Acho que não tem uma FLIP ou evento literário a que eu compareça em que uma criatura qualquer deixe de perguntar ao escritor no palco o quanto tem de autobiografia no livro, especialmente se ele é narrado em primeira pessoa. É uma pergunta tão previsível quanto a eterna "Você está traduzindo o filme na hora?" que ouço pelo menos uma vez por festival de cinema. Já falei sobre isso aqui algumas vezes. O escritor é como um ator. Ele não é um bandido (ou médico ou santo ou violinista), ele só interpreta um na TV. Por exemplo, no meu primeiro romance tenho um irmão suicida, um pai que abandona a família, entre outras coisas. Todos na minha família estão vivos e bem, meu pai não largou minha mãe quando éramos pequenos, ninguém tem pensamentos de suicídio, nada disso é verdade. Mas acontece que comigo eu escrevo sobre certas coisas e elas acontecem depois. No primeiro romance, a irmã precisa dispor dos pertences do irmão morto. Enquanto eu escrevia o romance, minha avó morreu un tanto subitamente e tempos depois me vi no quarto dela, selecionando objetos dela para ter de lembrança. A sensação de déjà vu foi fortíssima. Agora, no romance atual está ocorrendo algo semelhante. Escrevi sobre determinados eventos pelos quais nunca tinha passado, foram coisas que determinei logicamente porque encaixavam na trama e, tempos depois, eu me vejo cara a cara com a mesma situação na vida real. Muito, muito estranho. É como se estivesse escrevendo minha autobiografia ao contrário. Talvez se eu escrevesse um romance sobre um escritor famoso e premiado isso se torne verdadeiro para mim também. Não custa tentar. Em tempo, voltei para o primeiro romance em progresso e realmente o tempo que passei longe dele está me permitindo ver algumas coisas mais claramente, como uma cena que soa como se fosse de outra personagem. O que está pegando é o tom, que está informal demais e irrevente. Esta personagem nunca é irreverente quando fala do pai. Tenho de achar outra maneira de passar as mesmas informações, que são importantes para entender a relação dessa personagem com o pai. Também está mais fácil detectar as pequenas incosistências entre as versões dos personagens e que não foram criadas de propósito, fui eu que não lembrava dos detalhes entre uma história e outra. Depois percebi que isso só reforçava o efeito que eu queria. Se a estrutura desconjuntada vai funcionar para um leitor que não conhece a história ou não, ainda não dá pra saber. Obviamente, eu conheço a história bem demais para poder avaliar. Acho que vou dormir daqui a pouco porque amanhã tenho mais um dia de trabalho e quero estar bem descansada.
domingo, 28 de agosto de 2011
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