domingo, 28 de fevereiro de 2010

Muito a dizer

Sigo lendo o novo romance de Elvira Vigna, Nada a Dizer. E lendo com uma fome que há muito tempo não sinto por qualquer outro romance. Pois o livro é do cacete. Repito, o livro é do cacete. Reproduzo aqui mais um trecho desse livro fantástico.

Levantei.

Ele acordou.

Entreolhamo-nos, e saí do quarto.

Voltei para o sofá, onde sentei sem acender a luz. Fiquei olhando a árvore que balançava seus movimentos indiferentes, iguais nessa noite aos de três meses atrás, quando num dia 7 de dezembro também fiquei a olhar para eles, tentando entender o que não era possível entender -- o descompasso.

Achei que Paulo ia se levantar atrás de mim, sentar a meu lado. Que iria me beijar, e que então eu iria chorar, e que o novo dia começaria nessa hora. E que, ao contrário de tantos outros dias, eu iria conseguir notar, eu saberia exatamente o que acontecia, eu conseguiria notar, entender, escutar, as palavras ditas perto de mim, os sons e os gestos, eu saberia exatamente a função e a importância de cada novidade ou cada coisa já antiga que desse dia fizesse parte.

Paulo não veio.

Mais regras

Mais regras para escrever ficção. Desta vez, da Jeanette Winterson.

1 Turn up for work. Discipline allows creative freedom. No discipline equals no freedom.

2 Never stop when you are stuck. You may not be able to solve the problem, but turn aside and write something else. Do not stop altogether.

3 Love what you do.

4 Be honest with yourself. If you are no good, accept it. If the work you are ­doing is no good, accept it.

5 Don't hold on to poor work. If it was bad when it went in the drawer it will be just as bad when it comes out.

6 Take no notice of anyone you don't respect.

7 Take no notice of anyone with a ­gender agenda. A lot of men still think that women lack imagination of the fiery kind.

8 Be ambitious for the work and not for the reward.

9 Trust your creativity.

10 Enjoy this work!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Descobertas

Escrevendo uma das últimas cenas da minha quarta personagem no novo romance, ocorreu uma coisa muito rara. Encontrei a chave para entender a personagem e toda a sua trajetória no livro. Claro que isso significa ter de reescrever tudo, mexer em um monte de coisas, mas quando acende uma luzinha na minha cabeça, não costumo discutir comigo mesma. Eu precisava encontrar uma maneira de diferenciá-la do personagem do irmão e não estava encontrando a solução até esta tarde. Escrever às vezes pode se parecer com jogo de futebol, com viradas no placar no último instante.
Como brinde, enxerguei um caminho para escrever as duas cenas de ligação que eu queria incluir. Mas essa é uma coisa que eu explico outra hora.
Amanhã vou voltar para a livraria e fechar a quarta parte do romance e, consequentemente, a primeira versão. A próxima etapa será reescrever tudo para a segunda versão. Agora vai começar o trabalho duro.

Nada a dizer

Nada a Dizer, novo romance de Elvira Vigna. Um trecho:

Não é fácil o caminho até o sexo.

Principalmente quando se imagina um sexo desavergonhado, bruto, sem prolegômenos e o que se tem em frente é a cara bem conhecida de uma velha amiga e colega de profissão. Pois Paulo e N. se conheciam havia cinco anos.

Não é fácil. A que horas daria para dizer Agora vira e abre bem as pernas. A que horas daria para dizer Então vamos.

"Então vamos."

E a realidade nunca está à altura.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Not even the rain has such small hands

Hannah e Suas Irmãs é um filme que eu amo. Quando passou nos cinemas nos anos 80, eu vi o filme umas 13, 14 vezes. Sem exagero. Ele passou um ano em cartaz no falecido Cinema Lido no Flamengo e, de tempos em tempos, eu ia lá passar uma tarde na companhia de Woody Allen. Ainda vi o filme mais não sei quantas vezes em vídeo e na TV a cabo. Gostava tanto do filme que roubei a ideia daqueles títulos entre as cenas para uma novela minha que escrevi nessa mesma época.
Ontem, olhando o blog da Patrícia Reis, dei de cara com um post de uma cena do Hannah que eu sempre gostei muito. É a cena em que leem um poema do e.e. cummings. Não sou nem nunca fui muito afeita a poesia, mas este poema é de uma beleza que consegue furar até o meu forte bloqueio contra poesia. Portanto, este é um roubo explícito. Obrigada, Patrícia. Com vocês, Hannah e Suas Irmãs e e.e. cummings.

