domingo, 11 de setembro de 2011

Terça

Eu virei a noite para fechar esta porra desse filme coreano. Como eles falavam, meu Deus. Eu teria preferido um filme tranquilo de longos silêncios e aí aquela meleca estaria pronto e eu estaria dormindo. Faltava dez dias para o Festival do Rio começar. Eu queria terminar o filme, pegar outro, terminar aquele logo e pegar mais outro.Quanto mais filmes, mais você fatura. Fiz uma pausa porque estava de saco cheio. É capaz de eu ter levantado, ido na cozinha para pegar mais Coca-Cola na geladeira. Resolvi checar meus e-mails. E vários deles diziam que um avião tinha batido no WTC. Não havia meio de eu lembrar o que WTC significava, mas como viciada em cobertura jornalística de grandes eventos, passei a TV do canal de filmes em que estava para a CNN. Dei com um âncora da CNN em cima de um prédio, mostrando a torre que tinha sobrado e falando do avião que tinha batido no Pentágono. Levei um tempo para entender o que estava acontecendo. Ainda mais porque eles ficavam reprisando as imagens de pouco minutos antes, como o impacto do segundo avião, a queda da primeira torre. Depois teve o desabamento daquela seção do Pentágono. Não sei direito por que, mas passei a mão no telefone e liguei para quem eu pude para saber se elas estavam vendo a mesma coisa que eu. E enquanto estava falando com minha melhor amiga, a segunda torre começou a cair. Ela desligou para procurar uma TV e eu passei o resto do dia na frente da minha TV, morta de cansada, mas sem conseguir desgrudar do que estava acontecendo, porque tinha começado uma espera, a espera pelo próximo evento horrível. Meu irmão mora em San Francisco. Será que aconteceria algo lá? Passei todo o resto do dia e da semana grudada na CNN, vendo a cobertura sobre os ataques e o que aconteceria em seguida. Acho que só terminei o filme no dia seguinte, não tenho certeza. Nem sei direito quando fui dormir. Depois de dez anos, uma série de detalhes ficou vago, mas não o que eu senti vendo tudo aquilo acontecer em Nova York. Isso segue fresco na minha cabeça.

Claro que não interessa o que me aconteceu nesse dia. Não fui afetada, não conhecia ninguém que morreu. Meu irmão seguiu inteiro e seguro em San Francisco. Mas de algum modo isso faz parte da experiência daquele dia, a vontade de contar o que você viu e sentiu. De novo, as narrativas. Elas seguirão conosco.

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