quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Primeira semana

Nem sei direito que dia é hoje. Estou vivendo dentro de um cinema e não vejo a luz do sol. Estou vivendo a base de pastéis de forno, pipoca e sanduíches. Estou doida para voltar a cozinhar. Que bom que a primeira semana está terminando. E vai terminar com um chopinho de aniversário. Vou ficar um pouquinho, depois vou voltar para casa e trabalhar.

Oops, it happened again

Aconteceu de novo. No meio do meu filme hoje, a imagem sumiu. Tiveram que interromper a projeção, chamar um técnico para resolver a parada, foi meio confuso. Problema resolvido, voltamos à sessão. Eu realmente preciso me benzer.
O filme, aliás, era super interessante. Chama-se Regeneration e tem a ver com a maneira como nossa cultura de massa está alterando nossa sociedade, comportamento, aspirações de vida. Eu sempre acho os documentários mais interessantes do que os filmes de ficção. Outro filme muito interessante foi o Diário de uma Busca, filme brasileiro, de uma mulher que tenta entender a forma como o pai morreu. O pai era militante de esquerda, foi exilado, voltou, e morreu num aparente assalto à casa de uns alemães. O caso ficou super mal explicado e até há sugestões de que quem matou o pai e o cumplice do "assalto" foram os policiais. O documentário conta a história dessa família, mas o mais interessante é que toda vez que se tenta achar respostas para a morte do pai, eles dão contra uma parede. No final, as dúvidas continuam sem resposta, provavelmente nunca terão. E, para mim, o que é mais interessante é justamente esse buraco que fica. Eu vi muitas afinidades entre esse filme e meu primeiro romance, que tem uma busca semelhante. Literariamente, o vazio é mais interessante do que as respostas. Queria saber usar isso melhor, mas fazer o quê. Um escritora que sabe usar bem esses vazios é a Adriana Lisboa. O novo romance dela, Azul Corvo, acaba de sair. Eu consegui dar um pulo no lançamento do livro mesmo no meio dessa loucura toda. Li um trechinho do início e já fiquei impressionada. Sempre acho o texto dela fantástico, admiro muito o lirismo de tudo que ela escreve. Vou ler assim que tiver mais de dois segundos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tempo, tempo, tempo

O tempo é uma dimensão um tanto elástica durante um festival. No terceiro dia eu já tinha a sensação de que estava enfiada num cinema há semanas. E as duas horas do filme podem ser rápidas ou incrivelmente torturantes e lentas. Especialmente se o filme é um daqueles que entra na categoria que os lançadores gostam de chamar de '"desperdício de celulóide". E tem outra categoria, a do "abacaxi de ouro". Essa é reservada para aqueles filmes em que você quer cortar os pulsos cinco minutos depois do filme começado. Você vê o público indo embora e te dá uma vontade danada de gritar "me leva com você", porque naturalmente você está pregada naquela cadeira até o final da sessão. E aí você começa a torcer que falte luz, que o projetor exploda, que um meteoro atinja a terra. Qualquer coisa para que você não precise continuar lançando aquele filme. E você olha para seu relógio de cinco em cinco minutos. Nem o Deus Branco consegue explicar certas coisas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Preciso me benzer

Tradicionalmente, três coisas acontecem uma vez em todo festival comigo. Sempre tem um dia em que erro qual o cinema onde vou trabalhar. Saio de casa convencida que preciso estar no Odeon e quando vejo, percebo que devia estar no Botafogo 1.
Tem sempre um dia em que chego atrasada no cinema, tipo uns 15 minutos antes da sessão em vez dos 30 minutos regulamentares. De repente, num caminho que geralmente não tem problemas, aparece um engarrafamento enorme. Ou então a cada esquina aparece alguma coisa para te retardar. Um saco.
E tem aquele dia em que alguma coisa no equipamento dá pau. Quando algo dá pau, eu relaxo e penso, pronto, já tive meu defeito técnico do ano. Este ano estou precisando me benzer. Todo dia tem um probleminha técnico aparecendo, seja o filme que passa em preto e branco em vez de a cores, ou o som que não quer tocar ou tem algum tilt no projetor de legendas. E um dos meus MP3 players evaporou. Estou começando a achar que preciso me benzer. Alguém conhece uma boa mãe de santo?

