sábado, 29 de dezembro de 2012

Bah, Ano Novo

Prefiro o feriado de Ano Novo ao Natal. A essa altura do campeonato gosto da folga que o Natal me dá, mas não o peso das associações que acompanham o Natal. É um pouco como se você tivesse a obrigação de ser feliz nesse dia. E tem os benditos presentes e tudo mais. Há séculos eu resolvi só dar presentes para minha família. Facilita minha vida.
Quando eu era criança, entendia perfeitamente porque se comemorava o Natal, mas me sentia um tanto confusa com o Ano Novo. Sempre considerei essa uma celebração artificial, como o dia das Mães ou o dia das Crianças. Alguém decretou que era para ser assim e pronto. Sim, claro, eu sei que é algo que vem de tradições antigas que nem o Natal, embora no meu estoque de cultura geral e referências cinematográficas que roda nessa minha cabeça louca não consiga me lembrar agora qual a tradição específica. Por exemplo, ao assistir um documentário da BBC lembro agora que a tradição da árvore de Natal só chegou na Inglaterra com o Príncipe Albert, o marido da Rainha Vitória. É o sintoma eterno de quem trabalha com cinema e TV. Todo mundo vive de referências e citações e fatos obscuros. E depois você conversa com pessoas normais e não entende porque elas não sacam a piada que você fez com uma frase de um filme. 
Mas voltando ao assunto, nunca consegui entender direito essa coisa de Ano Novo e chegou um ponto em que resolvi desistir e ignorar o Ano Novo. Eu aproveito os dias de folga com muito prazer, escrevo bastante, mas fico em casa enquanto todo mundo solta fogos. Dá menos aborrecimento assim. Vou me enfiar no banho agora e partir para a Travessa. Tomara que as hordas consumidoras já tenham ido embora. Quero a minha livraria só para mim.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Boemia

Sexta-feira, véspera do fim de semana do Ano Novo, e tudo o que eu quero é sentar num bar e conversar com os amigos. Até tinha pensado em sentar um pouco no café da nova Cultura que abriu na Senador Dantas, praticamente do lado do escritório (um perigo), escrever, mas aí parei e pensei, sorvetão, você vai passar três dias escrevendo, que diferença vão fazer mais uma ou duas horas. Sinto saudade de sentar com o pessoal da legendagem na noite de São Paulo, cada um tomando sua bebida de preferência e depois todo mundo caminhando de volta para o hotel às quatro da manhã pelas ruas praticamente desertas sem qualquer noção do quanto isso é perigoso e sabendo que você tem de acordar cedo no dia seguinte e terminar um filme e depois sair correndo para uma sessão no cinema do Conjunto Nacional. Não bebo, então basicamente me entupo de refrigerante. Mas gosto da conversa e de ver aquela longa mesa de gente que conheço e todo mundo trocando histórias de guerra. É leve e sem compromissos e em geral essas noites são cheias de risadas. Tomara que no ano que vem possa fazer me entregar mais para a boemia da sexta-feira.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Hordas consumidoras

Uma das melhores coisas desse feriado de Natal é poder passar mais de um dia na Travessa. Por uma série de circunstâncias, não tive compromissos sociais, então pude escolher o que fazer. Minha mãe vai viajar e passar uns dias com minha tia, irmã dela numa casa de campo. Eu até tinha pensado em viajar para São Paulo ou Paraty, mas gastaria muito mais (se bem que na Travessa estou mais exposta às tentações) e no fim das contas, tudo o que eu quero é o que sempre quero. Tempo para escrever. E para mim, o lugar mais confortável para escrever é a Travessa. Mesmo com trinta mil pessoas na loja para comprar presentes, continua sendo o melhor lugar. Sinto-me um pouco invadida, especialmente na hora em que desço ao primeiro andar para dar a volta de praxe para refletir. Bato na parede, não sei como seguir com a cena. Levanto e vou dar uma volta lá embaixo para sacudir a cuca. Costuma funcionar. Eu sei, a livraria não é minha, mas vou lá há 10 anos, desde que eles abriram e aquele lugar virou meio que meu escritório oficial. A tal ponto que é mais fácil para mim escrever fora de casa do que dentro.
Não rendi tudo o que eu queria, mas isso é normal quando você está no início. Ou melhor, reiniciando um romance. É provável que eu renda melhor no próximo fim de semana. E sem as hordas consumidoras rodando em volta deve ser mais fácil me concentrar. Está sendo uma experiência interessante reescrever um texto sem voltar ao original. Coisas novas estão surgindo, uma maneira diferente de dizer as mesmas coisas. Percebi que não devia entregar determinadas coisas logo de cara, inclusive porque isso me forçava a repeti-las o tempo todo. Mas esse cara é como um viciado no sentido de que ele não quer reconhecer aquilo que o prejudica. E daí me pareceu fazer mais sentido que ele não pudesse contar a própria história. Podia ter usado o famoso "unreliable narrator". Mas de algum modo me pareceu que seria mais natural um narrador na terceira pessoa vendo tudo de fora e escondendo aquilo que o leitor não precisa saber. Neste caso é mais um "untrustworthy narrator" pois ele só conta aquilo o que quer. Gosto disso.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Sexta

Desde a sexta que não se fala de outra coisa que não o ataque à escola nos EUA e a morte das 20 crianças. Foi uma merda e vai ter gente sofrendo com isso por muito tempo. E vai começar todo aquele debate sobre controle de armas e deveria mesmo. Ninguém deveria ter uma arma. Toda vez que uma tragédia dessas acontece, as pessoas têm a tendência a criticar o que acontece nos EUA, a cultura de armas que existe. lá. O que se esquece é que tem toda uma violência aqui que nunca vi ser discutida. Quantas vezes já vi incidentes de violência por motivos fúteis na TV. Alguém que pega uma arma e mata outra pessoa por nenhum motivo. Uma discussão de bar, uma fechada no trânsito, um comentário sobre o time de coração resultam em uma pessoa matando a outra com uma arma. Há vários anos, eu estava num ônibus e um carro fechou o ônibus, forçando-o a parar, o motorista saiu do carro e atirou no pneu do ônibus. Tivemos todos de sair e pegar outro ônibus. Isso foi em Ipanema. O motorista do ônibus teve sorte de não levar um tiro na cara. Parece que as pessoas não conseguem mais suportar ser contrariadas. É uma coisa que acontece de uma forma constante e é algo sinceramente me apavora. Há uma violência que permeia a sociedade americana. E há uma violência aqui também. E tem vezes em que acho a violência aqui pior. Ela não é espetacular, não ocupa os noticiários internacionais, não é motivada por problemas mentais ou por um desejo de notoriedade, ciúme ou traição. É por que alguém disse que outra pessoa não gostou. Isso me assusta muito mais que o doido que entra no shopping e mata dez pessoas. Essa é uma ocorrência rara. O sujeito que mata alguém num bar por causa de uma discussão a respeito de futebol nem tanto.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Done and done

