segunda-feira, 30 de maio de 2011

I let the moment win

Hoje encaixou. Quase no fim da noite, no café da Argumento, eu senti o texto encaixar e comecei a sorrir de orelha a orelha. Minha vontade era de sair dançando de felicidade como o Snoopy. Não há nada melhor que aquele instinto que te diz que você está no caminho certo, que acertou o tom. Eu havia decidido contar a história em primeira e terceira pessoa ao mesmo tempo e hoje comecei a ver que essa decisão foi acertada. E também senti que tinha acertado o tratamento do personagem em sua juventude, em 1989. Também comecei a implementar uma ideia que me passou pela cabeça rapidamente há algumas semanas quando estava tentando resolver como estruturar a história. Achei que seria interessante ter sempre um elemento da primeira cena puxar a segunda cena, algo da segunda puxar algo da terceira e assim por diante, meio que como uma corrente.
Esse romance traz de volta um tipo de personagem que eu tinha deixado de lado um pouco, o homem fraco, que não age, se deixa levar pelas circunstâncias porque não se acha capaz de lutar contra elas. Algumas de minhas primeiras tentativas de romance focam nesse personagem. Eu o deixei de lado, mas ele nunca deixou de me fascinar. O que, imagino, deve ter a ver com tudo o que aprendi sobre tragédia grega e moira na faculdade (valeu, Rosângela). Na prática, eu achava que não estava conseguindo acertar quando escrevia esse personagem. Hoje me acho mais capaz de fazer ele viver plenamente no papel. Ter mais vinte anos de janela também ajuda. (Essa é a merda de ser escritor. Você preferia não ter a cara amassada, aquela consciência de que o tempo está ficando escasso, mas ao mesmo tempo, não conseguiria dar profundidade ao que escreve se não fosse por essa cara amassada, os cabelos brancos, a vista que de repente ficou cansada e pede um novo par de óculos. Super-Homem não envelhece, mas Clark Kent está precisando de bifocais.)
Chegada a hora de ir embora, sai para a rua praticamente deserta, braços abertos em comemoração, recebendo o vento frio no rosto, sentindo que ia explodir se não contasse logo para alguém tudo o que este dia tinha me trazido. E Sarah McLachlan cantava docemente no meu ouvido For today I let the moment win.

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