sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tarde no centro

Uma tarde no centro. Estou nos estágios finais de resolver um problema chato que pintou no início do ano, mas que se arrastou até agora por minha eterna falta de tempo. Achei que teria tudo liquidado hoje, mas terei de voltar para fechar tudo (tomara!) na terça. Mas tudo bem, eu passei nos correios para despachar uma correspondência importante, comprei duas camisas para substituir outras do meu guarda-roupa que tinham desmontado de tanto uso (como acontece com tudo que eu visto) e pude me dar um tempinho na Travessa da Sete de Setembro para escrever. E eu, que não fazia ideia o que escrever, depois de ler meu livro da vez por cinco minutos, acendeu a lâmpada em cima da minha cabeça e já tinha um caminho para seguir. A coisa continua amanhã, claro. E como vou me dar o domingo também, existe uma chance de eu terminar essa terceira versão no próximo fim de semana, quando vou digitar todas as alterações e cenas novas. E então, gaveta.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Clichês

O Michel Laub escreveu outro artigo sobre a arte de escrever que me agradou muito. Apareceu no blog da Companhia das Letras e agora também no blog dele. Confiram.

Das desvantagens de viver no futuro

Chuva torrencial ontem e o resultado: fico sem telefone e sem Velox. Minha sorte é ter um modem 3G (que comprei quando comecei a ir para a Mostra em São Paulo) ou eu estaria ilhada. Viver no futuro pode ser um saco quando a tecnologia para de funcionar. Falando com o técnico que veio ver meu telefone mudo, descobri que todas as linhas que passam pelo poste onde também passa a minha linha estão mudas com exceção de uma. Não sei quem é o felizardo, mas neste instante, eu o invejo bastante. Mas o pior é que o técnico não pôde resolver o problema. Vai ter de vir um outro sujeito para botar minha linha funcionando de novo. Vamos torcer para o cara vir logo. Não sou religiosa, mas nestas horas eu penso até em rezar.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Amor?

Meu trabalho às vezes me permite ver filmes antes do resto dos mortais. Eu fui a primeira pessoa a ver a maravilhosa Helen Mirren em The Queen, sentada sozinha numa sala do Estação Botafogo enquanto o filme era gravado em vídeo. Eu precisava ter uma fita para trabalhar na tradução do filme, pois ele iria estrear dentro de poucos dias no Festival do Rio. Outras vezes eu traduzo o roteiro do filme antes mesmo dele pensar em virar película. E outras vezes eu faço a versão dele para o inglês antes que ele apareça nos cinemas. Foi o caso com Amor?, o novo filme do João Jardim. Não é um filme fácil, muito pelo contrário, mas ao tratar da violência nas relações amorosas ele mexeu comigo de maneiras que é complicado exprimir. Em parte por causa da coincidência de eu estar escrevendo sobre algo semelhante e o filme me fazer entender certas coisas que eu não tinha captado antes. E em parte porque eu gosto de dar de cara com esses temas difíceis. Esses são temas literários, são temas que me interessam explorar.
Eu fiquei com o DVD original que recebi e tenho assistido o filme algumas vezes desde que entreguei minha versão. Não é algo que eu costume fazer. Muito poucos filmes que eu traduzo realmente mexem comigo. Esse mexeu. O trabalho dos atores realmente me impressiona, mas a história que eu gostei mais, a que me emocionou foi justamente a última, a da Julia Lemmertz. Vejam. Vale a pena.

domingo, 24 de abril de 2011

Cabeça vazia

Travessa às moscas e minha cabeça meio vazia. Hoje foi difícil achar o que eu queria dizer. Custou um pouco, mas enfim o texto encaixou. E quando encaixou, bastava ler mais uma ou duas frases do livro para desencadear mais um jorro de texto. Agora só faltam duas cenas para fechar esta fase do romance. Minha pergunta inevitável para as próximas duas semanas vai ser: o que mais há para ser dito, o que mais posso dizer desta personagem, o que é que eu ainda não sei sobre ela? Esta é minha dúvida eterna em tudo o que eu escrevo. E acho que nisso estão aparecendo os temas do romance, não só a perda, mas a dificuldade de fazer contato, a dificuldade de esquecer e perdoar. São essas coisas que me interessam, que me levam a escrever.