Está feito. Detonei o romance em progresso 2 e comecei tudo de novo. Nunca tinha feito isso a esse ponto. Vou reescrever o romance sem consultar o que já está escrito. Tomei algumas decisões sobre o narrador e sobre o que vou e não vou dizer desta vez. Eu nunca tinha ejetado o meu original dessa forma. Mas a cena nova que terminei de escrever hoje quando cheguei na livraria me convenceu que a história está efetivamente na minha cabeça, aquilo que eu quero dizer. Mais tarde posso pegar cenas que acho que funcionaram bem e usá-las na nova versão. Acho que vai funcionar porque essa é uma história que tenho na cabeça há quase vinte anos. Tentei escrevê-la como um conto no início dos anos 90, não deu certo. Agora tentei reeditá-la como um romance. Ainda acho que é uma boa história. Só não achei o jeito certo de contá-la ainda. Tomara que agora eu acerte.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

There are always possibilities

Não estou contente com o romance em progresso, mas na segunda começou a me vir uma nova cena que estou escrevendo na hora do meu almoço. É um sinal que o romance não está morto. As possibilidades ainda existem. E acho que é um sinal que a melhor opção é reescrever o romance desde o começo. Uma fresta de luz sempre é bem-vinda.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Não está funcionando

Fim de semana passado não deu. Pintou um trabalho. Mas hoje eu fui para a livraria. Foi um dia menos frustrante que o último, mas continuo sentindo grande insatisfação com o texto. Desconfio que parte da minha insatisfação tem a ver com a forma um tanto artificial como esse texto surgiu. Desconfio que, no fim das contas, vou ter de sentar e reescrever tudo. Mas desta vez vai ser de uma maneira mais orgânica. Tem de ser de uma maneira mais orgânica ou não vai funcionar. Não é a primeira vez que faço isso. No meu primeiro romance joguei fora dois terços do romance não só uma, mas duas vezes. E nas duas vezes foram críticos amigos que me disseram, "não está funcionando". Vou tomar como um sinal de minha evolução como crítica de meu próprio trabalho de que desta vez quem vai decidir se jogo fora o texto sou eu mesma. Eu cheguei na metade do romance e com alguma sorte e se chegar bem cedo na semana que vem, talvez consiga terminar a leitura. E aí vou decidir o que fazer. Enquanto isso, vou aproveitar o fim de semana para dormir tudo o que puder. Passei a semana passada praticamente insône. Não foi muito legal. Esta semana agora eu tenho de dormir ou isso vai afetar meu trabalho.Ma só o fato de não estar atolada de trabalho vai ajudar. Eu ia descansar este fim de semana inteiro, mas vou ajudar uma amiga com um trabalho neste domingo. E também é uma graninha a mais para adicionar ao meu décimo terceiro. Depois de vários anos sem saber o que é o décimo terceiro, foi legal abrir a minha conta e ver que tinha uma boa grana ali. Vou investir em algumas coisas que preciso aqui na minha casa. O resto vai ficar para tentar compor uma nova reserva, coisa que não tenho há algum tempo. Vou tentar dar um tempo em dezembro e depois em janeiro sair correndo atrás de freelas de novo. Esse esquema de peão é muito mais cansativo do que de freela. Estou com um déficit de sono enorme. Pelo menos como freela eu podia tirar cochilos quando estava muito cansada. No emprego não dá para fazer isso. Pelo menos eu reaprendi o segredo de me manter acordada, tomando litros e litros de Coca-Cola pelo cafeína já que não gosto de café. Por ora, vou curtir o restinho de Os Dez Mandamentos e em seguida engrenar no trabalho. E mais tarde farei meu famoso curry verde de frango com batata doce. Nada mal para um domingo no começo de dezembro.

domingo, 18 de novembro de 2012

Frustrada de novo

Outro fim de semana frustrado. De novo uma noite mal dormida, de novo um sábado cabeceando na livraria. Mas eu estava mais consciente do que estava lendo desta vez. E recomecei desde a primeira página. E não estou achando bom. É difícil saber se esse meu desprazer é objetivo ou não. Talvez o problema esteja nessa origem Frankenstein do romance em progresso. Talvez seja necessário jogar tudo fora e recomeçar do zero. Mas ainda não é tempo para tomar essa decisão. Às vezes, o que eu acho sobre um texto tem mais a ver com influências do que está acontecendo comigo no mundo real. Se estou com pouca grana e desanimada com o trabalho, vou achar que qualquer texto está uma droga. Sinto-me cansada, sobrecarregada, exausta. Tenho de deixar o tempo passar antes que possa bater o martelo em qualquer coisa.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Feriado

Não há nada melhor que um dia para ficar em casa, dormir no meio da tarde, brincar com os cachorros. E terça tem mais.

domingo, 11 de novembro de 2012

Caindo de sono

Não carregar o laptop hoje foi um alívio. Pude voltar a sentar no meu lugar preferido. Foi legal. Pena que eu estava morrendo de sono. Minha semana foi super cansativa e dormi mal esta noite, preocupada com algumas coisas. Resultado: passei o sábado cabeceando, levantando volta e meia para ver se eu acordava. E minha produtividade foi ridícula. Não estava realmente conseguindo me concentrar no texto. No sábado que vem vou ter de começar a ler tudo desde o começo de novo. Mas algumas coisas ficaram claras. O início está muito diluído entre 1989 e 2009. Vou ter de concentrar em 2009, depois entrar em 1989. Estou vendo que vai ser um saco acertar a estrutura desse romance. Pelo menos está tudo digitado e fica mais mais fácil mexer com as cenas desse jeito. O problema é que estou naquela fase em que odeio o que escrevi. Tenho essas fases io-iô. Uma hora adoro o que escrevo, outra hora odeio. Tomara que essa fase passe logo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

At last, good news

Finalmente consegui terminar a digitação do romance em progresso 2. Aleluia. Eu tive de interromper o trabalho tantas vezes que nem sei mais o que tenho na mão. Vai ser bom passar os próximos fins de semana lendo o romance. E depois vai ser a velha e boa gaveta. Preciso voltar ao romance em progresso 1 com a esperança de terminá-lo para o próximo Prêmio Sesc. Ou sei lá que outro que apareça. Mas é um alívio saber que não terei de carregar aquela maldito laptop para a livraria semana que vem. Aquela porcaria pesa uma tonelada no final do dia, quando estou cansada. E tem sempre aquele medo no fundo que alguém assalte o táxi e me leve o laptop. Sei por experiência que se eu perder algum texto, serei incapaz de reproduzi-lo. Mas essa é uma história para um outro dia.

sábado, 3 de novembro de 2012

Furacão

Esta foi a semana do furacão. Foi um pouco estranho ver um lugar onde eu morei, Manhattan, com carros boiando em garagens como acontece tanto aqui. A impressão que tive, nas primeiras horas, vendo as imagens na CNN, era que a cidade tinha sido vítima de uma daquelas chuvas torrenciais de verão de que ocasionalmente o Rio é vítima. Mas depois vieram as clássicas imagens dos pobres repórteres no meio da ventania, tentando não ser levados embora. Não sei porque não amarram os coitados a algo firme. Sinceramente me parece sacanagem fazer isso com os caras. Devem tirar no palitinho quem vai. O pessoal de meteorologia, então, já deve saber que quando vem um furacão, eles terão que ficar na chuva por horas e horas. Já devem preparar uma roupa especial e tudo. Devem até trocar dicas, como o pessoal da legendagem faz quando chega a época dos festivais de cinema. E tenho uma noção do que dever ser porque eu passei por um furacão há mais de 30 anos quando estava num summer camp em Massachusetts. Minha mãe me despachou para lá por um mês e enquanto eu estava lá veio um furação na direção de Nova York e de Massachusetts. Meus pais e meus irmãos ficaram no nosso prédio e eu, no summer camp, fui evacuada para uma escola próxima para passar a noite em um ginásio. Para uma pessoa cuja imaginação (alimentada por muitos anos de TV e filmes de desastre) prontamente cria os piores desastres, não foi bem uma noite relaxante. Mas no dia seguinte o furacão tinha passado e nada aconteceu. Não foi um furacão muito forte. Mas me deu uma ideia do que é passar por algo assim. Vai por mim, é algo que você prefere dispensar.