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Da delicadeza de um prendedor de roupa

Ao vasculhar esse maravilhoso mundo virtual dos blogs, eu ocasionalmente encontro coisas geniais. Uma delas é o blog da Mariana Newlands. Ela é uma programadora visual cujo trabalho eu já tinha admirado nas capas de vários livros. Não é um blog de texto. Ela coloca desenhos, exemplos de seu trabalho e as fotos deslumbrantes que ela tira de coisas que normalmente não são fotografadas. Nestes últimos dias, ela tem postado mais dessas fotos lindas e eu fico maravilhada com a capacidade dela de tornar luminosas coisas simples como uma bolsa ou prendedores de roupa. O link para o site dela é este.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Minhas regras para escrever ficção

Pensei em elaborar minhas próprias regras para escrever ficção, mas só o que me ocorreu foi 1) aprenda a ignorar aquele pessoal que te olha como se você fosse um alienígena ali escrevendo e 2) não esqueça de levar dinheiro para pagar a conta do café ou podem botar você para fora de vez. De resto, tudo o que faço é ler para cacete e escrever sempre que possível. Mais do que isso é desnecessário.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

10 regras para escrever ficção

O jornal inglês The Guardian pediu a vários escritores que listassem suas regras para escrever ficção tomando como modelo as dez regras de Elmore Leonard. O elenco é de primeira. Margaret Atwood, Neil Gaiman, PD James, Anne Enright, David Hare e muitos outros. Tem um pouco de tudo, desde escritores recomendando que se levem dois lápis para escrever num avião a gente que diz que não se deve ter medo de ousar a outros que sugerem pedir que uma pessoa amiga leia seus originais (desde que não seja seu namorado ou namorada porque aí pode dar em briga). As regras que eu mais curti, e que mais se parecem com as regras que eu teria, são as do Neil Gaiman e que eu reproduzo abaixo. O resto da matéria você encontra aqui.

1 Write.

2 Put one word after another. Find the right word, put it down.

3 Finish what you're writing. Whatever you have to do to finish it, finish it.

4 Put it aside. Read it pretending you've never read it before. Show it to friends whose opinion you respect and who like the kind of thing that this is.

5 Remember: when people tell you something's wrong or doesn't work for them, they are almost always right. When they tell you exactly what they think is wrong and how to fix it, they are almost always wrong.

6 Fix it. Remember that, sooner or later, before it ever reaches perfection, you will have to let it go and move on and start to write the next thing. Perfection is like chasing the horizon. Keep moving.

7 Laugh at your own jokes.

8 The main rule of writing is that if you do it with enough assurance and confidence, you're allowed to do whatever you like. (That may be a rule for life as well as for writing. But it's definitely true for writing.) So write your story as it needs to be written. Write it ­honestly, and tell it as best you can. I'm not sure that there are any other rules. Not ones that matter.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O esporte de assistir esportes

Também aproveitei o carnaval para assistir aos eventos das Olimpíadas de Inverno e me descobri fascinada por um esporte que parece tudo menos esporte: o curling. Curling é aquele esporte em que dois times ficam deslizando umas pedras grandes de granito numa pista de gelo para acertar um alvo. Parece com uma versão gelada da bocha. O pessoal da TV fica descrevendo o jogo como o xadrez do gelo. E após assistir a várias partidas do time do Canadá, começo a entender por quê. Cada jogada é pensada cuidadosamente, as pedras lançadas com precisão. Não é um jogo de força ou velocidade. O que vale é a inteligência e o jeito. Eu ando torcendo pelo Canadá. Aliás, estou torcendo pelo Canadá em tudo. É um país simpático com uma torcida animada. Fui com a cara deles.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Woking, woking

