isso. E também não vai entender o que eles significam para quem os têm. Eu não esqueci Dax ou Neguinho. Ainda lembro deles, lembro deles todo dia. Mas ao menos posso dar uma casa e uma nova vida para esses novos cães, para que eles tenham carinho e atenção.

sábado, 14 de novembro de 2009

Sobrecarga

Acho que nunca fiquei sobrecarregada dessa maneira e por tanto tempo. Vida de freelancer significa que você vai aceitando os trabalhos que lhe oferecem. Com anos de prática, fui aprendendo a equilibrar os trabalhos e quantos aceitar de cada vez. Mas de repente recebi uma avalanche de ofertas de trabalho em comparação com o início do ano, quando parecia que o mundo havia me esquecido. E fui aceitando tudo o que me ofereciam. Resultado: passei os últimos três meses trabalhando feito uma louca, numa maratona ainda mais cansativa que a maratona de dois festivais de cinema seguidos. Fiz de tudo, de tradução de séries de TV a versão de roteiros a editoração de um livro. E tudo aparentemente ao mesmo tempo. Minha roommate em São Paulo, Livia, pode atestar que dormi muito pouco durante a Mostra. Na verdade, eu já não estava dormindo direito desde o Festival do Rio. Ou seja, tenho muitas horas de sono para recuperar. Farei isso aos poucos nas próximas semanas.
Mas afinal essa super hiper ultra maratona chega ao fim neste fim de semana e vou começar a semana que vem com apenas uma tarefa. Férias, at last. E poderei curtir meus novos cães afinal.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Caras novas

Fui ontem ao Parcão na Lagoa e voltei com alguns novos moradores. São o Wilson e a Zequinha. Eles são muito fofos, cachorros resgatados da rua e que eu adotei ontem. O Wilson já se instalou como se sempre tivesse morado aqui. Zequinha ainda está um pouco tímida, mas hoje já dá alguns sinais de estar menos amedrontada com a súbita mudança após passar boa parte da vida em um abrigo para animais. Por enquanto, ela está instalada na minha cama, na colcha que ainda deve ter o cheiro da Dax e do Neguinho. Mas imagino que no final da semana ela já esteja se sentindo perfeitamente à vontada na casa nova. Vou tirar fotos deles e colocar aqui no blog em breve.

sábado, 7 de novembro de 2009

Dia seguinte

Estou em casa. Trabalhando porque é melhor assim. Foi um retorno estranho, relutante. Eu não queria ficar em São Paulo e não queria realmente voltar para casa. Desfiz a mala, joguei todo o meu guarda-roupa na máquina de lavar roupa que, desconfio, queria rapidamente pedir demissão. Pendurei meu crachá da Monstra (com minha foto horrorosa) na estante junto com meus outros crachás, empilhei os trocentos livros que trouxe da Cultura na mesa de cabeceira para depois encontrar um lugar para eles na minha já sobrecarregada estante.
Mais tarde irei ao mercado para me abastecer e jantar. Fiquei mal acostumada nas últimas duas semanas jantando fora todas as noites nos lugares mais diversos de São Paulo. Terei de me reacostumar a comer comida congelada e minhas pobres tentativas de cozinhar. Desta vez, ao menos, voltei com um wok para aprender como fazer comida chinesa e tailandesa. Ou ao menos tentar. E amanhã devo ter duas pequenas novidades em casa. Cruzem os dedos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Casa vazia


Descobri ontem que hoje eu volto para uma casa vazia. Meus cachorros, Neguinho e Dax, morreram na madrugada de quarta para quinta de motivos misteriosos. Já chorei muito e já especulei sobre o que pode ter acontecido. O que me resta fazer é voltar para casa e adotar mais dois cachorros e recomeçar. Saudade.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Último dia

