Apesar de tudo, da correria insana, da pilha de trabalhos que parece não terminar nunca, tenho conseguido me dar pequenos momentos para estar só, geralmente no jantar, em que posso sacar do caderno e escrever algumas linhas antes que chegue meu prato. É uma forma de manter a pena minimamente afiada enquanto não posso voltar com força total aos meus sábados, o que vai acontecer daqui a exatamente uma semana e mal posso esperar. Viajar é bom, poder ver essa gente que é ligeiramente diferente do povo carioca com que me acostumei. Na terça, pretendo me soltar na cidade e ver várias coisas. Vou na Liberdade, quero andar pela Paulista, registrar o que puder com a câmera. Esta cidade tem várias coisas que me atraem, essa coisa de metrópole grande e suja e confusa de que sinto um pouco falta no Rio. O Rio é um balneário, é um outro esquema. São Paulo tem coisas que me sugerem Nova York e Chicago, cidades de que tenho muita saudade. Hoje, para fechar a noite, teremos um chope para juntar o povo legendático, trocar figurinhas. Esta noite promete.
sábado, 31 de outubro de 2009
A legendagem em ação
Uma de nossas colegas está grávida. Descobrimos esta semana. Mas sendo a tribo peculiar que somos, além de transmitir os parabéns, todo mundo imediatamente começa a fazer sugestões de nomes para o bebê. Legendilson e Legenderson estão estre os favoritos na primeira leva. Há quem também prefira Legendário ou Legend. Em breve, a futura mãe terá toda uma lista de nomes para batizar o rebento. Que, naturalmente, vai nascer de crachá e pen drive já prontos, e assim que aprender a ler e escrever já terá sua vaga garantida entre os audazes dublês de legenda. Não me peçam para explicar "dublê de legenda". Foi algo que algum sujeito disse aqui em São Paulo ano passado e ainda estamos tentando decifrar de onde ele tirou isso. Tarefa igualmente difícil, imagino, que a do incauto público que chega na sala de cinema e encontra uma criatura já sentada na plateia, com um laptop ou teclado de desktop no colo. O que essa pessoa está fazendo sentada ali? A maioria não sabe, sequer imagina. Como a senhora que, durante uma sessão num cinema bem pequeno no Rio, queria que o marido tomasse satisfações com o rapaz (mas que grosseria) que ficava trabalhando num laptop no meio do filme. Onde já se viu? Pior, na verdade, são aqueles espectadores curiosos que insistem em saber o que você faz ali e querem porque querem sentar do seu lado apesar disso ser extremamente incômodo por tirar a sua concentração. E, acredite, você precisa de concentração para lançar qualquer filme, mesmo o mais bobinho. A Mostra começa a entrar na reta final e eu fico contente com a perspectiva de embarcar naquele avião na sexta que vem e voltar para a minha vidinha chinfrim de sempre. Preciso descansar.
Eternidade
A Mostra já fez uma semana, mas parece que foi há dois séculos que você aterrissou na cidade. Cada dia é muito curto e eterno ao mesmo tempo. Você já se acostumou ao caminho que faz para voltar ao hotel toda noite, já sabe quais os pontos preferidos das damas da noite, começa a prestar atenção em como elas mudam de figurino dependendo das condições do tempo. Dentro do cinema, uma sessão de duas horas pode ser interminável se o filme for muito chato. O popular desperdício de celulóide, como chamamos. Chega uma hora em que todos passam a comparar figurinhas. Você viu esse filme? Nossa, que horror. Ou então, fuja deste que é uma bomba. Todo ano tentamos escolher o pior filme do festival. É o popular abacaxi de ouro. Em geral, trata-se de alguma obra-prima da sétima arte que não tem pé nem cabeça, muito menos enredo, coerência, qualquer coisa dessas. E acredite, a quantidade de filmes completamente alucinados que já vi na vida é enorme por conta dos festivais da vida. Por isso, minha vinheta preferida do Festival do Rio é a de 2006, a do homem em chamas correndo pela Praia de Ipanema. Não fazia o menor sentido. Mas tinha tudo a ver com os filmes que a gente lança. Quando você chega neste ponto, você começa a lembrar que tinha uma vida fora desta maratona, que tinha cachorro, uma casa, amigos outros além daqueles que, como você, andam sempre por aí com um crachá pendurado no pescoço, regidos pelo relógio e o esquema de lançamentos. Para combinar um almoço, todos sacam de suas respectivas programações, procuram sincronizar as sessões. Que maravilha a perspectiva de voltar a uma vida em que não há uma só coisa marcada para fazer, nenhum horário, nenhum compromisso fora o de fazer o trabalho chatinho de todo dia, poder rolar no chão do pátio com minha cadela e não ficar olhando para o relógio de cinco em cinco minutos.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Arquitetura
Uma das coisas que eu gosto em São Paulo é a variedade da arquitetura dos prédios. Me incomoda bastante aquela uniformidade chata do Rio. Parece que todo prédio que constróem é igualzinho ao prédio do lado. Mas aqui você vê um pouco de tudo, inclusive prédios que acho que não veria no Rio, mansões na Paulista, casas grandiosas nas ruas transversais. No Rio alguém já teria comprado a casa, derrubado e colocado um edifício residencial no lugar. E aqui há muitas casas. Muito mais do que costumo ver no Rio. Uma cidade, na minha opinião, não se faz só pela sua natureza exuberante, que é o que todo mundo vê nos cartões postais. Quando você anda pelas ruas deve ter o que ver também. Nas casas, nos prédios, nessa mistura confusa que é a Paulicéia e que me agrada muito.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Bruxa
Quando tudo resolve dar errado, dá tudo errado de uma forma espetacularmente catastrófica. Ontem passei por um problema desses. O laptop trazido para o cinema onde eu iria lançar não queria ligar, provavelmente teve um problema no disco rígido. Trouxeram um segundo laptop. Nada. Os técnicos trabalham feito uns loucos para tentar fazer os laptops funcionarem, nada acontecia. E o tempo passando e o público cada vez mais impaciente (e com razão). E para piorar, toda vez que um deles nos pedia uma previsão, alguém dizia cinco minutos (porque de fato parecia que a solução estava próxima), mas aí aparecia outro problema e estávamos de volta à estaca zero. Resultado: tiveram de usar o meu laptop que eu carrego para cima e para baixo para trabalhar nos intervalos dos filmes, e foi com ele que fiz o lançamento dos filmes. Hoje tenho de voltar ao mesmo cinema e torço que eu não tenha mais um dia como hoje. A primeira sessão atrasou uma hora e todas as outras, consequentemente, sofreram um atraso semelhante.
domingo, 25 de outubro de 2009
33 minutos
A correria é a mesma, o cansaço é o mesmo, os prazos apertados, os cinemas congelantes, a exigência de pontualidade. Hoje, sentada no Unibanco, esperando algumas amigas chegarem para poder ir jantar, observei que o público da Mostra não era em nada diferente do público do Festival do Rio. Todos sentam nas mesas com seus programas, tentando conciliar horários e dias de exibição. Só não vejo o público do Rio comprando souvenirs do Festival como compram da Mostra. Bonés, camisetas, posteres, catálogo. Logo, você vê uma multidão com aquelas bolsas de papel kraft com o símbolo da Mostra. Acho que o pessoal do Rio tenta parecer mais blasê. Eu, comprar suvenir, ficar parecendo turista? Deus me livre.
A diferença interessante entre Rio e São Paulo é que lá você comparece com 30 minutos de antecedência para sua sessão. Aqui na Paulicéia são 33 minutos. Não sei porque 3 minutos fariam tanta diferença, mas tudo bem, a gente chega lá. Eu sempre tento chegar no cinema com o máximo de antecedência possível por hábito, então eu não ligo. Desconfio que seja uma questão cabalística, talvez algo de numerologia. Pode ser também que tenha a ver com o fato de ser a 33ª Mostra. Não sei. Tenho de investigar esse assunto a fundo.
A diferença interessante entre Rio e São Paulo é que lá você comparece com 30 minutos de antecedência para sua sessão. Aqui na Paulicéia são 33 minutos. Não sei porque 3 minutos fariam tanta diferença, mas tudo bem, a gente chega lá. Eu sempre tento chegar no cinema com o máximo de antecedência possível por hábito, então eu não ligo. Desconfio que seja uma questão cabalística, talvez algo de numerologia. Pode ser também que tenha a ver com o fato de ser a 33ª Mostra. Não sei. Tenho de investigar esse assunto a fundo.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Monstra
Primeiro dia da Mostra também conhecida como Monstra. Estou de volta ao meu modelito crachá, pen drive, caderninho de sessões e MP3 player. Lancei minhas três sessões, senti o quanto duas semanas já servem para te deixar enferrujada. Ainda mais porque passo boa parte do Festival do Rio lançando filmes nacionais. Fico desacostumada a ter de acompanhar os ritmos de outras línguas que não o inglês e o português. Amanhã já devo estar voltando a entrar no ritmo. Outra coisa. Eu esqueci como você sente uma inclinação de poucos graus quando precisa subir em direção à Paulista e está carregando um notebook dentro da mochila. O Rio é basicamente plano e andar muito tempo me cansa, mas aqui me cansa muito mais rápido. Chego no cinema cansada, mas nem de longe tão ofegante quanto no ano passado, quando ainda não tinha trocado meu remédio para asma. Mas hoje eu aprendi uma lição muito importante que eu havia esquecido. Os cinemas de São Paulo são muito mais frios que os do Rio. Isso é irônico numa cidade que em geral não usa ar condicionado direto como no Rio nos táxis, no metrô, nas lojas. Amanhã vou ter de levar o suéter que comprei para enfrentar a fria noite paulistana na mochila. Logo, vou sair daqui da Livraria Cultura, onde me instalei no café, e sair para explorar a riqueza de opções culinárias da Paulicéia, que é a outra coisa que me traz a São Paulo. Bom apetite.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Paulicéia
Primeiro dia em São Paulo. É interessante ver o quanto eu consigo lembrar do que vi no ano passado. Em 2008, eu não sabia o que era para que lado, se eu devia ir para o Centro ou para os Jardins, onde ficava a Liberdade, coisas assim. É bom poder andar com mais desenvoltura, saber onde estão os restaurantes, os mercados, a Livraria Cultura. E de novo me surpreendo com essa coisa que São Paulo tem de ter tudo meio misturado no mesmo lugar, com um jeito de salada. Voltando para o hotel, vejo as damas da noite fazendo ponto nas esquinas defronte a respeitáveis edifícios de classe média, inferninhos na Augusta a poucas quadras de endereços chiques, uma Avenida Paulista que tem residências e sedes de grandes corporações. No Rio, as coisas são mais separadas, mais segregadas, por assim dizer. São Paulo, para mim, é uma cidade mais dura que o Rio, mas que, ao mesmo tempo, oferece coisas incríveis. Espero poder descobrir mais algumas dessas coisas nesta viagem.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Orgulho
É bom ver um amigo lançando um livro e fazendo sucesso, ganhando matérias em jornais. Ainda mais uma pessoa tão legal, tão disposta a ajudar. E, por que não dizer, jovem. É legal alguém conseguir, nessa idade, realizar parte de seus sonhos. Dá uma sensação boa lá dentro.
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