Tem horas em que o personagem se esconde de você. Você o perde de vista e é preciso um certo trabalho de detetive para achá-lo de novo. Estou começando a achar que o caminho para melhor revelá-los é, mais uma vez, voltar ao passado. Como é que o personagem de 1989 vira o personagem de 2009? Esse buraco de 20 anos tem de começar a ser preenchido ou vai acabar sendo inverossímil que os dois sejam a mesma pessoa. Vou ter de responder a uma pergunta para a qual eu não sei direito a resposta. Como é que a gente vira a pessoa que é aos 40 quando era diferente aos 20? A resposta que eu inventar será ficção com certeza. Há escritores que gostam de escrever sobre épocas em que não viveram, criar grandes épicos. Confesso não ter esse tipo de imaginação. Ou paciência para fazer a pesquisa necessária sobre hábitos, costumes, história, etc. Meu negócio é inventar situações pelas quais nunca passei e a aventura é tentar dar verossimilhança a elas. Afinal de contas, a vida da gente é muito banal e é preciso inventar muita coisa para a história ser interessante. Nos últimos anos, por exemplo, o grosso da minha vida tem sido dedicado a trabalhar em casa, sozinha, acompanhada dos meus cachorros. Não passei por aventuras ou grandes viagens, não desbravei matas ou fiz grandes descobertas científicas. Sobre o que vou escrever? Não passei por casamentos ou divórcios conflituosos, não saio feito louca toda noite para encher a cara e dançar em boates até me acabar. Sou viciada em Fanta Laranja e boa comida asiática. Sou uma nerd que sempre foi muito CDF, certinha, boa moça. Very boring. Daí escrevo sobre aquilo que me passa pela cabeça, das dúvidas e inseguranças (que não são poucas), medos, neuroses, certezas, tristezas, alegrias. Duvido que algum cineasta conseguisse adaptar meus textos para o cinema porque no geral eles se passam todos na cabeça dos personagens. Mas claro que preciso publicar algo primeiro para que queiram cometer essa besteira. Amanhã vou na estreia da peça Todos os Cachorros São Azuis, baseada na obra do Rodrigo Souza Leão, adaptada pelo meu amigo Ramon Mello, curador da obra póstuma do Rodrigo. Ramon é uma pessoa talentosa que sempre batalha por aquilo que quer, um cara generoso. Levo muita fé em tudo o que ele faz, então a peça deve ser maravilhosa. E convido a todos para irem também.
sábado, 9 de julho de 2011
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