Estou tentando acreditar que hoje é mesmo o último dia e que amanhã estarei pegando um avião de volta para o Rio. Faço minha mala, tento descobrir como fazer caber nela os trocentos livros que comprei na Livraria Cultura, além de toda a roupa que parece ter aumentado de volume de uma hora para a outra. Tenho quatro sessões e queria que não fosse assim já que quero me ver livre disso tudo. Se no final do Festival do Rio eu chego ao último dia exausta, no final da Mostra eu chego completamente morta, esgotada e sem paciência. Quero mais que a Petrobras se exploda, que aquelas pipoquinhas saltitantes do Unibanco morram, que o pessoal que faz festa no comercial da Adidas vá fazer festa em outro lugar e me deixe em paz. Não aguento mais ver essas vinhetas toda santa sessão e tenho vontade de arrebentar a cara de quem inventou essa história de vinheta. Depois as pessoas olham para mim com espanto quando eu digo que não vou mais ao cinema. A sala de cinema virou um lugar de trabalho, não de lazer. Só nestes dois festivais eu vi mais de cem filmes em um mês e meio, fora o que eu traduzi ou adaptei. Tá bom assim, né? Não preciso ir ao cinema agora por um ano inteiro. Que é mais ou menos o que acontece.
Quero voltar para meus cachorros, minha casa, meu travesseiro, minha comida congelada na geladeira. Não quero ter horários por pelo menos um mês inteiro. Vou pendurar mais um crachá para minha coleção, botar o catálogo junto com os outros catálogos de outros festivais de cinema em que trabalhei, vou voltar para a rotina. E vai começar a contagem regressiva até o próximo ano. É uma correria, é uma maratona, uma maluquice e chego na reta final com umas olheiras enormes, parecendo aqueles corredores de maratona que vemos em olimpíadas, se arrastando para chegar e cumprir seu dever de atleta mesmo que o vencedor já tenha chegado há meia hora. Sou como a tartaruga da fábula. Carrego minha vida nas costas e aos poucos eu chego lá.
Amanhã, avião. Odeio aviões, ônibus, carros. Mas amanhã acho que vou beijar todas as aeromoças e aeromoços e pilotos (vamos ser democráticos) no caminho para o Rio.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Reta final

Já começo a enxergar a reta final. São só mais três dias de Mostra, mais três dias para fazer em São Paulo aquilo que se quer fazer, as últimas compras, as últimas idas aos museus, as últimas chances para ir a aquele restaurante que te recomendaram. Depois disso, casa, cachorro, minha cama, meu travesseiro e o barulho familiar dos vizinhos. De várias maneiras, este período em São Paulo foi o completo oposto do que foi o ano passado. Um pouco em função das circunstâncias, fiquei mais recolhida, menos afeita a procurar os colegas após minhas sessões. Mas esse é um movimento que também me agrada. Talvez no ano que vem eu equilibre esses meus dois impulsos e faça uma viagem em que eu veja as pessoas, mas também encontre tempo para mim.
Como saldo, pelo menos até agora, uma visão um pouco melhor, embora ainda muito limitada, do que é esta cidade e de tudo o que ela contém e pode oferecer. Sinto vontade de voltar aqui em outras circunstâncias, simplesmente para passear, poder andar pela rua e ver as pessoas, os prédios, toda a variedade que é este lugar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Pinguça

Esta é a minha fama. Toda vez que alguém joga na lista de e-mails da legendagem uma mensagem sugerindo que todos nos encontremos para ir a um bar, minha resposta é sempre uma só: chope!!!! Consequentemente, sou conhecida como a pinguça. A ironia é que eu não bebo. Tomo quantidades industriais de Coca-Cola, de Fanta Laranja e o pessoal me sacaneia por causa disso. Mas não me incomodo. Gosto da social, gosto do encontro com as pessoas, de voltar andando para o hotel (como aconteceu ontem) às quatro da manhã, curtindo a companhia dos amigos.
O outro lado disso são os dias em que curto andar sozinha por aí, podendo decidir que caminho tomar. Outro dia, saindo de uma sessão de noite, fui andando para um restaurante pela Paulista, o tempo nublado, ventando, frio. E gostei de ter esse momento só para mim, esse momento de quietude, perfeito, suspenso, solto no meio de duas semanas muito corridas. Na terça eu tenho boa parte do dia vazio e pretendo aproveitá-lo para fazer um pouco de turismo, andar pela Liberdade, pela Paulista, fotografar o que for possível. Às vezes, acho que vejo melhor as coisas quando estou sozinha. Acompanhada, é mais difícil encontrar aquele olhar observador, aquele foco, quando tenho outras pessoas competindo pela minha atenção em volta. Esses são os dois polos em que me movimento. O da social alegre e o da solidão confortável. Comigo, sempre será assim.

sábado, 31 de outubro de 2009

Sampa

Apesar de tudo, da correria insana, da pilha de trabalhos que parece não terminar nunca, tenho conseguido me dar pequenos momentos para estar só, geralmente no jantar, em que posso sacar do caderno e escrever algumas linhas antes que chegue meu prato. É uma forma de manter a pena minimamente afiada enquanto não posso voltar com força total aos meus sábados, o que vai acontecer daqui a exatamente uma semana e mal posso esperar.
Viajar é bom, poder ver essa gente que é ligeiramente diferente do povo carioca com que me acostumei. Na terça, pretendo me soltar na cidade e ver várias coisas. Vou na Liberdade, quero andar pela Paulista, registrar o que puder com a câmera. Esta cidade tem várias coisas que me atraem, essa coisa de metrópole grande e suja e confusa de que sinto um pouco falta no Rio. O Rio é um balneário, é um outro esquema. São Paulo tem coisas que me sugerem Nova York e Chicago, cidades de que tenho muita saudade.
Hoje, para fechar a noite, teremos um chope para juntar o povo legendático, trocar figurinhas. Esta noite promete.

