sábado, 31 de dezembro de 2011

Fim de ano

Essa história de Reveillon nunca me convenceu muito. Nem mesmo quando eu era criança, uma idade em que se acredita em tudo. E francamente me irrita um pouco ter de sair por aí dizendo "feliz Ano Novo" quando é só da boca para fora. Sempre que posso evitar de dizer, eu evito. Mas meu pouco tempo na livraria hoje valeu por uma festa de Reveillon. Ainda mais do que no Natal, quando a loja estava cheia, os vendedores estavam super animados, fazendo uma pequena festa no segundo andar. Até estouraram uma champanhe no final do expediente e fizeram um brinde. Odeio o fato de eles terem encarrado o expediente ainda mais cedo que na semana passada, o que me deixou mais uma vez com aquele gosto de quero mais. Mas quem sabe eu consigo arrumar um tempo para escrever durante a semana. Tudo vai depender dos freelas que entrarem. Enquanto isso, pretendo aproveitar este fim de semana ao máximo. De agora em diante, cada fim de semana é precioso.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Transporte público

Depois de me aventurar algumas vezes no incrível mundo do transporte público, lembrei direitinho porque foi que decidi adotar o táxi para todas as minhas necessidades de transporte. Primeiro, você pode fazer sinal, mas o motorista pode resolver não parar no ponto. E se ele se digna a parar no ponto, você pode não encontrar um banco para sentar. Também há o fato inconveniente de que o ônibus enche e chacoalha e estou super destreinada na arte de me manter em pé em um veículo que passa em todos os buracos na rua. Também não entendi direito qual o motivo para terem mudado o sentido das portas de entrada e saída, mas deixa pra lá. Isso é o de menos. Não vou dizer que vou me acostumar porque sei que não vou, mas sei que vou me incomodar menos. Pelo menos até inventarem um táxi que custe 2,50.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A lógica do Nixon

Mais uma vez estou tendo dúvidas sobre a estrutura do romance em progresso. Tenho pensado no Nixon, o filme do Oliver Stone, em que a narrativa fica indo e vindo entre o presente e o passado. E fico tentada a estudar essa estrutura e talvez até pegar umas dicas desse filme. Como o texto alterna entre 1989 e 2009, cada vez mais acho que esses momentos cronológicos não deviam ficar completamente separados, mas um deveria ecoar no outro, espelhar o outro. Desconfio que vai ficar mais interessante assim. Afinal, é a história do mesmo homem, mas em momentos distintos, de inocência e maturidade, que é justamente o que me interessa contar. O filme passa na quarta na TCM e só para garantir também estou baixando da internet. Quero ver se existe uma lógica por trás da colocação dos flashbacks. E aí, quem sabe, aplicá-la na colocação das cenas de 1989. Vamos ver.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal tropical

Natal. Eu cresci com frio, neve, White Christmas, o pinheiro enorme na sala de estar. Cresci com os clichês todos e não consigo me acostumar com esse Natal de calor e sol e Papai Noeis suados. E depois que meu avô morreu, decretando o fim daquelas enormes festas de Natal na casa dos meus avós maternos, a ocasião nunca mais foi a mesma coisa para mim. Ainda assim, tentei aproveitar ao máximo minha véspera de Natal, me abancando no meu local de hábito na Travessa. Eu tinha pretendido escrever até às oito das noite, mas descobri decepcionada que ele só ficariam abertos até às seis da tarde. Então escrevi o que consegui nesse tempo apesar da distração de ter a livraria lotada, depois fui ao mercado, comprei sorvete de chocolate para me deleitar no fim de semana. Fiquei com um gostinho enorme de quero mais, porém terei de esperar até amanhã para escrever na hora do almoço. Talvez eu também consiga me dar umas horinhas a mais se não tiver outros freelas esta semana. Pelo menos eu dormi tudo o que tinha para dormir este fim de semana e vou começar a segunda fresquinha.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Velhos hábitos

Velhos hábitos. Eu costumava ir almoçar com um livro e um caderno quando trabalhava na Nórdica e escrevia durante o almoço. Tenho feito a mesma coisa durante toda esta semana. Aproveito que há vários restaurantes dentro do Edifício Avenida Central, escolho um deles, leio e escrevo durante a refeição. Não escrevo muito ou leio muito se comparado com o que produzo na Travessa, mas de pouco em pouco vou avançando. É uma forma de manter a pena afiada e acaba que eu leio mais no meio da semana desse jeito do que eu lia antes trabalhando em casa já que eu trabalhava direto até a hora de cair na cama. Se eu tentasse ler, apagava cinco segundos depois. Essa primeira semana tem sido difícil. Sinto falta da minha antiga liberdade. Escrever alivia um pouco o peso de estar presa a uma mesa o dia todo. Por melhor que seja o emprego, eu me sinto presa e vou ter de me acostumar. Vai acabar acontecendo.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Listas de fim de ano

Uma coisa que nunca se verá aqui é uma lista de fim de ano. Pelo menos só se for dos outros. Minha lembrança de eventos está ancorada à geografia, não ao momento em que aconteceram (o que deve ser efeito colateral de ser filha de diplomata) então só Deus sabe que livros eu li ou filmes que eu vi (fora os cento e tantos que vi por conta dos festivais do ano) ou eventos que me interessaram mais durante o ano de 2011. Essas coisas somem da minha cabeça com uma facilidade enorme. Eu tenho dificuldades até para listar os autores que gosto de ler apesar de ter estantes abarrotadas de livros olhando para mim dia e noite. Dá um branco, sei lá. Ou minha cabeça é incapaz de pensar em forma de lista. Meus personagens nos romances são super explicados, mas eu não consigo explicar a mim mesma. Só isso já garante que tudo que eu escreva nos romances seja uma ficção. Vai entender.

Busum

Eu ando de táxi há muitos anos. Não sei dirigir, mas se eu soubesse, é provável que tivesse um carro. Mas por trabalhar em casa e praticamente só sair nos fins de semana, andar de táxi acabava sendo muito mais barato que ter um carro. Hoje peguei um ônibus para meu novo trabalho pela primeira vez. Eu não entrava num ônibus em séculos, provavelmente mais de dez anos. Foi meio estranho e meio nostálgico e quase esqueci da direção em que precisava andar para saltar porque quando eu andava de ônibus para o trabalho, a gente entrava por trás e saia pela frente. Imagino que daqui a uns meses não me pareça mais tão nostálgico. Mas por enquanto estou curtindo. Queria poder ir e voltar do trabalho de táxi, mas aí eu estaria trabalhando para sustentar meu vício em táxis e não acho que isso vá dar muito certo. Mas não abri mão do táxi totalmente. Sábados, lá estou eu no banco de trás de um amarelinho, indo para a Travessa. Afinal de contas, são quinze minutos para o trabalho e uma hora até a livraria de busum. O que você acha que vou preferir?

domingo, 18 de dezembro de 2011

Rabanadas

Esta é a época do ano em que vendem rabanadas no supermercado, o que eu adoro porque não sei fazer rabanadas e é umas das coisas que eu adoro que só aparecem no Natal. Fora isso, francamente, não fico muito animada com o Natal. É sempre um calor horrível, as lojas vivem lotadas, inclusive a Travessa, e eu me sinto meio invadida. Quando eu digo que moro na Travessa, não é exatamente um exagero. Tem vezes em que sinto que aquele lugar é uma extensão da minha casa. Daí quando vou dar uma volta e os corredores estão lotados de gente, eu fico irritada. É uma bobagem, mas não dá para evitar. Agora é a contagem regressiva para terminar todo esse auê de Natal e a vida voltar ao normal. Pelo menos com o Ano Novo as lojas não ficam lotadas, é só aquela noite e acabou. Mas no Ano Novo eu fico quieta em casa e não boto a cara na rua. Problema resolvido.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Minha vida de peão

Acabei de encerrar duas semanas de trabalho como intérprete em uma fábrica. E tive uma amostra do que é o trabalho de um operário. Almocei em um refeitório com centenas de outras pessoas, comendo algo que eu não comia há muito tempo: feijão com arroz, bife com batata frita, farofa e ovo frito. Claro que havia outras opções, todas mais ou menos no mesmo esquema, mas eu meio que entendi porque servem esse tipo de comida para gente que faz um trabalho mais físico. Esse negócio entope de verdade e você não sente vontade de comer mais nada pelo resto do dia. Houve alguns dias em que eu capotei cedo e não jantei, nem senti necessidade de jantar. As pessoas na fábrica eram uns amores, especialmente os peões, com quem eu tive a chance de conversar durante o almoço, mas sinceramente não é um trabalho que eu gostaria de fazer. Não há criatividade suficiente. E é a mesma coisa todo santo dia. Inclusive o maldito engarrafamento no caminho até em casa, cujo trajeto leva uma hora e meia. Esse trajeto só é interessante quando você quer dormir no caminho, mas fora isso, haja saco. Desconfio que terei de voltar na fábrica várias vezes nessa minha nova vida de funcionária de empresa. Mas por ora, vou voltar ao escritório nas próximas semanas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pedidos de fim de ano

Mais uma vez, Michel Laub me sai com um artigo genial sobre pedidos de fim de ano literários. Como eu não costumo fazer pedidos de fim de ano, vou deixar que os dele fiquem no lugar dos meus. O artigo do Laub você encontra aqui.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Alone at last

Sábado na Travessa. Graças a Deus. A semana foi exaustiva e foi francamente um alívio. Estava precisando muito desse tempo para mim. De repente me ver cercada por gente o dia todo quando estou acostumada a estar sozinha a maior parte da semana foi um pouco estranho e um tanto cansativo. Na Travessa, vejo um monte de gente, mas não tenho que falar com elas, me lembrar de todos os bons modos que minha mãe me deu. Viver sozinha acaba gerando todo tipo de mau hábito, como falar sozinha. Vou ter que aprender de novo como trabalhar de perto com as pessoas. E tenho que tentar melhorar no que se trata de lembrar nomes e rostos. Sempre fui a pior fisionomista do mundo. E levo uma vida inteira para guardar o nome das pessoas. Por isso adoro quando elas usam crachás. Por mim, todo mundo devia usar uma etiqueta com o nome. Seria ideal.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Peão

Minha primeira semana no emprego foi passada em uma fábrica, trabalhando como intérprete para um pessoal que está instalando uma nova máquina para que eles se entendam com os engenheiros estrangeiros que vieram fazer a instalação. Tenho de usar um colete especial e sapatos de proteção (só faltou o capacete) para entrar na área de produção. Na hora do almoço, acompanho os operários ao refeitório para devorar um prato de feijão com arroz, bife com batata frita com um ovo por cima. É um universo completamente novo para mim. Meus trabalhos sempre foram em um escritório ou então numa sala de cinema. E esta semana enfrentei a Av. Brasil para ir e para voltar, 90 minutos em cada direção. É cansativo. Agora entendo um pouco melhor o que minha faxineira enfrenta vindo três vezes por semana ao Rio só para limpar minha casa e a da minha mãe. Semana que vem, mais fábrica. O engraçado é que agora eu conheço melhor os operários do que meus colegas de trabalho do escritório. Mas no final da semana que vem creio que poderei voltar a trabalhar no centro e enfim conhecer as pessoas com quem vou trabalhar todo dia.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

De gravata de novo

Desde 1994 eu não tinha um emprego em escritório. Eu podia arrumar trabalhos que exigiam minha presença num escritório por um tempo limitado, mas isso sempre chegava ao fim e eu voltava para casa de novo. Mas agora tive de tomar a decisão de abrir mão da minha liberdade e voltar a um emprego com horário fixo e todas as vantagens e desvantagens que isso implica. A adaptação não vai ser fácil, tenho certeza. São quase vinte anos sem horários e aquele providencial cochilo no meio da tarde se fiquei acordada até tarde na noite anterior para terminar algum trabalho mais urgente. Se vai dar certo, se não vai, eu não sei. Mas pelo menos eu posso tentar. Agora Clark Kent volta a ser aquela pessoa de óculos num escritório, pronto para sair pela janela de capa e collant para salvar os inocentes do perigo.