domingo, 28 de outubro de 2012

O fim se anuncia

O fim da digitação se anuncia. O próximo fim de semana prolongado (mais um, graças a Deus) vai me oferecer a chance de terminar a maldita digitação. E aí começa a parte complicada. Ler e reler o texto até estar razoavelmente satisfeito com ele, largar numa gaveta, depois olhar de novo. E aí vou para que lado? Retomo o romance em progresso 1, volto a escrever o romance em progresso 3? Sinto que ainda preciso escrever mais algumas cenas para o romance em progresso 2. O final está meio atabalhoado, fruto da minha impaciência de vê-lo fechado. Enquanto isso, leio os e-mails vindos da Monstra e quero me rasgar porque não estou lá. Hoje é a noite do já tradicional karaokê na Liberdade e vou passar essa noite na minha cama quando queria ver todo mundo desafinando naquele lugar feérico, voltar trôpega de sono para o hotel às cinco da manhã e enfrentar uma sessão de cinema poucas horas depois. Saudade daquela maluquice. Nunca fui de fazer loucuras na minha adolescência. Sempre fui excessivamente bem comportada. Mas indo a São Paulo e frequentando a noite e voltando para o hotel em horários madrugatórios, sinto como se tivesse a chance de recuperar um pouco a experiência do que é ser adolescente. Tem uma energia em se fazer parte de um grupo que antes não sabia existir. Este ano, tão exaustivo e pesado, essa energia poderia me ajudar a resistir a tudo. Mas ano que vem, me aguardem.

sábado, 27 de outubro de 2012

Aleluia

Estou na Travessa. Escrevendo. Aleluia.

domingo, 21 de outubro de 2012

Certeza

Passo tanto tempo sem conseguir escrever que me vem um certo medo de não conseguir começar de novo quando eu tiver tempo para de fato devolver meus sábados à busca da escrita. Mas ontem, final do dia, cansada depois de ter traduzido a maior parte de um roteiro, decidi digitar um pouco do meu romance em progresso 2. Só para poder fazer algo que me desse prazer por pouco mais de uma hora. Não demorou muito para começar a mexer no texto que estava digitando, acrescentando alguns detalhes aqui, suprimindo outros ali. O romance ainda está na minha cabeça, rodando lá dentro, em fervura baixa, só esperando pelo momento de vir à tona. Foi bom poder ir para casa com essa certeza. E se tudo der certo, quem sabe no próximo sábado eu posso voltar a escrever. Estou precisando.

domingo, 23 de setembro de 2012

Not this year

Fui à tradicional reunião de leilão de sessões do Festival do Rio. Mas este ano houve uma diferença grande. Não levei uma câmera e não fui lá para pegar sessões. Só fui lá para ver o pessoal. Trabalhando na Lersch, não terei tempo de lançar como gostaria de fazer. Vou reservar meu tempo para a tradução de filme. Não irei para São Paulo. Este, que seria meu 15º ano fazendo festivais vai passar meio que em branco. Não que eu queira. Eu adoro fazer festival de cinema. É minha maior adrenalina no ano todo. Mas ser peão tem algumas desvantagens. Ano que vem pretendo tirar férias justo nesta época para poder fazer algo do Festival e da Mostra já que é provável que teremos um esquema de Monstratona como tivemos ano passado. Mas só no ano que vem. E então me aguardem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Desligar

Minha vida segue complicada, mas sigo tentando escrever. Não tem sido fácil. Tenho tido de abrir mão de parte dos meus sábados para trabalhar. Tem sobrado muito pouco tempo para digitar o romance em progresso 2. E o pobre coitado do romance em progresso 3 está completamente parado porque não consigo ter cabeça para escrever na hora do almoço. Eu gostaria de voltar ao romance em progresso 1, mas esse é ainda mais complicado justamente por lidar com algumas coisas que estou enfrentando agora. Ou seja, distância zero. Mas quero ver se consigo retomar a revisão desse romance no final do ano. A época de Natal é sempre boa para essas coisas. Ainda mais esse ano, quando teremos quatro dias de folga por duas semanas seguidas. Pena que a Lersch não tire a semana entre o Natal e o Ano Novo de folga, mas fazer o quê?
Mais do que tudo, neste momento, eu quero poder me desligar da minha vida por uns dias. O bom é que na segunda semana de outubro vou ter quatro dias de folga. Tem o dia 12 (Nossa Senhora de Aparecida, obrigada João Paulo II) e o 15 (feriado do meu sindicato no trabalho). Vou tentar usar esses quatro dias ao máximo. Eu preciso poder me dar esses dias para escrever. Não importa o que eu vou escrever. O que interessa é escrever. É o que eu quero.

domingo, 19 de agosto de 2012

A corrupção pelos ideais

No jornal inglês The Guardian achei uma análise de The Remains of the Day de Kazuo Ishiguro, meu romance preferido, por ninguém menos que Salman Rushdie. O texto é maravilhoso e diz tudo o que sempre quis falar sobre esse romance. Aproveitem. O texto do Rushdie você acha aqui.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Motivos para o recesso

Seguinte, eu estou numa situação que nunca teria imaginado em um milhão de anos. No primeiro semestre deste ano, descobri que meu pai tem Alzheimer. E você rapidamente descobre que essa é a notícia mais devastadora do mundo porque quem vai ter que tomar conta dele daqui em diante é você. Nunca quis filhos, não levo jeito com crianças. E me vejo tendo que tomar decisões por outra pessoa e isso é um peso incrível. Então, quando você está escrevendo um romance que envolve um pai idoso doente que morre e uma coisa dessas acontece, é muito estranho. É como se ao escrever você provocasse o que escreve. Não sou de ficar contando essas coisas no blog, nem foi para isso que o criei. Mas esse é um evento tão enorme que não tem como não afetar tudo o que faço de agora em diante, tudo o que escrevo, como faço as coisas. Há muitas outras complicações nessa história toda que não vou descrever. É minha vida particular, afinal. Mas isso é o que basta para se entender porque eu vou ter de sumir de tempos em tempos. Eu volto. Pode deixar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Em recesso

Na FLIP deste ano, durante a mesa com Teju Cole e Paloma Vidal, o Teju falou que escreveu certas coisas no seu romance Open City que não tinham nada de autobiográficas. O curioso é que pouco depois de terminar o romance, algumas dessas coisas se tornaram realidade. Daí ele disse que queria que o próximo romance fosse sobre um jovem escritor que vendia milhões de livros e ficava milionário. A plateia, naturalmente, riu. E eu sentada ali a poucos metros tive vontade de levantar e dizer que isso acontece comigo também. Há algo de meio assustador quando isso acontece. E, ao mesmo tempo, isso também me dá mais material.
Tem muita coisa acontecendo agora e não vou poder escrever no blog com a habitual frequência. Depois eu explico. Mas por ora, entramos de férias.