Não era para eu gostar de cozinhar. Dá trabalho, tem de lavar louça depois, é quente. Mas de repente me converti em dona de casa que valorosamente enfrenta o fogão noite após noite. Não dou descanso para meu wok. É meio estranho, nem parece que sou eu. Nem tudo dá certo, no entanto tenho acertado mais do que errado. Estou experimentando receitas dos livros que comprei, as mais simples naturalmente. Depois imagino que vá passar para as mais complexas. Por enquanto estamos nesse pé.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Tateando o terreno

Muitas vezes, ao escrever uma determinada cena, sinto que há mais a dizer, outras camadas. Ainda não sei direito quais são. A primeira versão de um texto é um exercício de ir tateando o terreno. Eu curto esse mistério, de não saber completamente a forma do texto que está por vir, de sentir que ainda há coisas por descobrir sobre esses personagens porque, em última análise, tudo o que escrevo tem a ver com os personagens. Se não sinto que eles estão ganhando vida, então o texto não está dando certo. Hoje foi um dia desses, de sentir movimentos subterrâneos, de revelações que ainda estão por vir. Isso me deixa mais animada para a próxima vez.

Roma

Roma é uma série que simplesmente não tem paralelos com qualquer outra coisa na televisão. Sua proposta é inovadora. Tratar dos eventos históricos que aconteceram em Roma a partir da visão de dois legionários que seriam testemunhas da história. E a parte inovadora é a seguinte: retratar Roma como ela era naquela época, de acordo com a ética e a moral que existiam cinquenta anos antes do nascimento de Cristo. Eles realmente vão a fundo na cultura romana, seus hábitos, rituais, deuses, convenções sociais. É um dos retratos mais fiéis que já se viu no cinema ou na TV do que foi ser romano. Da mesma forma, o enredo da série segue os eventos que deflagraram a guerra civil entre Júlio César e Pompeu Magno e que vão acabar dando na ascensão de Augusto César à posição de imperador. É claro que tudo é condensado e, em alguns momentos, simplificado para facilitar a narrativa, mas a essência é mantida.
A reconstituição de época é uma das coisas mais primorosas que já se viu. Tudo foi filmado nos estudios da Cinecittá e nos arredores de Roma, com figurantes e artesãos italianos, o que deu à série mais um toque de autenticidade. O elenco, composto de atores ingleses, é uma maravilha. E o ponto alto é a participação de Polly Walker como Atia, mãe de Otaviano (o futuro Augusto). Ela é a mãe amorosa que fará qualquer coisa para garantir que sua família esteja perto do poder e não hesita em nada do que faz.
A série teve apenas duas temporadas (uma pena) e pode ser encontrada em DVD nas lojas. O grande barato dos DVDs é que eles não só trazem comentários dos diretores e atores, como também tem um comentário em texto que esclarece para o espectador todas as tradições e práticas dos romanos da época. Já assisti a série várias vezes com e sem os comentários e toda vez que revejo os episódios descubro mais um detalhe que não tinha observado antes. É uma série que vivo recomendando às pessoas e aproveito para recomendá-la aqui também.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Manuscritos

Escrevendo à moda antiga, com papel e caneta, é meio inevitável eu ter certa fascinação por manuscritos. Não é à toa que um de meus filmes preferidos é Possessão, que se trata justamente da busca de manuscritos e cartas de escritores vitorianos para tentar resolver um mistério.
Papéis amarelados, anotações nas margens, correções, a letra manuscrita, maços de papel esquecidos no fundo de uma gaveta ou em uma pasta. Fiquei muito contente quando pude botar seis anos de cadernos e manuscritos cheios de correções do romance numa caixa ao botar o ponto final no meu primeiro romance simplesmente pelo fato de agora ter uma caixa de manuscritos. Na prática, eu tenho manuscritos em toda a minha volta no meu escritório. Os cadernos do meu segundo romance (que eu resolvi deixar na geladeira por um tempo porque não estava gostando dele) estão à minha esquerda. Os cadernos com meu romance atual estão na minha mochila atrás de mim. Outros cadernos de outros textos estão na estante atrás de mim. Outros manuscritos mais antigos estão no meu quarto e numa caixa num outro cômodo do apartamento.
De tempos em tempos, revisito estes textos antigos, repasso a evolução do meu texto. Nisso, eu redescobri um texto que eu tinha descartado, mas agora me parece bem promissor como a base para um novo romance. Inclusive, minha conclusão sobre porque o conto não deu certo foi que aquilo não era para ser um conto, era para ser um romance. Gosto de me sentir cercada pelo que escrevi já que a literatura é a parte mais importante da minha vida. Em tempos difíceis, escrever é a única coisa que me ajuda a manter a sanidade. Amanhã estarei de novo na livraria, cercada de cadernos e livros, feliz.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Aprendizagem

