Olhando vários blogs de outros escritores, dou de cara com essa expressão "livro em construção". E quanto mais eu penso nela, mais eu gosto. Quando eu morava na Pinheiro Guimarães, eu era vizinha de uma oficina de marceneiro e gostava de passar pela porta e ver o que ele e seus assistentes estavam fazendo. Um armário, uma mesa, uma estante. Escrever um romance me sugere essa imagem do marceneiro fazendo um móvel, grande ou pequeno, cortando a madeira, lixando, medindo as peças, prendendo tudo com pregos. Você vai juntando as peças, colocando-as no lugar, vendo se tudo combina. Se não dá certo, você desmonta o móvel e tenta de novo até acertar. Neste momento estou reescrevendo as cenas referentes a uma personagem no meu romance. Eu tinha pensado em escrever a parte dela a partir de um ponto cronológico anos após os eventos centrais e ela narraria tudo em flashbacks. Mas eu percebi que não estava conseguindo captar a mudança pela qual a personagem passa durante a história. Aí foi preciso voltar atrás e começar a escrever tudo de novo de forma cronológica. Mais tarde, com tudo escrito e digitado no computador, será fácil rearrumar tudo do jeito que desejo. A ideia é que a história dela se encaixe com a história do outro personagem do núcleo dela, que é o irmão, mas ele começa a contar a história dele no ponto cronológico mais distante, quase dez anos após os eventos que provocam todo o resto do que acontece. E tudo na seção dele é essencialmente um grande flashback. Eu também dei a ele a última cena do livro, que será uma forma de juntar todos os pedaços da história. Esse romance tem alguns desafios que inventei para mim mesma. Um foi criar estruturas diferentes para as duas metades do romance. A primeira metade é basicamente linear, com a ação acontecendo essencialmente no espaço de uns poucos dias. A segunda metade avança dez anos após os eventos da primeira metade e vai e volta no tempo. Outro desafio foi o de ter quatro personagens narrando sua história em primeira pessoa, ter de achar meios de diferenciar esses personagens. Eu tradicionalmente só tenho um ou dois personagens contando a história. E o outro desafio é o de criar uma história que é ligeiramente diferente para cada personagem e como as variações nos eventos do romance implicam uma direção diferente para cada personagem. Passei séculos sem saber como eu iria ordenar as cenas do romance, mas agora sei que para conseguir o efeito de simultaneidade que desejo vou ter de misturar as cenas todas. Cada uma das quatro seções está sendo escrita e estruturada separadamente para ter uma lógica interna, mas depois tudo vai ser alternado na narrativa final. Ufa. Ou seja, tudo isso tem um enorme potencial para dar errado, mas se eu não sentir que estou criando um desafio para mim mesma a cada coisa que escrevo, então não vale a pena. Você não cresce enquanto escritor. É provável que eu passe todo o ano de 2010 trabalhando nisso. Com sorte, a esta altura do ano que vem eu já tenha algo para ser lido e criticado pelos amigos. Cruze os dedos.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
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