domingo, 29 de julho de 2012

Mais dez páginas

Mais dez páginas de caderno ontem. E depois, como sempre, fiquei indócil, querendo fazer mais algumas coisa. Só consegui dormir lá pelas três da manhã. A diferença é que agora tenho vontade de falar com alguém sobre o que estou fazendo, discutir a lógica da montagem da estrutura. E nesse romance, a ordem das cenas é bem importante. Decidi fazer sequências de cenas em vez de cenas simplesmente intercaladas entre 1989 e 2009. E no meio delas, ocasionalmente, uma cena de flashback que não se encaixa nesses dois anos, mas que, espero, ilumine aquele momento específico da história. Ainda tenho muito o que fazer, falta digitar meio caderno. Mas pelo menos já posso ver que terei umas 60 mil palavras no romance. O que não é nada mal.

sábado, 28 de julho de 2012

Thai, Thai, Thai

Falei de tanta coisa de Paraty, mas esqueci de falar de uma das coisas que mais me deu satisfação, que foi ver o Thai Brasil de volta ao centro histórico, cheio de gente, num espaço lindo na Rua do Comércio. E a loucura na hora do almoço e, especialmente, durante o jantar. As cozinheiras todas trabalhando feito umas loucas, os garçons correndo de um lado para o outro, as mesas todas cheias de gente. Os clientes antigos apareciam, gente que não conhecia a casa, e a Marina recebendo todo mundo com o máximo carinho. Quando descobri que o restaurante estaria aberto para o almoço e o jantar durante a FLIP, fiz questão de fazer todas as minhas refeições ali. Ainda mais porque a comida é uma delícia. Quando voltei para o Rio, percebi o quanto fiquei mal acostumada depois de cinco dias de refeições tailandesas gostosas. Marina é uma pessoa que eu admiro. Ela brigou, brigou e conseguiu voltar para o centro histórico. Trabalha feito uma louca, cozinha que é uma maravilha e recebe todos os clientes com enorme carinho. Só lamento que o Thai Brasil não tenha uma filial aqui. Ela ficaria rica, tenho certeza.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Tempo em falta

Meu problema eterno, como o de todos os escritores que não ganham a vida escrevendo, é tempo. E também que não sou a datilógrafa mais rápida do mundo. Quando tento acelerar, eu erro muito. Tenho uma profunda inveja da minha supervisora, Monique, que senta do meu lado no trabalho e parece uma metralhadora. Daí o processo de ter de digitar todo um romance, passando-o do caderno para um arquivo de Word, pode ser bem frustrante porque leva uma vida inteira. No sábado só consegui digitar dez páginas de caderno. Ainda faltam cem. Vou ter de começar a digitar durante a semana também ou essa digitação não termina nunca. Pelo menos uma das coisas que está dando certo é ordenar as cenas ainda durante a digitação. Está me ajudando a ter uma visão mais clara da história, dos dois períodos da história e também do personagem e se sua evolução. Mais sobre isso um outro dia.

sábado, 21 de julho de 2012

Happy birthday to me

Hoje é meu aniversário e decidi que a melhor maneira de comemorá-lo, aproveitando que, para variar, ele caiu num fim de semana, é me dedicar ao que mais gosto de fazer: escrever. Amanhã, um encontro com as amigas. Nada melhor para fechar um fim de semana que estar entre gente de quem se gosta.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Fragmentado

Faz quase duas semanas que eu voltei. Os livros que comprei ainda estão empilhados na sala, os jornais que trouxe não foram separados. Tenho que recuperar os ingressos que comprei e quero guardá-los junto com o livro do programa como sempre faço para ter de lembrança. Na prática, a FLIP só termina para mim quando compareço ao último evento pós-FLIP. Ainda tenho de separar as fotos, jogar online. E fico repassando o que passei lá pela cabeça. Mas uma coisa que percebo cada vez mais é que a FLIP é sempre uma experiência meio fragmentada. São pequenos flashes, breves momentos, são pedaços de conversas que você ouve na fila esperando para entrar. São todas as refeições que você faz. Depois você vê as entrevistas que passaram na TV, vê as reportagens e é sempre uma coisa meio estranha pensar que não há nada que realmente consiga cristalizar o que é a experiência da FLIP. A gente escreve blogs, tira fotos, conta o que aconteceu aos amigos. E você só consegue captar aquela sensação do que é a FLIP quando está diante da Tenda dos Autores no ano seguinte, esperando ansioso pela primeira mesa do evento.

domingo, 15 de julho de 2012

Chove chuva

É um pouco engraçado que este fim de semana está fazendo o tempo que eu queria que tivesse feito durante a FLIP. Tudo bem que as fotos ficam mais bonitas com o sol, mas andar para lá e para cá debaixo do sol quente e por conta disso ficar suando feito uma porca não é muito agradável. A FLIP que mais me agradou em termos meteorológicos foi a primeira, em 2005, notável por ser a mais fria até o momento. Quem não veio com um casacão ficou tiritando de frio durante os cinco dias. Eu fui a Paraty com dois casacos enormes e rodei pela cidade feliz da vida. Fui feita para o inverno, não para o verão. Sempre achei que Paraty combina perfeitamente com neve. A cidade ficaria linda coberta de neve. Mas para isso vou ter de esperar até a próxima era glacial.
Na sexta, esperando numa fila para conseguir um autógrafo, me desfazendo em suor, reclamei tanto do calor que o tempo acabou por virar. Na Tenda do Telão, que é mais aberta, durante a mesa com o Ian McEwan e a Jennifer Egan, percebi que o tempo tinha começado a mudar. Na noite anterior, assistindo à TV na pousada, vi que estava chovendo em São Paulo e torci para aquela chuva vir na nossa direção. Mas talvez eu tenha exagerado um pouco, porque pouco depois de voltar para a pousada, começou a cair uma chuva forte e até faltou luz por uns 15, 20 minutos de madrugada. Resultado, no dia seguinte a temperatura estava super agradável e andei pela cidade mais contente. Só não fiquei cem por cento feliz porque sabia que teria de ir embora em poucas horas, voltar para minha vida normal. Esse é o único grande problema da FLIP. Ela sempre acaba e é sempre cedo demais.

sábado, 14 de julho de 2012

Pós-FLIP

Compareci na quarta ao evento pós-FLIP da Globo na Travessa do Leblon em que falavam sobre os dez anos da FLIP. E achei interessante quando, no meio da palestra, uma mulher começou a reclamar de alguma coisa, provavelmente relacionado ao fato de ter pouca poesia na FLIP. Como ela não tinha um microfone, não dava para entender direito. Mas pela resposta do pessoal na mesa, deu para deduzir que tinha a ver com poesia. Isso num ano em que havia leituras de poesia antes de toda mesa e em que o homenageado é provavelmente um dos poetas mais amados do Brasil. A poesia realmente recebe menos atenção que outras formas de literatura, não só aqui no Brasil, mas em outros países também. Ela é uma forma mais difícil. Eu, por exemplo, sou meio impermeável a poesia. Ela só me chega meio que contrabandeada, inserida dentro de outros veículos, como uma música, citada em um filme. Mas o que interessa é que essa reclamação não tem nada de novo. Há anos que as pessoas criticam a FLIP. E isso é um resultado da importância que a festa adquiriu no país, gerando inúmeros outros festivais literários. As pessoas querem que a FLIP seja todas as coisas para todas as pessoas. E isso obviamente não é possível. A festa não vai salvar a literatura, não vai fazer as pessoas lerem mais, não vai transformar o país. Mas por cinco dias pode divertir as pessoas, pode nos fazer pensar e rir e descobrir coisas que não sabíamos antes. É isso o que me interessa.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Espalhando Drummond