A legendagem em ação

Uma de nossas colegas está grávida. Descobrimos esta semana. Mas sendo a tribo peculiar que somos, além de transmitir os parabéns, todo mundo imediatamente começa a fazer sugestões de nomes para o bebê. Legendilson e Legenderson estão estre os favoritos na primeira leva. Há quem também prefira Legendário ou Legend. Em breve, a futura mãe terá toda uma lista de nomes para batizar o rebento. Que, naturalmente, vai nascer de crachá e pen drive já prontos, e assim que aprender a ler e escrever já terá sua vaga garantida entre os audazes dublês de legenda.
Não me peçam para explicar "dublê de legenda". Foi algo que algum sujeito disse aqui em São Paulo ano passado e ainda estamos tentando decifrar de onde ele tirou isso. Tarefa igualmente difícil, imagino, que a do incauto público que chega na sala de cinema e encontra uma criatura já sentada na plateia, com um laptop ou teclado de desktop no colo. O que essa pessoa está fazendo sentada ali? A maioria não sabe, sequer imagina. Como a senhora que, durante uma sessão num cinema bem pequeno no Rio, queria que o marido tomasse satisfações com o rapaz (mas que grosseria) que ficava trabalhando num laptop no meio do filme. Onde já se viu? Pior, na verdade, são aqueles espectadores curiosos que insistem em saber o que você faz ali e querem porque querem sentar do seu lado apesar disso ser extremamente incômodo por tirar a sua concentração. E, acredite, você precisa de concentração para lançar qualquer filme, mesmo o mais bobinho.
A Mostra começa a entrar na reta final e eu fico contente com a perspectiva de embarcar naquele avião na sexta que vem e voltar para a minha vidinha chinfrim de sempre. Preciso descansar.

Eternidade

A Mostra já fez uma semana, mas parece que foi há dois séculos que você aterrissou na cidade. Cada dia é muito curto e eterno ao mesmo tempo. Você já se acostumou ao caminho que faz para voltar ao hotel toda noite, já sabe quais os pontos preferidos das damas da noite, começa a prestar atenção em como elas mudam de figurino dependendo das condições do tempo.
Dentro do cinema, uma sessão de duas horas pode ser interminável se o filme for muito chato. O popular desperdício de celulóide, como chamamos. Chega uma hora em que todos passam a comparar figurinhas. Você viu esse filme? Nossa, que horror. Ou então, fuja deste que é uma bomba. Todo ano tentamos escolher o pior filme do festival. É o popular abacaxi de ouro. Em geral, trata-se de alguma obra-prima da sétima arte que não tem pé nem cabeça, muito menos enredo, coerência, qualquer coisa dessas. E acredite, a quantidade de filmes completamente alucinados que já vi na vida é enorme por conta dos festivais da vida. Por isso, minha vinheta preferida do Festival do Rio é a de 2006, a do homem em chamas correndo pela Praia de Ipanema. Não fazia o menor sentido. Mas tinha tudo a ver com os filmes que a gente lança.
Quando você chega neste ponto, você começa a lembrar que tinha uma vida fora desta maratona, que tinha cachorro, uma casa, amigos outros além daqueles que, como você, andam sempre por aí com um crachá pendurado no pescoço, regidos pelo relógio e o esquema de lançamentos. Para combinar um almoço, todos sacam de suas respectivas programações, procuram sincronizar as sessões. Que maravilha a perspectiva de voltar a uma vida em que não há uma só coisa marcada para fazer, nenhum horário, nenhum compromisso fora o de fazer o trabalho chatinho de todo dia, poder rolar no chão do pátio com minha cadela e não ficar olhando para o relógio de cinco em cinco minutos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Arquitetura

Uma das coisas que eu gosto em São Paulo é a variedade da arquitetura dos prédios. Me incomoda bastante aquela uniformidade chata do Rio. Parece que todo prédio que constróem é igualzinho ao prédio do lado. Mas aqui você vê um pouco de tudo, inclusive prédios que acho que não veria no Rio, mansões na Paulista, casas grandiosas nas ruas transversais. No Rio alguém já teria comprado a casa, derrubado e colocado um edifício residencial no lugar. E aqui há muitas casas. Muito mais do que costumo ver no Rio. Uma cidade, na minha opinião, não se faz só pela sua natureza exuberante, que é o que todo mundo vê nos cartões postais. Quando você anda pelas ruas deve ter o que ver também. Nas casas, nos prédios, nessa mistura confusa que é a Paulicéia e que me agrada muito.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Bruxa

