sábado, 31 de outubro de 2009

Sampa

Apesar de tudo, da correria insana, da pilha de trabalhos que parece não terminar nunca, tenho conseguido me dar pequenos momentos para estar só, geralmente no jantar, em que posso sacar do caderno e escrever algumas linhas antes que chegue meu prato. É uma forma de manter a pena minimamente afiada enquanto não posso voltar com força total aos meus sábados, o que vai acontecer daqui a exatamente uma semana e mal posso esperar.
Viajar é bom, poder ver essa gente que é ligeiramente diferente do povo carioca com que me acostumei. Na terça, pretendo me soltar na cidade e ver várias coisas. Vou na Liberdade, quero andar pela Paulista, registrar o que puder com a câmera. Esta cidade tem várias coisas que me atraem, essa coisa de metrópole grande e suja e confusa de que sinto um pouco falta no Rio. O Rio é um balneário, é um outro esquema. São Paulo tem coisas que me sugerem Nova York e Chicago, cidades de que tenho muita saudade.
Hoje, para fechar a noite, teremos um chope para juntar o povo legendático, trocar figurinhas. Esta noite promete.

A legendagem em ação

Uma de nossas colegas está grávida. Descobrimos esta semana. Mas sendo a tribo peculiar que somos, além de transmitir os parabéns, todo mundo imediatamente começa a fazer sugestões de nomes para o bebê. Legendilson e Legenderson estão estre os favoritos na primeira leva. Há quem também prefira Legendário ou Legend. Em breve, a futura mãe terá toda uma lista de nomes para batizar o rebento. Que, naturalmente, vai nascer de crachá e pen drive já prontos, e assim que aprender a ler e escrever já terá sua vaga garantida entre os audazes dublês de legenda.
Não me peçam para explicar "dublê de legenda". Foi algo que algum sujeito disse aqui em São Paulo ano passado e ainda estamos tentando decifrar de onde ele tirou isso. Tarefa igualmente difícil, imagino, que a do incauto público que chega na sala de cinema e encontra uma criatura já sentada na plateia, com um laptop ou teclado de desktop no colo. O que essa pessoa está fazendo sentada ali? A maioria não sabe, sequer imagina. Como a senhora que, durante uma sessão num cinema bem pequeno no Rio, queria que o marido tomasse satisfações com o rapaz (mas que grosseria) que ficava trabalhando num laptop no meio do filme. Onde já se viu? Pior, na verdade, são aqueles espectadores curiosos que insistem em saber o que você faz ali e querem porque querem sentar do seu lado apesar disso ser extremamente incômodo por tirar a sua concentração. E, acredite, você precisa de concentração para lançar qualquer filme, mesmo o mais bobinho.
A Mostra começa a entrar na reta final e eu fico contente com a perspectiva de embarcar naquele avião na sexta que vem e voltar para a minha vidinha chinfrim de sempre. Preciso descansar.

Eternidade

A Mostra já fez uma semana, mas parece que foi há dois séculos que você aterrissou na cidade. Cada dia é muito curto e eterno ao mesmo tempo. Você já se acostumou ao caminho que faz para voltar ao hotel toda noite, já sabe quais os pontos preferidos das damas da noite, começa a prestar atenção em como elas mudam de figurino dependendo das condições do tempo.
Dentro do cinema, uma sessão de duas horas pode ser interminável se o filme for muito chato. O popular desperdício de celulóide, como chamamos. Chega uma hora em que todos passam a comparar figurinhas. Você viu esse filme? Nossa, que horror. Ou então, fuja deste que é uma bomba. Todo ano tentamos escolher o pior filme do festival. É o popular abacaxi de ouro. Em geral, trata-se de alguma obra-prima da sétima arte que não tem pé nem cabeça, muito menos enredo, coerência, qualquer coisa dessas. E acredite, a quantidade de filmes completamente alucinados que já vi na vida é enorme por conta dos festivais da vida. Por isso, minha vinheta preferida do Festival do Rio é a de 2006, a do homem em chamas correndo pela Praia de Ipanema. Não fazia o menor sentido. Mas tinha tudo a ver com os filmes que a gente lança.
Quando você chega neste ponto, você começa a lembrar que tinha uma vida fora desta maratona, que tinha cachorro, uma casa, amigos outros além daqueles que, como você, andam sempre por aí com um crachá pendurado no pescoço, regidos pelo relógio e o esquema de lançamentos. Para combinar um almoço, todos sacam de suas respectivas programações, procuram sincronizar as sessões. Que maravilha a perspectiva de voltar a uma vida em que não há uma só coisa marcada para fazer, nenhum horário, nenhum compromisso fora o de fazer o trabalho chatinho de todo dia, poder rolar no chão do pátio com minha cadela e não ficar olhando para o relógio de cinco em cinco minutos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Arquitetura