domingo, 4 de dezembro de 2011

At last

Enfim tenho uma cópia completa do romance em progresso. Mandei fazer várias cópias no sábado e já despachei uma delas para duas amigas. Minhas novas críticas. Foi legal. Fomos ao Gringo Café para um brunch, conversamos e passei a obra-prima para elas. Agora é torcer que elas gostem. Mas melhor que tudo foi simplesmente o encontro, passarmos um tempo ali naquele lugar agradável, conversando, curtindo a companhia uma da outra num início de tarde de sábado. Foi bom. Naturalmente, assim que voltei para casa, como é meu hábito, comecei a mexer de novo no texto, mexi na diagramação. Não consigo resistir. Estou sempre tentando melhorar a apresentação dos romances. Mania que vem desde criança, quando eu entregava meus trabalhos no primário sempre ilustrados, com uma capa com um desenho (às vezes em cores), tudo bonitnho para impressionar a professora. A CDF que sobrevive em mim continua querendo ver tudo muito certinho.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Interminável

Tentando fechar as correções do romance, mas elas não terminam nunca. Com sorte, amanhã poderei fazer cópias fresquinhas. Vamos torcer.

domingo, 27 de novembro de 2011

Turkey day

Esta foi uma semana longa, mas teve umas coisas legais. Como o jantar de Thanksgiving na quinta-feira no Gringo Café, um pequeno café em Ipanema que serve comidas tipicamente americanas. Tenho aproveitado minhas idas ao Gringo para tirar a saudade de coisas que eu comia quando era criança em Nova York. Como a maravilhosa panqueca de buttermilk com maple syrup. Vale a pena sair de casa num domingo para comer essa panqueca. E estou passando as correções do romance em progresso para o arquivo no computador. É chatinho e demora, mas afinal terei um novo manuscrito para mostrar para alguns leitores amigos. Não acho que tenha resolvido todos os problemas, mas eu simplesmente não tenho mais distância ou objetividade para ler o texto. Hoje, na livraria, eu me dediquei à segunda versão do romance em progresso 2, mas amanhã vou voltar às correções e terminá-las de um jeito ou de outro. Na segunda vou ao centro e vou aproveitar para encadernar as cópias do romance em progresso 1. E já vou me encontrar com um amigo nesse mesmo dia para lhe entregar uma cópia. Agora é voltar o dial para o romance em progresso 2.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Menos uma etapa

Terminei a revisão do romance em progresso. Ainda tenho umas coisinhas a resolver, algumas decisões a tomar e, claro, tenho de digitar todas as alterações no arquivo. O que é sempre chatinho, mas fazer o quê? Não consigo escrever ficção direto no computador. Não conseguia escrever ficção direto numa máquina de escrever. Meu processo sempre exigiu caderno e caneta. Agora o negócio é fazer cópias e distribuir para meus vários leitores. E esperar.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Insegurança

Estou quase no fim da revisão do romance em progresso. E é a hora preferida para as dúvidas e a insegurança se instalarem. O que estou escrevendo é uma droga, não vale nada. A estrutura é maluca, ninguém vai entender. É o que me passa pela cabeça? Essa é a parte que não gosto. Mas escrever nunca te dá garantias. Aquilo que você considera seu melhor trabalho não significa nada para outra pessoa. Intelectualmente, você entende isso. Inclusive porque durante os festivais eu vejo filmes que odeio mas outros amam. Naturalmente, com o romance sendo avaliado em algumas editoras, meu desejo mais ardente é que alguém acabe gostando dele. Por enquanto, o romance em progresso só vai ser submetido a olhares amigos. Veremos o que eles têm a dizer.

sábado, 12 de novembro de 2011

De corpo presente

Eu tinha ido na livraria semana passada, mas acho que só hoje eu estava efetivamente presente. No sábado passado, recém chegada de São Paulo, eu tinha uma sensação constante de irrealidade. Olhava o texto e não conseguia acreditar que estava ali de fato. Na manhã anterior eu estava sentada na Livraria Cultura e no dia seguinte na Livraria da Travessa. Sem falar que eu estava com um sono terrível apesar de ter dormido muito cedo na noite de sexta. E eu segui com muito sono nos dias que se seguiram. Fiquei apagando em horas aleatórias do dia. Um minuto estava sentada traduzindo, no minuto seguinte estava dormindo sentada. Hoje eu consegui render bem. Talvez não tanto quanto eu queria porque ainda estou meio sonolenta, mas como vou amanhã de novo, tudo bem. E quem sabe se não consigo chegar bem perto do final.

Tenho alguns leitores em vista para o romance e estou ansiosa para entregar uma cópia do romance fechado (pelo menos provisoriamente) para eles. E aí estou ansiosa para voltar para o romance em progresso 2. Em São Paulo eu escrevi pedaços do romance em progresso 3. Não sei direito por quê, mas era o texto que começou a vir quando parava para jantar ao final de um longo dia dentro do cinema. De repente tinha a ver com o que eu estava vendo nos filmes ou o que estava lendo. Meu hábito não é questionar o que surge na hora de escrever. Não sei se vou usar tudo o que escrevi, mas pelo menos é um material que me dá uma direção. Por hora vou dormir porque vou comer brunch com uma amiga no domingo. Achamos um lugar que serve autênticas panquecas americanas com maple syrup. Uma delícia.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Saiu na TV

O programa Metrópolis fez uma reportagem sobre a legendagem eletrônica na Mostra de São Paulo. É bem curtinha, mas é melhor do que nada. O link para a reportagem é este aqui. Fica bem no início do vídeo.

Distante

Uma coisa da qual eu não senti falta nas minhas duas semanas (que pareceram ser muito mais longas) em São Paulo foi o pessoal fazendo barulho aqui no clube ao lado. Ontem eu acordei sem saber direito onde eu estava. Hoje eu sabia que estava na minha cama, no meu quarto. Eu descubro que São Paulo não é só um lugar, também é um estado de espírito e ele meio que começa a evaporar quando eu boto os pés no Galeão. Eu vou no táxi para casa vendo as montanhas distantes, a ponte Rio-Niterói e sei que voltei a um universo que eu conheço, no qual me sinto mais confortável. E a Avenida Paulista começa a parecer uma memória cada vez mais distante. Eu a atravessei naquela mesma manhã, mas poucas horas depois essa travessia já me parecia incrivelmente longínqua. A Pauliceia agora só no ano que vem.

sábado, 5 de novembro de 2011

Home again


Em casa. Muito estranho. Parece que minha ausência foi muito mais longa. Sinto como se tivesse passado dois meses fora. Talvez esse seja o tamanho do meu cansaço. No táxi para Guarulhos, eu ficava cabeceando e finalmente desisti de tentar me manter acordada e dormi até chegar no terminal. E no avião dormi praticamente o tempo todo entre a decolagem e o pouso. Isso foi culpa do chope na noite anterior. Acabou minha última sessão e fui tentar descobrir onde estava o povo. Fomos parar todos num bar na Augusta. Por um acaso, os monitores (aquele pessoal de camiseta verde da Mostra que dá atendimento aos espectadores) também foram para o mesmo bar e acabamos formando uma longa, longa mesa juntando lançadores e monitores. Deu até para fazer uma ola descendo a mesa. Eu não sei a que horas terminou a balada porque eu pifei antes. Fui para o hotel, comecei a fazer a mala e apaguei com ela feita pela metade. Acordei cedo na sexta, terminei a mala e parti rumo ao meu último compromisso em São Paulo. Comer uma torta de mousse de chocolate no café da Livraria Cultura. É a primeira coisa que faço quando chego e a última que faço antes de ir embora. É minha forma de me despedir de São Paulo, sabendo que só voltarei dentro de um ano. O banner e os stands da Mostra já não estão mais lá. Foi-se a foto do Leon Cakoff da bilheteria dos cinemas. E eu não preciso consultar meu caderninho de sessões. No último mês eu não dei um passo sem olhar aquele caderninho. Parecia que eu estava casada com ele. Agora ele vai esperar na minha estante até o ano que vem. Sempre sinto uma certa tristeza de ir embora de São Paulo, mas este ano o que foi mais forte foi o meu desejo de voltar para casa. Estou extremamente exausta e só quero descansar, dormir tudo o que não dormir no mês passado. Eu preciso.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Quase

Quase, quase. Falta pouco. Só mais um dia para eu voltar para casa. Estou super, hiper esgotada. Um mês direto dessa vida é muito, muito desgastante. O início do Festival do Rio me parece um evento acontecido há séculos. A sensação que tenho é que estou nessa correria há meses sem descanso. Não há adrenalina que te segure por um mês inteiro de festival. Este fim de semana será de descanso, eu garanto. E muito sono.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Eterna repetição

Ontem comecei a sentir que estava naquele filme, Groundhog Day, em que o mesmo dia se repete de novo e de novo até que o personagem principal consegue acertar as coisas e conquistar sua amada. Todo o dia é a mesma coisa, o mesmo cinema, até a mesma sala. A luz apaga e eu fico apertando um botãozinho. De novo e de novo e de novo. E como saio do cinema toda noite por volta da meia-noite, não posso ir nos restaurantes que gostaria de ir. Claro, tudo fecha à meia-noite. Os lugares a que quero ir estão fechados. Sobram os barzinhos lotados de garotada na Augusta, mas sinceramente não estou a fim de ficar em pé na calçada, tomando uma cerveja. Ao contrário do Bill Murray, não há nada que eu possa fazer para dar fim a essas eternas repetições, só posso aguentar firme até a sexta de manhã, quando pegarei um avião muito grata por estar voltando para casa. Tudo o que quero agora é abraçar meus cães, tentar achar um lugar na minha estante abarrotada para mais alguns livros, passar meu fim de semana na Travessa para poder me convencer que afinal estou de volta ao meu lar. Apesar da correria, tenho conseguido, especialmente na hora das refeições, escrever um pouco, em geral trechos do quarto romance, aquele que batizei de Tudo que acontece vai acontecer hoje. Não dava para revisar o romance em progresso 1 ou começar a segunda versão do romance em progresso 2, mas eu vim para a cidade com a história do quarto romance na cabeça e foi essa história que começou a surgir quando tinha um tempo para ler e escrever. Deu para traçar umas linhas gerais que vou seguir mais tarde. Por hoje, vou me concentrar em fazer um pequeno tour de livrarias. Amanhã, vamos para a Liberdade para ver umas coisas nas lojas de lá. E vou continuar fotografando a cidade. Reta final. Vamos resistir até o final.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

More karaokê

Esqueci de dizer que essa noite do karaokê foi fartamente documentada por mim, Bruna e Vladimir, cada um com sua câmera. Aliás, a foto minha e da Bruna foi feita pelo Vladimir Freire, nosso mestre da fotografia.

Em tempo: eu não devia ter reclamado que não estava chovendo na cidade. Caiu um belo pé d'água na noite de sábado com direito a raios e trovões. E até o início da tarde de hoje seguia nublado e frio.