Quando tudo resolve dar errado, dá tudo errado de uma forma espetacularmente catastrófica. Ontem passei por um problema desses. O laptop trazido para o cinema onde eu iria lançar não queria ligar, provavelmente teve um problema no disco rígido. Trouxeram um segundo laptop. Nada. Os técnicos trabalham feito uns loucos para tentar fazer os laptops funcionarem, nada acontecia. E o tempo passando e o público cada vez mais impaciente (e com razão). E para piorar, toda vez que um deles nos pedia uma previsão, alguém dizia cinco minutos (porque de fato parecia que a solução estava próxima), mas aí aparecia outro problema e estávamos de volta à estaca zero.
Resultado: tiveram de usar o meu laptop que eu carrego para cima e para baixo para trabalhar nos intervalos dos filmes, e foi com ele que fiz o lançamento dos filmes. Hoje tenho de voltar ao mesmo cinema e torço que eu não tenha mais um dia como hoje. A primeira sessão atrasou uma hora e todas as outras, consequentemente, sofreram um atraso semelhante.

domingo, 25 de outubro de 2009

33 minutos

A correria é a mesma, o cansaço é o mesmo, os prazos apertados, os cinemas congelantes, a exigência de pontualidade. Hoje, sentada no Unibanco, esperando algumas amigas chegarem para poder ir jantar, observei que o público da Mostra não era em nada diferente do público do Festival do Rio. Todos sentam nas mesas com seus programas, tentando conciliar horários e dias de exibição. Só não vejo o público do Rio comprando souvenirs do Festival como compram da Mostra. Bonés, camisetas, posteres, catálogo. Logo, você vê uma multidão com aquelas bolsas de papel kraft com o símbolo da Mostra. Acho que o pessoal do Rio tenta parecer mais blasê. Eu, comprar suvenir, ficar parecendo turista? Deus me livre.
A diferença interessante entre Rio e São Paulo é que lá você comparece com 30 minutos de antecedência para sua sessão. Aqui na Paulicéia são 33 minutos. Não sei porque 3 minutos fariam tanta diferença, mas tudo bem, a gente chega lá. Eu sempre tento chegar no cinema com o máximo de antecedência possível por hábito, então eu não ligo. Desconfio que seja uma questão cabalística, talvez algo de numerologia. Pode ser também que tenha a ver com o fato de ser a 33ª Mostra. Não sei. Tenho de investigar esse assunto a fundo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Monstra

Primeiro dia da Mostra também conhecida como Monstra. Estou de volta ao meu modelito crachá, pen drive, caderninho de sessões e MP3 player. Lancei minhas três sessões, senti o quanto duas semanas já servem para te deixar enferrujada. Ainda mais porque passo boa parte do Festival do Rio lançando filmes nacionais. Fico desacostumada a ter de acompanhar os ritmos de outras línguas que não o inglês e o português. Amanhã já devo estar voltando a entrar no ritmo. Outra coisa. Eu esqueci como você sente uma inclinação de poucos graus quando precisa subir em direção à Paulista e está carregando um notebook dentro da mochila. O Rio é basicamente plano e andar muito tempo me cansa, mas aqui me cansa muito mais rápido. Chego no cinema cansada, mas nem de longe tão ofegante quanto no ano passado, quando ainda não tinha trocado meu remédio para asma. Mas hoje eu aprendi uma lição muito importante que eu havia esquecido. Os cinemas de São Paulo são muito mais frios que os do Rio. Isso é irônico numa cidade que em geral não usa ar condicionado direto como no Rio nos táxis, no metrô, nas lojas. Amanhã vou ter de levar o suéter que comprei para enfrentar a fria noite paulistana na mochila. Logo, vou sair daqui da Livraria Cultura, onde me instalei no café, e sair para explorar a riqueza de opções culinárias da Paulicéia, que é a outra coisa que me traz a São Paulo. Bom apetite.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Paulicéia

Primeiro dia em São Paulo. É interessante ver o quanto eu consigo lembrar do que vi no ano passado. Em 2008, eu não sabia o que era para que lado, se eu devia ir para o Centro ou para os Jardins, onde ficava a Liberdade, coisas assim. É bom poder andar com mais desenvoltura, saber onde estão os restaurantes, os mercados, a Livraria Cultura. E de novo me surpreendo com essa coisa que São Paulo tem de ter tudo meio misturado no mesmo lugar, com um jeito de salada. Voltando para o hotel, vejo as damas da noite fazendo ponto nas esquinas defronte a respeitáveis edifícios de classe média, inferninhos na Augusta a poucas quadras de endereços chiques, uma Avenida Paulista que tem residências e sedes de grandes corporações. No Rio, as coisas são mais separadas, mais segregadas, por assim dizer. São Paulo, para mim, é uma cidade mais dura que o Rio, mas que, ao mesmo tempo, oferece coisas incríveis. Espero poder descobrir mais algumas dessas coisas nesta viagem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Tomorrow

Amanhã, eis-me na Paulicéia Desvairada. Desvairada, naturalmente.