Uma das coisas que eu gosto em São Paulo é a variedade da arquitetura dos prédios. Me incomoda bastante aquela uniformidade chata do Rio. Parece que todo prédio que constróem é igualzinho ao prédio do lado. Mas aqui você vê um pouco de tudo, inclusive prédios que acho que não veria no Rio, mansões na Paulista, casas grandiosas nas ruas transversais. No Rio alguém já teria comprado a casa, derrubado e colocado um edifício residencial no lugar. E aqui há muitas casas. Muito mais do que costumo ver no Rio. Uma cidade, na minha opinião, não se faz só pela sua natureza exuberante, que é o que todo mundo vê nos cartões postais. Quando você anda pelas ruas deve ter o que ver também. Nas casas, nos prédios, nessa mistura confusa que é a Paulicéia e que me agrada muito.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Bruxa

Quando tudo resolve dar errado, dá tudo errado de uma forma espetacularmente catastrófica. Ontem passei por um problema desses. O laptop trazido para o cinema onde eu iria lançar não queria ligar, provavelmente teve um problema no disco rígido. Trouxeram um segundo laptop. Nada. Os técnicos trabalham feito uns loucos para tentar fazer os laptops funcionarem, nada acontecia. E o tempo passando e o público cada vez mais impaciente (e com razão). E para piorar, toda vez que um deles nos pedia uma previsão, alguém dizia cinco minutos (porque de fato parecia que a solução estava próxima), mas aí aparecia outro problema e estávamos de volta à estaca zero.
Resultado: tiveram de usar o meu laptop que eu carrego para cima e para baixo para trabalhar nos intervalos dos filmes, e foi com ele que fiz o lançamento dos filmes. Hoje tenho de voltar ao mesmo cinema e torço que eu não tenha mais um dia como hoje. A primeira sessão atrasou uma hora e todas as outras, consequentemente, sofreram um atraso semelhante.

domingo, 25 de outubro de 2009

33 minutos

A correria é a mesma, o cansaço é o mesmo, os prazos apertados, os cinemas congelantes, a exigência de pontualidade. Hoje, sentada no Unibanco, esperando algumas amigas chegarem para poder ir jantar, observei que o público da Mostra não era em nada diferente do público do Festival do Rio. Todos sentam nas mesas com seus programas, tentando conciliar horários e dias de exibição. Só não vejo o público do Rio comprando souvenirs do Festival como compram da Mostra. Bonés, camisetas, posteres, catálogo. Logo, você vê uma multidão com aquelas bolsas de papel kraft com o símbolo da Mostra. Acho que o pessoal do Rio tenta parecer mais blasê. Eu, comprar suvenir, ficar parecendo turista? Deus me livre.
A diferença interessante entre Rio e São Paulo é que lá você comparece com 30 minutos de antecedência para sua sessão. Aqui na Paulicéia são 33 minutos. Não sei porque 3 minutos fariam tanta diferença, mas tudo bem, a gente chega lá. Eu sempre tento chegar no cinema com o máximo de antecedência possível por hábito, então eu não ligo. Desconfio que seja uma questão cabalística, talvez algo de numerologia. Pode ser também que tenha a ver com o fato de ser a 33ª Mostra. Não sei. Tenho de investigar esse assunto a fundo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Monstra

Primeiro dia da Mostra também conhecida como Monstra. Estou de volta ao meu modelito crachá, pen drive, caderninho de sessões e MP3 player. Lancei minhas três sessões, senti o quanto duas semanas já servem para te deixar enferrujada. Ainda mais porque passo boa parte do Festival do Rio lançando filmes nacionais. Fico desacostumada a ter de acompanhar os ritmos de outras línguas que não o inglês e o português. Amanhã já devo estar voltando a entrar no ritmo. Outra coisa. Eu esqueci como você sente uma inclinação de poucos graus quando precisa subir em direção à Paulista e está carregando um notebook dentro da mochila. O Rio é basicamente plano e andar muito tempo me cansa, mas aqui me cansa muito mais rápido. Chego no cinema cansada, mas nem de longe tão ofegante quanto no ano passado, quando ainda não tinha trocado meu remédio para asma. Mas hoje eu aprendi uma lição muito importante que eu havia esquecido. Os cinemas de São Paulo são muito mais frios que os do Rio. Isso é irônico numa cidade que em geral não usa ar condicionado direto como no Rio nos táxis, no metrô, nas lojas. Amanhã vou ter de levar o suéter que comprei para enfrentar a fria noite paulistana na mochila. Logo, vou sair daqui da Livraria Cultura, onde me instalei no café, e sair para explorar a riqueza de opções culinárias da Paulicéia, que é a outra coisa que me traz a São Paulo. Bom apetite.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Paulicéia

Primeiro dia em São Paulo. É interessante ver o quanto eu consigo lembrar do que vi no ano passado. Em 2008, eu não sabia o que era para que lado, se eu devia ir para o Centro ou para os Jardins, onde ficava a Liberdade, coisas assim. É bom poder andar com mais desenvoltura, saber onde estão os restaurantes, os mercados, a Livraria Cultura. E de novo me surpreendo com essa coisa que São Paulo tem de ter tudo meio misturado no mesmo lugar, com um jeito de salada. Voltando para o hotel, vejo as damas da noite fazendo ponto nas esquinas defronte a respeitáveis edifícios de classe média, inferninhos na Augusta a poucas quadras de endereços chiques, uma Avenida Paulista que tem residências e sedes de grandes corporações. No Rio, as coisas são mais separadas, mais segregadas, por assim dizer. São Paulo, para mim, é uma cidade mais dura que o Rio, mas que, ao mesmo tempo, oferece coisas incríveis. Espero poder descobrir mais algumas dessas coisas nesta viagem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Tomorrow

Amanhã, eis-me na Paulicéia Desvairada. Desvairada, naturalmente.

Orgulho

É bom ver um amigo lançando um livro e fazendo sucesso, ganhando matérias em jornais. Ainda mais uma pessoa tão legal, tão disposta a ajudar. E, por que não dizer, jovem. É legal alguém conseguir, nessa idade, realizar parte de seus sonhos. Dá uma sensação boa lá dentro.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Generosidade

Há pessoas que fazem coisas por você, que se dispõe a ajudá-lo, mesmo que elas não o conheçam muito bem, quando não há muita intimidade. Isso é algo que me comove de uma forma que nem sei direito como explicar. É algo que tenho visto nesse último ano. E é algo a que não estou muito acostumada. Por isso mexe muito comigo. E sou extremamente grata a essas pessoas.

domingo, 18 de outubro de 2009

Dá-lhe, Ramones

He's alive!

