segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A quase queda

Almocei com meu pai hoje. Não, não foi por causa do Dia dos Pais. Na verdade, esse foi o almoço por conta do meu aniversário que acabou sendo adiado porque ele não estava se sentindo bem. Meu pai é uma daquelas pessoas que envelheceu meio precocemente. Ou talvez o mais correto seja dizer que por ele estar com setenta e tantos, ele acredita que deva ser velho enquanto que minha mãe faz questão de não reconhecer que existe uma coisa chamada velhice não importando qual a sua idade. Desconfio que ela vai morrer sem nunca admitir que tem cabelos grisalhos. Só posso supor que ela os tem já que ela pinta o cabelo de louro desde antes de eu nascer (encontrar uma foto antiga dela poucos anos antes do meu nascimento com ela de cabelos castanhos como os meus foi uma descoberta monumental, não sei como ela não a queimou) e se eu tenho dois fios brancos de cabelo, ela tem de ter mais. De todo modo, quase um mês depois do meu aniversário, sentamos afinal para almoçar e eu devorei um prato monumental de tempura de camarão. Para não perder o hábito, fiquei admirando o prato de sashimi que chegou na mesa ao lado e lamentando não ter pedido ele também. Mas já era o final da refeição e saímos para nos despedir. Ele foi entrar no táxi, percebeu que eu não ia entrar nele (eu ia para a Travessa ali perto) e voltou-se para me dar um beijo. Só que ele perdeu o equilíbrio e quase caiu (meu pai vem sofrendo de problemas nas pernas nos últimos anos que afetam sua mobilidade). Tive de segurá-lo para evitar que ele se estatelasse na calçada. Mas deu tudo certo, ele me deu um beijo e entrou no táxi, voltou para casa. Eu segui meu caminho. E ao caminhar, refleti sobre esse estranho momento em que me vi mais forte fisicamente que meu pai, em que dei de cara com o fato de que ele se tornou uma pessoa frágil. Meu pai, o diplomata que viajou meio mundo, agora evita sair de casa porque andar se tornou muito penoso. Intelectualmente você sabe que vai ter de enfrentar momentos assim. É muito estranho quando eles aparecem de verdade. É meio como se fosse algo artificial. Como se alguém aparecesse com um roteiro e dissesse, olha, chegou a hora de... Tomara que eu não tenha de passar por isso com minha mãe por muito tempo ainda. Desconfio que ela só vai sossegar quando passar dos 100 anos. Tomara.

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