Que American Idol que nada

Nada como um karaokê para dar uma levantada. Comecei meu dia na feira da Liberdade onde me empanturrei com aquelas comidas que servem nas barraqunhas. Guyouza, tempura de camarão e um pastel de camarão e polvo que eu adorei, mas não guardei o nome. Minha intenção era ir no sábado de manhã, mas eu basicamente apaguei no sábado por conta das vinte mil noites em claro que passei. Mas no domingo de manhã estava desperta o suficiente para ir para a feira pela primeira vez. Ao final das minhas quatro sessões, eu já estava morta, mas foi só chegar no karaokê que a coisa mudou de figura. Que American Idol que nada. O melhor programa é ir ao karaokê com essa turma e presenciar atuações memoráveis. Como Bruno Vox cantando Creep ou Isa cantando Ticket to Ride. Tivemos Zé Roberto com Losing my Religion. Mas, para mim, o destaque da noite foi o Leo Pereira cantando Walk Like an Egyptian. E está tudo devidamente registrado em vídeo. Tomara que na quinta a gente possa repetir a dose para nos despedirmos de São Paulo com chave de ouro.

sábado, 29 de outubro de 2011

Personagem da mostra

Afinal posso fazer uma contagem regressiva. Na sexta que vem estarei voltando ao Rio e para minha vida normal. Nas últimas três semanas, minha vida começou a se parecer com a dos personagens dos filmes que lançamos. Sabe, são aqueles filmes que tem um personagem solitário, cuja vida se resume ao trabalho, que nunca está com ninguém, que faz as refeições sozinho. Tem horas em que espero ver uma câmera registrando minha rotina da Mostra. Ontei foi um alívio dar de cara com uma colega do Rio na praça de alimentação do Frei Caneca e poder jantar com ela. Pelo lado bom, tenho feito muitas fotos da cidade. E hoje vou à feira da Liberdade para ver como é. Será minha primeira vez. A Liberdade é o bairro mais interessante para mim e não só porque é lá que posso comprar woks para suprir minha cozinha. Geralmente é lá que eu sinto aquela emoção que gosto de ter quando viajo, de dar de cara com um lugar cujos códigos não conheço. Só preferiria que estivesse chovendo. Eu acho que São Paulo combina melhor com chuva. Sem falar que a gente não morre de calor.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Who wants to be a legendista?

Segue a Mostra. Alguns filmes melhores, outros não. Seguem-se os pequenos dramas e fortes emoções de organizar um festival como este. E olha que eu só vejo a parte que está ligada à legendagem. Deu para sentir isso um pouco ontem ao passar umas horas no QG para fechar um filme que passaria naquele mesmo dia. As velhas correrias de última hora. Mas foi interessante. E renova para mim a certeza que não fui feita para esse tipo de trabalho. Meu negócio é apertar botões e traduzir filmes. Mas segue minha convicção que a organização de um festival daria um belo documentário. Ou reality show, um desses dois. Acontece de tudo um muito. Especialmente em termos de relações entre as pessoas. Você pensa que é mole, mas é muito fácil gerar problemas quando duas pessoas encaram o mesmo acontecimento de duas maneiras completamente diferentes. Quem tem razão? Só Deus sabe. Legendador, legendista, operador de legenda, tanto faz. Tem muita gente nova entrando nesse ramo. Carne fresca, como eu gosto de chamá-los. Eu dou uma risada sinistra, mas é só da boca pra fora. Outro dia eu me vi no cinema orientando duas novatas na melhor maneira de proceder dentro do cinema. O que deviam lembrar, ter a mão, anotar. É engraçado pensar que simplesmente apertar um botão não é tão simples assim. Você precisa guardar muita coisa na cabeça, estar pronto para os imprevistos e saber ter jogo de cintura para lidar com eles. Você vai ver muita coisa nessas duas semanas de Monstra. Talvez na hora fique irritado, mas com o tempo tudo vira material para contar nas rodas de bar sobre suas aventuras como legendista em São Paulo. E no final das duas semanas, você terá mais um crachá para pendurar na estante e juntar à sua coleção de crachás.

domingo, 23 de outubro de 2011

Clark Kent in Sampa

Uma parte de mim foi feita para morar nesta cidade. Essa urbanidade toda, a energia, todas as trinta mil opções que ela oferece, a vista que não acaba nunca. No Rio, sua vista sempre acaba em um morro. Ou no mar. Aqui você tem um mar de prédios. Sempre tenho essa sensação de sair de uma mera aldeia quando boto os pés aqui no asfalto da Paulista. Mas eu gosto da minha pequena aldeia no Rio, das minhas tardes na Travessa. Da informalidade das pessoas. Aqui todo mundo é tão duro. Com exceções, claro. Já fui na Livraria Cultura e na Livraria da Vila e comecei a provocar um grande prejuízo no meu bolso. No meio da semana quero ir na Liberdade, olhar melhor todas aquelas lojas, comprar um novo wok que estou precisando. E quero fazer coisas que nunca tive tempo de fazer como ir no Museu da Língua Portuguesa e no Mercado Municipal. Meu horário está mais favorável a estes passeios este ano e preciso aproveitar.

sábado, 22 de outubro de 2011

Sleeping in Sampa

No Rio este ano parecia haver uma certa preocupação temática com os filmes do dia. Um dia pedofilia, no outro sexo, depois a vingança. Hoje eu voltei a uma certa preocupação temática com três filmes soporíferos. Dois deles eram daquela categoria "que porra é essa" (ou como diria Robin Williams, "what the fuck was that?"), sendo que o último, de tão soporífero que era, só tinha 116 legendas. Esse deve ser um recorde. O filme normal de 90 minutos tem por volta de 900 legendas. Os soporíferos tradicionalmente têm 300 legendas. O engraçado é que foi justamente a esse que eu resisti melhor e consegui me manter perfeitamente alerta. Ou talvez tenha sido minha tática de ficar em movimento constantemente até a hora da sessão para promover a adrenalina. 

Uma outra tendência curiosa que tenho reparado é que paulistano tem um quê de português, ou pelo menos daquela imagem clássica de português como alguém que entende tudo literalmente. Não é de hoje que vejo mal entendidos surgirem porque eu fiz uma brincadeira e sou entendida literalmente. Hoje aconteceu de novo. Eu falei para um dos coordenadores de sala que precisaria de alguém sentado do meu lado me cutucando durante a última sessão para garantir que eu não dormisse. Pouco depois eles me voltaram dizendo que não tinham pessoal para isso. Tive de explicar que era piada minha. Por que isso acontece, eu não faço ideia. Talvez tenha a ver com uma certa rigidez que detecto nas pessoas aqui. Qualquer coisa que saia um pouco da norma os deixa nervosos, sem saber como reagir. O problema é que eu sou daquelas pessoas que adora ficar brincando. Você nunca deve me levar a sério. Mas desconfio que é melhor eu desistir logo de fazer piadas em São Paulo. Vou ter de voltar ao Rio para poder ser compreendida de novo.

Cansada na Pauliceia

Talvez fosse por medo que fechassem os aeroportos em São Paulo, talvez fosse porque por uma vez na vida me atrasei saindo de casa para o Galeão. Mas mal eu cheguei no aeroporto, fiz check-in, saquei uma grana correndo do caixa eletrônico e me enfiaram no avião com enorme pressa. Acho que fui uma das últimas a entrar no ônibus que nos levou até a pista. Felizmente, o avião era um daqueles que sobrou da Varig, ou seja, não era uma completa lata de sardinhas. Eu podia abaixar a bandeja sem ela ficar apoiada na minha barriga. Para alguém cuja carreira de viagens se deu quase toda nos tempos áureos da Varig, esse apertamento atual é verdadeiramente desumano. E olha que na época eu já achava os assentos da classe econômica apertados. Hoje eles seriam um luxo só. Consegui cochilar um pouco, o que foi muito bom dado que não dormi quase nada fazendo minha mala na noite anterior. E também dormi um pouco no táxi até a área de Cerqueira Cesar onde estou hospedada. Mas o pouco que vi da paisagem me deixou perceber que esta cidade se torna cada vez mais conhecida para mim. Reconheço mais coisas, sei me localizar melhor, estou preenchendo mais o mapinha que tenho da cidade na minha cabeça. Meus dois primeiros dias foram tranquilos relativamente. Mas a felicidade de estar em Sampa anda um pouco fraca pois ainda estou muito cansada. Depois que terminar meu último filme, aí poderei descansar de verdade e passear um pouco, que é tudo o que eu quero nesta Mostra. Ter tempo para ver a cidade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Vamos nos benzer

Tenho a impressão que este foi o festival bichado. Nunca vi acontecer tanta coisa em um festival. Luminária cair em cima de um projetor, projecionista trocando ordem de filmes mais de uma vez, apagão na cidade no meio de uma Premiere Brasil, vários filmes com o som prejudicado atrapalhando o lançamento, outros tantos com a projeção muito escura, quase linchamento por velhinhas. O ideal, claro, é que o festival seja um tédio só. E eu já tive vários festivais assim. Mas este não foi nada tranquilo. Tive um problema técnico sério no Odeon no início do festival como nunca me aconteceu antes e acho que ele me deixou intranquila pelas duas semanas seguintes. Para atrapalhar também teve uma greve dos Correios e uma dos bancários. E para finalizar, houve a incerteza se a gente poderia vir ou não a São Paulo de avião conforme planejado por causa da greve da Infraero. Acabou que deu tudo certo e eu me vi alegremente em um avião na manhã de quinta a caminho da Pauliceia. Sinceramente, prefiro aqueles festivais em que não acontece nada.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Velhinha fez mal a lançador

Sim, consegui sobreviver à primeira etapa da Monstratona, mas por pouco tempo. E por sorte, não dei de cara com as velhinhas xiitas. Explico. Desde que me entendo por gente, o Festival vive cheio de senhoras aposentadas e prósperas que adoram um filme. E quando algo dá errado, elas são as primeiras a armar um barraco. Em geral é porque as pessoas não sabem como as coisas funcionam. Claro que todo mundo gostaria que tudo desse certo e não houvesse erros. Só que nem sempre isso é possível. Por exemplo, lançando um filme no Ipanema, de repente houve um problema no som e foi preciso parar a sessão, chamar um técnico para acertar o problema. Uma senhora na plateia ficou indignadíssima com o problema técnico. Que era um absurdo, que os filmes tinham de ser testados antes de passar e por aí vai. Não adiantou nada dizer que o teste tinha sido feito, que eu mesma havia visto o teste. E essa é a praxe. Antes de toda sessão com filme em mídia digital, há um teste. A mulher não quis saber. Ficou reclamando direto. Eu perdi a paciência. Falei para ela que era ridículo imaginar que em um festival com mais de 400 filmes não acontecessem alguns imprevistos. Em geral, meus festivais correm dentro da mais absoluta normalidade. A senhora sentou, mas continuou resmungando. Mas eu dei sorte. Outros colegas tiveram uns encontros mais complicados com outras senhoras, alguns há poucos dias quando ocorreu da cópia do filme não bater com a cópia em DVD que nos foi fornecida. Resultado: a tradução não batia, claro, e um par de senhoras quase promoveu o linchamento da pobre tacadora que estava na sala como se a culpa do problema fosse dela e não dos produtores do filme que não se tocaram que não se deve mandar um DVD diferente da versão do longa que vai passar no festival. Felizmente, a tacadora conseguiu escapar ilesa à sanha assassina das velhinhas na Gávea e está pronta para outra.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Categorias