Quando passei no vestibular, eu fiz questão de jogar fora os livros e cadernos que usei na escola. O segundo grau para mim não foi uma boa experiência. As diferenças entre as escolas americana e brasileira (e suas respectivas culturas) eram muito grandes e me causaram grandes problemas. Eu perdi o prazer de ir para a escola que tinha antes.
Na faculdade, recuperei um pouco do meu prazer, ainda mais porque não precisava mais ter de entender fórmulas matemáticas, fazer contas. Inclusive, uma de minhas épocas mais felizes foi quando fiz minha monografia de conclusão de curso e passava horas na biblioteca da PUC (excelente!) buscando fontes para minha pesquisa. Depois das aulas do dia, eu almoçava no bandejão da PUC lendo os textos que xeroquei na biblioteca, depois seguia para meu emprego no Parque Lage. Mas chegando ao final de quatro anos e meio de faculdade, estava meio saturada do processo todo de aula, trabalhos, provas, notas. E, mais uma vez, tendo recebido a confirmação de que me formei, eu joguei fora meu caderno.
O que eu tenho percebido nos últimos tempos é que minha vontade de aprender não acabou. Passei o carnaval assistindo a documentários da BBC sobre Constantinopla, a história da Marinha inglesa e da Cristandade, sobre a época vitoriana revelada pelas suas pinturas. Sem falar que estou sempre usando o Google e a Wikipedia não só no meu trabalho de tradutora, mas quando vejo algo na TV que me causa curiosidade. Continuo querendo aprender, só não quero ter de fazer isso numa escola.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ordinary Love

Ordinary Love é uma novela de Jane Smiley que eu leio periodicamente. A história é simples. Trata-se de uma família que se desagregou por causa de um divórcio quando os filhos eram pequenos, mas agora que as crianças estão crescidas e têm suas próprias vidas, eles se reunem periodicamente como toda família. Só que a mãe (e narradora) vem guardando um segredo há muitos anos e o segredo está prestes a ser revelado.
É um daqueles livros que leio repetidamente porque toda vez que o leio, ele me sugere cenas que combinam perfeitamente com o que estou escrevendo. Ele faz as rodinhas girarem. Outro livro desses é The Hours, de Michael Cunningham. É batata. Basta ler meia página que várias ideias aparecem na minha cabeça. São meus livros inspiradores. Meu primeiro romance deve muito a esse livro porque eu o lia toda vez que ficava empacada.
Jane Smiley escreveu vários romances, mas tem um em particular que eu li e acho genial que é A Thousand Acres, que é uma nova versão de Rei Lear passada numa fazenda, só que do ponto de vista das irmãs. Reli o livro há um ou dois anos e confirmei minha impressão de que se trata de um romance extremamente bem escrito. Esse é um livro que eu recomendo aos amigos.

Mais uma etapa

Terminei mais um pedaço do novo romance. Agora só falta o último pedaço para fechar a primeira versão e voltar minha atenção para a segunda versão. Demorei mais do que queria para terminar esse pedaço porque várias pequenas coisas ficaram atrapalhando. Vou voltar minha atenção para o último pedaço do romance que falta fechar. O problema é que eu me toquei ontem que, para as últimas cinco cenas que tenho a escrever, estou lidando com uma personagem que eu não sei mais quem é. E, mais ainda, nesse pedaço final, ela está em transformação. Vou ter de reler as cenas dela para reconstruir qual foi sua trajetória até agora e depois partir dali. Lidar com quatro personagens ao mesmo tempo não é mesmo mole. Como costumam dizer os americanos, what was I thinking?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Tem carnaval