Em todo texto que você escreve chega o momento em que os personagens começam a se por de pé, começam a ganhar feições próprias, começam a respirar, por assim dizer. Esse é um momento muito especial. Ele, inclusive, costuma ser, ao menos para mim, o primeiro sinal de que estou indo na direção certa. Mesmo que depois eu tenha de reescrever cenas que já escrevi há algum tempo, são essas cenas em que eles ganham vida que vão determinar a direção que os personagens vão seguir pois é a sua lógica interna que começa a operar quando antes era algo imposto de fora. Não é que eles se rebelam, mas minha cabeça ficou elaborando esses personagens durante esse tempo todo desde que comecei a conceber o texto e agora começo a ter um entendimento instintivo de como essas pessoas pensam, reagem, sentem.
No final da semana, Sampa, Paulicéia Desvairada. E terei mais duas semanas para ficar elaborando essas pessoas antes que possa sentar para escrever de novo.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cachaça

Eu reclamo, me mato de trabalhar, muitas vezes não sei como vou dar conta de tudo o que tenho a fazer, fico tão cansada que às vezes acho que vou ter um treco e cair dura. Mas eu adoro essa época do ano. Basicamente passo o ano todo em contagem regressiva, torcendo que agosto venha logo. Não se trata tanto do dinheiro que ganho nesta época, que obviamente é muito bem-vindo e me ajuda a conseguir coisas de que preciso (como o notebook no qual escrevo este blog), mas da adrenalina, da emoção da correria, a sensação de fraternidade que tenho com as pessoas que fazem esse mesmo trabalho que eu. Adoro ficar correndo por aí com o crachá e o pen drive pendurados no pescoço, clicando juntos, os símbolos de que pertenço a esse seleto grupo de profissionais, algo de que me orgulho muito. Semana que vem parto rumo a São Paulo e mais uma rodada dessa maratona insana. Vai ser cansativo e estressante e divertido e maravilhoso. E quando terminar, vou ficar contando os dias até que chegue o mês de agosto de novo. Com a ajuda do Deus Branco, como sempre.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Mostra

Vou para a Mostra de São Paulo em menos de uma semana. Mala, roupa, hospedagem, trabalho. Minha cabeça está a mil. E estou cansadíssima. Não é nada de novo. Já fiz isso muitas vezes antes. Curiosamente, como no ano passado, tenho de comparecer ao lançamento do livro de um grande amigo. Mas continuo achando que estou precisando de dias de 32 horas para fazer tudo que precisa ser feito antes de viajar. Veremos o que acontece.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Por falar em dormir

Descobri esses curtas de animação geniais de um cara com o seu gato. Eu adoro. Mas o negócio é que eles me lembram um pouco da minha cachorra, Dax, que é um pouco escandalosa na hora de me dizer que quer comida.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dormir, dormir

Uma das poucas coisas que é regular na minha vida de freelancer é meu horário de domir. Acordo às 10 da manhã e vou dormir às duas da madrugada. Durmo oito horas contadas. Não preciso de despertador. O resto do tempo eu trabalho. Naturalmente, o festival atrapalha esse meu ritmo natural e o complicado é restaurá-lo para que eu possa descansar e me preparar para a Mostra, ao final da qual vou ter de fazer isso tudo de novo. Nesse meio tempo, fico parecendo uma dorminhoca, dormindo no meio do dia, sentindo sono nos horários mais estranhos. Fazer o quê?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Refishing

