segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Resfriado

Resfriada. Péssima. Que hora para ficar doente.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Auf wiedershen, farewell

Hoje passou "A Noviça Rebelde" de novo. Pena que eu peguei o filme no finalzinho. Mas eu me lembrei de novo da véspera de uma viagem que fiz a Chicago. Estava com uns amigos em Copacabana e quando chegou a hora de eu ir embora para fechar a mala e fazer os últimos preparativos da viagem, o pessoal resolveu cantar a música de despedida para mim, completa com coreografia. Desci até a rua para pegar um táxi de volta para casa e quando olhei para cima, meus amigos estavam na varanda, ainda cantando para mim. Já faz quase vinte anos, mas nunca me esqueci dessa despedida.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Manhã de Natal

Manhã de Natal. É aquele dia vazio em que você não sabe direito o que fazer. O chato é não ter para onde ir já que está tudo fechado. E, pior de tudo, é meu sábado sagrado e a Travessa está fechada. Vou ter de esperar até amanhã para ir lá escrever. Assim fico em casa, tentando inventar algo pra fazer. Acho que vou aproveitar para ler o livro novo que recebi da Cultura esta semana. É difícil eu ter uma chance de ler por horas e horas. E, claro, vou tentar botar meu sono em dia pois passei quase duas noites em claro às voltas com problemas de água aqui em casa. Estou virando uma especialista em bombas e cisternas e caixas d'água. Aliás, está me dando um tremendo sono de novo e vou voltar para a cama. Zzzzzzzzz.

Estar em casa

Enquanto eu falava com uma amiga minha que mora fora do Brasil ao telefone, ficava mudando de canal e dei de cara com uma reprise de "A Noviça Rebelde". Esse é um filme que me acompanhou durante toda a vida. De certo modo, ele era quase que uma representação de uma identidade austríaca que eu por um tempo tentei reclamar (o que fazia algum sentido já que eu nasci em Viena, Áustria), mas que acabou ficando de lado depois que fui morar em Nova York e acabei por me identificar de vez com aquela cultura. Eu voltei aos Estados Unidos pela primeira vez desde que parti de Nova York em 1977 no início dos anos 90 e tive a nítida sensação de estar voltando para casa. Essa é uma sensação que nunca tive voltando ao Brasil das viagens que fiz nos anos 80 para visitar meu pai em seus vários postos diplomáticos. Tendo feito todo o meu primeiro grau em escolas americanas, essa é uma cultura que eu entendo, reconheço. Às vezes até melhor que a brasileira. Acho que essa sensação de ser meio estrangeira sempre me será útil quando eu escrever.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Das vantagens de ser The Flash

Normalmente não sou uma pessoa saudosista. Não vejo o passado como uma época dourada, maravilhosa. Ainda mais, porque, em muitos sentidos, não foi. Tive muitos altos e baixos. Mas eu sinto falta da época em que eu podia passar horas sentada na minha cama na casa da minha mãe e escrever, escrever, escrever. Eu tinha uma ideia atrás da outra e escrevia um conto atrás do outro. Nada que preste, infelizmente, ou eu já teria um livro de contos, mas as ideias pareciam brotar, uma atrás da outra. A mesma coisa acontece agora, tenho uma ideia atrás da outra, mas como o que escrevo agora são romances e só romances, que demoram um certo tempo para serem escritos, eu inevitavelmente tenho de ficar segurando as ideias que pipocam dentro da minha cabeça até ter tempo para botar todas elas no papel. Daí meu sonho de consumo agora é poder ter tempo, poder escrever todo dia, o tempo todo, poder fechar textos em muito menos tempo, quem sabe até publicá-los. Quando o Cristovão Tezza disse numa entrevista que escreveu o último livro dele em dois anos, morri de inveja. O romance atual já está no segundo ano e prevejo que vou levar mais um ano para fechar a coisa toda. Isso se as pessoas pra quem eu mostrar o texto não me disserem que preciso mudar meio romance e aí isso provavelmente vai exigir mais meio ano de trabalho. Então meu segundo desejo de consumo é virar The Flash, assim posso trabalhar muito mais rápido e escrever romances em três dias em vez de três anos. Talvez numa outra vida.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Distrações, livros, férias

Eu quero férias. Volta e meia é isso o que eu sinto. Preciso descansar. Preciso botar o sono em dia. Preciso passar um dia sem ter de pensar em prazos, pagamentos, dinheiro que preciso cobrar. Quero uns dias para não pensar em nada, me preocupar com nada. Recebi hoje um livro que está numa dessas listas de melhores do ano. Eu gosto dessas listas. É com elas que eu abasteço minha lista pessoal de livros que quero comprar. É um bloquinho que carrego comigo e nele eu anoto os livros que me interessam por causa de uma resenha, algo que li em algum blog, a recomendação de um amigo. Me dá vontade de fazer uma coisa que não faço em séculos, que é deitar e ler um livro por horas, deitada na cama. Eu fazia isso no século passado, há uma eternidade, quando tinha tempo. Eu trabalhava numa empresa e voltava para casa e sentava na cama para ler. Tenho cartas dessa época que mostram que eu praticamente não via TV. Meu único acompanhamento era a música que eu tocava no meu aparelho de som. Teve uma época em que eu tinha esse rádio gravador e eu montava fitas cassete com as músicas que eu gravava na rádio. Tempos depois, quando fiz 18 anos e passei no vestibular, meu pai quis me dar um carro. Minha mãe foi contra e eu acabei ganhando um aparelho de som. (Meu pai devia ficar muito frustrado comigo às vezes. Ele queria me dar presentes grandiosos e eu sempre queria alguma coisa mais modesta.) E carreguei esse aparelho de som comigo por muito tempo até ele pifar, coitado, lá pela minha segunda ou terceira mudança. E meus vinis sumiram mais ou menos na mesma época. Eu também passava horas sentada na minha cama, um caderno no colo, escrevendo. Continuo precisando de música para escrever, só não consigo fazer isso em casa. Antigamente a grande distração era a TV. Agora há muita mais coisas competindo pela minha atenção, inclusive a infeliz tendência do clube aqui ao lado promover bailes ruidosos durante a tarde. Por isso eu agora fujo para a segurança da Travessa. E, com alguma sorte, poderei passar algumas tardes lá na semana que vem. Até lá.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Verão, bah, humbug

O verão está aí. Odeio o verão. Também odeio aquelas pessoas que adoram o verão. Quem é que pode gostar desse calor insuportável, de passar o dia suando, desconfortável? Deus me livre. De agora em diante, só vou me sentir feliz quando fizer frio, quando começar o outono de vez. Eu realmente não fui feita para esse clima. Ninguém quer me mandar para a Europa, não?

domingo, 19 de dezembro de 2010

Cachorro na janela

Ontem, voltando para casa, eu parecia aqueles cachorros que botam a cabeça pra fora da janela para curtir o vento. O táxi que eu peguei estava com o ar condicionado quebrado e esse era o jeito de não morrer de calor entre o supermercado e a minha humilde casa, meter a cara na janela. Se eu pudesse meter a cabeça para fora sem medo de ser decapitada, eu teria feito isso. Acho que só faltou a língua para fora.
Foi o fim de um dia não muito produtivo, mas é porque eu estava com muito sono. Dormi pouco, acordei cedo e, por conta de uns problemas com a água aqui em casa na manhã de sábado, acabei tomando banho cedo e indo para a livraria em vez de dormir mais um pouco e ir mais descansada para a Travessa. Daí, no meio da tarde, eu estava caindo pelas tabelas e dormindo sentada na minha mesa. Mas deu para fechar o primeiro caderno e começar a digitar o segundo, mexendo em algumas coisas, alterando alguns detalhes. Estou torcendo que eu possa avançar bastante agora com esses feriados de fim de ano embora os deuses conspirem contra mim e o Natal e o Ano Novo caiam exatamente no sábado, significando que a Travessa vai estar fechada. Mas terei os domingos e as vésperas dos feriados e vou tentar fazer o que puder nos sábados apesar de inevitavelmente ser distraída por tudo o que tem aqui em casa, cachorro, Internet, TV, etc. Mas vamos fazer um esforço.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Preencher os vazios

Assistindo um documentário apresentado pela Mary Beard, uma tremenda historiadora inglesa, sobre a vida dos romanos em Pompeia, eu reparei que a arqueologia tem muito a ver com preencher os vazios. A partir da descoberta de esqueletos em um porão, os restos de pessoas que eram claramente ricas e pobres, ela começa a examinar algumas das ideias mais comuns que se tem sobre Pompeia e a sociedade romana. E enquanto ela discutia a ideia que as pessoas têm de que Pompeia está cheia de bordéis, me ocorreu que o que o arqueólogo faz (e só Deus sabe porque isso não me ocorreu antes) é tentar criar uma história para preencher o vazio que ficou depois do desaparecimento daquela sociedade. Imagino que muitas das nossas narrativas comecem assim, nessa tentativa de preencher os vazios. Acho que as pessoas suportam mal a ausência de respostas, sentem a necessidade de criar algo que fique no lugar daquilo que não se pode saber até o fim. Essa é uma das coisas que me fascinam no escrever, essa necessidade de criar uma narrativa. De certo modo, acho que é por isso que eu escrevo. E é por isso que os vazios são mais interessantes.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

É feira

Eu não sou uma pessoa que algum dia teve muito a ver com a cultura popular do Brasil. Tendo passado toda a infância e parte da adolescência não só fora do Brasil quanto estudando em colégios americanos pelo mundo afora, conheço muito mais o universo americano. Nunca fui muito de festa junina ou pagode. Nos meus primeiros anos no país, eu achava estranho essa história de todo mundo dar dois beijinhos. E minha mãe nunca foi de frequentar feira de rua. O lance dela sempre foi supermercado. E eu junto, empurrando o carrinho, tentando descolar um sorvete. Acho que a primeira vez em que eu realmente fui a uma feira foi no final do ano passado com minha companheira de aventuras culinárias Claudia, procurando ingredientes para uma ceia asiática de Ano Novo. A segunda vez foi ontem, domingo, quando fui buscar o Junior no estaleiro. Do lado da casa do meu santo técnico (que eu recomendo pra todo mundo), tinha uma feira rolando e já que eu precisava de pimenta dedo de moça para o prato que estou fazendo para meu jantar hoje, decidi que era hora de explorar a feira sozinha. Achei legal apesar do calor esturricante porque dessa vez eu pude ver a feira com um olhar de quem já faz comida sozinha há praticamente um ano. Eu via ingredientes, possibilidades de pratos quando antes só me preocupava o aspecto insalubre dos peixes naqueles caminhões enormes. Os peixes ainda me parecem insalubres, mas gostei muito de todas as verduras e legumes, de ver tudo ali tão fresco. Até comi um pastel com Coca antes de partir. Não sei se vou passar a frequentar feiras. Tem uma aqui perto de casa aos sábados. Mas eu tenho uma certa preguiça de andar na rua nesse calor infernal que anda fazendo. Mas foi com certeza outra visão.
Enquanto isso, eu me alegro com a volta para casa do Junior. Não sei mais viver sem meu laptop.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Ideias aos montes