Orgulho

É bom ver um amigo lançando um livro e fazendo sucesso, ganhando matérias em jornais. Ainda mais uma pessoa tão legal, tão disposta a ajudar. E, por que não dizer, jovem. É legal alguém conseguir, nessa idade, realizar parte de seus sonhos. Dá uma sensação boa lá dentro.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Generosidade

Há pessoas que fazem coisas por você, que se dispõe a ajudá-lo, mesmo que elas não o conheçam muito bem, quando não há muita intimidade. Isso é algo que me comove de uma forma que nem sei direito como explicar. É algo que tenho visto nesse último ano. E é algo a que não estou muito acostumada. Por isso mexe muito comigo. E sou extremamente grata a essas pessoas.

domingo, 18 de outubro de 2009

Dá-lhe, Ramones

He's alive!

Em todo texto que você escreve chega o momento em que os personagens começam a se por de pé, começam a ganhar feições próprias, começam a respirar, por assim dizer. Esse é um momento muito especial. Ele, inclusive, costuma ser, ao menos para mim, o primeiro sinal de que estou indo na direção certa. Mesmo que depois eu tenha de reescrever cenas que já escrevi há algum tempo, são essas cenas em que eles ganham vida que vão determinar a direção que os personagens vão seguir pois é a sua lógica interna que começa a operar quando antes era algo imposto de fora. Não é que eles se rebelam, mas minha cabeça ficou elaborando esses personagens durante esse tempo todo desde que comecei a conceber o texto e agora começo a ter um entendimento instintivo de como essas pessoas pensam, reagem, sentem.
No final da semana, Sampa, Paulicéia Desvairada. E terei mais duas semanas para ficar elaborando essas pessoas antes que possa sentar para escrever de novo.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cachaça

Eu reclamo, me mato de trabalhar, muitas vezes não sei como vou dar conta de tudo o que tenho a fazer, fico tão cansada que às vezes acho que vou ter um treco e cair dura. Mas eu adoro essa época do ano. Basicamente passo o ano todo em contagem regressiva, torcendo que agosto venha logo. Não se trata tanto do dinheiro que ganho nesta época, que obviamente é muito bem-vindo e me ajuda a conseguir coisas de que preciso (como o notebook no qual escrevo este blog), mas da adrenalina, da emoção da correria, a sensação de fraternidade que tenho com as pessoas que fazem esse mesmo trabalho que eu. Adoro ficar correndo por aí com o crachá e o pen drive pendurados no pescoço, clicando juntos, os símbolos de que pertenço a esse seleto grupo de profissionais, algo de que me orgulho muito. Semana que vem parto rumo a São Paulo e mais uma rodada dessa maratona insana. Vai ser cansativo e estressante e divertido e maravilhoso. E quando terminar, vou ficar contando os dias até que chegue o mês de agosto de novo. Com a ajuda do Deus Branco, como sempre.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Mostra

Vou para a Mostra de São Paulo em menos de uma semana. Mala, roupa, hospedagem, trabalho. Minha cabeça está a mil. E estou cansadíssima. Não é nada de novo. Já fiz isso muitas vezes antes. Curiosamente, como no ano passado, tenho de comparecer ao lançamento do livro de um grande amigo. Mas continuo achando que estou precisando de dias de 32 horas para fazer tudo que precisa ser feito antes de viajar. Veremos o que acontece.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Por falar em dormir

Descobri esses curtas de animação geniais de um cara com o seu gato. Eu adoro. Mas o negócio é que eles me lembram um pouco da minha cachorra, Dax, que é um pouco escandalosa na hora de me dizer que quer comida.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dormir, dormir

Uma das poucas coisas que é regular na minha vida de freelancer é meu horário de domir. Acordo às 10 da manhã e vou dormir às duas da madrugada. Durmo oito horas contadas. Não preciso de despertador. O resto do tempo eu trabalho. Naturalmente, o festival atrapalha esse meu ritmo natural e o complicado é restaurá-lo para que eu possa descansar e me preparar para a Mostra, ao final da qual vou ter de fazer isso tudo de novo. Nesse meio tempo, fico parecendo uma dorminhoca, dormindo no meio do dia, sentindo sono nos horários mais estranhos. Fazer o quê?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Refishing