Todos esses prêmios para cinema têm suas categorias. Cada festival tem suas categorias, o Oscar e o Golden Globes têm as suas. Com o tempo e a experiência, fui criando minhas próprias categorias para os filmes que lanço no Festival do Rio e na Mostra. Naturalmente temos os melhores filmes, os melhores atores e tal, mas temos algumas que são um pouco diferentes. Por exemplo, tem o filme sonífero. Em geral tem umas 300 legendas, é super arrastado e tem pausas monstruosas de vários minutos. É um convite ao sono para os pobres tacadores que andam virando noite para fechar filmes a tempo das datas de projeção. Tem o filme "que porra é essa?" que é a pergunta inevitável que você se faz quando acaba o último fotograma. É aquele filme que não faz o menor sentido. E não há criatura no planeta que possa explicar o que era aquele filme. Também tem o filme roubada. É aquele que veio com uma edição completamente diferente do DVD recebido para a tradução, que vem sem legenda na cópia quando devia ter, é aquele que tem um som ruim ou algum outro problema do gênero e por isso cada lançamento sempre acaba em desastre. Inclusive, você corre o risco de ser linchado na sala de cinema pelas velhinhas barraqueiras que vivem frequentando o festival. E tem o grande prêmio do festival, o Troféu Abacaxi. Esse é dado para o pior filme de todos no festival. E quando digo pior, quero dizer muito, muito, muito ruim mesmo. É basicamente uma tragédia, o conhecido desperdício de celulóide. Ainda não chegamos a uma conclusão de qual filme vai receber o troféu este ano. A ver.

sábado, 15 de outubro de 2011

Segunda semana

Segunda semana. É sempre complicado, seu nível de exaustão está lá em cima. Você só sabe qual o dia da semana porque anotou no caderno junto com as sessões do dia. Mas a verdade é que você perdeu qualquer noção real do tempo. Sua vida se resume a uma série de salas de cinema e filmes. Você chega de dia e sai de noite. Você come sanduíches e o que dá para encontrar nos cafés dos cinemas. Suas olheiras estão piores que as do pai de nosso ilustre governador. Daí, poder dormir seis horas seguidas é um grande luxo. Você troca tanto de cinema que chega num ponto em que você não se dá mais ao trabalho de cumprimentar as pessoas. Ainda mais porque são pessoas que você nunca mais vai ver na sua vida. E pensar que vou ter mais duas semanas direto disso em São Paulo. A única diferença é que em Sampa a gente come melhor. Se eu sobreviver, aviso a vocês.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A monstratona está monstra mesmo

Comecei a chamar este ano de Monstratona porque temos dois festivais, um começando poucas horas após o final da outra. E o festival até agora está fazendo juz ao nome. Passei quase toda a primeira semana no Gávea, sentada numa caixa no Gávea 5, lançando filmes com uma semelhança temática. Um dia era pedofilia, outro dia era vingança, outro dia era sexo. Os mesmos dois filmes por quase doze horas. Muito chato. E todo tipo de pepino anda aparecendo. Eu achei que já tinha visto todo tipo de pepino possível, mas este ano apareceram alguns novos. Por exemplo, o projecionista de um dos cinemas errou a ordem dos filmes mais de uma vez no mesmo dia. Aconteceu de novo dias depois e eu vi a pobre tacadora sair voando da sala para avisar a coordenação para interromperem a sessão e começar tudo de novo, agora com o filme certo. Como isso aconteceu? Só Deus sabe. O mesmo papel com as sessões do dia que você vê na bilheteria é pendurado nas cabines de projeção. Analfabetismo? Falta de óculos? Enfim, teclados pifam completamente, uma senhora entra numa sessão na marra pela porta de saída da sala, acontece a explosão na Praça Tiradentes e eu me vejo enviando notícias sobre o trânsito para a lista de e-mail para o pessoal porque há várias salas com legendagem eletrônica no Centro. Graças a Deus este não é um ano eleitoral.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O dia internacional da pedofilia


Alguém deve ter decretado que ontem era o dia internacional da pedofilia no Vivo Gávea 5 pois meus dois filmes do dia eram sobre pedofilia. E como eram cinco sessões com os filmes repetidos de novo e de novo, foi uma dose cavalar de pedofilia. Talvez em anos anteriores isso teria mexido mais comigo, mais a essa altura do campeonato, tendo visto todo tipo de filme, nem ligo mais. Até passei o dia fazendo piada com isso. Mas se você passa umas doze horas dentro de um cinema com 15 minutos de intervalo entre as sessões, você fica torcendo por um pouco de variedade. Foi só no final do dia que eu consegui um tempo para comer. Só não desmaiei de fome no dia porque a coordenadora do Vivo Gávea, uma gracinha de pessoa, gentilmente me cedeu um pacote de biscoitos de chocolate. E já perdi a noção do tempo, com apenas três dias de festival. Cheguei em casa e liguei a TV para ver o Roque Santeiro e só depois de uma hora me toquei que era o fim de semana. Ao mesmo tempo estou traduzindo coisas e tentando manter o controle dos prazos e me preparando para viajar para São Paulo. Quando chegar no próximo domingo, vou ter de começar a fazer minha mala para tê-la pronta na noite de quarta, antes da partida. E tomara que eu não tenha de comprar algo, porque não sei onde arrumar tempo para isso. Estou dentro do cinema todos os dias por doze, quatorze horas. Pelo menos hoje tenho dois grandes intervalos na minha programação, o que vai me permitir comer e trabalhar também. E dar uma respirada. Isso também é importante.

domingo, 9 de outubro de 2011

No breu do cinema

Uma coisa é o escurinho do cinema. Outra coisa é o breu. Pois é, o blecaute de ontem me pegou no meio do Odeon em uma sessão da Premiere Brasil. Meio cinema pegou nos celulares e os ligou para servir como lanternas. Foi curioso olhar em volta e ver os pontos de luz que eram a única iluminação no cinema. Teria sido poético se não estivesse ficando super quente lá dentro. Felizmente, a luz voltou dentro de meia hora ou o público teria assado. Vou torcer para meu dia hoje ser mais tranquilo. Já tive emoções demais para um festival.

sábado, 8 de outubro de 2011

O homem no lugar errado

Os dois primeiros dias. Até agora nada mal. Correrias, sessões canceladas, problemas de comunicação. É tudo como sempre foi. Recebi meu crachá, que este ano é branco com detalhes em amarelo. Not bad. É mais um para a coleção. Por enquanto, minha recomendação fica para Tees Maar Khan, um filme indiano alucinado na melhor tradição de Bollywood. Depois de lançar dois filmes indianos (o outro foi Om Shanti Om), eu entendo perfeitamente porque eles botam músicas no meio do filme. É uma delícia. Mesmo que não faça nuito sentido em termos de andar com a história, dá uma levantada no filme. Quero mais filmes indianos no Festival. Outro filme muito legal é Prova de Artista, um documentário do José Joffily sobre músicos brasileiros fazendo provas para entrar em orquestras brasileiras. Muito interessante. Tive meu primeiro cancelamento porque, pela primeira vez na minha carreira festivaleira, o produtor não queria legendas na sessão. Mudaram a edição do filme entre a sessão da Premiere e essa segunda sessão e ele queria passar a nova edição. Ou seja, as legendas não iam mais bater. Pelo menos eu me livrei de uma roubada. Mas o ponto alto até agora para mim dos dois primeiros dias foi o cara que entrou sem querer no banheiro das mulheres no Odeon. Eu estou na pia, lavando a mão para sair e atrás de mim passa um homem que para quando vê a mim e outra senhora nas pias. Obviamente, ele percebeu o que tinha feito. Não resisti e perguntei a ele se ele não tinha sentido falta de algo quando entrou. O cara saiu reclamando que o banheiro era muito mal sinalizado. O detalhe é que tem uma enorme silhueta feminina pintada na porta do banheiro. Maravilhoso. Morri de rir.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Criatividade

Criatividade é uma coisa que nunca falta aos audazes tacadores de legendas do Rio de Janeiro. Não contentes em bolar camisetas, eles também são poetas. E hoje, depois que um lançador novato expressou certa apreensão sobre lançar um filme num idioma exótico sem legendas em inglês na cópia, nossa experiente Monica Pedreira (mais conhecida por Monica OnTheRocks) compôs um lindo poema sobre as aventuras de ser lançador. Em tempo, Catarina é a gata que mora no Estação Botafogo e é a xodó de toda a equipe.


OS FUNDILHOS DO LANÇADOR AFLITO



Meu assento tem um bolso

Onde fica meu patuá

O fiofó que aqui gorjeia

não gorjeia como lá



Nossas salas têm mais ácaros

Nossos ares, uns horrores

Mas só lá bem nos fundilhos

Só eu sei dos meus temores



Meu trabalho tem sabores

Que tais, não encontro cá

Em cismar, na cabine à noite,

Catarina encontro lá

Não fale senão eu mordo

E apronto um mafuá



Não permita Deus (branco, roxo, cor de rosa) que eu morra

Sem que eu mande para lá

O infeliz de encomenda

Que me fez perder legenda

Mando eu e Catarina

O filho de canguçu

O que perguntou da latrina

Tomar suco de tangerina



Afinal, os fiofós que aqui gorgeiam

não gorgeiam como lá



(Da série “Senta no Formigueiro Depois me Conta”)

A camiseta

Ser tacador de legendas num festival de cinema é fascinante, viciante, mas ao mesmo tempo tem sua parcela de problemas. E a maior parte desses problemas é resultante do fato de que o público não faz ideia de quem é aquela pessoa no meio do cinema com um computador ligado. Então enquanto você está tentando se concentrar num filme em basco sem legendas, vem gente te perguntar onde é o banheiro, se dá para abaixar o som e o ar condicionado, que horas são, se o filme já começou há muito tempo, se dá para desligar o computador, todo tipo de coisa. Já tive gente vir falar comigo e me obstruir completamente minha visão da tela. E se você não vê a tela, não pode lançar as legendas. Daí uma de nossas colegas imaginou uma camiseta com todos os dizeres mais importantes para já ir respondendo as perguntas cruciais do público. E até fizeram um desenho da camiseta. É uma maravilha. Quem sabe, ano que vem, a gente usa a camiseta pra valer.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Regressiva


Está chegando a hora. Sexta-feira começa a monstratona. Por uma vez na vida não vou ficar a maior parte do tempo no Odeon. Francamente, me cansei um pouco dos atrasos e discursos, e é a mesma coisa todo santo ano. Voltei às minhas origens, em Botafogo e, agora, para a Gávea. É bom variar de vez em quando. Não consegui chegar na minha meta de 70 sessões já que não poderei lançar no último dia. Vou estar num avião me mandando para São Paulo. E também não farei a repescagem este ano já que, obviamente, estarei na Pauliceia enquanto ela rola. Mas ano que vem, pode apostar, eu chego lá.

domingo, 2 de outubro de 2011

Largada

E foi dada a largada. Fomos reunidos em um cinema em Botafogo, nosso tão tradicional ponto de encontro, numa também tradicional manhã de domingo para reivindicarmos as sessões a que achamos fazer juz. Uns querem mais, outros menos. Outros querem quebrar recordes (esta que vos fala). Muitos estão com sono. Afinal, quem é que quer acordar às 7:30 num domingo de manhã, mesmo que seja para fins de ganhar dinheiro? Nossos valentes líderes muito graciosamente sempre fornecem uma mesa com comes e bebes, e que acaba virando ponto de encontro e centro de fofocas paralelas. Mesmo quem não me conhece bem sabe que estou felicíssima nesta manhã apesar de ter dormido muito pouco. Eu passo o ano inteiro esperando por este evento, pela adrenalina, pelo reencontro com os amigos tacadores. A essa altura, o leilão parece desfile de escola de samba de tão cronometrado. Tem hora para começar e para terminar. Estamos ocupando uma sala de cinema. Uma hora temos que desocupá-la. Este ano vai ser um pouco estranho porque não só vou perder o último dia do festival viajando para São Paulo como não estarei presente durante a repescagem. Vai ser a primeira vez em 14 anos. Mas talvez eu consiga chegar à meta de 70 sessões, coisa que nunca tinha feito. Ainda tenho de receber a confirmação das sessões e ver se há alguma sessão vazia que eu possa pegar. Veremos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Na ponta dos cascos

Os audazes tacadores estão na ponta dos cascos. Já marcamos o primeiro chope da temporada para esta sexta. É o aniversário de um de nossos corajosos líderes. E só sendo corajoso para ser um líder dessa tropa de malucos porque deve dar um trabalho enorme. A troca de e-mails está a todo vapor. Basta o primeiro para todo mundo meter a colher. Ou seja, quando chegarmos no leilão no domingo, vamos estar todos devidamente calibrados. Já estou carregando minha câmera para captar esse momento histórico, o início do meu 14º festival. Já estou bem adaptada aos meus óculos novos e só falta terminar meus filmes o mais rápido possível. Outubro vai ser um mês muito, muito longo. Longo e estafante, mas divertido.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Enxurrada

Três da manhã, estou trabalhando numa tradução. Recebo um e-mail de um dos lançadores pela nossa lista do festival. Eu respondo e, quando vejo, tem um monte de respostas. Não interessa o tema ou a discussão. São três da manhã e o fato de ter pelo menos umas dez pessoas mandando e-mails é sintoma de apenas uma coisa. O festival está chegando. E hoje, assim que o leilão de sessões é anunciado para o domingo, começa nova enxurrada de e-mails. Um claro sinal que todos estão ansiosos para que comece a maratona. Para não perder o hábito, eu sacaneio os novatos. Adoro meter medo neles. Mas é só no leilão, depois não os vejo mais até o ano seguinte. Mas é divertido.

