segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Refishing

A repescagem é sempre uma coisa meio morna, que nem comida requentada do dia anterior. Você ainda está meio saturado daqueles filmes, mas já passou daquele ponto em que você não suporta mais ver nada na sua frente. É mais uma sensação de tédio. Been there, done that. Você até bota o crachá, leva o suprimento de Fanta, mas a adrenalina, a excitação acabou.
Há exceções, claro, como o ano em que decidiram fazer a repescagem no finado Paissandú e ocorreu um problema com a venda de ingressos antecipados. Ficou apenas uma bilheteria fazendo a venda de todos os ingressos e isso acabou gerando uma confusão enorme. A fila dava voltas no quarteirão. E eu via o público cada vez mais impaciente, mais indócil, mais irritado. Cheguei a pensar que eles invadiriam o cinema e que eu acabaria linchada junto com as moças da bomboniere. Eu imaginava direitinho o pessoal chegando com tochas, pedras, tipo "vamos matar o monstro de Frankenstein". Ia voar pipoca para todo lado. E a pobre tacadora de legendas, na flor da idade, ia pagar o pato por um problema de informática qualquer.
O tempo foi passando e nada daquilo se resolver, e o pessoal cada vez mais irritado. Eu ligava para a coordenação da legendagem, cada vez mais apavorada, quase que implorando que alguém mandasse o exército para me resgatar. Até que finalmente deram um jeito naquele maldito programa de vender ingressos e começaram a deixar as pessoas entrarem no cinema. Mas as sessões estavam tão atrasadas que foi preciso fazer as três primeiras sessões, as minhas naturalmente, corridas uma atrás da outra. Era o tempo de esvaziar a sala e deixar a próxima leva entrar. Eu descia correndo, comprava mais um refrigerante, fazia o xixi preventivo no banheiro da cabine (pois nessa época já tínhamos começado a fazer lançamentos dentro das cabines) e sentar a bunda na cadeira dura para mais uma sessão de 90, 100 minutos. No fim do dia, quando entreguei a cabine para a próxima lançadora, o horário já tinha se normalizado, mas eu estava completamente exausta, pois foram praticamente seis horas direto, com pausas de no máximo cinco minutos. Boa parte do meu corpo estava doendo. Depois dessa, nunca mais fizeram uma repescagem no Paissandú. E eu dei graças a Deus.

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