A repescagem é sempre uma coisa meio morna, que nem comida requentada do dia anterior. Você ainda está meio saturado daqueles filmes, mas já passou daquele ponto em que você não suporta mais ver nada na sua frente. É mais uma sensação de tédio. Been there, done that. Você até bota o crachá, leva o suprimento de Fanta, mas a adrenalina, a excitação acabou.
Há exceções, claro, como o ano em que decidiram fazer a repescagem no finado Paissandú e ocorreu um problema com a venda de ingressos antecipados. Ficou apenas uma bilheteria fazendo a venda de todos os ingressos e isso acabou gerando uma confusão enorme. A fila dava voltas no quarteirão. E eu via o público cada vez mais impaciente, mais indócil, mais irritado. Cheguei a pensar que eles invadiriam o cinema e que eu acabaria linchada junto com as moças da bomboniere. Eu imaginava direitinho o pessoal chegando com tochas, pedras, tipo "vamos matar o monstro de Frankenstein". Ia voar pipoca para todo lado. E a pobre tacadora de legendas, na flor da idade, ia pagar o pato por um problema de informática qualquer.
O tempo foi passando e nada daquilo se resolver, e o pessoal cada vez mais irritado. Eu ligava para a coordenação da legendagem, cada vez mais apavorada, quase que implorando que alguém mandasse o exército para me resgatar. Até que finalmente deram um jeito naquele maldito programa de vender ingressos e começaram a deixar as pessoas entrarem no cinema. Mas as sessões estavam tão atrasadas que foi preciso fazer as três primeiras sessões, as minhas naturalmente, corridas uma atrás da outra. Era o tempo de esvaziar a sala e deixar a próxima leva entrar. Eu descia correndo, comprava mais um refrigerante, fazia o xixi preventivo no banheiro da cabine (pois nessa época já tínhamos começado a fazer lançamentos dentro das cabines) e sentar a bunda na cadeira dura para mais uma sessão de 90, 100 minutos. No fim do dia, quando entreguei a cabine para a próxima lançadora, o horário já tinha se normalizado, mas eu estava completamente exausta, pois foram praticamente seis horas direto, com pausas de no máximo cinco minutos. Boa parte do meu corpo estava doendo. Depois dessa, nunca mais fizeram uma repescagem no Paissandú. E eu dei graças a Deus.

domingo, 11 de outubro de 2009

Confirmações

Escrever é, por definição, uma atividade solitária. Mesmo sentada no meio da livraria, com gente para todo lado, eu estou sozinha, fechada no meu mundo particular, a música do meu MP3 player me ajudando a me isolar das pessoas em volta. Você sempre escreve no escuro. Todo texto é uma aposta que pode ou não dar frutos. Por isso é tão importante receber um retorno das pessoas para quem você mostra o seu texto. E isso tem começado a acontecer recentemente, após seis anos de trabalho no meu romance, tenho recebido a confirmação através de várias pessoas que todo o meu esforço valeu a pena. Ontem mesmo eu fui para a Travessa com um e-mail de uma grande amiga no bolso que dizia, em parte, "Cada vez gosto mais de seu texto". Isso de uma pessoa que sempre acreditou em mim mais do que eu em mim mesma. Essa é a melhor coisa do mundo. Vou conseguir publicar o romance, não vou, ainda não sei. Mas ler isso já valeu a pena.

sábado, 10 de outubro de 2009

Rotina

De volta aos meus sábados sagrados. Hoje eu me olhei no espelho antes de sair de casa e achei estranho não ter pendurados no pescoço meu crachá e meu pen drive. O fim do festival é sempre uma freada brusca e leva um tempo para me acostumar com a ideia de que não preciso mais dormir, comer e tomar banho com meu caderninho de sessões agarrado na mão. Enquanto isso, procuro voltar à rotina. Nada de horários e posso acordar quando eu quiser. Aliás, eu posso voltar a dormir. Essa é uma coisa boa.
Também posso voltar a escrever e essa é uma coisa melhor ainda. Passei o dia me sentindo meio enferrujada, mas logo vou voltar ao ritmo. Terei mais duas semanas de Mostra de São Paulo, daí preciso aproveitar ao máximo esse intervalo entre festivais. Como ainda estou no início de um novo texto, o que me fascina é a maneira como os personagens vão tomando forma, cor, corpo. Eles são assim e não assado. Mais até do que a história, é o processo de descobrir quem são essas pessoas que me interessa. Na prática, não há nada de muito original nas minhas histórias. O que mexe comigo é tentar encontrar uma estrutura que seja diferente de outras coisas que já escrevi, botar essas pessoas de pé. Sempre chega um momento em que esses personagens começam a respirar sozinhos, a andar por aí no mundo. Esse é o momento pelo qual espero em tudo o que escrevo. É nesse momento que saio saltitando da livraria, feliz da vida, parecendo aqueles desenhos do Snoopy dançando. Life is good.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Amostra grátis



Uma pequena amostra das fotos que tirei no Festival do Rio.

