Estou tentando acreditar que hoje é mesmo o último dia e que amanhã estarei pegando um avião de volta para o Rio. Faço minha mala, tento descobrir como fazer caber nela os trocentos livros que comprei na Livraria Cultura, além de toda a roupa que parece ter aumentado de volume de uma hora para a outra. Tenho quatro sessões e queria que não fosse assim já que quero me ver livre disso tudo. Se no final do Festival do Rio eu chego ao último dia exausta, no final da Mostra eu chego completamente morta, esgotada e sem paciência. Quero mais que a Petrobras se exploda, que aquelas pipoquinhas saltitantes do Unibanco morram, que o pessoal que faz festa no comercial da Adidas vá fazer festa em outro lugar e me deixe em paz. Não aguento mais ver essas vinhetas toda santa sessão e tenho vontade de arrebentar a cara de quem inventou essa história de vinheta. Depois as pessoas olham para mim com espanto quando eu digo que não vou mais ao cinema. A sala de cinema virou um lugar de trabalho, não de lazer. Só nestes dois festivais eu vi mais de cem filmes em um mês e meio, fora o que eu traduzi ou adaptei. Tá bom assim, né? Não preciso ir ao cinema agora por um ano inteiro. Que é mais ou menos o que acontece. Quero voltar para meus cachorros, minha casa, meu travesseiro, minha comida congelada na geladeira. Não quero ter horários por pelo menos um mês inteiro. Vou pendurar mais um crachá para minha coleção, botar o catálogo junto com os outros catálogos de outros festivais de cinema em que trabalhei, vou voltar para a rotina. E vai começar a contagem regressiva até o próximo ano. É uma correria, é uma maratona, uma maluquice e chego na reta final com umas olheiras enormes, parecendo aqueles corredores de maratona que vemos em olimpíadas, se arrastando para chegar e cumprir seu dever de atleta mesmo que o vencedor já tenha chegado há meia hora. Sou como a tartaruga da fábula. Carrego minha vida nas costas e aos poucos eu chego lá. Amanhã, avião. Odeio aviões, ônibus, carros. Mas amanhã acho que vou beijar todas as aeromoças e aeromoços e pilotos (vamos ser democráticos) no caminho para o Rio.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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