Cadê o festival que estava aqui?

Normalmente, o festival teria começado na sexta passada. É um pouco estranho estar em plena época de festival de cinema e não estar nem perto de um cinema. Mas deconfio que depois de um mês direto num cinema, o que vai começar no dia 7 de outubro, não vou chegar na porta de um cinema por pelo menos um século. Este domingo vai ter o leilão de sessões. E semana que vem devemos ter as sessões de imprensa. Acho que por uma vez na vida não vou me oferecer. Quero me concentrar nas traduções. Estou sentindo falta daquela adrenalina. Vai ser bom quando eu sentar naquela cadeira e tacar a primeira legenda.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sono

Cansada. Foi pior do que imaginava. Só consegui dormir às cinco da manhã. Agora me deem licença que vou tirar um cochilo.

Quicando, quicando, quicando

Estou com minha vida atrasada, preciso fechar um episódio de uma série que deveria ter ficado pronto na sexta e não ficou porque o primeiro trabalho atrasou e aí no sábado de manhã quando pretendia terminar tudo, acordei me sentindo super, super mal, enjoada, com uma puta dor de cabeça. Mas depois de ter um dia como hoje em que tudo corre maravilhosamente bem e eu me permito começar a acreditar que tenho algo muito bom nas mãos, chega a hora de voltar para casa e ficar quicando das paredes e não há meio de conseguir dormir antes das quatro da manhã, mas também não consigo fazer alguma coisa útil justamente por estar quicando e por querer muito conversar com alguém. Claro que são quase três da madrugada e é sacanagem ligar para alguém nesse horário a não ser que esse alguém more em Tóquio ou Cingapura ou Hong Kong e as únicas pessoas que conheço que moram nesses lugares são os âncoras da CNN que vejo todo dia na TV, mas claro que não tenho o telefone de nenhum deles e eles não fazem ideia de que tem uma louca querendo conversar com eles de madrugada. O que me sobra? O bendito blog, tadinho, tão sofrido, que fica me ouvindo dizer essas besteiras dia após dia sem reclamar. Talvez um dia ele se revolte. Mas não hoje, espero.

Novos olhos

Não sei bem se foi o telefonema que recebi no início da tarde da amiga que está lendo o romance em progresso e os comentários que ela fez ou se foi o alívio que senti por ter passado o mal estar que me deixou de cama boa parte do sábado e incrivelmente frustrada por não poder ir para a livraria. O que sei é que durante todo o dia de hoje senti que estava revisando o romance com uma visão muito mais clara. Não tive dificuldades para enxergar soluções ou em ver o que estava errado, o que estava fora do tom. Ou talvez fossem os óculos novos. Não ter de brigar para enxergar o que se está lendo ajuda muito. De todo modo, ficou super claro que só preciso de mais uma leitura antes de fechar o manuscrito para leituras alheias. E foi um dia tão proveitoso que cheguei exatamente no ponto em que queria para fechar tudo na semana que vem. Não sei quando terei tempo para aplicar as correções no arquivo e gerar um último manuscrito para a sexta e última leitura já que o Festival do Rio começa no início de outubro, mas veremos. De repente eu consigo me dar uns minutinhos por dia para fazer isso aos poucos. Ainda mais por que não escrevi mais nenhuma cena nova. O que também é mais um sinal de que não há mais nada a acrescentar da minha parte por enquanto. Estas duas semanas agora tenho de emburacar com as traduções para o festival. O bom é que até agora peguei filmes legais. Isso ajuda. E muito, acredite. Fim de semana que vem deve ter o leilão de sessões. Mal posso esperar. Quero quebrar meu recorde este ano.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Adventures in seeing 2

É um pouco estranho me olhar no espelho e ver esse novo par de óculos que escolhi semana passada, sozinha, cegueta. Só Deus sabe por quê, mas toda vez que vou escolher novos óculos, estou sozinha, sem alguém que possa ver se a armação que eu escolhi é minimamente decente. Afinal, sendo míope e sem o costume de enxergar sem óculos, não vejo nada bem a não ser que esteja bem na minha cara. Mas acho que não ficou trágico. Achei por bem não escolher uma armação muito quadrada ou muito grossa para não ficar com um jeitão excessivamente nerd. Já sou suficientemente nerd sem precisar alardear isso a todo mundo. Aos poucos estou me acostumando com as lentes. Não há uma sensação de estranheza tão forte quanto ontem, quando, no centro, eu tinha a nítida sensação de estar desbravando um novo mundo. Vamos ver o que acontece no sábado, quando eu for para a Travessa. Estou ansiosa para ir e testar meus óculos novos lá.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Adventures in seeing

Fui alegremente buscar meus óculos novos esta tarde. E como são óculos multifocais, a experiência é um pouco como quando botei meu primeiro par de óculos há 40 anos. Preciso me ajustar a uma nova forma de usar os óculos, mas a alegria de voltar a enxergar é a mesma de tanto anos atrás. Ver de perto e de longe é fácil. O negócio é me acostumar à distância média. Mas não achei tão desconfortável quanto imaginei que seria. Inclusive, sai direto da ótica com eles no rosto. Eles me recomendaram só usá-lo assim que eu chegasse em casa. Mas, sinceramente, não queria esperar. Passei tempo demais sendo cegueta para conseguir esperar um segundo que fosse. Aproveitei para almoçar no centro. E, claro, escrevi um pouco. Poder enxergar sua própria letra direito depois de tanto tempo é uma maravilha. Eu andava escrevendo com o caderno a uma certa distância para poder enxergar alguma coisa. Agora posso parar com isso. Não há nada melhor que poder enxergar de novo. Clark Kent está de óculos novos. Graças a Deus. A visão de raios-x do Super-Homem não estava funcionando direito.

domingo, 18 de setembro de 2011

O grande medo

O grande medo de todo escritor, claro, é que ninguém goste do que você escreve. Outra coisa que eu pessoalmente odeio é quando você passa um original para alguém e ele meio que cai num abismo negro. Você nunca mais tem notícias da pessoa ou do manuscrito, que é o que interessa. Claro que não é legal receber uma crítica negativa, mas eu prefiro isso ao silêncio. Sem falar que pode te apontar um problema real no texto. O silêncio não me ajuda em nada. O mais raro é acordar com um e-mail como o que recebi de uma amiga (a quem dei uma cópia do romance em progresso esta semana) esta manhã quando acordei. "Anna, não consigo parar de ler. Acho que esse é o maior elogio que se pode fazer a um escritor. Tu é foda, mulé! Escreve bem pra caraio!! Achei que vc ia gostar de saber." Isso faz um bem enorme ao ego, eu garanto.

Minha casa de campo

Fiquei acordada até tarde passando as correções da minha quarta leitura para o arquivo do romance em progresso para poder gerar um novo original para a quinta leitura do romance. Continuei hoje e acabei chegando tarde na livraria porque esse processo leva tanto tempo. Até deu para avançar um pouco hoje, mas o mais importante foi perceber que além desta leitura é provável que eu precise de mais uma antes de passar o romance para alguma pobre vítima para leitura. Ainda não sei direito quem serão as pobres vítimas. Tem de ser pelo menos umas duas pessoas. Três seria melhor para desempatar. E aí tudo vai depender do que me disserem. Vou acertar o destróier ou acertar na água. E enquanto estiver esperando pelos veredictos, vamos voltar ao romance em progresso 2. O coitado ainda está muito desmazelado, preciso botá-lo numa estrutura mais sólida. Isso vai me manter ocupada durante o ano que vem. 

Hoje, no caminho para a livraria, me ocorreu que há toda essa tradição do escritor que vai para uma casa de campo para escrever, afastando-se das distrações da sua rotina. Minha visita semanal à livraria nada mais é do que uma expressão dessa mesma tradição. Eu me afasto das distrações da minha casa (telefone, internet, TV, cachorros carentes) para conseguir escrever. Do contrário, não sairia nada. É, eu sei, é uma casa de campo meio estranha, cheia de gente, música, papo, mas ela funciona para mim. Cada um tem a casa de campo que pode.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O narrador essencial

Assisti a um debate no sábado em que todos os três escritores disseram que a escolha do narrador era essencial e, às vezes, a coisa mais difícil de decidir. E achei isso curioso pois o narrador para mim é sempre muito claro. Acho que essa decisão meio que já vem embutida na história que quero contar. Por que a história que eu conto é sempre a do narrador. E não interessa o que ele faz ou deixa de fazer, mas é sempre ele que conta sua história. Minha maior preocupação é sempre a estrutura, não o narrador. Confesso que sempre uso um narrador em primeira pessoa (com raras exceções) e no tempo presente porque simplifica a minha vida. Não me sinto tão segura com tempos verbais em português quanto me sinto em inglês. Eu dei uma mexidinha nesse esquema no romance em progresso 2, introduzindo um narrador em terceira pessoa, mas não onisciente. Ele fica grudado no personagem principal. É uma estratégia que me ocorreu para distinguir o personagem principal nos dois momentos da história em 1989 e 2009, e também para tornar clara a diferença na maturidade do personagem nessas suas épocas. E me parece que funcionou. Mas eu só devo conseguir voltar a essa história depois dos festivais, em novembro. Melhor assim. É tempo para deixar a coisa de molho.

Em busca de uma fresta

Uma frestinha, uma porta aberta. É só o que eu quero. Tem dias em que essa espera por uma oportunidade de publicar me exaspera. Tem dias em que eu esqueço dela completamente. Mas aí você vai na Bienal, ou fica olhando aquela longa mesa de lançamentos na entrada da Travessa e a espera se torna insuportável. E aí você respira fundo e espera mais um pouco. Acabo de mandar o romance para mais um concurso. O resultado sai no ano que vem. Em novembro, passada a loucura dos festivais, vou montar uma lista de editoras e mandar o romance para elas. Mais espera. E vai seguir a espera por aquela fresta. Nos filmes é mais fácil. Tem sempre alguém que abre a porta para o escritor iniciante. E logo ele vira um best-seller. Duvido muito que eu vire a Thalita Rebouças do romance deprê, mas pelo menos alguém podia dizer sim e publicar o romance. Isso não é pedir demais, é?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Finalista

Elvira Vigna com seu romance genial Nada a dizer agora está entre os 10 finalistas do Portugal Telecom. Vou cruzar os dedos. Depois do prêmio de fiçcão da Academia Brasileira de Letras, quem sabe sai esse também.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ramones ataca novamente

Ele mesmo ainda não falou disso, mas o multidisciplinar Ramon Mello (o homem joga nas onze, não é?) colocou as entrevistas que fez para a Saraiva em um blog separado do outro blog dele, o Sorriso do Gato de Alice. Desconfio que ele ainda está organizando o blog, mas já se encontra muita coisa, de Adriana Lisboa a Lourenço Mutarelli. É mole de achar o que você quer e rever algumas das ótimas entrevistas com escritores que o Ramon fez. O novo blog se chama, muito apropriadamente, Ramon Mello. Não é simples? Confiram. Vale a pena.