domingo, 26 de setembro de 2010

O perigo de portar um crachá


Fiquei muito contente em receber meu crachá na sexta. Tenho uma coleção crescente de crachás pendurados na estante atrás de mim no escritório. O problema é que eu esqueci como andar por aí com esse crachá pode ser perigoso. No minuto em que você coloca aquele crachá, você se transforma no membro mais visível da organização do Festival. O problema é que você não tem nada a ver com a organização do Festival. Você taca legendas por 15 dias, só isso. Também não ajuda em nada você estar sentado no meio do cinema escuro diante de um monitor ligado, iluminando sua posição. Então se o som sumiu, a sessão atrasou, o filme que o espectador queria ver ficou preso na alfândega, o ar condicionado está polar, o alvo imediato é você. E claro que ninguém entende direito o que você está fazendo ali e vem falar com você no meio da sessão para diminuir o ar, saber a duração do filme, pedir para baixar o volume, saber as horas, etc. Até já me pediram para desligar o monitor dentro do cinema. E ano passado, uma mulher queria que o marido estapeasse um legendador porque o pobre rapaz estava com um notebook na última fila do cinema e ela não entendia que as legendas estavam vindo do trabalho do pobre rapaz.
Ontem eu dei de cara com uma turba cinéfila completamente irada porque a sessão deles estava sendo retardada por um debate com a diretora do filme anterior. Eu estou inocentemente saindo de uma sala no Unibanco, passo por outra e estou tentando chegar num táxi para correr para o Odeon para o resto das minhas sessões quando dou de cara com uma fila imensa de gente irada querendo saber de mim porque a sessão deles está atrasada. E o pessoal está pê da vida mesmo. Por dois segundos eu penso, "vou ser linchada". Proclamo minha inocência, sou uma reles tacadora de legendas, apresso o passo e consigo escapar. Ufa.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Preparativos para a maratona

Pronto, chegamos na véspera do Festival do Rio. Já transferi minha programação de sessões da planilha para meu caderninho vermelho tradicional, botei a lanterna na mochila e lavei toda a roupa suja. Este ano estou começando com 61 sessões, o que dá 5563 minutos de cinema no total. Eu não inventei esse número. Eu fiz a soma de todos os filmes usando o Excel. O pen drive está a postos e vou receber meu crachá amanhã, mais um para minha coleção. O nervoso só vai começar mesmo cinco minutos antes da primeira sessão. Depois, tudo encaixa. Até amanhã.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Entra e sai

Mal terminou o leilão e já temos sessões caindo, outras entrando no seu lugar. Todo ano é isso. Depois pintam as sessões extras e no final teremos a repescagem, refishing no linguajar dos tacadores de legenda. A troca de e-mails vai ficando mais intensa. A maratona já vai começar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Treze anos no cinema

Leilão. Cheguei meio em cima da hora com gente dizendo que era numa sala, depois na outra, depois na outra. Acabou que foi na mesma sala do ano passado, com praticamente os mesmos personagens. Descobri que temos algumas caras novas. Carne fresca, como gosto de dizer. Eu adoro assustar os novatos. É uma brincadeira, mas também uma maneira de ver se você aguenta o rojão. Para lançar legendas você tem de ter sangue frio e ao mesmo tempo conseguir se adaptar a qualquer situação já que a lei que impera nos festivais geralmente é a de Murphy. Já me aconteceu um pouco de tudo em doze anos de festivais. Este vai ser meu décimo terceiro. Deus, sou veterana absoluta. A coisa começa meio devagar e eu aproveito para pegar tantas sessões quanto possível enquanto o pessoal não acorda. Afinal de contas, para quebrar meu recorde de sessões, tenho de já começar com muitas sessões. Afinal, existe um limite físico para quantas sessões é possível fazer por dia. Tem uma hora em que o dia acaba. Este ano entraram novos cinemas, alguns mais populares que outros. Todo mundo disputa os cinemas de Botafogo a tapa. Os cinemas da Gávea também são bem disputados. Tendo experimentado lançar lá ano passado, eu entendo por quê. Você pode comer no shopping, o espaço é legal. Dependendo da sala, você fica encaixado numa posição não muito cômoda, mas essa é a sina do tacador de legendas.
O domingo acabou também sendo o dia da minha sessão de imprensa. Deu para sentir o quanto estou enferrujada. Ou melhor, o quanto o meu lançamento está contaminado pelos reflexos de marcação de legendas, coisa que faço toda semana. Na marcação de legendas, você tem de ser muito rápido. Para o lançamento de legendas, você tem de desacelerar um pouquinho, esperar para ver em que direção a coisa vai. Mas depois de uns cinco minutos já deu para sentir qual o ritmo do filme e a coisa encaixou. O filme não foi nada de especial e, francamente, não olhei para ver se a imprensa estava presente. Da cabine não dava muito para ver. Mas pelo menos foi tranquilo. Há uns poucos anos, numa sessão de imprensa, a lâmpada do projetor explodiu do meu lado no Odeon faltando meia dúzia de legendas para terminar o filme. Ainda bem que era minha última sessão. Agora é a contagem regressiva até sexta-feira.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Botando o dedo em forma

Fim de semana pela frente. E tem muita coisa acontecendo. Preciso fechar a segunda versão do romance amanhã. Porque depois disso vai começar o Festival e a coisa vai ficar difícil. E no domingo tenho o leilão de sessões, um almoço para comemorar um aniversário e uma sessão de imprensa. Fazer uma ou duas sessões de imprensa é sempre bom para tirar a ferrugem, botar o dedo em forma de novo. Wild Fingers rule, como escrevo em todos os filmes que traduzo. E segunda é hora de pisar no acelerador. Vou ter de virar algumas noites para fechar coisas. Entra ano, sai ano, nada nunca muda. Todo mundo começa a jogar trabalho para cima de mim na mesma época e fica difícil para mim dizer não já que o Festival tem um prazo longo para pagar e eu preciso viver de alguma coisa nesse meio tempo. Ainda assim, já melhorei bastante. Antigamente, eu dizia sim para tudo e minha vida complicava muito. Eu aprendi que a coisa mais importante para um freelancer é saber quando dizer não. De todo modo, já começo a sentir uma adrenalinazinha subindo, aquele nervoso da estreia. É uma sensação legal. Vou descansar muito pouco este fim de semana, mas vai valer a pena.

Um perigo para a dieta

Manhã de sexta e virando o canal dou de cara com Nigella, a promotora desavergonhada da gula. Com ela, a comida é sempre uma experiência de prazer sensual de que não devemos nos privar. Esse sim seria o pecado. Ela exalta as cores e texturas e cheiros da comida no seu lindo sotaque inglês e desafio qualquer um a não sair correndo para a geladeira procurar alguma guloseima para matar aquela fome que apareceu de repente. A mulher é um perigo para qualquer dieta. É um milagre que os filhos dela não sejam todos enormes de gordos com uma mãe como ela. Outra coisa que gosto dela é que ela claramente não é uma chef de cozinha. Ela vem com esse jeitão de dona de casa que gosta de cozinhar e isso a aproxima mais dos pobres mortais que querem fazer tudo aquilo que veem no programa dela. O bom é que as receitas dela estão em dois livros nas livrarias. Eu tenho um, preciso comprar o outro. E tem coisas que só de olhar o programa você ja entende como fazer. Ela mostrou uma receita de batata assada com alho que é tão mole que qualquer idiota poderia fazer. Me deu vontade de experimentar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Festival à vista

Foi marcada a reunião de distribuição de sessões. Como sempre, será no fim de semana antes do início do Festival. Apropriadamente, será dentro de um cinema. Teremos a disputa pelos cinemas e filmes, os horários, os filmes. E vai ser divertido. Vai ser o reencontro anual que temos todos os anos. Teremos abraços, brincadeiras, velhas histórias lembradas mais uma vez. Não sei se vai rolar um chope depois, eu bem que queria, mas desconfio que vai todo mundo debandar para fechar seus filmes. Como de hábito, ainda falta muito o que fazer e pouquíssimo tempo para terminar tudo. De todo modo, vou tentar registrar o Festival e o que acontece. Vou botar as pilhas da minha câmera para recarregar hoje mesmo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Buscando ingredientes

Enquanto terminava um texto técnico para entregar hoje, a TV estava ligada num programa que, entre outras coisas, mostrava uma mãe que entupia o filho de comidas gordurosas com a intenção de agradá-lo e, em função disso, o garoto tinha o dobro do peso normal de uma criança da sua idade. Acontece a habitual intervenção de uma pessoa de fora e a família passa a comer coisas mais saudáveis. Em seguida, houve uma cena da mãe com o filho visitando o mercado para comprar os novos alimentos saudáveis da nova dieta. E isso inevitavelmente me fez pensar em todas aquelas guloseimas pelas quais passo direto no supermercado. Ainda sou chocólatra, não tem jeito, mas não me sinto tão compelida a comer tanto chocolate quanto antes. Um Nescau por dia, em geral, está mais do que bom. Eu sinto a diferença em pequenas coisas. Tenho mais energia do que antes, mais resistência. Em Paraty, este ano, eu andei distâncias bem maiores. E olha que eu estava numa pousada a cinco longas quadras do Centro Histórico. Só o que falta para mim é emagrecer um pouco, mas pelo menos acho que não estou mais engordando. Já é alguma coisa. Sinto que meu paladar está mudando aos poucos. Eu comprei umas linguíças para fazer rapidinho num dia em que estivesse muito cansada para cozinhar e não achei o sabor muito bom. Era salgado demais. E eu era uma pessoa que entupia tudo de sal. Até na pipoca que eu faço volta e meia para relaxar no fim de um dia cansativo, eu uso muita manteiga, mas muito menos sal. Sempre achei que mudanças assim exigissem um grande sacrifício, mas, na prática, você só precisa do incentivo certo. Para mim foi aprender a fazer comida asiática. Estou curtindo de montão. E quando eu for a São Paulo em outubro, pretendo revirar a Liberdade atrás de ingredientes que não acho aqui. Preciso fazer uma lista.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O melhor programa para os deprimidos

Tem um programa no History Channel chamado O Mundo Sem Ninguém que é perfeito para quem está deprimido, sentindo que a vida não vale nada. A proposta é a seguinte: a humanidade some da Terra de repente, só o que fica são as obras da humanidade, as cidades, os monumentos, prédios, casas, usinas nucleares, represas, etc. E claro que sem o homem para manter tudo isso, as coisas vão deteriorando. Seja pela chuva e sol, pela explosão das usinas nucleares que ficaram sem ter quem tomasse conta, o fogo, a ferrugem, o que seja. Aos poucos, tudo vai se desfazendo, desaparecendo até que não sobre nada do que a humanidade criou em milhares de anos de história. Eu evito assistir esse programa toda vez que topo com ele porque cinco minutos depois já estou querendo cortar os pulsos. Eu inevitavelmente fico me perguntando, com tanta coisa interessante para mostrar, por que ficar falando de destruição e decadência? É um horror. Esse eu realmente não recomendo.

domingo, 12 de setembro de 2010

A vida secreta dos cães

Acordo com a algazarra do clube e, quando olho em volta, cadê os cachorros? Levanto e os encontro no meio do pátio, placidamente sentados num pedaço de sol, curtindo o calor. Cachorros quentes. Eles passam tanto tempo agarrados a mim, me seguindo para todo lado que gosto de ver quando eles fazem coisas separados de mim. As pessoas acham que não, mas eles têm vontades, preferências, gostos. O Wilson adora enterrar os ossos que dou para ele, como um cachorro de desenho animado. A Dax ficava intrigada com as formigas enormes que atravessavam o pátio carregando folhas, sementes. E ficava deitada embaixo da minha mesa enquanto eu trabalhava, dormindo, roncando. Tanto o Wilson quanto a Zequinha gostam de ficar cavucando os canteiros aqui e quando vejo, tem um monte de pegadas sujas de terra pela casa. Você olha para eles, os focinhos sujos de terra, felizes da vida, e fica complicado dar uma bronca. Você não faz a menor ideia do que passa pela cabeça deles enquanto eles mastigam as folhas de palmeira que caem no chão do pátio. Você só sabe que não tem nada a ver com você e isso é legal também.

Reta final

Reta final. Faltam duas cenas. A melhor coisa que eu podia ter feito foi mexer no resultado final da história. Isso acabou mexendo em várias outras coisas e criou uma tensão que não existia antes entre os dois personagens dessa metade do romance. Depois vou ter de voltar atrás na terceira versão e acertar os detalhes do conflito para que tudo seja consistente. Sim, dá uma trabalheira danada. O lado bom é que essas mudanças separam ainda mais a primeira metade da segunda. O que eu não quero de jeito nenhum é ter quatro personagens que são parecidos demais um com o outro. O momento também é perfeito. Fechando esta versão no próximo sábado, logo antes do início do festival, vou ter duas semanas para pensar no que escrevi antes de seguir para a terceira versão. E aí três semanas antes da próxima interrupção. E aí dois meses até o fim do ano. Eu tinha pensado que daria para fechar antes da virada do ano. Acho que esse plano saiu pela janela. Tudo bem. Primeiro trimestre de 2011 então. E será a hora de torrar o saco dos amigos para lerem o que escrevi.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Preenchendo os vazios

