domingo, 24 de julho de 2011

Quinze segundos de fama


Na Travessa já estão carecas de me verem passar horas escrevendo. Eu digo que é meu expediente. Mas em Paraty, Clark Kent causa um certo estranhamento. Não é para menos. Fui a Paraty com o mesmo figurino que uso aqui, blazer, calça, camisa, tudo preto, mesmo com o sol brilhando. Todo mundo em volta está de bermuda e camiseta. Clark Kent não foi feito para o verão, ele floresce é no inverno.
Ainda estou sentindo as malditas pedras sob meus pés, mas acho que, aos poucos, estou me acostumando. Esta foi, afinal, minha sétima visita a Paraty. Uma Paraty FLIP-less, mais tranquila, que só despertava mesmo de noite. Perfeita para escrever. Mas eu descobri que meu gesto de escrever já me tornou figurinha fácil em pelo menos um restaurante da cidade. Logo no primeiro dia, ao ir jantar em um restaurante que já frequentei em FLIPs passadas, o garçom comentou que sentiu minha ausência durante a FLIP. Claro que eu não guardava a cara do garçom, mas imagino que para ele não devia ser difícil guardar uma mulher andando por aí de blazer preto e escrevendo num caderno em toda santa refeição. Obviamente não sou a única pessoa que sempre vem para a festa, mas é engraçado descobrir que lembraram de você, que sua ausência foi notada, ainda mais por alguém que não a conhece de verdade. São seus quinze segundos de fama.
Uma das melhores coisas de Paraty é a forma como o tempo parece se distender quando estou lá. O dia anterior foi há séculos e fica difícil lembrar quando é que você veio para a cidade, mesmo que tenha sido há apenas dois dias. E assim que você volta para o Rio, os quatro dias viram um instante, uma lembrança distante e difusa como um sonho que vai sumindo ao longo do dia. Mas enquanto você está lá, esses quatro dias são uma eternidade. É tudo tranquilo e silencioso e é tão gostoso ouvir o vento soprando. Você para e olha para o vazio e tudo dentro de você vai serenando. Fica mais fácil escrever em um ambiente assim.
Depois eu conto sobre o meu aniversário e minha sobremesa/bolo de aniversário com velinha e tudo. O engraçado é que na véspera, ao ir no bar da pousada comprar refrigerante para botar no meu frigobar, dei de cara com um cara com camiseta de Super-Homem, justamente o super-herói que não vi ano passado na FLIP quando parecia haver um congresso de heróis na cidade, de Lanterna Verde a Mulher Maravilha (completamente paramentada de tiara e botas vermelhas na Av. Roberto Silveira tarde da noite). Não é sempre que se vê Clark Kent e o Super-Homem juntos no mesmo recinto.

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