sábado, 31 de outubro de 2009

Eternidade

A Mostra já fez uma semana, mas parece que foi há dois séculos que você aterrissou na cidade. Cada dia é muito curto e eterno ao mesmo tempo. Você já se acostumou ao caminho que faz para voltar ao hotel toda noite, já sabe quais os pontos preferidos das damas da noite, começa a prestar atenção em como elas mudam de figurino dependendo das condições do tempo.
Dentro do cinema, uma sessão de duas horas pode ser interminável se o filme for muito chato. O popular desperdício de celulóide, como chamamos. Chega uma hora em que todos passam a comparar figurinhas. Você viu esse filme? Nossa, que horror. Ou então, fuja deste que é uma bomba. Todo ano tentamos escolher o pior filme do festival. É o popular abacaxi de ouro. Em geral, trata-se de alguma obra-prima da sétima arte que não tem pé nem cabeça, muito menos enredo, coerência, qualquer coisa dessas. E acredite, a quantidade de filmes completamente alucinados que já vi na vida é enorme por conta dos festivais da vida. Por isso, minha vinheta preferida do Festival do Rio é a de 2006, a do homem em chamas correndo pela Praia de Ipanema. Não fazia o menor sentido. Mas tinha tudo a ver com os filmes que a gente lança.
Quando você chega neste ponto, você começa a lembrar que tinha uma vida fora desta maratona, que tinha cachorro, uma casa, amigos outros além daqueles que, como você, andam sempre por aí com um crachá pendurado no pescoço, regidos pelo relógio e o esquema de lançamentos. Para combinar um almoço, todos sacam de suas respectivas programações, procuram sincronizar as sessões. Que maravilha a perspectiva de voltar a uma vida em que não há uma só coisa marcada para fazer, nenhum horário, nenhum compromisso fora o de fazer o trabalho chatinho de todo dia, poder rolar no chão do pátio com minha cadela e não ficar olhando para o relógio de cinco em cinco minutos.

Nenhum comentário: