domingo, 9 de maio de 2010

Caligrafia

Uma senhora chegou para mim esta tarde na livraria, colocou sua mão sobre meu caderno e elogiou minha letra. E olhei para minha letra, que vem se deteriorando ao ponto de eu precisar usar canetas de ponta finíssima ou não vou conseguir entender o que escrevi (o que ocasionalmente acontece e eu tenho de deduzir o que escrevi), e tentei compreender o que ela estava vendo ali que eu não via. Tentei lhe dizer que minha letra era um caos, mas ela não quis acreditar.
E eu lembrei dos livros de exercícios de caligrafia que eu tinha no colégio americano. Eu fazia aqueles exercícios de novo e de novo e havia letras que eu nunca conseguia escrever direito. E claro que são elas que eu mais tarde substituí por letras de forma maiúsculas. Então minha letra é uma degringolação maluca da caligrafia em estilo americano que eu aprendi, que era elegante e inclinada para a direita. No fim dessa história toda, a ideia era que eu (e todos os alunos da escola americana) tivesse uma letra elegante e adulta. Imagino que se fazia a mesma coisa na escola brasileira porque minha mãe sempre teve uma letra linda (meu pai também). Eu até copiei minha letra de forma da dela porque não gostava da letra de forma americana que me parecia muito infantil. Tudo porque eu queria uma letra bonita. E hoje em dia, quando dizem que minha letra é bonita, eu não acredito. Os esforços de uma vida inteira nem sempre têm o resultado que esperamos.

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