I want it now!

Como uma criança, agora que eu finalmente tomei as providências para ter óculos novos, estou impaciente para ter os óculos comigo. Eu quero os óculos agora! Existem esperas que eu não suporto bem.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Óculos

Entrei oficialmente para o grupo de pessoas que têm vista cansada. Finalmente consegui achar tempo para ir a um oculista fazer um exame de grau para ter uma receita para fazer um óculos novo. E vai ser multifocal. Sempre fui míope, desde os 7 anos de idade. Então a essa altura os óculos já são parte do meu corpo. Mas de uns tempos para cá, eu andava tendo que tirar os óculos para ler coisas em letras miúdas, especialmente em lugares com pouca iluminação. Só que para o míope, você não afasta o texto, você o mete debaixo do seu nariz. E eu cheguei a um ponto em que isso me encheu o saco. Não aguento mais. Quero voltar a enxergar as coisas direito. Ainda mais com dois festivais de cinema vindo aí. Preciso poder enxergar as legendas nas telas dos cinemas onde vou lançar. Então, em meados da semana que vem, se tudo der certo, terei meus novos e estilosos óculos prontos. Tá, estilosos é exagero. São óculos de aro de metal prateado e preto, como nove entre dez dos óculos que tive na vida. Mas estreitos, como a maioria dos óculos que se veem hoje em dia. Acho que vai ficar legal, considerando que eu fui sozinha e escolhi os óculos meio cegueta. De todo modo, só o alívio de não ter que ficar segurando meus óculos com fita isolante é enorme. Todos os meus óculos acabam cacarecando no final, que nem os fuscas que minha mãe tinha. Quando os fuscas da mamãe já não abriam mais as janelas ou as portas ou caíam os para-choques quando ela subia uma ladeira, aí ela tomava vergonha na cara e trocava o fusca por um mais novinho ou mais inteiro. Eu demoro um pouco mais a tomar vergonha na cara. Eu devia ter trocado de óculos quando a segunda haste caiu, mas estou sempre tão ocupada que pode demorar para a ficha cair. Neste caso, foi mais um acúmulo de irritação porque ficou cada vez mais difícil escrever porque eu não enxergo direito o que escrevo. Numa distância que nunca me deu problemas, de repente tudo ficou fora de foco. Não dava mais para continuar assim. Vai me custar uma baba, mas não tem jeito. Quero voltar a ver o mundo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Domingo

A revisão do romance em progresso está quase no fim. Se eu pudesse voltar para a Travessa hoje, eu terminaria. Mas como tenho de fechar uma tradução, nada feito. Não tem problema, a gente termina sábado que vem. O que me deixa mais contente é a mudança do quarto personagem. Eu tinha dado a ele um enfoque diferente do de outros personagens, mas em outros aspectos ele ainda era muito parecido com os outros. Mas ao ver o vídeo da Adriana Lisboa sobre a experiência dela no projeto Amores Expressos, tive um insight que apliquei agora nas cenas dele. E isso tem mudado a figura desse personagem ainda mais e de uma forma que me agrada muito. Pois ele é o personagem que não se deixa abater pelo peso de nada do que acontece na história. Claro que ainda tem muito trabalho a ser feito. Mas eu acho mesmo que estou na reta final desta versão. Vou fazer mais uma, duas leituras pelo menos. E aí veremos.

Terça

Eu virei a noite para fechar esta porra desse filme coreano. Como eles falavam, meu Deus. Eu teria preferido um filme tranquilo de longos silêncios e aí aquela meleca estaria pronto e eu estaria dormindo. Faltava dez dias para o Festival do Rio começar. Eu queria terminar o filme, pegar outro, terminar aquele logo e pegar mais outro.Quanto mais filmes, mais você fatura. Fiz uma pausa porque estava de saco cheio. É capaz de eu ter levantado, ido na cozinha para pegar mais Coca-Cola na geladeira. Resolvi checar meus e-mails. E vários deles diziam que um avião tinha batido no WTC. Não havia meio de eu lembrar o que WTC significava, mas como viciada em cobertura jornalística de grandes eventos, passei a TV do canal de filmes em que estava para a CNN. Dei com um âncora da CNN em cima de um prédio, mostrando a torre que tinha sobrado e falando do avião que tinha batido no Pentágono. Levei um tempo para entender o que estava acontecendo. Ainda mais porque eles ficavam reprisando as imagens de pouco minutos antes, como o impacto do segundo avião, a queda da primeira torre. Depois teve o desabamento daquela seção do Pentágono. Não sei direito por que, mas passei a mão no telefone e liguei para quem eu pude para saber se elas estavam vendo a mesma coisa que eu. E enquanto estava falando com minha melhor amiga, a segunda torre começou a cair. Ela desligou para procurar uma TV e eu passei o resto do dia na frente da minha TV, morta de cansada, mas sem conseguir desgrudar do que estava acontecendo, porque tinha começado uma espera, a espera pelo próximo evento horrível. Meu irmão mora em San Francisco. Será que aconteceria algo lá? Passei todo o resto do dia e da semana grudada na CNN, vendo a cobertura sobre os ataques e o que aconteceria em seguida. Acho que só terminei o filme no dia seguinte, não tenho certeza. Nem sei direito quando fui dormir. Depois de dez anos, uma série de detalhes ficou vago, mas não o que eu senti vendo tudo aquilo acontecer em Nova York. Isso segue fresco na minha cabeça.

Claro que não interessa o que me aconteceu nesse dia. Não fui afetada, não conhecia ninguém que morreu. Meu irmão seguiu inteiro e seguro em San Francisco. Mas de algum modo isso faz parte da experiência daquele dia, a vontade de contar o que você viu e sentiu. De novo, as narrativas. Elas seguirão conosco.

Setembro

Mesmo antes de 11 de setembro, eu já achava setembro um mês triste. Desconfio que isso tem a ver com Woody Allen. Do mesmo jeito que ele ajudou a cristalizar a minha visão de Nova York com aquela abertura genial de Manhattan, toda vez que o mês de setembro vem chegando eu lembro do filme dele, September, um de seus mais melancólicos. São várias pessoas reunidas em uma casa de veraneio no final de agosto, esperando chegar o fim de semana prolongado do Dia do Trabalho para encerrar o verão e voltarem para suas vidas em Nova York. E cada uma delas têm seus motivos para não querer que chegue setembro. O vizinho tem uma paixão recolhida pela dona da casa e não quer vê-la ir embora. O escritor não quer voltar ao emprego e à rotina depois de sentir que fracassou na tentativa de escrever um romance sobre o pai. A amiga da dona da casa não quer voltar para os filhos e o marido e o casamento que anda mal das pernas. Tem a mãe que chega atropelando tudo e a todos e que não vê como está ferindo a filha. E por aí vaí. Tudo foi filmado em estúdio, embora não pareça, pois a iluminação imita a luz do sol perfeitamente. O ritmo é lento, lembrando uma peça, já que a ação fica confinada à casa. E corre pelo filme a melancolia dos amores frustrados, dos desejos não realizados, das expectativas decepcionadas. Traduzi esse filme certa vez para o Telecine. E depois pude revê-lo para um festival de filmes do Woody Allen que passou no CCBB já que precisei preparar as legendas para o lançamento. É um daqueles filmes que não consigo deixar de gostar apesar de enxergar seus defeitos. E por isso o mês de setembro será sempre um tanto triste quanto a lembrança desse filme.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Depois de dezembro

Quando minha avó morreu em dezembro de 2006, já fazia quatro anos que eu escrevia um romance sobre morte e perdas em família. Fazia pelo menos uns vinte anos desde que tinha havido uma morte na minha família. Eu não escrevia por experiência, mas de ter visto de camarote o que acontecia quando ocorria um suicídio. Um homem para quem eu trabalhava cometeu suicídio um dia. Todo mundo na empresa cerrou fileiras em torno da esposa dele, a outra dona da empresa. A gente viu ela juntar os cacos e seguir em frente, inclusive porque ela não tinha opção. Eles tinham uma filha de uns 6, 7 anos. Fui embora da empresa algum tempo depois, mas não esqueci esses meses após o suicídio, e especialmente de ver a esposa entrar numa sala para juntar as coisas do marido. Na época, sem entender o que isso significava, eu me ofereci para ajudar. Ela naturalmente recusou minha oferta. 

Foi só ao me propor esse desafio de escrever sobre um suicídio e seus efeitos numa família que eu parei para pensar no que isso significava para as pessoas diretamente envolvidas. Sei que pode parecer meio estranho, mas eu pensei nessas coisas de maneira racional. Deduzi logicamente que determinadas coisas seriam necessárias, providências práticas, mas também repercussões emocionais. Não pensei em tudo, como uma amiga me lembrou quando leu uma cena do romance. Faltava a culpa de quem ficou para trás. Eu incorporei isso. E aí minha avó morreu, um tanto repentinamente, e enfim entendi o que é perder uma pessoa para sempre. A dor, antes uma categoria abstrata, tornou-se um objeto sólido e com endereço certo. Foi uma transformação surpreendente e talvez necessária. Eu estava falando disso há 4 anos, mas sem entender de verdade. Mexi em coisas no romance, acrescentei uma cena em homenagem a ela e finalmente terminei o romance, passei para o próximo. Só depois de três anos é que consegui falar da minha avó sem imediatamente começar a chorar. É esta lembrança que levo para o atual romance em progresso.

Mitologia

Lembro-me de ver um documentário sobre o Titanic há muitos anos que dizia que o século XX começou de fato com o naufrágio desse navio e da ideia que a tecnologia podia conquistar tudo, uma confiança que vinha do final do século XIX. Depois de 11 de setembro, foi meio inevitável pensar que o século XXI foi inaugurado de verdade naquele terça. E tem outra coisa de que me lembro sempre, algo que uma amiga jornalista me disse algum tempo depois, que 11 de setembro era um dia em que não tinha nada acontecendo. Não havia a previsão de nada muito interessante. E foi algo que ouvi repetido de uma jornalista da CNN em um dos documentários que a CNN passou em 2002 e que eu gravei na época. 

As narrativas seguem sendo coletadas. E sempre se pode encontrar mais uma. Mas hoje, ao ver um documentário na Discovery sobre o museu sendo construído no subsolo do Marco Zero, me ocorreu que 11 de setembro está entrando definitivamente na arena da mitologia. O museu vai reunir objetos envolvidos no que aconteceu naquele dia como um carro de bombeiros semidestruído e cujos bombeiros que vieram nele morreram todos em serviço. Peças de roupa de pessoas que morreram naquele dia. Duas das vigas que sustentavam a fachada externa do prédio, justo aquela grade que ficou em pé depois que os prédios do WTC caíram. Um suporte de bicicletas amassado e as bicicletas também amassadas ainda presas ao suporte. A identidade de um homem que ficou fazendo companhia a um colega de trabalho tetraplégico que não tinha como escapar do prédio até que houve o colapso. Eu vi essas coisas e pensei em Auschwitz.