A repescagem é sempre uma coisa meio morna, que nem comida requentada do dia anterior. Você ainda está meio saturado daqueles filmes, mas já passou daquele ponto em que você não suporta mais ver nada na sua frente. É mais uma sensação de tédio. Been there, done that. Você até bota o crachá, leva o suprimento de Fanta, mas a adrenalina, a excitação acabou.
Há exceções, claro, como o ano em que decidiram fazer a repescagem no finado Paissandú e ocorreu um problema com a venda de ingressos antecipados. Ficou apenas uma bilheteria fazendo a venda de todos os ingressos e isso acabou gerando uma confusão enorme. A fila dava voltas no quarteirão. E eu via o público cada vez mais impaciente, mais indócil, mais irritado. Cheguei a pensar que eles invadiriam o cinema e que eu acabaria linchada junto com as moças da bomboniere. Eu imaginava direitinho o pessoal chegando com tochas, pedras, tipo "vamos matar o monstro de Frankenstein". Ia voar pipoca para todo lado. E a pobre tacadora de legendas, na flor da idade, ia pagar o pato por um problema de informática qualquer.
O tempo foi passando e nada daquilo se resolver, e o pessoal cada vez mais irritado. Eu ligava para a coordenação da legendagem, cada vez mais apavorada, quase que implorando que alguém mandasse o exército para me resgatar. Até que finalmente deram um jeito naquele maldito programa de vender ingressos e começaram a deixar as pessoas entrarem no cinema. Mas as sessões estavam tão atrasadas que foi preciso fazer as três primeiras sessões, as minhas naturalmente, corridas uma atrás da outra. Era o tempo de esvaziar a sala e deixar a próxima leva entrar. Eu descia correndo, comprava mais um refrigerante, fazia o xixi preventivo no banheiro da cabine (pois nessa época já tínhamos começado a fazer lançamentos dentro das cabines) e sentar a bunda na cadeira dura para mais uma sessão de 90, 100 minutos. No fim do dia, quando entreguei a cabine para a próxima lançadora, o horário já tinha se normalizado, mas eu estava completamente exausta, pois foram praticamente seis horas direto, com pausas de no máximo cinco minutos. Boa parte do meu corpo estava doendo. Depois dessa, nunca mais fizeram uma repescagem no Paissandú. E eu dei graças a Deus.

domingo, 11 de outubro de 2009

Confirmações

Escrever é, por definição, uma atividade solitária. Mesmo sentada no meio da livraria, com gente para todo lado, eu estou sozinha, fechada no meu mundo particular, a música do meu MP3 player me ajudando a me isolar das pessoas em volta. Você sempre escreve no escuro. Todo texto é uma aposta que pode ou não dar frutos. Por isso é tão importante receber um retorno das pessoas para quem você mostra o seu texto. E isso tem começado a acontecer recentemente, após seis anos de trabalho no meu romance, tenho recebido a confirmação através de várias pessoas que todo o meu esforço valeu a pena. Ontem mesmo eu fui para a Travessa com um e-mail de uma grande amiga no bolso que dizia, em parte, "Cada vez gosto mais de seu texto". Isso de uma pessoa que sempre acreditou em mim mais do que eu em mim mesma. Essa é a melhor coisa do mundo. Vou conseguir publicar o romance, não vou, ainda não sei. Mas ler isso já valeu a pena.

sábado, 10 de outubro de 2009

Rotina

De volta aos meus sábados sagrados. Hoje eu me olhei no espelho antes de sair de casa e achei estranho não ter pendurados no pescoço meu crachá e meu pen drive. O fim do festival é sempre uma freada brusca e leva um tempo para me acostumar com a ideia de que não preciso mais dormir, comer e tomar banho com meu caderninho de sessões agarrado na mão. Enquanto isso, procuro voltar à rotina. Nada de horários e posso acordar quando eu quiser. Aliás, eu posso voltar a dormir. Essa é uma coisa boa.
Também posso voltar a escrever e essa é uma coisa melhor ainda. Passei o dia me sentindo meio enferrujada, mas logo vou voltar ao ritmo. Terei mais duas semanas de Mostra de São Paulo, daí preciso aproveitar ao máximo esse intervalo entre festivais. Como ainda estou no início de um novo texto, o que me fascina é a maneira como os personagens vão tomando forma, cor, corpo. Eles são assim e não assado. Mais até do que a história, é o processo de descobrir quem são essas pessoas que me interessa. Na prática, não há nada de muito original nas minhas histórias. O que mexe comigo é tentar encontrar uma estrutura que seja diferente de outras coisas que já escrevi, botar essas pessoas de pé. Sempre chega um momento em que esses personagens começam a respirar sozinhos, a andar por aí no mundo. Esse é o momento pelo qual espero em tudo o que escrevo. É nesse momento que saio saltitando da livraria, feliz da vida, parecendo aqueles desenhos do Snoopy dançando. Life is good.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Amostra grátis



Uma pequena amostra das fotos que tirei no Festival do Rio.

