Sigo lendo o novo romance de Elvira Vigna, Nada a Dizer. E lendo com uma fome que há muito tempo não sinto por qualquer outro romance. Pois o livro é do cacete. Repito, o livro é do cacete. Reproduzo aqui mais um trecho desse livro fantástico.
Levantei.
Ele acordou.
Entreolhamo-nos, e saí do quarto.
Voltei para o sofá, onde sentei sem acender a luz. Fiquei olhando a árvore que balançava seus movimentos indiferentes, iguais nessa noite aos de três meses atrás, quando num dia 7 de dezembro também fiquei a olhar para eles, tentando entender o que não era possível entender -- o descompasso.
Achei que Paulo ia se levantar atrás de mim, sentar a meu lado. Que iria me beijar, e que então eu iria chorar, e que o novo dia começaria nessa hora. E que, ao contrário de tantos outros dias, eu iria conseguir notar, eu saberia exatamente o que acontecia, eu conseguiria notar, entender, escutar, as palavras ditas perto de mim, os sons e os gestos, eu saberia exatamente a função e a importância de cada novidade ou cada coisa já antiga que desse dia fizesse parte.
Paulo não veio.
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