Longo dia na Travessa. Consegui fechar as duas cenas finais do romance. Melhor dizendo, não fechei, eu escrevi as cenas que estavam na minha cabeça e que só agora eu consegui botar no papel. Eu tinha pensado em começar o monólogo da segunda parte, mas desconfio que isso só vai dar para começar quando eu tiver fechado a trajetória da personagem. Mas eu já determinei qual o tom que quero para esse diálogo. Em compensação, eu escrevi um possível começo para meu próximo projeto de romance, uma história que se passa em 1989 e em 2009. E um documentário que lancei este ano durante o Festival do Rio me deu o título para um outro projeto completamente diferente que pode nem ser um romance. O único problema de ter tanta coisa me passando pela cabeça é que fica praticamente impossível chegar em casa, cair na cama e dormir. Daí é madrugada e ainda estou completamente acesa. Fazer o quê.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Estaleiro

Esta não foi a melhor semana que já tive. Meu laptop querido foi para o estaleiro para o conserto e ainda não voltou. Estou trabalhando numa máquina de reserva que não tem todos os programas de que preciso. Ter problemas no equipamento que garante o seu sustento é sempre algo que me deixa nervosa, quase histérica. Mas torço que até segunda tudo esteja resolvido. O chato nisso é que não posso levar o laptop para digitar o texto na livraria, o que estava sendo um grande adianto, mas eu tenho coisas novas para escrever, então não preciso ficar presa em casa. Posso até tentar escrever o grande monólogo da segunda parte. Acho, inclusive, que já tenho um ponto de partida para ele. E gostaria de tentar explorar uma linguagem mais coloquial para este monólogo, o que vai ser uma boa maneira de diferenciá-lo do resto do texto.No final do dia de hoje terei uma ideia melhor.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quilos de trabalho

Trabalho, quilos de trabalho. Normalmente, nesta época do ano, o trabalho some e eu começo a ficar ansiosa, de onde vou tirar dinheiro, etc. Mas agora é difícil arrumar uma folga, um dia para não fazer nada. Só os meus sábados sagrados, agora ocupados com a digitação do texto dos cadernos. Estou quase terminando o primeiro caderno. Às vezes desanima ver tudo o quanto ainda preciso digitar, mas é um exercício muito útil. Este último fim de semana deu para ver que algumas cenas não funcionam. Mas como é um pedaço que vai ter de ser todo reescrito, não chega a ser um horror. O complicado vai ser escrever esse monólogo. Já vi que vou ter de mapear o que dizer nesse monólogo, algo que eu nunca faço. Veremos no que vai dar.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Melhores do ano

No blog da Companhia das Letras, os funcionários da casa fizeram indicações dos melhores livros do ano. E o livro de Elvira Vigna, Nada a Dizer, foi um dos indicados. E sinceramente não é à toa. Esse realmente é um dos melhores livros que li não só neste ano, mas em algum tempo. Elvira é uma escritora pouco conhecida, infelizmente, mas merecia que as pessoas conhecessem melhor o seu trabalho. O link para o blog da Companhia das Letras é este.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bater perna

Se estou meio de saco cheio de ter trinta coisas para fazer e todas ao mesmo tempo, basta olhar para o Wilson e eu me animo. Ele sempre está feliz da vida. E quando eu o levo na rua, nossa, ele fica no céu. Imagino que se ele fosse gente, seria daquelas pessoas que adora bater perna na rua, passar no bar para tomar um chopinho com os amigos, rodar no shopping ou andar na praia num dia de sol. Ele seria super bronzeado, aquele cara que conhece todo mundo, boa praça. Acho que ele passaria o dia todo na rua se pudesse. O que eu mais gosto nos cachorros é essa alegria incontida, essa lealdade interminável deles e também o ciúmes, a disputa por atenção. Cachorro realmente é tudo de bom.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

In their own words

A BBC fez um documentário maravilhoso em três partes sobre a evolução da literatura inglesa usando entrevistas dos seus arquivos de rádio e TV que vão desde Virginia Woolf, no único registro de sua voz, a escritores mais recentes como Salman Rushdie e Ian McEwan. E para acompanhar o documentário, eles reservaram uma parte do site da BBC para vídeos com entrevistas com vários dos escritores que aparecem no documentário. Tem clipes de 6 minutos a 39 minutos. Para quem gosta de literatura é um prato cheio.

Lembrança de São Paulo

domingo, 14 de novembro de 2010

Home again

Apesar da loucura que foi São Paulo, eu sempre consegui achar um momento ou dois para ler e escrever. Esse momento era o das refeições. Geralmente, uma só, ou seja, o jantar. Como era complicado combinar a hora de comer com os outros, acabei passando as duas semanas jantando quase sempre sozinha. Mas, nesse caso, acabava sendo uma solidão meio necessária. Era uma das poucas horas em que eu conseguia relaxar. O resto do tempo foi de trabalho, trabalho, trabalho. Mas ontem pude voltar para a Travessa ontem pela primeira vez que voltei de São Paulo e foi o céu. A livraria estava cheia por causa do tempo chuvoso e eu me senti em casa na hora. Estava precisando dessa folga, de voltar ao contato com meu texto. Hoje vou voltar lá de novo. E torço que o dia seja bem produtivo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

De volta no meu canto

É meio estranho estar de volta ao Rio nos primeiros dias após as duas semanas de São Paulo. Você instantaneamente perde aquela sensação de urbanidade intensa que te cerca na Pauliceia. Saindo do Galeão, você automaticamente dá de cara com a Baía de Guanabara e vê as montanhas à distância, algo que é impensável em Sampa. E no que se coloca o pé em casa, parece que você nunca partiu, as duas semanas da viagem imediatamente se convertem numa espécie de sonho. O mais chato é que quando você acha que vai relaxar, ainda precisa enfrentar as sobras de coisas começadas em São Paulo. Não é agora que você vai descansar. Felizmente, eu consegui que este fim de semana fosse vazio e por isso vou poder passar três dias na Travessa. Um descanso afinal.

sábado, 6 de novembro de 2010

Encontro fortuito


Último dia em São Paulo, vou comer torta de musse de chocolate na Livraria Cultura. Esse virou meu ritual de despedida da cidade. E olha quem encontro no café? Elvira Vigna, super escritora, fazendo um lanchinho também. Conversamos e nos despedimos. Foi uma ótima maneira de passar minhas últimas horas na cidade. Até o ano que vem.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Embarcar

Malas quase prontas. Últimos detalhes. Vou passar na Cultura para comer a já tradicional torta de musse de despedida de São Paulo. Depois fecho tudo e me mando para o aeroporto. A noite foi passada praticamente em claro, então imagino que eu vá desmontar no avião. Melhor assim. A espera é menor. Estou doida para chegar em casa.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dicas

Volta e meia, as pessoas vêm me perguntar como posso lançar um filme numa língua exótica sem qualquer tipo de legenda na cópia. Quem senta perto de quem lança sabe que a tela de lançamento é dividida em dois lados. No lado esquerdo temos as legendas e no direito as dicas indicando o que lançar e quando. O negócio é que essas dicas podem ser, digamos, interessantes. Normalmente, você lê coisas como: ignorar vozerio, abre a porta, mulher de verde fala, depois de pular no rio, e por aí vai. São deixas visuais que te orientam para você saber que está lançando a legenda certa na hora certa. Mas a coisa fica legal mesmo quando o pessoal resolve brincar. Por exemplo, num filme de suspense, numa hora bem tensa, a dica era "quer saber o que acontece agora?". Mais umas linhas abaixo tinha a continuação, "eu não vou contar!". Tradutor safado!
Outra dica particulamente memorável foi uma que dizia "cuidado, homem feio nu". Fiquei esperando o personagem tirar a roupa e quando chegou a hora, constatei que o sujeito era super peludo e realmente era possível uma pessoa ser muito mais feia pelada do que com roupa. Acredite, não é algo que se queira ver. Muito menos repetir a dose.
Mas minha dica preferida em todos esses anos continua sendo "séquiço". Olhei para essa palavra na coluna de dicas e fiquei coçando a cabeça. O que seria séquiço? Volta e meia, alguém faz uma referência cultural numa dica que eu não reconheço, então não fiquei muito preocupada. Da primeira vez que escreveram "pancadão" na coluna de dicas, eu fiquei esperando uma tremenda porrada, uma briga. Depois caiu a ficha que era um tipo de música quando a personagem do filme ligou um rádio gravador. Igualmente, quando escreveram "Caio Blat" na dica, eu, que não costumo assistir a TV aberta, fiquei esperando para ver quem era Caio Blat. Então fiquei esperando para ver o que seria o tal "séquiço". Quando começou a cena de transa, tive uma epifania. Séquiço na verdade era sexo. Comecei a rir sozinha e vi que recebi alguns olhares estranhos dos espectadores. Agora, toda vez que tem uma cena de sexo nos filmes que traduzo, não penso suas vezes. Escrevo "séquiço".

Monstras e gorilas

Último dia completo em São Paulo. Amanhã, viagem. Farei minha última passada pela Liberdade para comprar umas coisas. Eu queria comprar um outro wok, mas a não ser que ele venha numa caixa que eu possa despachar como bagagem, não vai dar certo já que minha mala vai voltar lotada de livros. Ter muitas sessões no Cinema Livraria Cultura pode não ser necessariamente uma coisa boa. Não deu para ir no Mercado Municipal, como eu queria, vai ter de ficar para a próxima. Em compensação, me entupi de temaki de enguia na Temakeria, descobri o Vanilla Café como um bom lugar para trabalhar já que fica aberto até bem tarde e tem muitas tomadas, fui no Izakaya Issa para comer uns gyouzas divinos, pude visitar uma amiga minha duas vezes, me senti um pouco menos turista nesta terra em que a urbanidade não tem fim e, pelo visto, vou a um karaokê esta noite pela primeira vez na vida. Já vou garantindo que não vou cantar. Sou absolutamente desafinada e não vou pagar um gorila tão grande assim. Este não foi a Monstra da esbórnia com um chope por noite, nem foi a Monstra da trabalheira insana como no ano passado em que praticamente só lancei filmes, comi e trabalhei no quarto de hotel, e praticamente não vi nada da cidade. Quem sabe, no ano que vem, eu possa passear um pouco mais e ir a mais uns chopes. Tive alguns probleminhas técnicos, mas nada como o que aconteceu no Rio em que todo dia alguma coisa dava errado. Minha vontade é de tirar uma semana de folga depois dessas duas maratonas, mas sei que não vai dar. Já recebi e-mails me oferecendo trabalho esta semana. E tenho um filme para fazer para um pequeno festival assim que chegar no Rio. Então, lá vamos nós, voltar à rotina.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Doida para viajar