Acabou

Há uma sensação estranha depois que tudo acaba. Você passou duas semanas por conta daquele caderninho com suas sessões, dormia, comia e corria para cima e para baixo por conta dos horários anotados naquelas páginas. Passo o resto do ano sem ter horários fixos, mas nessa época do ano sou praticamente suíça, meu tempo rigidamente controlado. E após 15 dias de correria, de repente, pum, você chega do outro lado e se vê surpresa por não ter um lugar para o qual correr, por não precisar tomar banho a jato e sair voando para o cinema. Nessas horas eu sempre lembro do Martin Luther King citando naquele famoso discurso em Washington uma velha canção da época da escravidão. "Free at last, free at last, thank God Almighty, we are free at last".
Ainda estou muito cansada, mas subitamente posso me dar ao luxo de cochilar no meio do dia. E para quem estava dormindo cinco horas por noite ou menos, um cochilo na sua própria cama quentinha é mesmo um luxo. Ainda tenho dois dias de repescagem, mas aí toda a pressão já acabou. Toda a expectativa agora se volta para a Mostra de São Paulo. Vamos nos perder na Paulicéia com a benção do Deus Branco. Em breve, as fotos que tirei durante o Festival do Rio.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Tradição

Há algumas coisas que são tradicionais no Festival do Rio. Sempre sofro um problema técnico qualquer, sempre tem um dia em que chego atrasada no cinema (mas a sessão não atrasa), um filme que faço da noite para o dia e sempre tem uma hora em que vou parar no cinema errado por cansaço e distração. Outra coisa já tradicional é poder zoar dos novatos e chamá-los de carne fresca, tentar meter um pouco de medo. Se bem que, sem novatos, para quem vou contar minhas histórias de guerra de festival? Todo o resto do pessoal já ouviu minhas histórias vinte vezes. Ser veterana de festival tem suas desavantagens.
Vejamos, agora que o festival terminou, façamos uma avaliação. Tive vários problemas técnicos, não apenas um só como é de praxe. No Estação Gávea, distraída, fui entrando na Sala 1 em vez da Sala 2, que era a minha. No último dia do festival a cidade ficou super engarrafada e cheguei 20 minutos antes da sessão em vez dos 30 minutos obrigatórios. Meter medo nos novatos? Não, até que nem tanto. Parte do que protege os novatos é que eu não lembro da cara deles até deixarem de ser novatos. Mas consegui participar do tradicional último chope que promovemos para fechar a maratona. Voltei para casa às três da manhã apesar de só ter dormido quatro horas na noite anterior. E ainda consegui contar uma das minhas histórias mais velhas. Também fechei o festival no lucro já que, mais uma vez, quebrei o meu recorde de lançamentos. Todo ano tento lançar mais filmes do que no ano anterior. Isso significa mais dinheiro naturalmente, mas também uma certa satisfação boba que eu tenho. Há alguns anos, eu lançava 40 sessões, agora lanço 66. Ficou uma média de quatro, cinco sessões por dia, doze horas no cinema. Enquanto eu conseguir aguentar o ritmo, seguirei firme e forte tentando quebrar meu recorde com a ajuda do Deus Branco e muito Hunter.

Braçal

Sempre achei engraçado que chamassem a legendagem de eletrônica quando ela tem muito de braçal. Primeiro tem a tradução, que muitas vezes dá um trabalho danado. Depois de pronta, ela é carregada no computador, no programa próprio para o lançamento das legendas. Aí tem o sujeito que tem de sentar na sala de cinema, acompanhar o filme e lançar as legendas uma a uma sem descuidar da sincronia com as falas. Há quem pense que é só apertar um botão que solta tudo. Não, cada legenda é lançada individualmente, manualmente. Você precisa estar completamente ligado no filme, em cada fala, ou vai perder legendas. Não parece, mas isso é estupidamente cansativo. Para fazer o lançamento, você precisa estar num estado entre a tensão e o zen. Repita isso durante cinco sessões por dia, doze horas por dia, e você começa a entender porque está todo mundo morto no final da maratona de filmes.
Por isso, quando chega no final do festival, você vê essas figuras pálidas com olheiras bem fundas se arrastando para a sala de cinema. São os pobres coitados dos tacadores de legendas que precisam sobreviver a mais uma sessão, de preferência acordados, quando tudo o que querem é uma cama quentinha e um mês de sono.