Acabou

Há uma sensação estranha depois que tudo acaba. Você passou duas semanas por conta daquele caderninho com suas sessões, dormia, comia e corria para cima e para baixo por conta dos horários anotados naquelas páginas. Passo o resto do ano sem ter horários fixos, mas nessa época do ano sou praticamente suíça, meu tempo rigidamente controlado. E após 15 dias de correria, de repente, pum, você chega do outro lado e se vê surpresa por não ter um lugar para o qual correr, por não precisar tomar banho a jato e sair voando para o cinema. Nessas horas eu sempre lembro do Martin Luther King citando naquele famoso discurso em Washington uma velha canção da época da escravidão. "Free at last, free at last, thank God Almighty, we are free at last".
Ainda estou muito cansada, mas subitamente posso me dar ao luxo de cochilar no meio do dia. E para quem estava dormindo cinco horas por noite ou menos, um cochilo na sua própria cama quentinha é mesmo um luxo. Ainda tenho dois dias de repescagem, mas aí toda a pressão já acabou. Toda a expectativa agora se volta para a Mostra de São Paulo. Vamos nos perder na Paulicéia com a benção do Deus Branco. Em breve, as fotos que tirei durante o Festival do Rio.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Tradição

Há algumas coisas que são tradicionais no Festival do Rio. Sempre sofro um problema técnico qualquer, sempre tem um dia em que chego atrasada no cinema (mas a sessão não atrasa), um filme que faço da noite para o dia e sempre tem uma hora em que vou parar no cinema errado por cansaço e distração. Outra coisa já tradicional é poder zoar dos novatos e chamá-los de carne fresca, tentar meter um pouco de medo. Se bem que, sem novatos, para quem vou contar minhas histórias de guerra de festival? Todo o resto do pessoal já ouviu minhas histórias vinte vezes. Ser veterana de festival tem suas desavantagens.
Vejamos, agora que o festival terminou, façamos uma avaliação. Tive vários problemas técnicos, não apenas um só como é de praxe. No Estação Gávea, distraída, fui entrando na Sala 1 em vez da Sala 2, que era a minha. No último dia do festival a cidade ficou super engarrafada e cheguei 20 minutos antes da sessão em vez dos 30 minutos obrigatórios. Meter medo nos novatos? Não, até que nem tanto. Parte do que protege os novatos é que eu não lembro da cara deles até deixarem de ser novatos. Mas consegui participar do tradicional último chope que promovemos para fechar a maratona. Voltei para casa às três da manhã apesar de só ter dormido quatro horas na noite anterior. E ainda consegui contar uma das minhas histórias mais velhas. Também fechei o festival no lucro já que, mais uma vez, quebrei o meu recorde de lançamentos. Todo ano tento lançar mais filmes do que no ano anterior. Isso significa mais dinheiro naturalmente, mas também uma certa satisfação boba que eu tenho. Há alguns anos, eu lançava 40 sessões, agora lanço 66. Ficou uma média de quatro, cinco sessões por dia, doze horas no cinema. Enquanto eu conseguir aguentar o ritmo, seguirei firme e forte tentando quebrar meu recorde com a ajuda do Deus Branco e muito Hunter.

Braçal

Sempre achei engraçado que chamassem a legendagem de eletrônica quando ela tem muito de braçal. Primeiro tem a tradução, que muitas vezes dá um trabalho danado. Depois de pronta, ela é carregada no computador, no programa próprio para o lançamento das legendas. Aí tem o sujeito que tem de sentar na sala de cinema, acompanhar o filme e lançar as legendas uma a uma sem descuidar da sincronia com as falas. Há quem pense que é só apertar um botão que solta tudo. Não, cada legenda é lançada individualmente, manualmente. Você precisa estar completamente ligado no filme, em cada fala, ou vai perder legendas. Não parece, mas isso é estupidamente cansativo. Para fazer o lançamento, você precisa estar num estado entre a tensão e o zen. Repita isso durante cinco sessões por dia, doze horas por dia, e você começa a entender porque está todo mundo morto no final da maratona de filmes.
Por isso, quando chega no final do festival, você vê essas figuras pálidas com olheiras bem fundas se arrastando para a sala de cinema. São os pobres coitados dos tacadores de legendas que precisam sobreviver a mais uma sessão, de preferência acordados, quando tudo o que querem é uma cama quentinha e um mês de sono.