Já cheguei no ponto em que estou de saco cheio do quarto do hotel, de não ter minha cama, minhas coisas, meus lugares de sempre, o pátio onde posso rolar pelo chão com meus cães, minha comida tailandesa. Quero poder ver meus amigos de novo. Ir ao chope com o pessoal daqui é ótimo, mas estou meio cansada de ver filmes que não gosto, de passar metade do dia em um cinema escuro. Quero embarcar logo naquele avião e dar o fora daqui. Agora são as últimas compras, a última chance de voltar na Temakeria, a última ida na Liberdade. Sexta-feira, Rio.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quatro dias

Só mais quatro dias de Monstra. Minha impressão é que eu moro em São Paulo há meses. Já consigo andar distâncias razoáveis num passo que lembra bastante meu passo normal do Rio. Mais um mês e eu provavelmente estaria dando conta melhor dessas ladeiras. Mas na base do devagar e sempre, eu ando para qualquer lugar aqui nas redondezas. Eu queria ir no Mercado Municipal, mas acho que vai ter de ficar para a próxima. Estou ansiosa para voltar para meus cães, minha vidinha no Rio, poder passar o sábado que vem na Travessa, escrevendo. Tenho conseguido escrever um pouco aqui, no geral antes das refeições, que têm sido uma das poucas horas que tive para mim e tenho escrito coisas interessantes. Agora é a contagem regressiva para voltar ao Rio e a volta em definitivo ao romance.

domingo, 31 de outubro de 2010

Seriedade em excesso

Às vezes, eu acho que poderia morar aqui. A arquitetura da cidade é interessante, tem trinta mil restaurantes (eu morro pela boca, né, gente?), muitos lugares para visitar. Mas eu fico esbarrando nessa coisa meio travada que tem aqui e desanimo um pouco. Parece que não há lugar para a informalidade, para a brincadeira. Todo mundo que me conhece sabe que não dá para me levar muito a sério, estou sempre brincando, fazendo piadas. Aqui o pessoal me leva a sério e isso é meio cansativo. Relaxa, gente, pelo amor de Deus, a vida não é para ser levada a sério. Você quer fotografa nos lugares e não pode. Que mal faz fotografar dentro da livraria ou do cinema. Só estou registrando o evento para mim mesma. E se eu fosse espiã, não estaria andando por aí com uma câmera tão grande. No Rio, eu fotografo aonde quero e ninguém me enche a paciência. Não acho lugares aqui que tenham a informalidade da Travessa. O mais perto que cheguei foi o Vanilla Café na Antonio Carlos onde ando fazendo ponto para trabalhar porque trabalhar no quarto de hotel é meio incômodo. Não tem mesa e eu acabo dormindo se trabalho na cama. Não, para escrever, eu preciso de um lugar como a Travessa, que não liga para o fato de eu me apossar de uma mesa por seis horas e só consumir quatro, cinco Cocas, uma ocasional porção de batata frita. Preciso de um lugar relaxado e anti-cricri. Acho que não vou achar isso aqui.

sábado, 30 de outubro de 2010

Amizade

Ontem passei uma noite agradável com uma amiga que mora aqui em São Paulo. Nós nos conhecemos no Rio, mas há alguns anos ela se mudou para a Pauliceia, o que eu pessoalmente lamento já que estamos mais próximas agora do que quando morávamos na mesma cidade. Ela até me hospedou aqui em Sampa durante um pedaço da Monstra e foi uma ótima experiência. Foi muito legal. Ela preparou um lanche para a gente, sentamos em volta da mesa, conversando, contei algumas das minhas histórias de festival. Lamentei muito quando nossa noite terminou porque eu teria alegremente passado mais algumas horas na sua companhia. Agora quero retribuir a gentileza e levá-la a um restaurante no Rio da próxima vez que ela for para aquelas bandas. Torço que a gente possa se ver ainda mais uma vez antes que eu volte para casa. De todo modo, a viagem já valeu pelos nossos dois encontros aqui. E, se eu voltar ano que vem, podemos nos reencontrar de novo.

Simpática

Uma moça hoje veio me perguntar antes da sessão se havia almofadas no cinema para ajudá-la a sentar mais alto na cadeira. Ela foi tão gentil e simpática que me deu pena ter de dizer que eu não trabalhava para o cinema, só para a legendagem e por isso não tinha essa informação.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

All we need is love?

Praticamente na frente do meu hotel tem um outro hotel, um pouco mais modesto, chamado Luver Hotel. Ele anuncia o preço de sua diária na porta. Mas eu desconfio que as pessoas não passem tanto tempo assim nele. Em frente ao Luver Hotel, uma igreja. As pessoas precisam de amor de todo tipo, não é?

Quem diria, acabei na Liberdade

Liberdade. Esse lugar já me pareceu mais com um país estrangeiro. No meu primeiro ano de Monstra, passei uns dois dias maravilhada com o que vi aqui. Aquelas lojas cheias de artigos que não sabia o que eram, escritas em japonês ou chinês ou tailandês. Você anda por uma loja e uma das vendedoras está atracada com um celular, falando em chinês, e é uma maravilha você não conseguir entender uma só palavra. Nada te dá mais a sensação de estar longe daquilo que se conhece do que se ver cercado por uma língua estrangeira. Mas agora que estou tendo aulas de culinária asiática e fazendo compras pelo menos uma vez por mês em mercados de produtos orientais, parte do mistério sumiu. Eu sei o que são aqueles produtos, reconheço o maço de bok choi, admiro os lindos maços de cebolinha nas mercearias. Almocei no mesmo restaurante tradicional onde fui há dois anos. Desta vez a clientela estava mais ocidental (na época eu era a única mulher caucasiana, fora as duas garçonetes, em um mar de executivos de descendência japonesa), mas a comida continua farta e gostosa. Ainda quero voltar um dia para comprar um novo wok para mim, um com tampa. Não consegui me decidir, mas achei alguns ingredientes que não consigo achar no Rio e comprei uma certa quantidade para levar de volta comigo. Desconfio que terei de comprar uma caixa e despachar algumas coisas como bagagem em vez de tentar atochar tudo na mala como fiz ano passado. Quase arrebentei o fecho. Não vou repetir o feito. Finalmente comecei a tirar fotos da cidade e pretendo continuar nesta última semana da Monstra. Meu olho fotográfico está começando a encaixar. Estou fazendo umas experiências interessantes que pretendo continuar amanhã, sábado. Quero andar um pouco pela Paulista. Fico sempre para fazer isso, mas nunca consigo, e sempre que quero, está um calor absurdo. Mas como estão prevendo um fim de semana de chuva, lá vou eu.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pílulas de São Paulo

Pela primeira vez na vida vi um curta sumir. Minha sessão seria composta de um curta e um longa metragem. Fico com o arquivo do curta no ponto para lançar e... cadê o curta? Passam direto para o longa. Achei estranho, mas já vi acontecer algumas vezes. Invertem a ordem natural de curta+longa. Carrego correndo as legendas do longa e seguimos em frente. Só que quando é para o curta começar, nada. Vou para a cabine de projeção e descubro que o curta não está no cinema. Passam rádios para lá e para cá e o curta continua desaparecido. O público esperou um tempo, depois foi embora e eu pensei, beleza, mais um tempinho para trabalhar nos meus outros arquivos. Passou mais um tempo e acharam o curta. Onde estava, quem sumiu com ele, eu não sei, não perguntei, não queria parecer intrometida. De repente, essas coisas podem ser muito pessoais. De todo modo, passou-se o curta e tudo teve um final feliz.
No Rio, terminada a sessão, botam todo mundo para fora sem choro nem vela, mesmo que o espectador vá ficar para a próxima. Aqui, deixam ficar e aí tem toda a trabalheira de conferir o ingresso, verificar o banheiro para ver se não tem ninguém escondido. Numa cidade onde tradicionalmente todo mundo é bem cricri, acho essa atitude estranha, mas cada louco com sua mania.
No final de uma sessão, estou a caminho do banheiro para o pipi preventivo quando a coordenadora da sala me diz que um espectador veio reclamar que eu fiquei falando ao celular durante o filme. Foi mais ou menos a mesma coisa que me acusarem de sair voando de vassoura sobre a Avenida Paulista. A sessão em questão, inclusive tinha sido difícil, exigindo toda a minha concentração já que as legendas na cópia vinham em francês. O lançamento de legendas exige muita concentração e a menor distração pode fazer com que você perca legendas, como alguém perguntando onde é o banheiro ou onde fica a saída ou quanto tempo ainda falta para o filme terminar. Não sei como alguém que eu estivessa falando ao celular, ainda mais porque eu fico bem no cantinho da sala. O mais provável é que fosse alguém ali perto do espectador incomodado, mas eu acabei levando a culpa.
Estou começando a receber perguntas sobre meu trabalho ao final das sessões. Acho que o pessoal ficou mais corajoso no final da primeira semana. Mas ainda estou esperando pela primeira anta que vai me perguntar se eu traduzo o filme na hora. Sempre tem. Todo ano.
Na outra noite, a caminho do hotel, vi um sujeito pulando o muro de uma casa. Fiquei olhando, tentando lembrar qual o número da polícia aqui em São Paulo (na prática, não sei qual o número no Rio), mas não foi necessário dar uma de boa cidadã. O sujeito pulou o muro de novo e deixou a casa.
Fui conferir um restaurante chamado Temakeria que serve, adivinha, temakis. Temakis gigantes, aliás. Me lembrou um pouco aquele programa que fala de comida gigante, o Man vs Food, só que bem mais refinado. Muito bom. O temaki de enguia é delicioso. Fica na Oscar Freire, perto da Augusta. Se eu puder, vou voltar lá antes de viajar de volta para o Rio.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

No meio do caminho

Final da primeira semana e parece que cheguei em São Paulo há um mês. Cada dia é muito longo e muito curto ao mesmo tempo. É fácil me sentir perdida nesta cidade enorme. Saudades do Rio e das ruas planas e sem ladeiras. Continuo gostando da arquitetura, da variedade desta cidade, mas eu realmente adoraria que passassem a cidade a ferro para ela ser toda plana, num nível só. Eu andaria com muito mais prazer assim. Saudade dos meus cães também. Aqui não vejo muitos cachorros, mas me dá vontade de me agarrar a todos que avisto. Agora na reta final tenho menos sessões por dia e dá para fazer mais coisas. É assim que eu gosto. Agora vamos rumo à sexta que vem e a volta para casa.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Água