Depois da maratona, a recompensa

Depois de uma semana corrida em que tive de traduzir dois textos enormes para o inglês em tempo recorde, a recompensa. Uma tarde na Travessa e mais uma cena fechada. Quer dizer, tem uns probleminhas na cena e na sequência de eventos, mas isso é facilmente resolvido na hora de reescrever. Eu meio que forcei uma barra saindo para escrever já que eu dormi muito pouco na noite anterior, então sabia que não seria o dia mais produtivo do mundo. Eu estava precisando sair de casa, ver gente. O importante foi conseguir escrever uma cena que deu mais uma dimensão ao personagem e se encaixa perfeitamente com todo o resto do que já foi dito dele. Esse não é exatamente um processo consciente. Claro, eu sento e resolvo que os personagens vão ter um certo jeitão, mas o resto, o enchimento por assim dizer, só vem na hora de escrever. É uma coisa que vem daquelas rodinhas girando invisíveis dentro da minha cabeça e que cospem pra fora coisas que me surpreendem na hora em que aparecem, mas depois eu penso, "é, tem tudo a ver" ou então, "não, o personagem não faria isso". Mas as pecinhas estão sendo todas montadas em um lugar ao qual não tenho acesso. Eu meio que embatuquei na hora de tentar achar a próxima cena. Deve ter sido por causa do cansaço também. Vou me dar o domingo na livraria também. Estou precisando descansar. Dormi muito pouco na maratona desta semana. Traduzir quarenta mil palavras em seis dias não é bolinho.

domingo, 17 de abril de 2011

Programa de domingo

Programa de domingo. Acordar e ir ao mercado para comprar as verduras que não consegui comprar ontem no mercado em Ipanema. Este mercado é na Tijuca, é enorme, vende de tudo para a classe média que habita esta parte da cidade. É uma classe média bem diferente da que eu vejo todo fim de semana no Leblon e Ipanema. Aqui é mais fácil ver famílias inteiras. Na fila do caixa, atrás de mim, um menino estava deitado dentro do carrinho para enfrentar a longa espera. Numa fila próxima, uma senhora sentada numa cadeira de rodas segurava vários produtos no colo, sua expressão um tanto ausente e cansada. Ela é escoltada por uma mulher com uma expressão igualmente cansada. Este é um supermercado onde você pode comprar itens para aparelhar toda a sua vida, de fraldas a pneus de carro, roupas, eletrodomésticos, o pão nosso de cada dia e a pizza congelada para aquele dia em que você não está com saco para cozinhar, inúmeros sabores de sorvete para desafiar quem está tentando valentemente manter a dieta, carnes, peixes, verduras, azeites, pastas. E, claro, dado que a Páscoa será daqui a uma semana, milhares de ovos de chocolate em todo tipo de tamanho e preço. Também vim aqui em busca de um ferro novo. Meu ferro antigo resolveu pifar misteriosamente na sexta, me deixando sem roupas passada. Claro que tudo quebra comigo quando estou tentando economizar dinheiro. Mas fazer o quê? Não posso ficar andando por aí toda amassada.
Compras feitas e pagas, após meia hora na fila, eu volto para casa, mas até que podia aproveitar para encher a cara no Devassa que fica do outro lado da rua. Por que não? É domingo.

sábado, 16 de abril de 2011

Críticas

Já tive um texto meu criticado porque os personagens não seriam diferentes o suficiente, imperfeitos o suficiente. Não posso dizer que concordei completamente com essa crítica, mas tudo bem. A experiência me ensinou que é preciso ouvir tudo o que é dito. Especialmente de pessoas que te criticam com a melhor das intenções. E aquela velha história realmente é verdadeira: você só aprende quando dá de cara na parede e precisa descobrir como desgrudar seu nariz e achar outra direção. Uma das melhores críticas que eu recebi basicamente arrasou com dois terços do meu primeiro romance. Me senti deprimida por uma semana, mas em seguida joguei fora o trecho que foi criticado e comecei de novo. Em seguida recebi outra grande crítica a todo um terço do romance e tive de reescrever esse terço também. Foi desanimador, claro, eu já estava trabalhando no romance há tantos anos que tudo o que eu queria era botar um ponto final, mas eu entendi que todas as mudanças sugeridas eram absolutamente necessárias. O resultado, pelo menos na minha modesta opinião, foi um dos melhores textos que eu já escrevi. Por essas e outras não tenho ilusões que o romance que estou escrevendo agora vá exigir muita revisão. Faz parte.
Ao mesmo tempo, lembrando daquela primeira crítica, tenho tentado tornar esses personagens tão imperfeitos quanto possível, menos certinhos, mais contraditórios. Eu até brinquei com uma amiga que as mulheres do romance são umas chatas. Mas eles estão chegando num ponto em que conseguem me surpreender. Hoje eu comecei uma cena que eu imaginei ser de uma personagem e de repente tinha virado uma cena do irmão da personagem. É uma pena que não pude fechar a cena, mas é até melhor assim. Esse início de cena vai ficar rodando na minha cabeça até o sábado que vem, uma das melhores maneiras de trabalhar nela.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O dia do queijo quente

