Mais um trecho do meu primeiro romance,
O Que Ficou Por Fazer.
Há uma espécie de vazio. Eu me vejo caindo nele quando não tenho cuidado, depois sair dele parece quase impossível. Isso será incompetência?
É difícil saber o que fazer. Essa tristeza constante e antiga me preenche. Há camadas e mais camadas dela, um poço profundo de lama. Ela se agarra a mim, inescapável, drena minha energia. Sou mesmo tão indefeso?
Eu devia ser mais. Tornei-me insignificante, pequeno. Não sou quem devia, quem queria ser. Meu medo me torna pequeno. Está lá, eu posso sentir, esse caroço duro escondido sob todas as camadas, me tornando pesado, fazendo com que seja impossível flutuar. Não entendo esse medo, só posso senti-lo.
Há coisas que não posso fazer. Gestos que morrem antes que a ideia esteja completamente formada. É isso o que meu medo faz. Ele cria paredes para se fechar em torno de mim. Sou mais indefeso do que esperava. O medo, o caroço têm todo o poder, eu não tenho nenhum.
É essa a pessoa que eu devia ser? Simplesmente ando em frente, trôpego, sem direção, sem maneira de me orientar. Não parecem haver caminhos. Só existe o oceano, nenhum sinal de terra. O quanto importa para que lado eu vou?
Sou esta coisa, este corpo, esta estranha coleção de desejos, humores, fantasias, dores. Uma máquina de carne. Fraca e ah, tão frágil, vulnerável a praticamente qualquer coisa. Eu insisto em bater na quina das mesas, tropeço nos próprios pés, arranho a cara nos espinhos.
Não sou quem pensei ser. Sempre volto a isso. O brinquedo de corda gira em torno de si mesmo. O caos deve reinar. A entropia vence. Nós somos quem somos. Fracos, indefesos, sempre em queda. Não há outro caminho.
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