Ocasionalmente, ter um espírito de explorador não compensa. Eu vim a São Paulo com o desejo de conhecer alguns lugares específicos. A Livraria da Vila era uma delas. Sempre vou no estande deles em Paraty e finalmente me ocorreu que eu poderia conhecer a verdadeira aqui na cidade. Pela Internet, eu descobri que havia uma filial da livraria há poucas quadras do cinema onde eu iria passar minha tarde e como eu tinha um buraco de uma sessão, resolvi aproveitar esse tempo livre para conhecer o local. E a livraria é legal. Ela me sugere uma Livraria da Travessa só que sem o charme de Ipanema. Ou o seu tamanho. Se bem que as grandes podem estar mais ao sul ou no shopping. Não sei. O legal foi que achei dois livros ingleses que eu queria muito. Ou seja, mais uma vez, vou sair de Sampa com trinta mil livros na bagagem. Sentei um pouco no café modesto para tomar uma Coca porque eu estava com sede de tanto andar. O que me pega aqui não são as distâncias, são as ladeiras. Eu ando as mesmas distâncias no Rio sem problema. Acho que eu teria de morar aqui para me acostumar com esse sobe e desce constante. Meus músculos não estão acostumados a isso. De todo modo, a má notícia veio quando eu fui voltar para o cinema para minha última sessão do dia. Estava chovendo. Bastante. E na ladeira na Rua Augusta, a água que descia mais parecia uma corredeira. Eu não podia subir aquela ladeira no meu passo normal. Eu tinha de ir no mesmo passo de devagar e sempre que adoto aqui em São Paulo para não morrer botando os bofes pela boca. Resultado, eu voltei ao cinema como se tivesse passado por um dilúvio. Estava molhada até a calcinha. As pessoas no saguão de espera me olhavam como se eu tivesse caído na piscina de roupa enquanto passava a caminho do banheiro. E o dia começou com um céu azul completamente sem nuvens. Mas a lição foi aprendida. Hoje, com um dia meio nublado, eu saio do hotel com meu guarda-chuva. Duas vezes, não.

domingo, 24 de outubro de 2010

Adrenalina

Tá, vamos admitir. O lançamento de legendas é uma das atividades mais estranhas concebidas pelo homem moderno. Você senta dentro de um cinema escuro com um laptop no colo, apertando um botãozinho que vai causar a projeção de uma legenda na tela de cinema. E é uma atividade manual, ainda por cima. Você precisa ficar alerta o filme todo (o que pode ser muito difícil, acredite) para apertar aquele botãozinho para cada santa legenda. Se você está odiando o filme, se quer cometer hara kiri ou se lançar do balcão sobre a plateia cinéfila lá embaixo em protesto, não pode. Você é obrigado a lançar as 900, 1034, ou 457 legendas do filme. Tradicionalmente, existe uma razão inversa entre a quantidade de legendas e a chance de você odiar o filme. Quanto menos legenda, mais provável é que esse será daqueles filmes que é uma bomba do início ao fim e promove desejos quase que incontroláveis de matar o infeliz diretor. Pela primeira vez em 13 festivais, eu chamei minha mãe para ver um filme que eu estava lançando. Custou um pouco, mas ela veio. Expliquei a ela o meu trabalho e, no final da sessão, tive a nítida sensação que ela estava com uma cara de "jura que é isso que você faz todo ano?". Porque tem uma coisa de absurdo nisso. Mas, ao mesmo tempo, tem um suspense, uma adrenalina. Esportes radicais não são comigo. Se vir alguém que se parece comigo andando de skate, fazendo alpinismo ou pulando de paraquedas, por ter certeza, não sou eu (ou então surtei e preciso ser internada no hospício). Lançar legendas é meu esporte radical. Nunca se sabe o que vai acontecer durante uma sessão. Vai dar algum pau, o filme foi editado mais uma vez e não bate mais com o DVD que receberam, a lâmpada do projetor vai estourar do seu lado ou o laptop vai dar pau? Nunca se sabe. Adrenalina. Por isso, ano após ano, lá estou eu, lançando filmes. Tacadora de legendas quase que desde o berço. E com muito orgulho.

Fazendo ao vivo

A grande verdade é que a maioria das pessoas não sabe o que estamos fazendo dentro da sala de cinema. Eu me lembro de quando colocavam a mesa do lançador na passagem do Unibanco 2 e na saída das sessões, muita gente ficava me olhando ali sentada como se eu fosse uma alienígena. Minha função é muito simples, eu lanço cada legenda do filme manualmente enquanto o filme está correndo. Mais nada. É como fazer a marcação do tempo de um filme, só que ao vivo. Tinha aquela frase do Faustão, "Quem sabe, faz ao vivo". E é isso o que os audazes tacadores de legenda fazem. O problema acontece quando a pessoa com quem você está lidando não sabe o que você faz. Então querem que você mexa na altura da legenda no meio da sessão, querem saber comigo onde está sentado o diretor do filme enquanto estou lançando, perguntam a hora, pedem para baixar o ar, aumentar a luminosidade da projeção, reclamam da seleção de longas daquele ano e sei lá mais o quê. Ontem reclamaram comigo que eu estava falando ao celular durante a sessão. Eu não entendi nada. Pra começo de conversa, meu celular não tocou a sessão inteira. Sem falar que é inviável conversar com alguém durante uma sessão, seja pelo celular ou ao vivo. Qualquer papo atrapalha sua concentração e você perde legendas. As pessoas devem achar que o tacador aperta um botão e o resto é automático. Não é o caso. O audaz tacador realmente tem de ficar acordado e alerta durante o filme todo, mesmo querendo cortar os pulsos depois dos primeiros cinco minutos, o que é uma ocorrência bem comum, eu garanto. Bom, hoje teremos mais sessões para enfrentar num cinema que não conheço. E, graças a Deus, saio cedo do cinema hoje e vou poder jantar numa hora decente. Estou com saudade de um bom kebab de cordeiro.

sábado, 23 de outubro de 2010

Entre Sampa e Manhattan

Saio do Belas Artes após minhas sessões e dou de cara com uma noite de sexta nublada, fria, a Paulista cheia de gente jovem rumando para alguma balada. Adoro a sensação de liberdade que me dá ao andar pela Paulista a cata de algum lugar onde eu possa jantar rapidamente pois tenho uma última sessão às 22h no Arteplex. Estar desligada do resto da minha vida, toda a bagagem, solta, faz com que eu me sinta leve. E isso que eu quero sentir quando eu viajo. E São Paulo tem essa coisa intensamente urbana que não encontro no Rio e de que sinto falta. Sempre digo que odeio mato. Cidade pequena, sítio, esquece. Eu quero cortar os pulsos. Preciso de movimento, barulho, muita gente na rua. No Rio você sempre pode ver onde a cidade acaba. Basta chegar na praia. Aqui não. É cidade em todas as direções e você não vê um fim. Isso me lembra um pouco Chicago, Nova York. Fui mal acostumada pelo meu passado. Morei em Manhattan e adorava mesmo criança andar pela rua, saltava do ônibus várias quadras antes da minha rua e vinha caminhando o resto do caminho, olhando vitrine. Minha Nova York é aquela do Manhattan de Woody Allen, filmado dois anos depois de eu partir de lá. É uma Nova York de Central Park e Degas no Metropolitan e Whitney Museum para ver filmes sobre pop art, Burger King e restaurantes de crepes francesas, brunch no Plaza Hotel. Vir a Sampa me leva um pouco de volta a essa época, esta cidade que tem tantas opções que é difícil saber o que fazer. É disso que eu gosto.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

É hoje e amanhã também

Vai começar. Transferi parte das sessões da planilha para o novo caderninho que estou estreando hoje. Acabaram as páginas no meu antigo caderninho de sessões, infelizmente. Vou levar meu crachá, pen drive e novo MP3 player para rodar pela Pauliceia nesta minha terceira Monstra. No jantar, vou tirar as saudades da Bela Paulista. Até que dormi razoavelmente bem na cama do hotel. Mas também pudera, o que eu andei ontem não está no gibi. E daqui a pouco estarei no escurinho do cinema de novo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Na Pauliceia, ufa

Pauliceia. Cheguei apesar de complicações de última hora. E como que para compensar o fato de minha empresa de cartão rejeitar a compra da passagem e me deixar sem passagem (coisa que só descobri na hora do check-in), o voo partiu pontualmente na hora, minha mala foi uma das primeiras a despontar na esteira e tive um almoço maravilhoso com uma amiga aqui em Sampa. Me entupi de frango. Nossa conversa foi ótima e quero combinar um jantar para outro dia nesta semana. A gente se vê muito pouco e uma chance de conversar não deve ser desperdiçada. Depois fui tratar de outras providências necessárias, como ir na Livraria Cultura e comer a já tradicional torta de musse de chocolate. Logo ao entrar, achei um livro que queria comprar. Comi minha torta, comprei meus livros, fui fazer meu crachá. Sinceramente, acho que eles fazem de tudo para que sua foto saia a pior possível (eu prefiro meus crachás do Rio que não tem foto). Uma fonte de luz bem de cima causando umas sombras horríveis, um webcam vagabundo com uma resolução horrorosa, e ainda por cima achatam sua foto. Então se você já é cheinho, fica parecendo uma verdadeira bola. Se minha mãe visse, duvido que me reconheceria. Eles têm de fazer de propósito, só pode.
Passei o dia todo com meu MP3 player tocando músicas do "The Devil Wears Prada" e achei que tinha tudo a ver com eu estar andando na Paulista, contente por voltar a Sampa. Eu estava sentindo falta desta cidade desde maio, com uma vontade danada de rever a Livraria Cultura e andar aqui por essa área perto da Augusta. A cada ano eu tento explorar um pouco mais. Talvez eu possa voltar aqui sem ser a trabalho e ver a cidade com mais vagar. Por enquanto, a coisa acontece nos momentos de folga. Amanhã começamos a maratona. Novidades no próximo boletim.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Abstrato

Está meio difícil acreditar que quinta vou entrar em um avião e desembarcar em São Paulo. Ainda está meio abstrato. Tanto assim que ainda não comecei a fazer a mala, em geral uma das primeiras coisas que eu faço. Mas venho mimando meus cachorros por antecipação. Se eu pudesse, levava eles comigo. É possível que eles fizessem a maior zona no quarto e o Wilson ia assustar as arrumadeiras com aquele tamanho todo. Mas enquanto não vou, fico grudada neles todo o tempo que posso.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pré-história

Reprise de Vale Tudo na TV. Algumas coisas interessantes. Citam um salário de 28 mil. Mil o quê? Cruzeiros, cruzados, cruzados novos? A gente passou por tanto plano que não faço ideia. E outra, um personagem recebe uma Olivetti Praxis para treinar para um teste de datilografia. Esta era uma época antes do marketing então eles não ficaram mostrando a marca. Mas como eu tive uma, reconheci na hora. Minha primeira máquina de escrever foi uma Hermes Baby. Pedi a grana para meu pai para ir comprar. A Praxis já foi iniciativa de presente do meu pai mesmo. Eu achava o máximo, ainda mais por que sempre gostei de um bom design e escrevi muito trabalho de faculdade nela, muito manuscrito final de conto. Quando ela pifou depois que eu a emprestei a alguns amigos, ela já estava meio aposentada. Eu já trabalhava com computadores e a morte da máquina de escrever estava anunciada. Mas mesmo com uma máquina de escrever tão chique, nunca consegui escrever direto na máquina. Meu processo sempre foi com papel e caneta e segue sendo assim, mesmo quando é um pé no saco, como quando tenho de digitar a melecada toda que escrevi. Mas hoje me deu saudade da velha e pré-histórica Praxis.