Uma coisa que gostei na edição deste ano foi a leitura dos poemas do Drummond. Antes de toda mesa tinha uma leitura de um poema, seja através de uma gravação da voz do próprio Drummond, seja através da leitura de um dos escritores. A que causou mais impressão foi a do Fabrício Carpinejar que começou a ler e então pulou do palco e saiu andando pela tenda e as pessoas ficaram meio sem saber o que achar. Já passei por FLIPs em que era facílimo esquecer quem era o homenageado. Mas talvez pelo Drummond ser uma figura tão querida, ele meio que estava por toda parte. Este ano, a Companhia das Letras demitiu o pinguim da Penguin e botou uma reprodução da estátua do Drummond no banco na frente da casa que usaram como sede no evento. Deus e todo mundo sentava no banco ao lado da estátua para tirar uma foto com o Drummond. Tinha uma fila o dia todo. Perto da Tenda do Telão, uma empresa teve a mesma ideia, mas em vez de uma estátua de fibra de vidro ou sei lá o que era aquele material, tinha um cara fazendo estátua viva. Passando por ele na saída da Tenda do Telão depois de ter visto o Jonathan Franzen, levei um susto ao ver a estátua se mover. Um segundo depois, caiu a ficha. Tinha Drummond pra todo lado, inclusive no guardanapo no restaurante. Isso é que é espalhar Drummond.

Debaixo d'água

A FLIP é um pouco como um sonho. Uma vez que você acorde da viagem de quatro horas na rodoviária no Rio, a coisa toda meio que evapora. Você meio que tenta se agarrar ao que houve com as reportagens, os ingressos, as fotos. Vou passar os próximos dias separando esse material e olha que eu trouxe muita coisa de volta. Acho que nunca trouxe tanta coisa de volta de uma FLIP. Talvez fosse significativo que hoje de tarde, pouco antes de minha última mesa (com Hanif Kureishi e Gary Shteyngart, uma delícia), a maré tenha subido tanto que estava cortando o caminho para a tenda da Livraria da Vila e a Tenda do Telão. A FLIP estava terminando, submergindo. Logo ali ao lado da tenda da livraria (e tenda não é uma boa descrição para aquela livraria enorme praticamente do mesmo tamanho do primeiro andar da Travessa de Ipanema), nosso amigo de outras FLIPs, o imitador do Jack Sparrow estava sobre um pedestal, encantando os passantes com suas poses e solicitando uma contribuição para o rum. As pessoas faziam fila para tirar fotos com ele. Com a maquiagem (ele estava coberto com aquela pintura de estátua viva), não deu para saber se era o mesmo cara que andou vestido de pirata pela cidade, fazendo cara de mau, mas sem nenhuma pose fora a de representar um pirata, completo com barba, espada e várias pistolas metidas no cinto. Eu o vi várias vezes ao dia, exceto no domingo.
Não sei o quanto estarei inteira na manhã de segunda. Normalmente, é quando tudo começa a doer. Meus cães pelo menos estão aliviados que a mamãe voltou.

Todo dia é dia de Hare Krishna

Tem aquela música que diz, "Todo dia é dia de índio". Bom, ontem, em Paraty, foi dia de Hare Krishna. Saindo da mesa do Jonathan Franzen, me deparei com um grupo de monges Hare Krishna cantando e dançando aquela musiquinha da seita perto da ponte. Aliás, tenho visto dois monges todo dia ali perto da Tenda dos Autores, mas só ontem foi que eu vi que tinha mais de um. Figuras curiosas são o que não faltam aqui na FLIP. Tem um cara vestido de pirata circulando por aí. Tem o clown que eu vejo todo ano desde 2005. Tem o cara que faz performances de estátua viva. Que, aliás, no ano retrasado, estava caracterizado de Captain Sparrow e imitava o Johnny Depp perfeitamente em todos os trejeitos. Tem os músicos que se apresentam nas esquinas e a moça do tarot adivinhando o destino dos passantes. Tem os índios vendendo artesanato e que me deprimem porque eles deveriam poder de sustentar vivendo do jeito que viveram por milênios e não como objeto de curiosidade da gente endinheirada que vem do Rio e de São Paulo.
Outra tradição da FLIP, pelo menos comigo, é que toda vez que eu venho acontece um evento importante. Em 2005, foi o atentado terrorista em Londres. Eu sentada na cama, vendo a TV e descobrindo que várias bombas explodiram no metrô e em ônibus de Londres. Minha irmã mora em Londres. Gelei por dez segundos até me tocar que se tivessa acontecido alguma coisa com ela, minha mãe já teria me ligado. Anos depois, foi a libertação da Ingrid Betancourt das FARCS naquela operação cinematográfica. Este ano foi a conquista da Libertadores pelo Corinthians. Eu estava caminhando para o Centro Histórico na noite de quarta quando parei em uma loja de conveniencia no caminho para comprar refrigerante para abastecer o minibar quando o Corinthians fez o segundo gol. E fiquei surpresa com a quantidade de fogos e o grau da comemoração das pessoas assistindo. Não é muito comum pessoas que morem no Rio torçam por um time de São Paulo. Talvez seja a proximidade com o estado de São Paulo. É mais fácil achar a Folha de São Paulo aqui do que o Globo. No dia seguinte, vi um monte de gente com camisetas do Corinthians. E ainda estavam soltando fogos. Vai entender.

sábado, 7 de julho de 2012

Zen FLIP

Existe um estado que só me ocorre em Paraty. Minha cabeça, que está sempre agitada, nervosa, pensando em várias coisas, começa a serenar e me pego olhando para o nada por longos minutos de cada vez sem pensar em coisa alguma. É o que chamo de zen FLIP. E enfim consigo relaxar e viver esses quatro dias como se fossem oito, dez, mais.
E a cidade lotou. Eu não tinha reparado isso quando saí da minha mesa das 15h com os estudiosos de Shakespeare, uma delícia. Mas assim que saí da mesa do Jonathan Franzen e cheguei na Rua do Comércio após atravessar a ponte, ficou claro. Dobrou o número de pessoas na cidade. E, claro, não se consegue andar direito. O engarrafamento de gente é um saco, mas o que me deixa maluca são as pessoas que param no meio do caminho para cumprimentar amigos ou forma-se aquele grupo grande que fica no meio da rua simplesmente conversando. Dá vontade de pegar toda essa gente de porrada. Ontem eu rosnei para um pessoal e eles saíram da frente rapidinho. Nove da noite, a rua já estreitada por conta da apresentação de um desses artistas de rua e essas meninas param no meio do fluxo para se cumprimentarem e conversarem. Eu falei bem alto, "Não para!" e na hora elas andaram para um ponto aberto mais adiante na rua para conversarem e o fluxo de gente voltou a andar.
Daqui a pouco vou para o exílio ver Ian McEwan. É, porque ver as mesas na Tenda do Telão é como ir para o exílio. Mas para ver Jonathan Franzen e McEwan, não teve choro, nem vela. Não tinha ingresso e pronto para a Tenda dos Autores. Depois eu conto mais.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O susto