Vocabulário

O Festival do Rio, ao longo dos anos, foi gerando seu próprio vocabulário. Wild Fingers, Deus Branco, Hunter, vinte centímetros, e, o mais recente, refishing. É tudo fruto da lista de e-mail que mantém a comunicação entre quem trabalha no festival. É um grupo enorme, com dúzias de pessoas, entre quem só traduz, só lança e quem traduz e lança. Deus Branco, por exemplo, surgiu de um erro de digitação. A tradutora queria dizer "deu branco", buscava uma solução para um problema de tradução. Resultado? Todos agora invocam a proteção do Deus Branco sobre nossas sessões.
O trabalho no festival pode ser muito estressante. Prazos curtos, exaustão, muito trabalho e pouco tempo. Sem esse senso de humor, a gente não sobrevive. Eu estou dando graças a Deus que hoje é o último dia. Agora só tem a repescagem, o refishing, e pronto. Depois vou passar um ano inteiro na contagem regressiva até o próximo. Vai entender. Mas o Deus Branco vai iluminar nosso caminho. Tenho dito.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Exaustão

Na reta final, você morre de sono apesar de ter dormido bem, enfrentar cinco sessões seguidas não é tão fácil quanto era no início do festival, sua paciência para discursos de diretores e produtores já saiu pela janela e você acorda sem saber direito qual o dia da semana. Você sente dores misteriosas que somem no dia seguinte. Um dia é o cotovelo que dói, no outro é o polegar da mão esquerda, suas pernas vão ficando mais pesadas durante o dia, você escorrega mais e mais na poltrona e quando vê, está quase deitada. É mais difícil achar uma posição confortável naquela poltrona estreita. Tudo que você consegue pensar é que na quinta termina tudo. Não é à toa que não quero entrar de novo num cinema até chegar a hora do próximo festival.

sábado, 3 de outubro de 2009

Sono

Segundo fim de semana do Festival. Parece que você não faz outra coisa há séculos. Você está praticamente morando no cinema, nasceu com um crachá e um pen drive pendurados no pescoço. Luz do dia? O que é isso? A vida virou uma sucessão de filmes. O micro começa a desligar sem motivo aparente cinco minutos antes da sessão. No dia anterior, o teclado começou a travar. Você arranca os cabelos. Trocam o teclado, o fim do mundo foi evitado. E você morre de sono porque não consegue dormir oito horas direto por causa da adrenalina e dos horários e o trabalho que precisa fazer em casa para cumprir outros compromissos. Quanto menor o número de legendas no filme pior fica, porque você precisa se manter acordado durante essas longas pausas. Aí você começa a balançar de um lado para o outro para se manter acordado (ficar em movimento ajuda) e parece autista para quem está olhando de fora. Quando tudo terminar, vou passar um dia inteiro dormindo. Juro.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fazendo a social

Tem um outro lado do Festival que eu adoro e que é poder me encontrar com outros lançadores entre sessões e trocar figurinhas. Esse filme é complicado, esse é mole, este é muito chato. Se você fica isolado em um cinema como o Odeon, você sente falta disso. Mas num cinema como o Estação Vivo Gávea, que tem várias salas, você está sempre esbarrando em alguém. Por outro lado, no Odeon, você tem o Ateliê Culinário e dá para aproveitar os buracos na sua programação para fazer uma refeição decente, pois, do contrário, você fica na base do sanduíche. Não há tempo de fazer mais nada quando você volta para casa. Ontem, por exemplo, almocei um excelente frango com shoyu e purê de batata. Muito gostoso. Recomendo a quem estiver passando pelo Odeon.