Talvez a mitologia seja inevitável. JFK, assassinado, virou mito. Ele teria virado mito se não tivesse sido morto? E esse é um evento que segue sendo imenso, mesmo visto da distância de 10 anos. A imagem das torres caindo ainda é algo da ordem do imponderável. Se é bom ou ruim que vire mito? Não faço ideia. Desconfio que é humano. Outro desdobramento das narrativas que contamos para entender tudo o que acontece.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Diário a céu aberto

Durante toda a vida eu quis ter diários. Eu achava que seria interessante ter um registro do meu cotidiano. Mas toda vez que eu tentava, imediatamente me vinha um certo desconforto. O que eu tenho de tão interessante na minha vida que vale a pena registrar? Minha conclusão: porra nenhuma. E no rastro de Anne Frank, era meio inevitável desconfiar que o que se escrevia era não para consumo próprio, mas para alguma geração futura e isso era um pouco de megalomania demais para mim. O blog tem esse lance de ser um diário a céu aberto. Foi o Ramones que me meteu nessa, me aconselhou a ter um blog. E acabei gostando, mesmo desconfiando que só haja uma meia dúzia de pessoas me lendo. Não tenho trinta mil amigos. Não sou extrovertida e nem tenho uma vida social intensa. Nunca soube me promover, o que obviamente ajuda a explicar porque passei anos sem me tocar que eu podia tentar publicar os poucos contos que considero decentes. Passo a semana em casa, trabalhando sozinha e saio nos fins de semana para escrever. As pessoas que mais vejo são os vendedores do segundo andar da Travessa. É uma vida praticamente monástica. E agora tenho essa janelinha que abro para pessoas que não faço ideia de quem são. Tem dias em que isso me bate como muito estranho. Mas, sei lá, de uns tempos pra cá a gente meio que vem vivendo a vida particular meio que no meio da rua mesmo. Falamos ao celular coisas super íntimas no meio da rua. Uma das conversas mais íntimas da minha vida aconteceu no meio da Travessa, falando ao celular com uma grande amiga que mora nos EUA e que soube de uma situação difícil que eu estava passando. Então, porque não discutir coisas minhas em um blog? Confiro ocasionalmente quantas visitas recebo, que passaram das cinco mil de acordo com o medidor que instalei. Não sei se isso é verdadeiro. E não sei quem me visita. Sigo achando isso estranho, mas tudo bem, todo mundo pode entrar. A casa é sua.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Aniversário

Contagem regressiva para o aniversário de 10 anos de 11 de setembro. O dia que mudou o mundo, como anunciam os comerciais da CNN da cobertura especial. Há documentários para todo lado e de todos os tipos. Sinceramente não sei se esse dia mudou o mundo. Há dez anos eu estava fechando a revisão de um filme para o Festival do Rio quando resolvi fazer uma pausa e ligar a TV. Sigo sentada na frente da TV até hoje, traduzindo filmes, aguardando o próximo Festival do Rio. O meu mundo com certeza segue sendo o mesmo. Tudo o que vejo à minha volta não parece ter mudado muito. Não realmente. O que ficou foi o fascínio por esse dia e essas imagens, todas as histórias contadas sobre esse dia. Já usei essas imagens no meu primeiro romance, como uma metáfora. Alguns escritores já tentaram escrever romances sobre esse dia, com que sucesso eu não sei porque não li nenhum deles até hoje. Mas eu nunca busquei entender esse dia, apenas minha fascinação com o que houve, a maneira como cada um conta sua versão dos fatos. As narrativas, as narrativas me interessam, sempre.

Pequenas descobertas

Como descrever a sensação que te dá quando você volta para casa depois de um dia muito bom na Travessa? Sua cabeça não para de funcionar só porque você fechou o caderno. O processo de pensar o romance segue enquanto você olha a Lagoa da janela do táxi. Saio da livraria para o frio da noite, feliz, quase exultante, essa energia me acompanha até em casa. Há uma necessidade de expansão. Você quer ligar para alguém, contar as pequenas descobertas que fez durante o dia, só que para quem você pode ligar à meia-noite que não vá te xingar (e com razão)? Acaba sobrando para o blog e para as paredes de onde fico quicando até acabar minha bateria e eu desmontar na cama, em geral de madrugada. E é incrível o quanto já consegui avançar nesse fim de semana. Escrevi mais uma cena hoje e daí só falta uma para fechar o quarteto necessário. E cheguei no meio do romance. O negócio agora é ver onde entram as cenas novas. Ver qual a última cena nova que tem pra escrever. Ainda não sei responder se a estrutura atual funciona para alguém que não conhece a história toda como eu. Mas eu gosto de ver os detalhes que mudam de versão para versão, coisas que eu não programei, mas que simplesmente apareceram no texto.

Sábado que vem vou para a Bienal ver Elvira Vigna no Café Literário. Meu dia na Travessa terá que ficar para a sexta ou para o domingo, ainda não decidi. Também queria ir na quarta, mas desconfio que não vai dar. Tudo vai depender do que acontecer na segunda e na terça. O trabalho precisa ter prioridade.

domingo, 4 de setembro de 2011

Cão Mistério e Segredinho

O único grande problema de ter cães adotados, especialmente cães que foram resgatados da rua, é que você não sabe nada do histórico do cachorro. Eu tinha me acostumado a ter cães que eu via nascer e acompanhava pela vida toda. De repente, eu tinha de levar um cachorro de quem não sabia nada ao veterinário. Daí, minha amiga que me ajudou a levar a cachorrada ao veterinário decretou, Wilson e Zequinha eram o Cão Mistério e Segredinho. E eu na hora imaginei os dois como uma dupla de super-heróis, com máscaras e capas e botinhas nas patas. Wilson usaria seu peso como arma e pularia nos criminosos e pisaria nos seus pés. E a Zequinha, com extensa experiência em meter as garras em mim, saltaria no ar e ao estilo Wolverine, faria os malfeitores em retalhos. E depois, claro, viriam receber um biscoitinho de mim e voltariam a mastigar o edredom na minha cama. É a vida de quem divide sua casa com quadrúpedes.

Filhos de quatro patas

Hoje tive de amanhecer no veterinário porque a Zequinha começou a reclamar de uma dor misteriosa. E descobri que consultório de veterinário no sábado é que nem fila de hospital público. Todos os donos de animais aproveitam o dia de folga para levar os filhos peludos. E, claro, demora uma eternidade. Quando finalmente a Zequinha foi atendida, a dor tinha aparentemente sumido e estava tudo normal. Mas já que eu tinha levado tanto ela quanto o Wilson (já que vi que não seria fácil sair de casa sem carregar ele junto) ao veterinário, vacinei os dois e cortei as longas garras que eles tinham nos pés. Acabou aquela história de viver arranhada. A volta foi exasperante. Descobri que aquele clichê dos cachorros enrolarem as guias em volta das pernas do dono acontece com uma rapidez estonteante e de repente você está no meio da rua, enrolada e as pessoas olhando para você como se você fosse maluca. Quase fui derrubada umas três vezes. E naturalmente, para cada poste ou obstáculo no caminho, cada um queria ir numa direção diferente. Cheguei em casa querendo matar os dois, tendo sido praticamente arrastada todo o caminho do consultório até meu prédio. Resultado: cheguei super tarde na livraria e cansada de tanto ter de puxar as coleiras. E apesar disso, foi um dia surpreendentemente produtivo. De repente, surgiram duas cenas novas que se encaixam perfeitamente com o que já estava escrito. Nem parece que passei cinco meses com esse texto na gaveta. Amanhã, em função do tempo perdido hoje, vou voltar à livraria e ver o que pinta. Não sei se vou passar o dia inteiro, mas eu queria tirar um pouco do atraso porque saí da Travessa meio frustrada por ter tido tão pouco tempo para trabalhar. Mas desconfio que esse será o último domingo por algum tempo. Tenho de engrenar nas traduções para o festival e isso vai acontecer a partir da segunda. O que a gente não faz por dinheiro.

sábado, 3 de setembro de 2011

Murmúrios

Só de saber que amanhã estarei na livraria, minha cabeça já começa a se soltar, a antecipar o trabalho de amanhã. Começa uma espécie de murmúrio bem baixinho, as rodinhas querendo gerar palavras, mas como estou apenas no trabalho de revisão, é meio como se minha cabeça quisesse sair voando, mas não houvesse vento suficiente. Já na semana passada, apesar de só poder dedicar só um pedacinho do dia à revsão porque eu precisava dar prioridade ao trabalho, algumas coisas já ficaram claras para mim. Talvez saia uma cena nova, não sei. Sinto que há mais para ser dito. E se sair uma cena, mais três terão de ser escritas. Fico feliz em voltar a esses personagens, perceber que ainda os conheço bem, seus hábitos, sua dicção. A separação de cinco meses só reforçou minha visão deles. O que é preciso garantir nesta fase é que o texto reflita de uma forma verdadeira quem eles são e o que fariam. E isso vai ajudar em muitas coisas. O sono já se faz sentir. Eu vou aproveitar e me meter debaixo das cobertas quentinhas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mortinha

Cansei. Esta semana foi fogo. Entreguei dois filmes e três episódios de duas séries. Acabei de fazer minha última entrega da semana e tudo o que eu quero neste exato momento é poder jantar, ver o programa que baixei da Internet e desmaiar na cama depois de Roque Santeiro. Amanhã, escrevemos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Monstratona

As preparações para o Festival do Rio começaram. Recebi meu primeiro filme para traduzir. Parece meio tarde, eu sei, mas este ano, por conta do Rock in Rio (eu não vou!), o Fest-Rio foi adiado para o início de outubro. O que significa que ele mal vai terminar e dois dias depois vai começar a Mostra de São Paulo, em sua época regulamentar. Para nós que fazemos os dois festivais, vai ser super puxado porque normalmente o intervalo entre os dois festivais é de duas semanas. Este será o ano da Monstratona. Normalmente digo aos meus clientes tradicionais que vou sumir durante a época dos festivais. Este ano, outubro vai ser um buraco negro. Vou entrar nessa e só voltarei a ser vista em novembro. Mas o legal é que este ano poderei ficar hospedada parte do tempo com uma amiga em Sampa. Fiquei com ela apenas uns poucos dias na minha primeira Mostra e foi super. Este ano quero ir no Mercado Municipal e na feira que tem nos fins de semana na Liberdade. E tenho de pegar leve nas minhas visitas à Livraria Cultura. Ano passado eu carreguei quilos de livros de volta pro Rio. Foi a primeira vez em que paguei por excesso de peso. E olha que eu vou de armas e bagagem para lá. É laptop, câmera (claro), celular, MP4, todos os carregadores, fones de ouvido e outros acessórios, praticamente toda a minha roupa, e meus dois pares de tênis (eu só ando de tênis). As pessoas no aeroporto devem achar que estou de mudança. O que não é exatamente um exagero. Por duas semanas de cada ano, eu me mudo para São Paulo. O bom é que eu finalmente achei a mochila perfeita para mim. Ela é espaçosa o bastante para caber toda a minha tralha habitual e em outro compartimento cabe meu laptop e acessórios. Então vai acabar aquela história de carregar duas mochilas para os cinemas. Vou levar uma mochila vazia para São Paulo só por precaução, porque ano passado comprei várias coisas que precisei despachar como bagagem e como não tinha onde levar, precisei comprar uma mochila nova. Achei que seria uma boa mochila de laptop, acabou não sendo e a boa mochila de laptop eu achei aqui no Ed. Avenida Central, custando metade do preço.
De todo modo, o espírito do Festival já baixou entre os audazes tacadores de legenda. Já estamos trocando e-mails meio loucos. Tudo começa de forma inocente com um e-mail perfeitamente normal procurando um técnico de computador. Aí o pessoal não consegue resistir a fazer comentários engraçadinhos sobre o primeiro e-mail e e aí entra mais gente na roda e quando você vê, os e-mails viraram uma piração completa. Para se ter uma noção, já tivemos a estreia de novas entidades espirituais. Depois do Deus Branco, temos o São Jorge Abóbora e o Diabo Verde (que atenta os legendistas e os faz cair em pecado). Mal posso esperar pelo primeiro chope e a reunião do leilão de sessões. A Monstratona nos aguarda.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A dança dos personagens