Minha FLIP começou oficialmente com um susto. Descobri na terça antes da viagem que a empresa de venda de ingressos ainda estava tentando entregar meus ingressos e entrei em pânico. Eles diziam que faziam duas tentativas de entrega e depois os ingressos iam automaticamente para a bilheteria. Às vésperas do evento, mesmo já tendo feito duas tentativas de entrega, lá estavam eles tentando entregar os ingressos de novo. Eu queria meus ingressos na bilheteria, não circulando pelo Rio. Liguei para a Tickets for Fun (que na verdade deveria se chamar de Tickets for Stress) e disse para eles mandarem meus ingressos para a bilheteria e pronto. Bom, acordei cedinho na quinta, fui correndo para a bilheteria da FLIP e o que descubro? Meus ingressos não estavam lá. Eu tive um minuto de pânico absoluto. Mas como acontece frequentemente comigo, que vivi a maior parte da vida em uma era analógica, esqueci que agora vivo em uma era digital. A supervisora da bilheteria me disse calmamente que eles iriam reimprimir os ingressos. E eu que tinha visto minha FLIP ir pelos ares, respirei aliviada.
E minha primeira mesa, a que eu fui imediatamente após pegar meus ingressos, terminou com um tombo. Ao sair da Tenda dos Autores, tropecei em alguma irregularidade no chão e lá fui eu de cara no chão. Pior ainda, uma senhora tentou me ajudar e derrubei ela também. Normalmente, quando levo esses tombos, me recupero do susto no chão e só então levanto. Nada disso. Me vi cercada por vários homens que rapidamente me ergueram e me botaram de pé, me ajudaram a pegar minhas coisas que caíram no chão. Mais tarde, eu conferi que eu tinha ralado o joelho direito naquelas pedrinhas de estacionamento que cobrem o chão em torno da tenda. Ficou uma ferida de mais ou menos um centímetro. Os joelhos só começaram a doer mesmo de noite e hoje de manhã ainda estão doloridos, mas de resto estou inteira. O resto do meu dia prosseguiu de maneira tranquila.
Na noite anterior, eu descobri que foi uma boa ideia comprar os sapatos da Timberland. Cinco minutos depois de chegar na pousada às 23h da quarta, eu larguei as malas e fui correndo para o Thai Brasil para conferir a nova localização. E assim que cheguei no Centro Histórico e pisei naquelas malditas pedras, eu senti a diferença. Aquela sola dura não deixa você sentir a pedra. Ainda é um saco andar nas pedras irregulares, mas não dói como antes. Então lembrem-se, se vierem a Paraty, usem sapatos da Timberland. Tênis não está com nada. (Pena que não estou ganhando nada pelo marketing.)
Mas voltando ao Thai Brasil. Após amargar um exílio involuntário em áreas remotas de Paraty e até ter sua morte anunciada na edição do Globo que circula em Paraty, o Thai Brasil e sua dona, Marina, estão de volta ao Centro Histórico, e bem na Rua do Comércio, quase na esquina da Rua da Lapa, pertinho do Café Paraty. O grande barato do Thai Brasil não é só a comida maravilhosa, mas o carinho com que Marina recebe todos os clientes. Sentada no restaurante, eu vi as pessoas entrarem e cumprimentarem a Marina. Quase todos os clientes a conhecem pelo nome. Onde no Rio de Janeiro você vê isso? Ontem de noite, no jantar, eu fui embora justo quando a casa estava lotando, um grupo de pessoas entrando depois do outro. Foi muito bom ver isso. Hoje, na hora do almoço, pretendo fotografar a nova casa, vai ficar legal.

sábado, 30 de junho de 2012

Pancadas

Não é que eu goste de levar umas pancadas na cabeça. Muito pelo contrário. Como a maioria das pessoas, prefiro muito mais levar uma vida em que só acontecem coisas boas. O que não posso fazer é dizer que essas cacetadas não são úteis às vezes. Elas servem para te sacudir e te fazer pensar. Levei uma cacetada dessas essa semana e isso serviu para que eu começasse a pensar em antigas questões minhas, mas também sobre coisas que escrevi em um dos meus romances em progresso. De repente percebi que o final de um de meus personagens tem de ser alterado. Alterado e aprofundado. Percebi que no texto original eu não fui fundo o suficiente. Mais uma vez eu me vejo andando naquela estranha linha que separa vida e ficção. O que, no meu caso costuma me acontecer ao contrário. Acho que já falei disso. Escrevo sobre uma coisa e depois ela me acontece. E é extremamente estranho me ver passando por uma situação sobre a qual eu escrevi, acreditando plenamente que ela ficaria só no reino da ficção, para depois vê-la se materializar na minha frente. A única vantagem disso é que eu entendo muito melhor aquilo sobre o que escrevi depois de ter efetivamente vivido o momento. A verdade é que imaginar certas coisas intelectualmente só pode te levar até um certo ponto. Só a experiência pode te dar a bagagem necessária para ir além.

domingo, 24 de junho de 2012

O que me sustenta

Sexta à noite, o evento a que eu fui reuniu vários escritores e chegou uma hora em que um dos escritores inevitavelmente falou da necessidade de escrever e do sofrimento de escrever. Tenho de confessar que essa colocação sempre me incomoda. Porque toda vez que tenho um dia como hoje, quando posso exercer minha grande paixão, eu saio da livraria tão cheia de energia que é muito difícil conseguir dormir. Tá, estou arrancando os cabelinhos tentando montar a estrutura do romance em progresso 2 ao mesmo tempo em que estou digitando tudo. E tem a frustração de não ter conseguido publicar até agora. Intelectualmente, eu sabia que seria difícil. Experimentar isso na prática não é nada divertido, mas a gente segue em frente. Mas o ato de escrever em si? Esse é o meu êxtase. É o que me sustenta.

sábado, 23 de junho de 2012

Sacrifícios

Fui a um evento hoje (sexta). Minha intenção era ir a um bar com o amigo que fui prestigiar, mas o evento demorou muito e não pude ficar até o final. Ser assalariada tem essas desvantagens. Antes eu dormia às duas da manhã, podia ir a um bar e acordar tarde no dia seguinte. Não há como não sentir falta disso. A sobrevivência exige certos sacrifícios. Minha liberdade foi um desses sacrifícios. Talvez mais para a frente eu possa voltar a trabalhar em casa. Estou aprendendo muita coisa no emprego, até acho que estou me tornando mais flexível do que era antes. Na minha idade vetusta, isso é algo muito bom. E inclusive significa que posso oferecer meus serviços a mais lugares, o que talvez me ajude a conseguir mais clientes e voltar para casa. Um emprego estável é muito bom, mas me custa um pouco ficar enfiada naquela caixinha todo dia. E saio para voltar para casa, olho as pessoas andando na rua e fico pensando "gado". Tento focar naquilo que realmente interessa, que é me sustentar, ter a minha vida, mas tem dias em que isso é mais fácil do que em outros.
Esta semana fez 35 anos que cheguei ao Rio vinda de Nova York para ficar em definitivo. Sinto-me menos estrangeira depois de tanto tempo, mas tem um lado meu que sempre será mais americano que brasileiro. E como essa data precede meu aniversário em precisamente um mês, entrei na contagem regressiva para meu aniversário. Adoro me dar presentes nessa época. É um perigo para minha conta bancária. Veremos se ainda estou no azul no final do mês.