domingo, 17 de outubro de 2010

Experiência

Último fim de semana antes de viajar. Por causa de um trabalho, acabei trocando o sábado pelo domingo então foi hoje que eu fui para a Travessa escrever. Na FLIP, durante a mesa do Colum McCann com o William Kennedy, uma das coisas discutidas foi a questão de escrever sobre coisas que não se conhece e não se experimentou, algo que o McCann faz bastante em seus livros. E essa é uma coisa que realmente me fascina, como certos escritores conseguem escrever sobre épocas passadas e costumes que não se usam mais. Meu cenário é sempre o aqui e agora. Para o que me interessa escrever, o aqui e agora está mais do que bom. O que eu tento fazer agora é criar personagens cuja experiência é mais distante da minha. Essa é uma das coisas que estou explorando no novo romance, falando de personagens que sofreram maus tratos quando eram crianças. A pior coisa que já me aconteceu quando eu era criança foi minha mãe me dar uma boa palmada quando ficava realmente pê da vida com algo que eu fazia. Isso era extremamente raro já que eu era a comportada da família. O castigo tradicional da mamãe era a gente ficar mofando no quarto para "pensar no que a gente tinha feito". A palmada era um sinal que a besteira tinha sido bem feia e que era melhor não repeti-la. Mas eu nunca apanhei e passei esse último ano e tanto procurando imaginar o que é isso e que efeito isso tem nas relações de uma família. E parece meio estranho que isso seja um processo racional, como foi um processo racional imaginar as repercussões de um suicídio para uma família para meu primeiro romance, mas acho que esse processo precisa ser racional. Eu costumo escrever sobre coisas difíceis e o filtro racional me protege um pouco. O que eu descubro é que por mais que consiga entender certos processos de maneira racional, sempre fica faltando alguma coisa e aí entra outro tipo de pesquisa. Preciso encontrar alguém que passou por essa experiência. Não é exatamente uma pesquisa proposital. As coisas meio que me caem no colo. O comentário de uma amiga, um documentário sobre o assunto na TV, um texto que leio na Internet. Desta vez não foi diferente. Me caiu na mão um filme sobre pessoas envolvidas em relações violentas e isso me deu uma série de respostas a coisas que eu não sabia. Passei o dia hoje incorporando algumas dessas respostas ao texto. Vou ter muito mais trabalho a fazer quando terminar a Monstra, mexendo em partes do texto que lidam com essas questões. Mas a partir de quinta, toda a minha atenção vai se voltar para a Mostra.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Como manteiga

Recebo um e-mail de uma amiga que está lendo meu primeiro romance. E ela me diz, "O texto flui como manteiga e o diálogo interior escorrega dentro da gente". É muito bom um e-mail desses. Pouca gente leu meu romance, ele ainda está na mão de editores, aguardando um parecer. Tudo bem. Eu aprendi a ser muito paciente nesse tempo todo entre o dia em que terminei o romance e agora. O que me ajuda a ser paciente é ter a atenção focada no romance atual, esse que vai meio aos trancos e barrancos rumo à terceira versão. Já comecei a digitar o texto dos cadernos, mas isso vai levar um tempo. Talvez eu consiga avançar um pouco em São Paulo. Afinal, há um limite para o que se pode fazer num quarto de hotel. De todo modo, essa coisa só vai engrenar mesmo depois que eu voltar de viagem. Aí sim teremos novidades.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Monstra à vista

Terminei o Festival do Rio no mesmo cinema em que comecei, no Estação Botafogo. Já posso pendurar meu crachá enquanto me preparo para o próximo. Dentro de uma semana estarei fechando a mala antes de embarcar para São Paulo. Mais uma Monstra. E este ano estou decidida a curtir a cidade como não consegui fazer ano passado. Estes dias agora são cheios de providências. A reserva do hotel, as passagens de avião, a hospedagem dos cães, lavar toda a minha roupa (que não é muita) para levar na viagem. A Pauliceia que me aguarde.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Overdose de preguiça

Cansaço, preguiça. Tudo o que quero fazer é passar o dia na cama, dormindo. As duas semanas do festival foram realmente exaustivas. Tenho trabalhos a fazer, mas estou sem vontade de começar. Só estou animada para voltar a cozinhar. Depois de duas semanas comendo pipoca, pastéis e o ocasional sanduíche, é bom poder voltar a usar minha wok. Quero fazer um curry verde de frango com batata doce. É um prato que eu adoro. E estou com saudade dele. Também tenho de iniciar os preparativos para ir a São Paulo. Quinta da semana que vem vou embarcar. E tenho um encontro marcado com uma amiga lá. Enquanto isso, o pessoal está marcando um chope para marcar o fim da repescagem. O pessoal está bem pinguço esse ano. E estou adorando isso.

sábado, 9 de outubro de 2010

Post-mortem

Nem consigo acreditar que acabou. Ontem tivemos nosso chope de encerramento e foi uma delícia. Antigamente, o ponto de encontro era o Coisas do Interior, mas depois que eles fecharam, ficamos meio sem saber para onde ir. Mas agora abriu esse bar do lado do Estação Botafogo e é um bom lugar para congregar a turma. Inclusive porque tem um prato de filé com cebola e aipim na chapa que é uma delícia. Conversamos, trocamos histórias de velhinhas iradas que vão parar no banheiro e espectadores sem noção, da distribuição de buracos negros e do bom uso de palavrões. Não fizemos a eleição do abacaxi de ouro do festival, mas comentamos vários filmes que seriam bons candidatos. Aliás, nunca há uma falta de bons candidatos. A quantidade de dinheiro que se desperdiça com alguns filmes é incrível. Nós fechamos o bar e o pessoal foi para outro mais adiante no Baixo Botafogo, mas eu queria estar inteira para escrever hoje, então voltei para casa e desmontei na cama. Depois de duas semanas dormindo duas, três horas por noite, seis, sete horas de sono parecem um luxo. De todo modo, pretendo aproveitar este fim de semana ao máximo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Últimos dias

Reta final. Eu estou mortinha. O negócio é aguentar firme até quinta. E aí pretendo dormir o fim de semana todinho. Só então vou pensar no refishing.

domingo, 3 de outubro de 2010

As fases do festival

Existe uma sequência num festival que se repete todo ano. Ai que bom o festival está chegando, essa sessão é minha, começa amanhã, estou nervosa, essa adrenalina é demais, não vai dar para dormir se eu quiser fechar meu filme, que dia é hoje mesmo, esse filme tá um saco, me tira daqui, estou morta, quando é que essa porcaria de festival termina, graças a Deus acabou, saco, vou ter de esperar um ano até o próximo. Todo ano é isso. Mas eu detestaria abrir mão dessa maluquice. Gosto demais dela.

sábado, 2 de outubro de 2010

O mundo lá fora

Durante o Festival, o mundo exterior meio que deixa de existir e é um pouco surpreendente dar de cara com ele. Indo para minhas sessões no Odeon, descubro que há uma greve dos bancos acontecendo, as fachadas dos bancos empapeladas de cartazes anunciando a greve. No Gávea ontem, de repente, um barulho ensurdecedor. Virei para uma moça me atendendo no balcão do café e perguntei o que era aquilo. Ela me disse que era chuva. Sempre acho estranho dar de cara com o que acontece enquanto estou enfiada dentro do cinema. Uma hora chove, de repente fica quente e é sempre uma surpresa porque você não viu a transição. Você entrou no cinema de dia e saiu de noite, às vezes de madrugada. E acaba sendo pior quando após duas semanas você não precisa mais ir ao cinema e voltar a viver de fato no mundo real. É meio desorientador. Você sente falta daquela existência homogeneizada e artificial do cinema. E quando volto a me acostumar, lá vou eu para São Paulo repetir tudo de novo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Chope!

Noite de quinta para sexta. Um chopinho para comemorar não só o dia dos tradutores como o aniversário de um dos nossos heróicos tacadores de legenda. Todo mundo trocando as histórias de guerra deste e de outros festivais. É um tanto inevitável. O que todos temos em comum é justamente este trabalho, esta maluquice que nos acomete uma vez por ano, esta loucura que nos faz procurar cavernas escuras em que histórias são contadas. À medida que o nível etílico da mesa vai aumentando, as histórias vão ficando mais malucas e logo estamos tendo uma conversa surreal. Houve uma vez, alguns anos, uma conversa num desses chopinhos em que os homens presentes começaram a discutir se colocariam silicone nos seios ou não. Se eles fossem mulheres, claro. Você tenta lembrar como foi que a conversa foi parar nisso, mas não há como refazer os passos desse papo maluco. Papo de bar. Inevitavelmente chega uma hora em que estou rindo sem parar e penso, estava precisando desse chopinho, desse encontro entre amigos legendísticos. Tomara que em São Paulo possamos ter uma repetição disso. Sinto falta desses chopes no resto do ano.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Primeira semana

Nem sei direito que dia é hoje. Estou vivendo dentro de um cinema e não vejo a luz do sol. Estou vivendo a base de pastéis de forno, pipoca e sanduíches. Estou doida para voltar a cozinhar. Que bom que a primeira semana está terminando. E vai terminar com um chopinho de aniversário. Vou ficar um pouquinho, depois vou voltar para casa e trabalhar.

