segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dos poderes mágicos de um telefonema

Uma ligação de uma velha amiga que mora nos Estados Unidos. A conversa foi longa, coisa de uma hora. Amizades à distância podem ser chatas porque você perde o prazer da convivência. O resultado é que você acaba se apegando às menores coisas: o som da voz, um e-mail recebido quando não se espera, uma foto. Você se acostuma. A ausência torna-se a norma. Isso aconteceu quando meus pais se separaram. Normalmente, numa separação, o pai muda-se para um outro apartamento, um outro bairro. Meu pai é diplomata. Ele foi para outro país. Não tinha essa história de visita no fim de semana. O normal ficou sendo passar anos sem vê-lo. Eu me acostumei. Sempre acho curioso as coisas com que nos acostumamos. Volta e meia a saudade bate mais forte e passo a mão no telefone. Uma espécie de equilíbrio se reestabelece até a próxima vez que a saudade fala mais alto. Isso é o normal nessa amizade. Falo disso porque esse é um dos componentes do novo romance que comecei a escrever no sábado. Distância, amor, saudade, proximidade, a dificuldade da comunicação, o medo. Por isso liguei para ela, porque todas essas coisas me fizeram pensar nela e de como foi bom quando pudemos nos ver pela última vez, sentadas numa cozinha, tomando o café da manhã e eu brigando com um mamão que não é algo que eu costume comer. Terminada a conversa, a distância foi diminuída por algum tempo. E quando ela aumentar mais que o suportável, vamos nos falar de novo. Simples assim.

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