domingo, 17 de junho de 2012

Raridade

Uma raridade. Um fim de semana em que posso descansar os dois dias. E francamente estou precisando. Antigamente, eu podia tirar cochilos no meio do dia para compensar qualquer noite passada trabalhando até tarde. Agora não tenho mais esse luxo. Tenho de cumprir meu horário de trabalho não importa o quê. Resultado: tenho de ficar brigando contra o sono no trabalho. Amanhã eu pretendo dormir tudo o que puder, me atualizar em todas as séries que costumo assistir, digitar o texto do novo romance. Passei o dia de hoje digitando o texto do romance em progresso 2. Mas, de novo, não é só digitar, é colocar as cenas em ordem. É uma ordem meio subjetiva, meio instintiva. Só vai dar para saber se deu certo quando eu sentar para ler tudo. Resolvi me basear na estrutura do Nixon, do Oliver Stone, que é mais temática do que qualquer outra coisa. Eu podia esperar para fazer isso no final, mas acho que vai me poupar tempo mais para a frente. Sem falar que me ajudar a pensar no romance. Inclusive, já deu para ver que uma certa cena acontece cedo demais. Preciso de mais cenas para permitir que uma personagem perceba uma coisa sobre outra. Que cenas serão essas, eu ainda não sei. Terei de pensar um pouco.

sábado, 16 de junho de 2012

Fora do exílio

Eu sofro do eterno problema de todo escritor. Tenho de ter um emprego para sobreviver, mas tudo o que quero fazer o dia inteiro é escrever. Como freelancer, em casa, essa necessidade me pesava às vezes, mas não tanto quanto me pesa agora que tenho de pegar um ônibus todo dia e sentar diante de um computador que não é meu e trabalhar em projetos que não sei quais são até abrir os arquivos. Esta não é uma crítica à empresa em que trabalho. Na verdade, esta é uma das empresas que melhor respeita o funcionário em que já trabalhei, oferecendo benefícios que eu nunca tive em outros empregos. Eles inclusive estão me deixando ir para a FLIP este ano. Duvido que as empresas em que trabalhei antes teriam permitido isso. Mas a verdade é que depois de 15 anos trabalhando em casa, fazendo o que eu queria na hora em que queria, é muito mais difícil voltar a me encaixar na caixinha que me oferecem no trabalho. Pois isso faz parte de qualquer emprego. E até mesmo da vida. Vou vai para a escola e tem de se encaixar no esquema do colégio, se comportar de uma determinada maneira, usar um uniforme, manter uma certa disciplina. O mesmo vale para qualquer emprego. Qualquer matéria de jornal sobre como ter sucesso no emprego diz que você tem de entender a cultura da empresa em que trabalha. Ou seja, entenda o que querem de você e cumpra esse papel. Isso tem sido um aprendizado. Porque eu esqueci que a convivência com muita gente ao mesmo tempo pode ser difícil. Você nem sempre é entendido. Suas ações podem ser mal interpretadas, ainda mais se as pessoas à sua volta não a conhecem direito. Eu sabia isso melhor quando trabalhava fora de casa nos anos 90. Depois iniciou-se esse quase que exílio interno e esqueci que essas coisas acontecem. Ralei os joelhos uma ou duas vezes, mas acho que agora já encontrei meu modo de me encaixar na nova empresa. Meter a cara no trabalho, ficar quieta, observar e só então tentar me espalhar. É bom saber que a essa altura do campeonato ainda sou flexível o suficiente para me adaptar a novas situações. Claro que ainda busco o trabalho perfeito que me permita trabalhar com literatura e cubra todas as minhas despesas. Quem sabe eu o consiga depois de publicar. Um amigo meu entregou meu romance para outra editora e vamos cruzar os dedos. O Prêmio Sesc obviamente não rolou, outras tentativas não decolaram, mas alguma hora algo vai dar certo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Good-bye, Ray Bradbury

Descobri agora há pouco que Ray Bradbury, um dos meus escritores preferidos, morreu. E isso mexe muito comigo porque ele é um dos poucos escritores que posso dizer que verdadeiramente me influenciou. Até passei um tempo tentando escrever que nem ele até descobrir que era impossível reproduzir aquilo que ele fazia, aquela prosa que era poética sem na verdade ser. Eu tenho três contos que são preferidos absolutos no meu panteão particular. Um é da Clarice, os dois outros são do Bradbury. O que sempre me fascinou nele foi essa visão um pouco estranha que ele tinha das coisas. Um terno branco podia ser a coisa mais maravilhosa do universo e um carrossel a coisa mais sinistra. Nada para ele era comum. E ele era muito incomum. Nunca houve ninguém que escrevesse como ele e agora não haverá mais ninguém que possa repetir o que ele fez.

domingo, 3 de junho de 2012

Sacerdócio

O tempo todo fico pensando o quanto é difícil transmitir o que escrever significa para mim, o prazer que isso me dá. Não é à toa que as pessoas contam histórias em que tudo dá errado. A tristeza é muito mais fácil de descrever do que a felicidade. Há algo de inefável na felicidade que é muito difícil de captar e transmitir. Tem a energia, o êxtase, o caráter rarefeito desse estado privilegiado, uma quase falta de ar. E por isso fico voltando a uma frase que ouvi pela primeira vez em uma série de ficção científica. Se você não tem fé, não há como explicar. E se você tem, nenhuma explicação é necessária. Sou a pessoa mais racional que você poderia conhecer. Nada de espiritualidade, nenhuma superstição de qualquer tipo. Escrever é o mais perto que chego de ter uma fé. Meus sábados não são sagrados à toa. Esse é meu sacerdócio.

Engarrafamento de romances

Em casa. Finalmente pude ter um sábado escrevendo. Continuei digitando o romance em progresso 2. Mas resolvi aproveitar esse processo chatinho para tentar ordenar as cenas do romance. Inicialmente, eu tinha escrito tudo alternando 1989 e 2009. Mas no meio do caminho percebi que o melhor seria organizar as cenas de maneira temática. Fazer isso agora evita que eu tenha de fazer depois. É provável que eu refine tudo depois, nas leituras, mas já é meio caminho andado. Vai demorar um pouco mais para digitar desse jeito, mas é bom pensar no romance agora, já ir tomando decisões. Do jeito que vão as coisas vou acabar com um engarrafamento de romances, mas por enquanto estou curtindo. E no domingo que vem teremos mais uma reunião do Clube da Terça-Feira Gorda. Vai ser bom. Estou com saudade do pessoal.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cinco minutos de infância