Oops, it happened again

Aconteceu de novo. No meio do meu filme hoje, a imagem sumiu. Tiveram que interromper a projeção, chamar um técnico para resolver a parada, foi meio confuso. Problema resolvido, voltamos à sessão. Eu realmente preciso me benzer.
O filme, aliás, era super interessante. Chama-se Regeneration e tem a ver com a maneira como nossa cultura de massa está alterando nossa sociedade, comportamento, aspirações de vida. Eu sempre acho os documentários mais interessantes do que os filmes de ficção. Outro filme muito interessante foi o Diário de uma Busca, filme brasileiro, de uma mulher que tenta entender a forma como o pai morreu. O pai era militante de esquerda, foi exilado, voltou, e morreu num aparente assalto à casa de uns alemães. O caso ficou super mal explicado e até há sugestões de que quem matou o pai e o cumplice do "assalto" foram os policiais. O documentário conta a história dessa família, mas o mais interessante é que toda vez que se tenta achar respostas para a morte do pai, eles dão contra uma parede. No final, as dúvidas continuam sem resposta, provavelmente nunca terão. E, para mim, o que é mais interessante é justamente esse buraco que fica. Eu vi muitas afinidades entre esse filme e meu primeiro romance, que tem uma busca semelhante. Literariamente, o vazio é mais interessante do que as respostas. Queria saber usar isso melhor, mas fazer o quê. Um escritora que sabe usar bem esses vazios é a Adriana Lisboa. O novo romance dela, Azul Corvo, acaba de sair. Eu consegui dar um pulo no lançamento do livro mesmo no meio dessa loucura toda. Li um trechinho do início e já fiquei impressionada. Sempre acho o texto dela fantástico, admiro muito o lirismo de tudo que ela escreve. Vou ler assim que tiver mais de dois segundos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tempo, tempo, tempo

O tempo é uma dimensão um tanto elástica durante um festival. No terceiro dia eu já tinha a sensação de que estava enfiada num cinema há semanas. E as duas horas do filme podem ser rápidas ou incrivelmente torturantes e lentas. Especialmente se o filme é um daqueles que entra na categoria que os lançadores gostam de chamar de '"desperdício de celulóide". E tem outra categoria, a do "abacaxi de ouro". Essa é reservada para aqueles filmes em que você quer cortar os pulsos cinco minutos depois do filme começado. Você vê o público indo embora e te dá uma vontade danada de gritar "me leva com você", porque naturalmente você está pregada naquela cadeira até o final da sessão. E aí você começa a torcer que falte luz, que o projetor exploda, que um meteoro atinja a terra. Qualquer coisa para que você não precise continuar lançando aquele filme. E você olha para seu relógio de cinco em cinco minutos. Nem o Deus Branco consegue explicar certas coisas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Preciso me benzer

Tradicionalmente, três coisas acontecem uma vez em todo festival comigo. Sempre tem um dia em que erro qual o cinema onde vou trabalhar. Saio de casa convencida que preciso estar no Odeon e quando vejo, percebo que devia estar no Botafogo 1.
Tem sempre um dia em que chego atrasada no cinema, tipo uns 15 minutos antes da sessão em vez dos 30 minutos regulamentares. De repente, num caminho que geralmente não tem problemas, aparece um engarrafamento enorme. Ou então a cada esquina aparece alguma coisa para te retardar. Um saco.
E tem aquele dia em que alguma coisa no equipamento dá pau. Quando algo dá pau, eu relaxo e penso, pronto, já tive meu defeito técnico do ano. Este ano estou precisando me benzer. Todo dia tem um probleminha técnico aparecendo, seja o filme que passa em preto e branco em vez de a cores, ou o som que não quer tocar ou tem algum tilt no projetor de legendas. E um dos meus MP3 players evaporou. Estou começando a achar que preciso me benzer. Alguém conhece uma boa mãe de santo?

domingo, 26 de setembro de 2010

O perigo de portar um crachá


Fiquei muito contente em receber meu crachá na sexta. Tenho uma coleção crescente de crachás pendurados na estante atrás de mim no escritório. O problema é que eu esqueci como andar por aí com esse crachá pode ser perigoso. No minuto em que você coloca aquele crachá, você se transforma no membro mais visível da organização do Festival. O problema é que você não tem nada a ver com a organização do Festival. Você taca legendas por 15 dias, só isso. Também não ajuda em nada você estar sentado no meio do cinema escuro diante de um monitor ligado, iluminando sua posição. Então se o som sumiu, a sessão atrasou, o filme que o espectador queria ver ficou preso na alfândega, o ar condicionado está polar, o alvo imediato é você. E claro que ninguém entende direito o que você está fazendo ali e vem falar com você no meio da sessão para diminuir o ar, saber a duração do filme, pedir para baixar o volume, saber as horas, etc. Até já me pediram para desligar o monitor dentro do cinema. E ano passado, uma mulher queria que o marido estapeasse um legendador porque o pobre rapaz estava com um notebook na última fila do cinema e ela não entendia que as legendas estavam vindo do trabalho do pobre rapaz.
Ontem eu dei de cara com uma turba cinéfila completamente irada porque a sessão deles estava sendo retardada por um debate com a diretora do filme anterior. Eu estou inocentemente saindo de uma sala no Unibanco, passo por outra e estou tentando chegar num táxi para correr para o Odeon para o resto das minhas sessões quando dou de cara com uma fila imensa de gente irada querendo saber de mim porque a sessão deles está atrasada. E o pessoal está pê da vida mesmo. Por dois segundos eu penso, "vou ser linchada". Proclamo minha inocência, sou uma reles tacadora de legendas, apresso o passo e consigo escapar. Ufa.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Preparativos para a maratona

Pronto, chegamos na véspera do Festival do Rio. Já transferi minha programação de sessões da planilha para meu caderninho vermelho tradicional, botei a lanterna na mochila e lavei toda a roupa suja. Este ano estou começando com 61 sessões, o que dá 5563 minutos de cinema no total. Eu não inventei esse número. Eu fiz a soma de todos os filmes usando o Excel. O pen drive está a postos e vou receber meu crachá amanhã, mais um para minha coleção. O nervoso só vai começar mesmo cinco minutos antes da primeira sessão. Depois, tudo encaixa. Até amanhã.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Entra e sai

Mal terminou o leilão e já temos sessões caindo, outras entrando no seu lugar. Todo ano é isso. Depois pintam as sessões extras e no final teremos a repescagem, refishing no linguajar dos tacadores de legenda. A troca de e-mails vai ficando mais intensa. A maratona já vai começar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Treze anos no cinema

Leilão. Cheguei meio em cima da hora com gente dizendo que era numa sala, depois na outra, depois na outra. Acabou que foi na mesma sala do ano passado, com praticamente os mesmos personagens. Descobri que temos algumas caras novas. Carne fresca, como gosto de dizer. Eu adoro assustar os novatos. É uma brincadeira, mas também uma maneira de ver se você aguenta o rojão. Para lançar legendas você tem de ter sangue frio e ao mesmo tempo conseguir se adaptar a qualquer situação já que a lei que impera nos festivais geralmente é a de Murphy. Já me aconteceu um pouco de tudo em doze anos de festivais. Este vai ser meu décimo terceiro. Deus, sou veterana absoluta. A coisa começa meio devagar e eu aproveito para pegar tantas sessões quanto possível enquanto o pessoal não acorda. Afinal de contas, para quebrar meu recorde de sessões, tenho de já começar com muitas sessões. Afinal, existe um limite físico para quantas sessões é possível fazer por dia. Tem uma hora em que o dia acaba. Este ano entraram novos cinemas, alguns mais populares que outros. Todo mundo disputa os cinemas de Botafogo a tapa. Os cinemas da Gávea também são bem disputados. Tendo experimentado lançar lá ano passado, eu entendo por quê. Você pode comer no shopping, o espaço é legal. Dependendo da sala, você fica encaixado numa posição não muito cômoda, mas essa é a sina do tacador de legendas.
O domingo acabou também sendo o dia da minha sessão de imprensa. Deu para sentir o quanto estou enferrujada. Ou melhor, o quanto o meu lançamento está contaminado pelos reflexos de marcação de legendas, coisa que faço toda semana. Na marcação de legendas, você tem de ser muito rápido. Para o lançamento de legendas, você tem de desacelerar um pouquinho, esperar para ver em que direção a coisa vai. Mas depois de uns cinco minutos já deu para sentir qual o ritmo do filme e a coisa encaixou. O filme não foi nada de especial e, francamente, não olhei para ver se a imprensa estava presente. Da cabine não dava muito para ver. Mas pelo menos foi tranquilo. Há uns poucos anos, numa sessão de imprensa, a lâmpada do projetor explodiu do meu lado no Odeon faltando meia dúzia de legendas para terminar o filme. Ainda bem que era minha última sessão. Agora é a contagem regressiva até sexta-feira.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Botando o dedo em forma

Fim de semana pela frente. E tem muita coisa acontecendo. Preciso fechar a segunda versão do romance amanhã. Porque depois disso vai começar o Festival e a coisa vai ficar difícil. E no domingo tenho o leilão de sessões, um almoço para comemorar um aniversário e uma sessão de imprensa. Fazer uma ou duas sessões de imprensa é sempre bom para tirar a ferrugem, botar o dedo em forma de novo. Wild Fingers rule, como escrevo em todos os filmes que traduzo. E segunda é hora de pisar no acelerador. Vou ter de virar algumas noites para fechar coisas. Entra ano, sai ano, nada nunca muda. Todo mundo começa a jogar trabalho para cima de mim na mesma época e fica difícil para mim dizer não já que o Festival tem um prazo longo para pagar e eu preciso viver de alguma coisa nesse meio tempo. Ainda assim, já melhorei bastante. Antigamente, eu dizia sim para tudo e minha vida complicava muito. Eu aprendi que a coisa mais importante para um freelancer é saber quando dizer não. De todo modo, já começo a sentir uma adrenalinazinha subindo, aquele nervoso da estreia. É uma sensação legal. Vou descansar muito pouco este fim de semana, mas vai valer a pena.

Um perigo para a dieta

Manhã de sexta e virando o canal dou de cara com Nigella, a promotora desavergonhada da gula. Com ela, a comida é sempre uma experiência de prazer sensual de que não devemos nos privar. Esse sim seria o pecado. Ela exalta as cores e texturas e cheiros da comida no seu lindo sotaque inglês e desafio qualquer um a não sair correndo para a geladeira procurar alguma guloseima para matar aquela fome que apareceu de repente. A mulher é um perigo para qualquer dieta. É um milagre que os filhos dela não sejam todos enormes de gordos com uma mãe como ela. Outra coisa que gosto dela é que ela claramente não é uma chef de cozinha. Ela vem com esse jeitão de dona de casa que gosta de cozinhar e isso a aproxima mais dos pobres mortais que querem fazer tudo aquilo que veem no programa dela. O bom é que as receitas dela estão em dois livros nas livrarias. Eu tenho um, preciso comprar o outro. E tem coisas que só de olhar o programa você ja entende como fazer. Ela mostrou uma receita de batata assada com alho que é tão mole que qualquer idiota poderia fazer. Me deu vontade de experimentar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Festival à vista

Foi marcada a reunião de distribuição de sessões. Como sempre, será no fim de semana antes do início do Festival. Apropriadamente, será dentro de um cinema. Teremos a disputa pelos cinemas e filmes, os horários, os filmes. E vai ser divertido. Vai ser o reencontro anual que temos todos os anos. Teremos abraços, brincadeiras, velhas histórias lembradas mais uma vez. Não sei se vai rolar um chope depois, eu bem que queria, mas desconfio que vai todo mundo debandar para fechar seus filmes. Como de hábito, ainda falta muito o que fazer e pouquíssimo tempo para terminar tudo. De todo modo, vou tentar registrar o Festival e o que acontece. Vou botar as pilhas da minha câmera para recarregar hoje mesmo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Buscando ingredientes