Eu confesso minha fascinação pelo dia 11 de setembro. Eu passei todo aquele dia e os dias subsequentes grudada na TV, vendo o que acontecia, não acreditando direito no que estava vendo. Foi um dia super confuso, de informações desencontradas. E com um acontecimento dessa magnitude, é fácil entender por que as pessoas criam teorias de conspiração, tentando dar conta de algo que é enorme e terrível e incompreensível. Em menos de duas horas quatro aviões bateram, deixando brancos, vazios sem respostas. Tem um documentário, The Falling Man, que trata disso de uma forma indireta. Ele trata da tentativa de um jornalista de identificar quem era o homem fotografado caindo de uma das torres e, ao mesmo tempo, trata das pessoas que se sabe que pularam dos prédios. Em todas as histórias das pessoas que pularam, há um vazio. Ninguém sabe exatamente o que as levou a pular, o que foram aqueles últimos momentos de vida. É esse vazio que ficou que as pessoas tentam preencher com algum tipo de narrativa. Que narrativa será essa depende de cada um. Mas o que me interessa é que de um jeito ou de outro, as pessoas odeiam que a história não seja contada até o fim. Tudo precisa ter um The End.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

How to be alone

Encontrei este vídeo no blog da Adriana Lisboa (valeu, Adriana) e achei o máximo. Tem tudo a ver comigo.

O homem mais desinteressante do mundo

Não me lembro agora quem foi que disse que Super-Homem era a identidade original e Clark Kent o disfarce. O disfarce não são só os óculos, é a pessoa inteira, que é para ser o homem mais desinteressante do mundo. Ele quer passar desapercebido, ser quase invisível. Eu sempre lembro do Christopher Reeve, aquele homem enorme, curvado, tentando parecer menor, com aqueles óculos enormes. E quando as coisas acontecem, todos prontamente se esquecem dele, toda a atenção é voltada para o Super-Homem. Passada a crise, lá está ele de novo, meio trapalhão, mas inofensivo, ajeitando a gravata. Na FLIP, às vezes, vejo pessoas decepcionadas com este ou aquele escritor por ele não ser uma figura muito interessante. Fui assistir Anne Enright em Paraty ano passado por admirar muito o trabalho dela. E me deparo com uma mulher que tem meio que essa cara de empregada, usando um vestido não muito bonito. A mesa acabou sendo meio morna, mas não fiquei decepcionada. Por baixo da aparência de faxineira deu para sentir que tinha uma pessoa super interessante. E o texto dela é maravilhoso. Não são todos os escritores que sabem dar show como o Will Self. Foi um lembrete para mim que muitas vezes fica difícil ver o Super-Homem. Mas ele está lá.

domingo, 5 de setembro de 2010

Cartas, reviravoltas, filmes

Acordo de manhã com a já tradicional algazarra do clube ao lado. Pelo menos ninguém estava tocando corneta hoje. Também acordo com a carta de uma amiga distante e querida na minha caixa de e-mail. Uma boa maneira de começar o dia. Ontem foi um bom dia. Percebi que a reviravolta que dei numa personagem semana passada precisaria ter consequências para o outro personagem na cena e trabalhei em cima disso. E quando saí da Argumento ontem à noite, cheguei num ponto em que não sabia direito para que lado prosseguir. Vou ter uma semana para refletir e tentar achar uma solução. Eu sei aonde quero chegar, o negócio é refazer o caminho já que eu joguei o caminho antigo fora. Essa realmente é uma daquelas semanas em que eu queria poder me dar o domingo também. Não vai dar. Tenho três filmes para traduzir. Faz parte dos dilemas de ser Clark Kent. Fazer o quê.

Amor que dói

Todo sábado quando chego em casa da labuta literária é a mesma coisa. Os cachorros estão pulando no portão, doidos para pular em mim. Todo sábado o diálogo é o mesmo. Tudo bem, a mamãe chegou. A mamãe chegou. Não, não, não metam as garras na mamãe. Não atropelem a mamãe. Você é grande e pesado. Faz dodói. Ai, não pisa no meu pé. Ai, por favor, não meta as garras na barriga da mamãe. Pois é, o amor dos filhos peludos pode ser um pouco doloroso, mas eu acho que compensa sempre.

