quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Meu quarto de escritor

Adoro quando falam que o trabalho do escritor é solitário. É meio inevitável sorrir quando faço isso toda semana no meio de uma livraria cheia de gente. Não duvido que a solidão seja necessária para escrever. Mas não acho que ela seja necessária para mim. Desde que comecei a escrever, eu tinha o hábito de escrever no meio da sala de aula porque estava de saco cheio. Isso tinha a vantagem de fazer parecer que eu estava interessada e adiantava o que eu estava escrevendo na época. Na época em que eu trabalhava numa editora, também escrevia no restaurante onde almoçava todo dia. Parei com isso um pouco porque no meu próximo emprego eu tinha companhia para almoçar, mas eu nunca parei de escrever em público. Eu escrevia muito em casa também, sentada na minha cama, ao som da MTV, mas depois que comecei a trabalhar em casa, ficou complicado ter concentração para escrever no mesmo lugar em que eu trabalhava. E aí eu descobri o café da extinta Letras e Expressões em Ipanema. Meu hábito era ir lá toda vez que me sentia muito inquieta em casa. Passava umas poucas horas lá, escrevendo, comprava umas revistas e voltava para casa mais sossegada para continuar a trabalhar. Quando a Travessona de Ipanema abriu, eu me transferi para o café de lá e foi lá que encontrei o lugar perfeito para escrever. Os vendedores do segundo andar brincam comigo que eu devia fazer a reserva da minha mesa antes de vir para garantir que ela esteja vazia.
Não faço questão de silêncio, mas preciso sim de concentração. Antigamente era na cara e na coragem. Hoje em dia tenho meu MP4 player com uma vasta seleção de músicas pop que me fornece concentração instantânea. Acho que, na prática, a única solidão de que preciso é de estar sozinha dentro da minha cabeça. Eu curto o movimento, gosto de observar as pessoas, de conversar com os vendedores. O jornal The Guardian tinha aquela série de quartos de escritores, infelizmente já encerrada. O meu quarto é uma livraria inteira.

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