Enquanto terminava um texto técnico para entregar hoje, a TV estava ligada num programa que, entre outras coisas, mostrava uma mãe que entupia o filho de comidas gordurosas com a intenção de agradá-lo e, em função disso, o garoto tinha o dobro do peso normal de uma criança da sua idade. Acontece a habitual intervenção de uma pessoa de fora e a família passa a comer coisas mais saudáveis. Em seguida, houve uma cena da mãe com o filho visitando o mercado para comprar os novos alimentos saudáveis da nova dieta. E isso inevitavelmente me fez pensar em todas aquelas guloseimas pelas quais passo direto no supermercado. Ainda sou chocólatra, não tem jeito, mas não me sinto tão compelida a comer tanto chocolate quanto antes. Um Nescau por dia, em geral, está mais do que bom. Eu sinto a diferença em pequenas coisas. Tenho mais energia do que antes, mais resistência. Em Paraty, este ano, eu andei distâncias bem maiores. E olha que eu estava numa pousada a cinco longas quadras do Centro Histórico. Só o que falta para mim é emagrecer um pouco, mas pelo menos acho que não estou mais engordando. Já é alguma coisa. Sinto que meu paladar está mudando aos poucos. Eu comprei umas linguíças para fazer rapidinho num dia em que estivesse muito cansada para cozinhar e não achei o sabor muito bom. Era salgado demais. E eu era uma pessoa que entupia tudo de sal. Até na pipoca que eu faço volta e meia para relaxar no fim de um dia cansativo, eu uso muita manteiga, mas muito menos sal. Sempre achei que mudanças assim exigissem um grande sacrifício, mas, na prática, você só precisa do incentivo certo. Para mim foi aprender a fazer comida asiática. Estou curtindo de montão. E quando eu for a São Paulo em outubro, pretendo revirar a Liberdade atrás de ingredientes que não acho aqui. Preciso fazer uma lista.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O melhor programa para os deprimidos

Tem um programa no History Channel chamado O Mundo Sem Ninguém que é perfeito para quem está deprimido, sentindo que a vida não vale nada. A proposta é a seguinte: a humanidade some da Terra de repente, só o que fica são as obras da humanidade, as cidades, os monumentos, prédios, casas, usinas nucleares, represas, etc. E claro que sem o homem para manter tudo isso, as coisas vão deteriorando. Seja pela chuva e sol, pela explosão das usinas nucleares que ficaram sem ter quem tomasse conta, o fogo, a ferrugem, o que seja. Aos poucos, tudo vai se desfazendo, desaparecendo até que não sobre nada do que a humanidade criou em milhares de anos de história. Eu evito assistir esse programa toda vez que topo com ele porque cinco minutos depois já estou querendo cortar os pulsos. Eu inevitavelmente fico me perguntando, com tanta coisa interessante para mostrar, por que ficar falando de destruição e decadência? É um horror. Esse eu realmente não recomendo.

domingo, 12 de setembro de 2010

A vida secreta dos cães

Acordo com a algazarra do clube e, quando olho em volta, cadê os cachorros? Levanto e os encontro no meio do pátio, placidamente sentados num pedaço de sol, curtindo o calor. Cachorros quentes. Eles passam tanto tempo agarrados a mim, me seguindo para todo lado que gosto de ver quando eles fazem coisas separados de mim. As pessoas acham que não, mas eles têm vontades, preferências, gostos. O Wilson adora enterrar os ossos que dou para ele, como um cachorro de desenho animado. A Dax ficava intrigada com as formigas enormes que atravessavam o pátio carregando folhas, sementes. E ficava deitada embaixo da minha mesa enquanto eu trabalhava, dormindo, roncando. Tanto o Wilson quanto a Zequinha gostam de ficar cavucando os canteiros aqui e quando vejo, tem um monte de pegadas sujas de terra pela casa. Você olha para eles, os focinhos sujos de terra, felizes da vida, e fica complicado dar uma bronca. Você não faz a menor ideia do que passa pela cabeça deles enquanto eles mastigam as folhas de palmeira que caem no chão do pátio. Você só sabe que não tem nada a ver com você e isso é legal também.

Reta final

Reta final. Faltam duas cenas. A melhor coisa que eu podia ter feito foi mexer no resultado final da história. Isso acabou mexendo em várias outras coisas e criou uma tensão que não existia antes entre os dois personagens dessa metade do romance. Depois vou ter de voltar atrás na terceira versão e acertar os detalhes do conflito para que tudo seja consistente. Sim, dá uma trabalheira danada. O lado bom é que essas mudanças separam ainda mais a primeira metade da segunda. O que eu não quero de jeito nenhum é ter quatro personagens que são parecidos demais um com o outro. O momento também é perfeito. Fechando esta versão no próximo sábado, logo antes do início do festival, vou ter duas semanas para pensar no que escrevi antes de seguir para a terceira versão. E aí três semanas antes da próxima interrupção. E aí dois meses até o fim do ano. Eu tinha pensado que daria para fechar antes da virada do ano. Acho que esse plano saiu pela janela. Tudo bem. Primeiro trimestre de 2011 então. E será a hora de torrar o saco dos amigos para lerem o que escrevi.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Preenchendo os vazios

Eu confesso minha fascinação pelo dia 11 de setembro. Eu passei todo aquele dia e os dias subsequentes grudada na TV, vendo o que acontecia, não acreditando direito no que estava vendo. Foi um dia super confuso, de informações desencontradas. E com um acontecimento dessa magnitude, é fácil entender por que as pessoas criam teorias de conspiração, tentando dar conta de algo que é enorme e terrível e incompreensível. Em menos de duas horas quatro aviões bateram, deixando brancos, vazios sem respostas. Tem um documentário, The Falling Man, que trata disso de uma forma indireta. Ele trata da tentativa de um jornalista de identificar quem era o homem fotografado caindo de uma das torres e, ao mesmo tempo, trata das pessoas que se sabe que pularam dos prédios. Em todas as histórias das pessoas que pularam, há um vazio. Ninguém sabe exatamente o que as levou a pular, o que foram aqueles últimos momentos de vida. É esse vazio que ficou que as pessoas tentam preencher com algum tipo de narrativa. Que narrativa será essa depende de cada um. Mas o que me interessa é que de um jeito ou de outro, as pessoas odeiam que a história não seja contada até o fim. Tudo precisa ter um The End.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

How to be alone

Encontrei este vídeo no blog da Adriana Lisboa (valeu, Adriana) e achei o máximo. Tem tudo a ver comigo.

O homem mais desinteressante do mundo

Não me lembro agora quem foi que disse que Super-Homem era a identidade original e Clark Kent o disfarce. O disfarce não são só os óculos, é a pessoa inteira, que é para ser o homem mais desinteressante do mundo. Ele quer passar desapercebido, ser quase invisível. Eu sempre lembro do Christopher Reeve, aquele homem enorme, curvado, tentando parecer menor, com aqueles óculos enormes. E quando as coisas acontecem, todos prontamente se esquecem dele, toda a atenção é voltada para o Super-Homem. Passada a crise, lá está ele de novo, meio trapalhão, mas inofensivo, ajeitando a gravata. Na FLIP, às vezes, vejo pessoas decepcionadas com este ou aquele escritor por ele não ser uma figura muito interessante. Fui assistir Anne Enright em Paraty ano passado por admirar muito o trabalho dela. E me deparo com uma mulher que tem meio que essa cara de empregada, usando um vestido não muito bonito. A mesa acabou sendo meio morna, mas não fiquei decepcionada. Por baixo da aparência de faxineira deu para sentir que tinha uma pessoa super interessante. E o texto dela é maravilhoso. Não são todos os escritores que sabem dar show como o Will Self. Foi um lembrete para mim que muitas vezes fica difícil ver o Super-Homem. Mas ele está lá.

domingo, 5 de setembro de 2010

Cartas, reviravoltas, filmes

Acordo de manhã com a já tradicional algazarra do clube ao lado. Pelo menos ninguém estava tocando corneta hoje. Também acordo com a carta de uma amiga distante e querida na minha caixa de e-mail. Uma boa maneira de começar o dia. Ontem foi um bom dia. Percebi que a reviravolta que dei numa personagem semana passada precisaria ter consequências para o outro personagem na cena e trabalhei em cima disso. E quando saí da Argumento ontem à noite, cheguei num ponto em que não sabia direito para que lado prosseguir. Vou ter uma semana para refletir e tentar achar uma solução. Eu sei aonde quero chegar, o negócio é refazer o caminho já que eu joguei o caminho antigo fora. Essa realmente é uma daquelas semanas em que eu queria poder me dar o domingo também. Não vai dar. Tenho três filmes para traduzir. Faz parte dos dilemas de ser Clark Kent. Fazer o quê.

Amor que dói

Todo sábado quando chego em casa da labuta literária é a mesma coisa. Os cachorros estão pulando no portão, doidos para pular em mim. Todo sábado o diálogo é o mesmo. Tudo bem, a mamãe chegou. A mamãe chegou. Não, não, não metam as garras na mamãe. Não atropelem a mamãe. Você é grande e pesado. Faz dodói. Ai, não pisa no meu pé. Ai, por favor, não meta as garras na barriga da mamãe. Pois é, o amor dos filhos peludos pode ser um pouco doloroso, mas eu acho que compensa sempre.

sábado, 4 de setembro de 2010

O escurinho do cinema

Mais um lote de filmes para o Festival. Tudo documentário. Talvez alguns filmes de ficção mais para a frente. A coisa começa a esquentar. É uma chuva de filmes. A overdose de cinema começa agora. Devo ter uns cento e poucos filmes pela frente nos próximos dois meses. E depois as pessoas me perguntam se quero ir ao cinema ver tal ou tal filme. Não. Mas fez sucesso, ganhou milhões. Não. É com aquele ator que você adora. Não. Levou zilhões de Oscars. Não. Eu nem lembro qual foi a última vez que paguei ingresso para ir ao cinema. Nem sei quanto está custando um ingresso de cinema. São poucas as pessoas que entendem. Cinema virou trabalho. Não dá mais para relaxar. Alguém fala "festival de cinema" e eu automaticamente penso em quantos filmes vou traduzir, quantos vou lançar. O escurinho do cinema é um lugar para ficar apertando um botão para fazer aparecer a próxima legenda. Gee, do you want some popcorn with that? Acho que não. Vez por outra dou de cara com pessoas que acham que traduzir para cinema e TV é glamuroso. Talvez elas achem que eu conheça atores, diretores, roteiristas. Longe disso. Fico sentadinha no meu escritório o dia todo, ralando, minha bunda ficando mais quadrada a cada ano que passa. A compensação está não no trabalho em si, mas nas pessoas que conheci através do Festival, os outros tradutores, essa tribo meio doida com que me encontro nesta época do ano. A troca de e-mails malucos já começou. E só vai esquentar nas próximas semanas. É isso que eu curto, é por isso que espero o ano todo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Passeando com o cachorro