Vocabulário

O Festival do Rio, ao longo dos anos, foi gerando seu próprio vocabulário. Wild Fingers, Deus Branco, Hunter, vinte centímetros, e, o mais recente, refishing. É tudo fruto da lista de e-mail que mantém a comunicação entre quem trabalha no festival. É um grupo enorme, com dúzias de pessoas, entre quem só traduz, só lança e quem traduz e lança. Deus Branco, por exemplo, surgiu de um erro de digitação. A tradutora queria dizer "deu branco", buscava uma solução para um problema de tradução. Resultado? Todos agora invocam a proteção do Deus Branco sobre nossas sessões.
O trabalho no festival pode ser muito estressante. Prazos curtos, exaustão, muito trabalho e pouco tempo. Sem esse senso de humor, a gente não sobrevive. Eu estou dando graças a Deus que hoje é o último dia. Agora só tem a repescagem, o refishing, e pronto. Depois vou passar um ano inteiro na contagem regressiva até o próximo. Vai entender. Mas o Deus Branco vai iluminar nosso caminho. Tenho dito.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Exaustão

Na reta final, você morre de sono apesar de ter dormido bem, enfrentar cinco sessões seguidas não é tão fácil quanto era no início do festival, sua paciência para discursos de diretores e produtores já saiu pela janela e você acorda sem saber direito qual o dia da semana. Você sente dores misteriosas que somem no dia seguinte. Um dia é o cotovelo que dói, no outro é o polegar da mão esquerda, suas pernas vão ficando mais pesadas durante o dia, você escorrega mais e mais na poltrona e quando vê, está quase deitada. É mais difícil achar uma posição confortável naquela poltrona estreita. Tudo que você consegue pensar é que na quinta termina tudo. Não é à toa que não quero entrar de novo num cinema até chegar a hora do próximo festival.

sábado, 3 de outubro de 2009

Sono

Segundo fim de semana do Festival. Parece que você não faz outra coisa há séculos. Você está praticamente morando no cinema, nasceu com um crachá e um pen drive pendurados no pescoço. Luz do dia? O que é isso? A vida virou uma sucessão de filmes. O micro começa a desligar sem motivo aparente cinco minutos antes da sessão. No dia anterior, o teclado começou a travar. Você arranca os cabelos. Trocam o teclado, o fim do mundo foi evitado. E você morre de sono porque não consegue dormir oito horas direto por causa da adrenalina e dos horários e o trabalho que precisa fazer em casa para cumprir outros compromissos. Quanto menor o número de legendas no filme pior fica, porque você precisa se manter acordado durante essas longas pausas. Aí você começa a balançar de um lado para o outro para se manter acordado (ficar em movimento ajuda) e parece autista para quem está olhando de fora. Quando tudo terminar, vou passar um dia inteiro dormindo. Juro.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fazendo a social

Tem um outro lado do Festival que eu adoro e que é poder me encontrar com outros lançadores entre sessões e trocar figurinhas. Esse filme é complicado, esse é mole, este é muito chato. Se você fica isolado em um cinema como o Odeon, você sente falta disso. Mas num cinema como o Estação Vivo Gávea, que tem várias salas, você está sempre esbarrando em alguém. Por outro lado, no Odeon, você tem o Ateliê Culinário e dá para aproveitar os buracos na sua programação para fazer uma refeição decente, pois, do contrário, você fica na base do sanduíche. Não há tempo de fazer mais nada quando você volta para casa. Ontem, por exemplo, almocei um excelente frango com shoyu e purê de batata. Muito gostoso. Recomendo a quem estiver passando pelo Odeon.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Adrenalina e stress

Festival tem dois componentes inevitáveis: adrenalina e stress. Você passa doze horas no cinema, lançando legendas, enfrenta problemas, pequenas irritações se acumulam. Inclusive porque sua vida lá fora não para. Acabou o papel higiênico, o Nescau e você não tem tempo de ir às compras. E tem outros trabalhos rolando ao mesmo tempo que você tenta manejar da melhor maneira possível e não perder as datas de entrega para o festival e para o resto do mundo.
Ao mesmo tempo, você chega em casa e está tão na pilha apesar de só ter dormido seis horas que não consegue simplesmente deitar e dormir. E aí você vai dormir tarde e dormir pouco de novo e de novo voltar para casa na pilha após um longo dia. Quando eu era mais nova, tinha mais energia para enfrentar essas coisas. Hoje em dia me falta um pouco de paciência. Eu tento ser zen, nem sempre consigo. Tem dias em que eu queria ter a disposição do Dalai Lama. Ficaria mais fácil assim.