sábado, 4 de setembro de 2010

O escurinho do cinema

Mais um lote de filmes para o Festival. Tudo documentário. Talvez alguns filmes de ficção mais para a frente. A coisa começa a esquentar. É uma chuva de filmes. A overdose de cinema começa agora. Devo ter uns cento e poucos filmes pela frente nos próximos dois meses. E depois as pessoas me perguntam se quero ir ao cinema ver tal ou tal filme. Não. Mas fez sucesso, ganhou milhões. Não. É com aquele ator que você adora. Não. Levou zilhões de Oscars. Não. Eu nem lembro qual foi a última vez que paguei ingresso para ir ao cinema. Nem sei quanto está custando um ingresso de cinema. São poucas as pessoas que entendem. Cinema virou trabalho. Não dá mais para relaxar. Alguém fala "festival de cinema" e eu automaticamente penso em quantos filmes vou traduzir, quantos vou lançar. O escurinho do cinema é um lugar para ficar apertando um botão para fazer aparecer a próxima legenda. Gee, do you want some popcorn with that? Acho que não. Vez por outra dou de cara com pessoas que acham que traduzir para cinema e TV é glamuroso. Talvez elas achem que eu conheça atores, diretores, roteiristas. Longe disso. Fico sentadinha no meu escritório o dia todo, ralando, minha bunda ficando mais quadrada a cada ano que passa. A compensação está não no trabalho em si, mas nas pessoas que conheci através do Festival, os outros tradutores, essa tribo meio doida com que me encontro nesta época do ano. A troca de e-mails malucos já começou. E só vai esquentar nas próximas semanas. É isso que eu curto, é por isso que espero o ano todo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Passeando com o cachorro

Fim de tarde na sexta e começa a se instalar aquela preguiça, a antecipação do dia seguinte. Eu tiraria dois dias para descansar, mas já tenho coisas suficientes se acumulando na minha caixa de entrada para me fazer pensar duas vezes. Tenho de revisar meu filme do Festival para poder pegar outro, uma entrevista para entregar, um bom pedaço de um livro para adiantar, outras coisas. O que vou fazer é tentar chegar mais cedo na Travessa para render o máximo possível. Imagino que a livraria vá estar mais tranquila por causa do feriadão. Fica melhor de trabalhar assim. E depois vamos mandar ver no domingo de novo. Daqui a pouco vou parar para fazer o jantar. No cardápio, um curry verde de frango com batata doce e jiló. É muito bom. Mas primeiro, preciso levar o Wilson para passear. Minha baleia peluda gosta de esticar as pernas todo dia nesse horário ou ele fica chateado.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Curiosidade

Curiosidade não é uma qualidade que as pessoas costumam atribuir a tradutores. Talvez não seja para tradutores técnicos ou juramentados, mas para quem faz tradução para cinema ou TV acho que é tão necessário para a função quanto um bom comando de outros idiomas. Minha curiosidade de criança que ficava vendo e revendo aqueles livros da Time-Life sobre Grécia e Egito e Roma nunca foi embora e a coisa que eu mais gosto da Internet é poder pesquisar qualquer assunto em cinco segundos. Não vejo muita utilidade no Facebook ou Twitter, mas a Wikipedia é o máximo. E outra das grandes utilidades da Internet é poder achar documentários da BBC para baixar. Este mês que passou assisti um documentário sobre as origens literárias do Rei Artur, uma série sobre os normandos e como eles afetaram a história e a cultura da Inglaterra, sul da Itália e as Cruzadas, outra série falando de caminhadas a locais normandos na Inglaterra, uma série maravilhosa sobre a ocupação romana da Inglaterra e agora vou embarcar numa série sobre o mundo antigo e outro sobre a mentalidade medieval. Também descobri uma série semanal sobre escavações arqueológicas acontecendo agora na Inglaterra. Eu sempre fui fanzoca de arqueologia, de como se cria toda uma narrativa a partir dos cacos de uma vida anterior. Minha amiga Claudia diz que é isso o que faço quando escrevo, a arqueologia das pessoas e sua bagagem. Eu sempre acho impressionante que, em lugares que tiveram uma ocupação contínua por milênios, quando você cava, encontra camadas e mais camadas de restos de coisas que as pessoas foram deixando, desde a pré-história até agora. Quanta coisa já foi feita, quanta coisa ainda está por ser feita. Mal posso esperar para ver.

Resumo perfeito

A Isabel Coutinho fez um resumo perfeito do que foi a FLIP no blog dela. O texto da Isabel você encontra aqui.