Fiz uma coisa um pouco diferente este fim de semana. Eu tinha muita coisa a fazer em muito pouco tempo e achei que se eu saísse de casa para trabalhar, isso me daria um maior foco. Os imprevistos da semana que passou bagunçaram meus prazos e eu precisei recuperar o tempo perdido. E sair de casa, mesmo que para trabalhar, me daria algum alívio depois de passar a semana olhando para essas mesmas paredes. Então lá fui eu para a Travessa, me apossei da mesa mais próxima da única tomada no café e mandei ver. E tudo correu tão bem que nos dois dias eu tive um tempinho para revisar o romance em progresso. E aí conversei um pouquinho com um dos vendedores depois de jantar hoje sobre um filme que admiro muito por sua estrutura incomum, O Violino Vermelho. E comecei a pensar sobre uma dúvida que tenho sobre a estrutura do romance. Eu alternei as cenas de cada um dos personagens, então você lê todas as histórias juntas ao mesmo tempo. Não foi assim que eu escrevi o romance, claro. Eu escrevi cada história de uma vez e depois montei a estrutura alternante. Uma cena do Bernardo, uma da Betina, uma da Marisa, uma do Adriano e voltamos ao Bernardo e assim por diante, meio como aquela música Dó, Ré, Mi, de A Noviça Rebelde. O que me preocupa é se essa alternância não torna a coisa um pouco confusa para quem está lendo. Eu sou a pior pessoa para avaliar isso, conheço todas as variações da história. O que me ocorreu hoje ao pensar no Violino Vermelho foi voltar à narrativa em blocos inteiriços, do jeito que eu escrevi, e na passagem entre um bloco e outro, as cenas das mães, formando uma espécie de espinha dorsal do romance como ocorre no filme, em que a leitura do tarô e o leilão do violino formam essa espinha dorsal. Assim eu teria garantido que o leitor entenderia minha intenção. Só vou ter uma resposta para essa dúvida quando botar o romance na mão de alguém que não conhece a história. Pelo menos é bom saber que tenho uma alternativa se a dança dos personagens não der certo. Vou desencavar meu vídeo do filme para estudá-lo.

domingo, 28 de agosto de 2011

Autobiografia ao contrário

Acho que não tem uma FLIP ou evento literário a que eu compareça em que uma criatura qualquer deixe de perguntar ao escritor no palco o quanto tem de autobiografia no livro, especialmente se ele é narrado em primeira pessoa. É uma pergunta tão previsível quanto a eterna "Você está traduzindo o filme na hora?" que ouço pelo menos uma vez por festival de cinema. Já falei sobre isso aqui algumas vezes. O escritor é como um ator. Ele não é um bandido (ou médico ou santo ou violinista), ele só interpreta um na TV. Por exemplo, no meu primeiro romance tenho um irmão suicida, um pai que abandona a família, entre outras coisas. Todos na minha família estão vivos e bem, meu pai não largou minha mãe quando éramos pequenos, ninguém tem pensamentos de suicídio, nada disso é verdade. Mas acontece que comigo eu escrevo sobre certas coisas e elas acontecem depois. No primeiro romance, a irmã precisa dispor dos pertences do irmão morto. Enquanto eu escrevia o romance, minha avó morreu un tanto subitamente e tempos depois me vi no quarto dela, selecionando objetos dela para ter de lembrança. A sensação de déjà vu foi fortíssima. Agora, no romance atual está ocorrendo algo semelhante. Escrevi sobre determinados eventos pelos quais nunca tinha passado, foram coisas que determinei logicamente porque encaixavam na trama e, tempos depois, eu me vejo cara a cara com a mesma situação na vida real. Muito, muito estranho. É como se estivesse escrevendo minha autobiografia ao contrário. Talvez se eu escrevesse um romance sobre um escritor famoso e premiado isso se torne verdadeiro para mim também. Não custa tentar.
Em tempo, voltei para o primeiro romance em progresso e realmente o tempo que passei longe dele está me permitindo ver algumas coisas mais claramente, como uma cena que soa como se fosse de outra personagem. O que está pegando é o tom, que está informal demais e irrevente. Esta personagem nunca é irreverente quando fala do pai. Tenho de achar outra maneira de passar as mesmas informações, que são importantes para entender a relação dessa personagem com o pai. Também está mais fácil detectar as pequenas incosistências entre as versões dos personagens e que não foram criadas de propósito, fui eu que não lembrava dos detalhes entre uma história e outra. Depois percebi que isso só reforçava o efeito que eu queria. Se a estrutura desconjuntada vai funcionar para um leitor que não conhece a história ou não, ainda não dá pra saber. Obviamente, eu conheço a história bem demais para poder avaliar. Acho que vou dormir daqui a pouco porque amanhã tenho mais um dia de trabalho e quero estar bem descansada.

sábado, 27 de agosto de 2011

A melhor novela

Esta semana, fora Roque Santeiro, a melhor novela na TV tem sido a revolta na Líbia. A tomada do QG do Kadafi, a libertação dos jornalistas mantidos presos no Hotel Rixos, a briga pelo aeroporto, o detalhe inusitado da descoberta do álbum de fotos da Condoleezza Rice nos bunkers do Kadafi. Ninguém sabe o que vai acontecer a seguir e por isso passo os dias grudada na CNN, vendo os jornalistas se meterem em situações incríveis. Essa gente realmente tem que ter coragem. Com todo mundo em volta atirando pra cima ou pra cima de você, a chance de você se ferir ou morrer é real. Essa novela tem perigo, suspense, vilão, mocinhos e uma história que ninguém sabe no que vai dar.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A queda que houve

Hoje eu dei de cara com o que acontece com uma pessoa quando ela se torna verdeiramente frágil. A queda que não tinha acontecido aconteceu hoje. Corrida para o hospital, pontos, tomografia, médicos. Complicado. A distância entre ser velho e ser frágil pode ser muito curta. Ainda estou tentando absorver o que houve.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Glamour zero

Os americanos resolveram pegar Prime Suspect, a fantástica série policial com Helen Mirren, e refazer a série do jeito deles. Vi um trailer outro dia num site e não fiquei muito entusiasmada. Tenho visto muitas séries inglesas de uns tempos pra cá e, sinceramente, acho que elas ganham da maioria das séries americanas. Pra começo de conversa, os ingleses são especialistas nas séries policiais e de mistério. Segundo, os atores são imbatíveis. E três, eles não estão interessados em glamour. Por exemplo, no Prime Suspect original, Helen Mirren tinha por volta de 47 anos. Ela tinha uma cara cansada, era uma pessoa às vezes desagradável e logo no primeiro episódio ela se aproveita da morte de um colega para assumir a investigação que ele chefiava, o que foi eticamente meio duvidoso. E ela faz de tudo para levar a investigação até o final. Os sets são os mais prosaicos possíveis, tem aquele aspecto de um lugar usado há muito tempo e meio desgastado, os policiais têm cara de gente normal, ninguém é bonito. A investigação é feita de pesquisas chatas e repetitivas, longas esperas, e o instinto infalível da Jane Tennison (Helen Mirren) para achar o culpado. E isso é muito comum em séries inglesas. O protagonista não é jovem e lindo, musculoso. Aliás, a grande maioria dos detetives deles são pessoas de 50 para cima. Um exemplo recente é o Luther, um policial que tem um instinto infalível para achar criminosos, mas separado da mulher, ele mora em um apartamento que é um buraco, sempre tem a barba por fazer e parece viver à beira de algum tipo de colapso mental. Glamour zero.
Agora vejamos as séries americanas. Todo mundo é lindo, jovem, musculoso, os sets são estilosos e tem aquela edição ágil de videoclipe. E nas séries de TV aberta, tudo é diluído em 22 episódios quando os ingleses costumam concentrar seus dramas em temporadas de seis, dez episódios e eles nunca têm medo de ir até as últimas consequências de uma trama. Protagonistas morrem de verdade. Novos atores entram para tomar o lugar do ator que partiu e ninguém pensa duas vezes em fazer isso. Por isso e outras coisas, acabam sendo séries mais densas e muitas vezes inovadoras. Quem teria inventado uma série sobre um lobisomem, um vampiro e uma fantasma que são amigos e dividem uma casa? Talvez seja o fato de eles trabalharem com menos dinheiro e bem longe do esquema de Hollywood. Talvez seja uma influência de toda uma longa tradição literária no país e que tem Shakespeare como grande ícone. Não sei direito. Mas ao ver a versão glamurizada de Prime Suspect, fiquei meio desanimada, achando que os produtores da série não tinham entendido qual era o sentido da série original, que era oferecer uma visão mais realista da investigação policial e do papel da mulher em uma força policial machista.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Coragem

Estou desde cedo ligada na CNN, vendo as incríveis imagens dos rebeldes na Líbia entrando no complexo do Kadafi e carregando armas, quadros, munição, uniformes dos soldados. Você vê rebeldes atirando no ar, crianças passando, é uma loucura. E no meio disso a repórter Sara Sidner, que chegou a Tripoli junto com os rebeldes e por isso estão deixando ela entrar e mostrar tudo. A mulher sabe se meter numa roubada. Quando terroristas tomaram aquele hotel em Mumbai, ela estava na frente do hotel, debaixo de fogo dos terroristas, por horas a fio, fazendo a reportagem. Agora cá está ela em mais uma roubada, no meio de um monte de gente atirando para o ar (o que é perigoso para caramba), e dá para ver que ela está assustada, mas segue com o trabalho dela. Você precisa mesmo ter coragem para fazer esse trabalho. Incrível.

O vazio no ar

Já começaram os especiais sobre 11 de setembro. Não é para menos. Faz dez anos da data mais absoluta da vida de todos nós. Nada se compara com aquilo que aconteceu naquele dia. Nem outros atentados, nem guerras, nem revoltas que acontecem diante de nossos olhos nos noticiários da TV. Aquele foi um dia de uma violência tal que até hoje estamos tentando entender o que houve. Multiplicam-se as narrativas sobre aquele dia. Mesmo que sejam só as das pessoas que estavam na frente da TV, vendo tudo acontecer sem entender nada. A narrativa é nosso meio de tentar entender as coisas. Lembro de um documentário fascinante que assisti sobre a famosa foto do homem que caía do WTC e das pessoas que tentaram descobrir a identidade desse homem. Por extensão, o documentário também entrevistou os parentes de pessoas que se jogaram das torres. E cada uma dessas pessoas tentava entender o que foram os últimos momentos de seus entes queridos simplesmente porque eles não tinham como contar essa história até o fim. E a fascinação com o voo 93 que caiu na Pensilvânia deriva da mesma coisa, de não podermos contar até o fim o que houve nesse avião. As lacunas, os espaços em branco são sempre irresistíveis. Eu, que morei em Nova York quando o WTC ainda era muito novo, estive lá em cima, toda vez que vejo a silhueta de Manhattan, ainda sinto falta daquelas torres, sinto aquele vazio no ar. Faz dez anos, mas ainda vamos sentir essa ausência por muito tempo.