Quando me perguntam do que se trata o romance, O que ficou por fazer, eu nunca sei direito o que responder. Afinal de contas, foram seis anos de trabalho, escrevendo, jogando fora, começando de novo. Tenho uma grande caixa (tipo aquelas caixas de arquivo que aparecem nos seriados americanos tipo Cold Case) no meu quarto atochada com todas as três versões do romance, todos os cadernos, todas as versões impressas do manuscrito com as inúmeras correções a lápis nas margens e que eu fui corrigindo e relendo até não achar mais o que corrigir. Foi uma trabalheira (para não dizer trabalho) quase épica. E com ele sinto que dei um salto no que eu escrevo. O primeiro salto veio quando comecei a escrever em português (é uma longa história, mas eu passei quase dez anos escrevendo ficção em inglês, um idioma no qual eu me sentia mais à vontade). Meu texto virou outra coisa, nada parecido com o que eu escrevia antes. De textos longos e esparramados e não muito bons, eu de repente passei a escrever contos muito mais concisos, muito diretos. Eu tinha atingido outro patamar. E acho que dei outro salto com o romance. O que eu aprendi com o processo desses seis anos me levou a um lugar diferente de onde eu estava, um lugar melhor, me deu um foco que eu não tinha antes. Em termos simples, o romance trata dos efeitos que o suicídio de Daniel tem sobre a irmã dele, Graça, e a mãe, Carolina. Graça e Carolina precisam fechar o apartamento de Daniel para devolvê-lo ao proprietário e, ao revirar os objetos que ele deixou para trás, Graça descobre um irmão que ela não conhecia, um homem ao mesmo tempo muito solitário e capaz de grandes paixões, alguém que foi se isolando pouco a pouco em uma vidinha que era muito pequena para ele. E, ao descobrir as cartas e diários dele, Graça passa a perceber o quanto eles eram parecidos, forçando-a a reavaliar sua relação com a mãe e com as outras pessoas. O romance trata de culpa, de oportunidades perdidas, das pequenas coisas que impedem a comunicação e como os laços de família podem ser tênues. E, ao mesmo tempo, de como é possível se reinventar, procurar uma nova maneira de estar no mundo, mais presente, mais atento, mais aberto. Ao tentar entender o que causou a morte do irmão, Graça se aproxima afinal não só dele, mas de si mesma e passa a ter uma visão mais clara das coisas. Por muito tempo, eu oscilei entre achar que esta era a pior coisa que já tinha escrito e a melhor coisa que já tinha escrito. Hoje eu sei que, de tudo o que escrevi até hoje, esse é o melhor texto, é o que vai mais fundo. Não vou me comparar com outros escritores, não se trata disso e sim de uma avaliação do meu próprio texto. Torço para achar logo uma editora que publique o romance. Mas mesmo que não ache, terá valido a pena escrevê-lo por tudo o que aprendi com ele, foco, determinação, dedicação, disciplina.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
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