Hoje, eu descobri no blog de comida da CNN, que é o dia nacional do queijo quente nos EUA. Eu adoro queijo quente, é uma das coisas que gosto de fazer quando quero um lanche no meio do dia quando o trabalho não está rendendo ou está super chato. Daqui a pouco eu vou levantar e preparar o meu jantar. E gosto da ideia de que exista um dia para comemorar algo tão simples quanto um queijo quente. Especialmente porque a comida é um dos meus grandes prazeres na vida. Outro é ver documentários da BBC. Só mesmo na Inglaterra para haver tantos documentários sobre tantos assuntos diferentes. Já vi documentários sobre os normandos, pintura vitoriana, a evolução da família e do trabalho no século 20, e até um que estou vendo agora sobre os motivos da civilização ocidental ter superado outras cilvilizações. Os meus preferidos são aqueles sobre a história da Inglaterra. Afinal, o país é ocupado há pelo menos 500 mil anos, já viu invasões e uma sucessão de povos diferentes. Homens pré-históricos, celtas, romanos, normandos, saxões, o caramba a quatro. Há inclusive um programa de arqueologia chamado Time Team (e que já dura 18 temporadas!!!) em que uma equipe de arqueólogos escava diferentes sítios por toda a Inglaterra durante um período de 3 dias e vê o que encontra. A equipe é ótima e esbanja aquele tradicional humor inglês. Eu adoro. Eu adoro arqueologia. Adoro a ideia de criar uma narrativa sobre um lugar ou um povo com base nos indícios que foram deixados para trás. Do jeito que vai a coisa, daqui a pouco eu vou estar mais entendida em história inglesa do que a americana (que eu de fato estudei no colégio americano) ou a brasileira (que eu quase não estudei). E vou estar me metendo em buracos na terra, catando cacos de cerâmica e moedas antigas. Pena que não me ocorreu estudar arqueologia quando eu ia entrar pra faculdade. Aí talvez eu agora estivesse metida em um buraco, cavando.

domingo, 10 de abril de 2011

Cara na janela

A caminho de casa esta noite, abaixei a janela do táxi e recebi o vento frio no rosto, uma delícia. Não é algo que eu costume fazer muito já que meu cabelo fica arrepiado ao menor pretexto, mas como já era o fim do meu dia, por que não? Eu entendi mais uma vez por que os cachorros adoram botar a cara na janela. Para mim só faltou botar a língua para fora. Afinal, tenho motivos para comemorar. Fechei a segunda leitura do romance e escrevi mais uma cena. Mais uma etapa terminada. Falta escrever as cinco novas cenas necessárias para igualar o número de cenas entre os personagens. Imagino que isso vá levar mais um mês. E depois tudo vai para a gaveta para me dar alguma distância do que eu escrevi. É o debruçar-se sobre as filigranas que me interessa. O mais difícil é tentar manter a paciência. Estou doida para botar um ponto final no texto e despachá-lo para quem vai lê-lo e me dar uma opinião. E estou ansiosa para meter a mão no próximo romance e começar a botá-lo de pé enquanto o outro descansa na gaveta. Eu não posso parar. Nunca devo parar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Por que escrever?

Michel Laub, o autor de Diário da Queda (que eu estou doida pra ler), está publicando textos no blog da Companhia das Letras. E semana passada ele publicou esse texto ótimo sobre porque os escritor escreve. O texto pode ser encontrado aqui.

domingo, 3 de abril de 2011

Lembrar por lembrar

Um fim de semana inteiro na Travessa. Que delícia. Acabei escrevendo mais do que revisando, fechando uma cena e iniciando outra. Tem de ser assim, ainda preciso escrever cinco cenas para os outros personagens para igualar o número de cenas entre todos eles. Eu tenho uma noção do que escrever para todos menos o primeiro personagem. É difícil, inclusive, saber onde encaixar duas novas cenas já que esse primeiro pedaço está com praticamente todo o seu tempo cronológico mapeado. Terão de ser, portanto, dois flashbacks. A eterna questão é: flashback sobre o quê? Não pode ser algo gratuito, lembrar só por lembrar. Tenho de achar aquilo que não explorei ainda no personagem. Gostaria que fosse algo surpreendente. Se vou conseguir ou não é outra história. Vou ver.