Já dizia aquela música, é fevereiro, tem carnaval. Em anos passados, eu comprava coisas gostosas para comer (sorvete, pipoca, etc.) e me instalava na frente da TV para assistir ao desfile das escolas de samba. Antigamente eu também tinha preparo para aguentar ficar acordada a noite toda. Hoje em dia não dá mais. Mas não tem problema, ando achando as escolas tão repetitivas que não estou mais interessada nos desfiles. Este ano prefiro ficar de olho nas Olimpíadas de inverno. Minhas habilidades atléticas são nulas, mas eu adoro uma olimpíada. Admiro gente que tenha tal dedicação e controle de seus corpos que consiga fazer coisas como andar num trenó mínimo a mais de 100 quilômetros por hora ou se despencar de uma montanha num par de esquis. Quando eu era criança, meus pais me levaram a um resort de esqui e descobri como esquiar pode dar uma adrenalina tremenda, mas também um medo enorme. Você tem a sensação de que está prestes a perder o controle e se estabacar no chão. O que aliás eu fiz e acabei num hospital, tirando radiografias da minha cabeça. Então, neste carnaval, viva as Olimpíadas de Vancouver. Vou torcer pelos canadenses.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Exagero

Com o calor infernal que anda fazendo no Rio, eu venho pedindo aos céus que chova há semanas. E parece que ontem finalmente alguém me ouviu porque despencou um dilúvio como poucas vezes eu vi aqui sobre minha casa. Até entrou água no apartamento. Acho que da próxima vez serei mais específica nos meus pedidos. Chuva sim, dilúvio não. Em todo caso, vou tentar arrumar uma arca para a próxima vez. Pelo menos eu já tenho um par de cães para dar início à coleção.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

São Super-Homem


A Travessa armou sua vitrine de Carnaval e nela colocou uma imagem de Super-Homem naquela tradicional pose de São Sebastião. Já que eu sou Clark Kent, não pude deixar de fotografar o santo e postar a imagem aqui.

Transbordar

Lendo uma entrevista com o escritor João Ximenes Braga no site da Saraiva Conteúdo, encontrei uma resposta interessante à pergunta "O que você diria para um jovem que deseja ser escritor?" A resposta foi a seguinte:

JXB– Você só pode escrever porque gosta de ler. Sinceramente, não consigo pensar em nada estimulando não. Por que você escreve? Você escreve porque gosta? Tem uma resposta da Luciana Peçanha: Por que você escreve? “Porque transbordo”. Se você precisa escrever, escreva. E arque com as conseqüências.

A entrevista na íntegra pode ser encontrada aqui.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Controle

Tomar o controle da própria vida. Quantas vezes a gente consegue ter essa nítida sensação de que o que acontece na nossa vida só depende de nós? Essa é uma das sensações mais incríveis que se pode ter na vida. Eu recomendo.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Frak

Esta semana que passou eu finalmente tive tempo para terminar de assistir à quarta e última temporada da série Battlestar Galactica. Não, esta não é a Battlestar do seu pai. Ronald Moore, o produtor, pegou aquela série chiclete dos anos 70 e levou a ideia básica às últimas consequências. A série é pauleira. Ela trata de tudo um pouco. Política, religião, amor, sexo, desespero, esperança. E ninguém, ninguém mesmo é santo ou vilão. Todos os personagens, até os que você consideraria os mocinhos, são capazes de cometer crimes em nome daquilo em que acreditam, porque acham que é necessário. E você não tem como prever como os episódios vão terminar. Não mesmo. E para fechar com chave de ouro, o elenco é encabeçado por dois atores incríveis: Edward James Olmos e Mary McDonnell. Aqui no Brasil, a ficção científica é vista como coisa de criança, de adolescente, como algo raso e ligeiro. Battlestar Galactica é tudo menos isso. O texto é maravilhoso e a trama tem vários níveis. É como se fosse um grande romance em quatro volumes. Acho que a única série comparável a ela é Roma, que também é uma série absolutamente singular e que foi tirada do ar cedo demais. As quatro temporadas (ai como eu queria que tivesse durado mais tempo) estão disponíveis em DVD. Aproveite que o carnaval vem aí e faça uma maratona em casa se você é daqueles como eu que não curte uma batucada.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Porque é preciso

