Os americanos resolveram pegar Prime Suspect, a fantástica série policial com Helen Mirren, e refazer a série do jeito deles. Vi um trailer outro dia num site e não fiquei muito entusiasmada. Tenho visto muitas séries inglesas de uns tempos pra cá e, sinceramente, acho que elas ganham da maioria das séries americanas. Pra começo de conversa, os ingleses são especialistas nas séries policiais e de mistério. Segundo, os atores são imbatíveis. E três, eles não estão interessados em glamour. Por exemplo, no Prime Suspect original, Helen Mirren tinha por volta de 47 anos. Ela tinha uma cara cansada, era uma pessoa às vezes desagradável e logo no primeiro episódio ela se aproveita da morte de um colega para assumir a investigação que ele chefiava, o que foi eticamente meio duvidoso. E ela faz de tudo para levar a investigação até o final. Os sets são os mais prosaicos possíveis, tem aquele aspecto de um lugar usado há muito tempo e meio desgastado, os policiais têm cara de gente normal, ninguém é bonito. A investigação é feita de pesquisas chatas e repetitivas, longas esperas, e o instinto infalível da Jane Tennison (Helen Mirren) para achar o culpado. E isso é muito comum em séries inglesas. O protagonista não é jovem e lindo, musculoso. Aliás, a grande maioria dos detetives deles são pessoas de 50 para cima. Um exemplo recente é o Luther, um policial que tem um instinto infalível para achar criminosos, mas separado da mulher, ele mora em um apartamento que é um buraco, sempre tem a barba por fazer e parece viver à beira de algum tipo de colapso mental. Glamour zero. Agora vejamos as séries americanas. Todo mundo é lindo, jovem, musculoso, os sets são estilosos e tem aquela edição ágil de videoclipe. E nas séries de TV aberta, tudo é diluído em 22 episódios quando os ingleses costumam concentrar seus dramas em temporadas de seis, dez episódios e eles nunca têm medo de ir até as últimas consequências de uma trama. Protagonistas morrem de verdade. Novos atores entram para tomar o lugar do ator que partiu e ninguém pensa duas vezes em fazer isso. Por isso e outras coisas, acabam sendo séries mais densas e muitas vezes inovadoras. Quem teria inventado uma série sobre um lobisomem, um vampiro e uma fantasma que são amigos e dividem uma casa? Talvez seja o fato de eles trabalharem com menos dinheiro e bem longe do esquema de Hollywood. Talvez seja uma influência de toda uma longa tradição literária no país e que tem Shakespeare como grande ícone. Não sei direito. Mas ao ver a versão glamurizada de Prime Suspect, fiquei meio desanimada, achando que os produtores da série não tinham entendido qual era o sentido da série original, que era oferecer uma visão mais realista da investigação policial e do papel da mulher em uma força policial machista.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
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