Fim de tarde na sexta e começa a se instalar aquela preguiça, a antecipação do dia seguinte. Eu tiraria dois dias para descansar, mas já tenho coisas suficientes se acumulando na minha caixa de entrada para me fazer pensar duas vezes. Tenho de revisar meu filme do Festival para poder pegar outro, uma entrevista para entregar, um bom pedaço de um livro para adiantar, outras coisas. O que vou fazer é tentar chegar mais cedo na Travessa para render o máximo possível. Imagino que a livraria vá estar mais tranquila por causa do feriadão. Fica melhor de trabalhar assim. E depois vamos mandar ver no domingo de novo. Daqui a pouco vou parar para fazer o jantar. No cardápio, um curry verde de frango com batata doce e jiló. É muito bom. Mas primeiro, preciso levar o Wilson para passear. Minha baleia peluda gosta de esticar as pernas todo dia nesse horário ou ele fica chateado.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Curiosidade

Curiosidade não é uma qualidade que as pessoas costumam atribuir a tradutores. Talvez não seja para tradutores técnicos ou juramentados, mas para quem faz tradução para cinema ou TV acho que é tão necessário para a função quanto um bom comando de outros idiomas. Minha curiosidade de criança que ficava vendo e revendo aqueles livros da Time-Life sobre Grécia e Egito e Roma nunca foi embora e a coisa que eu mais gosto da Internet é poder pesquisar qualquer assunto em cinco segundos. Não vejo muita utilidade no Facebook ou Twitter, mas a Wikipedia é o máximo. E outra das grandes utilidades da Internet é poder achar documentários da BBC para baixar. Este mês que passou assisti um documentário sobre as origens literárias do Rei Artur, uma série sobre os normandos e como eles afetaram a história e a cultura da Inglaterra, sul da Itália e as Cruzadas, outra série falando de caminhadas a locais normandos na Inglaterra, uma série maravilhosa sobre a ocupação romana da Inglaterra e agora vou embarcar numa série sobre o mundo antigo e outro sobre a mentalidade medieval. Também descobri uma série semanal sobre escavações arqueológicas acontecendo agora na Inglaterra. Eu sempre fui fanzoca de arqueologia, de como se cria toda uma narrativa a partir dos cacos de uma vida anterior. Minha amiga Claudia diz que é isso o que faço quando escrevo, a arqueologia das pessoas e sua bagagem. Eu sempre acho impressionante que, em lugares que tiveram uma ocupação contínua por milênios, quando você cava, encontra camadas e mais camadas de restos de coisas que as pessoas foram deixando, desde a pré-história até agora. Quanta coisa já foi feita, quanta coisa ainda está por ser feita. Mal posso esperar para ver.

Resumo perfeito

A Isabel Coutinho fez um resumo perfeito do que foi a FLIP no blog dela. O texto da Isabel você encontra aqui.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ser cão

Sento aqui no escritório, trabalhando, e no corredor está minha grande baleia peluda, Wilson, dormindo tranquilo, roncando. Invejo a capacidade dos cães de poderem dormir em qualquer lugar e a qualquer hora. Especialmente no meio do Festival do Rio, quando estou caindo de sono e precisando de um cochilo, eu queria fazer que nem o Wilson e simplesmente deitar no chão e dormir em cinco segundos. Ser cão pode ser tudo de bom.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cozinhar é bom, gostoso

Nossa, como esse mussaman curry é gostoso. O prato ficou uma delícia e pretendo repetir assim que puder. Talvez fique gostoso também com carne de porco. Vou testar. Cara, como é bom saber cozinhar.

Monday, monday

O Festival do Rio já vai acenando à distância. Tenho meu primeiro filme, um documentário sobre catadores de lixo no Egito. Vou começar a traduzi-lo hoje. Espero fazer mais um filme ainda esta semana, mas isso não depende só de mim. Enquanto isso, vou equilibrando outros trabalhos, um livro, duas séries, uma para dublagem e outra para legendagem, alguns textos para uma agência de tradução técnica. Hoje é dia de ter preguiça. Também é dia de pensar no meu cardápio da semana. Ainda estou tentando reproduzir a comida que vi ser feita no Thai Brasil em Paraty com resultados promissores. Na sexta, fiz um curry verde de frango com batata doce ao qual acrescentei jiló. Ficou super bom. Hoje vou fazer um curry mussaman, ou seja um curry de carne com batata. Eu não como carne há séculos. Ando me entupindo de frango. Tenho de voltar para a loja de produtos orientais esta semana para comprar alguns ingredientes que faltam para que eu possa tentar fazer o frango agridoce que aprendi na minha última aula de culinária asiática. O sabor do frango ficou super. E quero experimentar fazer esse frango com uma mistura de outros sabores. Acho que vai ficar legal.

domingo, 29 de agosto de 2010

Diálogos

Me perguntaram no sábado para onde eu viajaria no Brasil se eu pudesse viajar de férias. E me ocorreu que se eu pudesse sair de férias, eu não iria viajar. Minha ideia das férias perfeitas é passar um mês inteiro na Travessa, escrevendo. Faz tempo que não consigo passar o fim de semana todo na Travessa e desconfio que vai levar um tempo até que eu possa fazer isso de novo. Mas eu precisava relaxar e foi muito bom, hiper, super, ultra, fantástico fechar a cena que comecei no sábado e chegar num ponto completamente diferente para a personagem de um jeito que a iluminou e revelou uma fragilidade até então inédita. Esse é o grande barato de escrever para mim, chegar naquele ponto em que surpreendo a mim mesma.
Foi um longo diálogo e eu ando percebendo que escrever diálogos está ficando mais complicado a cada ano. Antes eu escrevia diálogos longos, enormes sem pestanejar. Agora eles custam um pouco a vir. Dei algumas caminhadas pela livraria para tentar pensar no próximo passo. E as falas me vêm um pouco de cada vez. Primeiro tem uma base, depois começo a acrescentar os detalhes, as reações, os gestos. E depois vou acrescentando mais e mais camadas até achar que o quadro está terminado.
Só desanimo um pouco quando penso que vou ter de digitar essas 400 páginas de caderno para poder começar a terceira versão. Quem me dera eu pudesse contratar uma secretária para fazer isso por mim. Mas a coitada teria de entender minha letra (o que não é fácil, acreditem) e saber inglês também já que tenho a mania de escrever tanto em inglês quanto em português. Isso não daria muito certo. Vou acabar achando um jeito qualquer, nem que eu acabe acampando na livraria com meu notebook.

Oito horas

Quando você vira noites e noites para terminar trabalhos que estão atrasados ou para que não atrasem, dormir oito horas direto se torna um grande luxo. Acordo e minha vontade é virar pro lado e continuar dormindo. Não posso. Preciso sair para um almoço. O tempo abriu, está ensolarado (eca!), ouço o barulho de crianças brincando em algum lugar próximo daqui. Preguiça. Mas assim que eu sentar no café da Travessa e pedir minha primeira Coca-Cola, a preguiça vai passar e as palavras vão começar a correr da pena com toda velocidade. Eu posso sentir.

Decisões

Nada como um bom dia de trabalho na livraria. Decidi mexer no que seria o ponto chave da conversa entre os irmãos na quarta parte do romance já que um dos personagens chegava a exatamente a mesma conclusão que na parte anterior e vi que isso não teria graça nenhuma. Quando comecei o romance, me propus a criar uma história em que os personagens tomam decisões que os levam a conclusões diferentes em cada história. O dilema é o mesmo para todos eles e cada um responde a seu modo. Ainda tenho que terminar de encaminhar a cena que comecei hoje, mas acredito que ter a chance de descansar e refletir sobre isso antes de retomar este domingo vai ser bom. Já tenho 380 páginas escritas em três cadernos. Nada mau. Depois vou ter de sentar e reescrever toda a segunda parte como um monologo. Acho que faz parte mudar de ideia e ir em outra direção. Fiz isso no outro romance também. Se for fácil demais não tem graça. Avante.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Saindo pelas orelhas

Cansada, com sono, com trabalho saindo pelas orelhas. Fui e voltei da FLIP e nada mudou muito nesse quesito. E nada vai mudar até eu chegar em meados de novembro. Esses são os meses mais movimentados do meu calendário profissional e tenho de aproveitar para criar uma reserva. Com sorte, poderei tirar dezembro de férias. Quero me dedicar a fechar o romance. Por ora, vou me dar o fim de semana para descansar, recarregar as baterias e na segunda, recomeçar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Os três mosqueteiros (2)


Aqui estão os cães animados de Paraty.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Lindas capas

O blog da revista portuguesa Ler está publicando durante o mês de agosto uma série com lindas capas de livros. Vale a pena conferir. Se não achar uma série de quatro capas logo de cara, é só rolar para baixo e você vai ver várias. O blog da Ler fica aqui.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mesa 10, o livro do filho

Eu achei ontem uma descrição perfeita da mesa do Salman Rushdie, escrita pela jornalista portuguesa Isabel Coutinho no blog dela. Eu já comentei sobre a mediação do Sílio Boccanera, que não foi tão boa quanto poderia ser. Para mim, o que acabou ficando como o destaque da mesa foi Rushdie chamar ao palco o filho, todo envergonhado, no início da mesa, para exibi-lo ao mundo. Foi uma coisa carinhosa e muito típica de pais orgulhosos. Achei uma gracinha. Bom, para saberem mais da mesa 10, com a palavra, Isabel Coutinho.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cinco dias

Paraty significa uma série de coisas para mim. É um dos poucos lugares onde minha cabeça silencia. No Rio, assim que eu saio de casa, começo a pensar no texto que estou escrevendo e se tenho a chance de sentar em algum lugar, é quase inevitável que eu comece a escrever. Mas em Paraty, sentada no café da Tenda dos Autores ou no Café Paraty, eu me contento em ficar quieta, vendo a vida passar. Os cinco dias da FLIP acabam virando um tempo para eu descansar mentalmente, esvaziar a cabeça. Cada dia parece ser muito longo e vale por dois. Tenho dificuldade para lembrar o que fiz no dia anterior, que parece ter sido há séculos. Eu gosto das mesas da FLIP muitas vezes porque me permitem descobrir escritores que eu não conhecia. Em 2005, eu não conhecia Salman Rushdie e gostei muito do texto dele. Também não conhecia Will Self ou David Grossman ou Ronaldo Correia de Brito ou Gonçalo Tavares. Para mim, essa descoberta de novos escritores é uma das melhores coisas da FLIP. E é sempre uma chance de poder observar as pessoas. Num lugar com 20 mil pessoas, há sempre várias figuras interessantes. Este ano foi um dos intérpretes de estátua viva vestido de Jack Sparrow e que imitava perfeitamente os gestos do Johnny Depp. E tem sempre a comida do Thai Brasil cuja morte prematura foi anunciada nos jornais, mas continua vivo fora do Centro Histórico e servindo pratos deliciosos. Fui lá toda noite e fui recebida com enorme carinho. Comer bem é sempre um componente importante da viagem a Paraty. São cinco dias em que posso descansar, esvaziar a cabeça e recarregar a bateria para o que vou enfrentar na segunda metade do ano. E é sempre uma delícia.