Ontem, assistindo a um vídeo da entrevista com o escritor João Ximenes Braga do site Saraiva Conteúdo, registrei a frase quase inevitável dos escritores. Escreve-se porque é preciso. E essa é uma necessidade tão forte quanto comer e beber e respirar. Soa como um dos piores clichês, eu sei. Quando entrei em parafuso por causa das críticas duras ao primeiro romance, o que me ajudou a recuperar o equilíbrio foi lembrar dessa felicidade singular que é escrever. Muitas coisas podem nos fazer felizes. Escrever está numa categoria toda sua e que é difícil de descrever ou explicar. E é uma felicidade que nos sustenta. O escritor não só é persistente. Ele vive da esperança de que tudo vai dar certo no final.

Persistência

Escritor tem de ser meio cabeça dura. Você escreve sem ter certeza que o que está escrevendo é bom, sem saber se vai ser publicado e, se for publicado, se seu livro vai vender bem. Você também não sabe se algum dia vai poder viver de escrever. Ou seja, na maioria dos casos, escrever será aquilo que você faz nas horas vagas e o seu sustento terá de ser tirado de outra atividade qualquer.
Há vezes em que você recebe críticas duríssimas ao seu texto e, tempos depois, o mesmo texto é super bem recebido por outras pessoas. Nisso, você fica oscilando entre pensar que seu texto é uma merda ou é uma maravilha. Às vezes, o texto leva anos para ficar pronto. Meu primeiro romance exigiu 6 anos de trabalho e joguei fora dois terços do texto duas vezes. Houve um momento em que tive uma grande crise e me perguntei se valia a pena continuar escrevendo. Mas pouco depois eu percebi que nunca conseguiria deixar de lado o romance até botar o ponto final nele. Dito e feito, assim que eu dei o romance por terminado, comecei a ter uma avalanche de novas ideias, um novo romance começou a surgir na minha cabeça e, pouco depois, ideias para outros romances.
Hoje foi um daqueles dias em que precisei ser insistente. O texto não estava ficando com a cara que eu queria, mas continuei seguindo em frente. Talvez amanhã, quando eu retomar a cena, ela fique com uma cara melhor. E mesmo que não ficar, tem sempre a segunda repassada do texto para acertar tudo. Para o alto e avante.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Felicidade

Adriana Lisboa fez um ótimo post na terça sobre um ensaio de Amy Bloom a respeito da felicidade e sua busca. No post dela tem o link para o ensaio da Amy. O post da Adriana está aqui.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pausa

Ocasionalmente, quando se escreve, um momento de pausa é necessário para que você possa ter uma visão mais clara do que escreveu. Ontem foi um momento de pausa. E de repente eu entendi que a penúltima cena de um de meus personagens precisava de uma dinâmica diferente. Eu achei o texto que precisava ser dito, parte do diálogo, mas não havia dramaticidade suficiente. Ou seja, sábado que vem vamos começar de novo e acertar a cena.
Cada vez mais eu acho interessante esse processo pelo qual as coisas que absorvo todo dia acabam voltando à tona de maneiras diferentes. Frases que vi num filme, algo que li em um romance, uma cena que presenciei. Nada se perde. Tudo acaba sendo usado uma hora ou outra. É um pouco desconcertante quando dou de cara com esses elementos que inspiraram coisas que escrevi. Mas ao mesmo tempo é interessante ver o que eu guardo de tudo o que me cerca. Essa é uma perspectiva que sempre me interessa.

Ansiedade

Vida de freelancer. Todo mês você recomeça do zero e fica torcendo para aparecer trabalho. Essa época do ano é a pior de todas. O telefone não toca, sua caixa de entrada do e-mail teima em ficar vazia. Você se diz que tudo vai dar certo. É assim que tem de ser. O otimismo precisa ser constante. Fevereiro será um mês melhor do que janeiro. Tenho certeza.