Outra sexta, vem aí outro sábado. Tudo o que eu quero da vida é descansar um pouco. E escrever. Há semanas que venho abrindo mão de escrever para terminar trabalhos. E acho que este sábado eu consigo. Cruzem os dedos. Pelo menos já tomei minha casquinha de creme e tirei minha hora para escrever no café depois do trabalho. Uma das melhores coisas da vida, acredite, depois de uma semana cansativa, é sair do trabalho, correr para o Bob's mais próximo e comer uma casquinha de baunilha. E andar pela rua com a casquinha, sentindo um pouco que tinha voltado à minha infância de inúmeras casquinhas de sorvete e a velha batalha para comer tudo antes de derreter. Por algum motivo, isso fica mais fácil quando se é adulto. São cinco minutos do seu dia dedicados ao prazer. É completamente egoísta, mas que se dane. Passei a semana toda ficando quieta numa sala cheia de gente para não imcomodar os outros tradutores, era minha hora de fazer algo por mim. E aí eu sento no café, tomo um refrigerante, escrevo por uma hora e aí o trânsito já está bem melhor e chego em casa pronta para iniciar minha segunda jornada de trabalho. E não estou falando de cozinhar ou cuidar das crianças, é fazer os meus freelas. Minha porção dona de casa está viva e bem, se chama Cristina e vem uma vez por semana para fazer a faxina. E está no hora de levar o cachorro na rua e sentar para voltar ao trabalho. Wilson!

domingo, 27 de maio de 2012

Perfil

Fora a Elvira, que para mim é hors concours, tem um outro escritor brasileiro de quem gosto muito, Michel Laub. Li O Diário da Queda ano passado e desde então é um dos livros que eu dou de presente para as pessoas. Saiu um perfil dele pelo José Castello (outro cara que eu admiro muito) e achei interessante botar um link para ele aqui. A leitura vale a pena. Esse é um cara que eu gostaria muito de conhecer.

sábado, 26 de maio de 2012

Elvira nas livrarias

Elvira Vigna acaba de lançar mais um romance chamado O que deu para fazer em matéria de história de amor. E sendo que se trata da Elvira, não adianta comprar achando que vai encontrar um livro tipo Nicholas Sparks. Muito pelo contrário. Mas para melhor sentir o que é o livro deve-se recorrer à própria Elvira. Ela publicou um texto a respeito no blog da Companhia das Letras. O link é este aqui. Eu recomendo.

domingo, 20 de maio de 2012

Ingressos

Quem está ligado na FLIP sabe que já saiu a programação. Eu estou interessada em nove mesas. Dá uma média de duas por dia. É bom porque não te sobrecarrega nem em termos de tempo, você curte a cidade, não gasta demais com os ingressos (que estão estupidamente caros). Naturalmente, vou tentar conseguir ingressos para a mesa do Jonathan Frazen. Vai ser difícil, mas vou tentar. Eu sempre dei sorte para conseguir os ingressos que queria. Vamos torcer que continue assim. Não sei direito ainda como vou fazer, porque os ingressos começam a ser vendidos numa segunda, dia em que trabalho, obviamente. Eu queria evitar de comprar os ingressos pela Internet, porque a empressa de ingressos cobra um valor exorbitante para você comprar dessa forma. Vou ter de levar uma conversa com o patrão. Talvez pedir para trabalhar em casa nesse dia. Acho que é minha melhor opção.

I want to sleep

Eu tenho dormido muito pouco por conta de trabalhos e freelas e foi maravilhoso ter uma noite inteira de sono. Dormir tem virado um dos grandes privilégios da minha vida dos últimos cinco meses. Vou tentar evitar noites em que eu durmo menos de 6 horas esta semana porque isso realmente acaba comigo. Eu fico dormindo no trabalho, o que não é muito legal, claro. Isso para quem sempre dormia oito horas por dia ou se precisava virar metade da noite, sempre podia descontar isso no dia seguinte. Mas agora eu não tenho para onde ir. Eu tenho que cumprir meu horário no trabalho, não seria correto faltar. O trabalho na Lersch nunca para. É sempre uma coisa atrás da outra, com prazos bem apertados (afinal, os clientes sempre querem tudo para ontem, isso não muda), e eu fico pensando que se eu tivesse tido um cliente desses anos antes, não teria precisado aceitar o emprego. Mas, com sorte, talvez seja possível achar um equilíbrio logo entre as exigências da Lersch e de meus outros freelas. Ou eu vou ter um treco e cair dura no meio de um dia.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mortinha

Voltei mais cedo para casa no sábado. O motivo? Cansaço. Eu basicamente estava dormindo sentada, o caderno aberto na minha frente e intocado. Aguentei o quanto foi possível, depois fui ao mercado e voltei para casa.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Atolada

Atolada. Com o emprego fica muito mais fácil ficar atolada do que antes. Meu tempo é muito limitado. Mas sigo escrevendo o romance em progresso 3 no meu horário de almoço e os resultados são para mim um pouco surpreendentes. A impressão que eu tenho é que essa personagem está praticamente pronta na minha cabeça. E quando estou no ônibus voltando para casa, lendo o meu livro, minha cabeça começa a se encher com a narrativa de novo e é um problema guardar o que eu pensei até o dia seguinte e mais um almoço. E às vezes, até mais do que a hora de ir embora para casa, é por esse momento que eu espero, esses vinte minutos em que posso escrever. E vou aguardar ansiosa por este sábado. Fim de semana passado eu só trabalhei e não dormi quase nada. Este sábado será dedicado à escrita.

sábado, 28 de abril de 2012

Vinte minutos

A escrita do novo romance em progresso, o 3 e não o 4 como eu coloquei anteriormente, está sendo uma experiência no mínimo interessante. Não só porque pela primeira vez eu tenho um narrador que não encampa tudo o que a personagem faz ou pelo fato de ter uma personagem propositalmente desagradável e difícil, mas pela forma como ele está sendo escrito, no meio de um restaurante chinês no subsolo do Edifício Avenida Central, com o dono do restaurante correndo de um lado para o outro, tentando agilizar o atendimento aos clientes, garcons correndo de um lado para o outro com travessas super quentes de comida. Não sei como não queimam as mãos. O dono do lugar não deve entender nada porque eu dedico os últimos 20 minutos do meu almoço a escrever num caderno. Não importa. Eu me sinto meio alienígena ali e talvez por isso essa mulher que estou descrevendo no romance está saindo de um jeito tão diferente. Um tema permanece, a impossibilidade da comunicação e a mentira. Mas ninguém morre nesse romance e não quero ficar me debruçando sobre a família. Quero me debruçar sobre ela e sobre como as pequenas decisões que a gente toma determinam quem a gente é. O personagem central do romance anterior não queria agir. A personagem deste romance age, mas demora a perceber o que essas decisões acarretam. E, até certo ponto, eu também não sei no que vão dar as decisões que tomo agora com este romance. Essas coisas a gente só descobre no final.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Esquentando os motores

Amanhã vou me dedicar à digitação do romance em progresso 3, mas durante a semana tenho escrito o romance em progresso 4. Como sempre, esta sexta dei um tempinho num café perto do trabalho para escrever um pouco. Uma fatia de torta de chocolate, um refrigerante e pronto, é o que basta para a escrita fluir. Nunca sai muito mais do que uma página ou duas. É só um jeito de esquentar os motores para o sábado. E hoje cheguei a uma conclusão sobre a personagem do romance em progresso 4, que precisava narrá-la na terceira pessoa, algo que não é muito natural para mim. Mas percebi que precisava fazer isso para poder criticá-la. Se ela contasse a história, poderia justificar tudo. E eu não quero isso.  Creio que vai ser um experimento interessante.

domingo, 15 de abril de 2012

Rindo até arrebentar.

Um almoço de domingo com amigas. É o Clube da Terça-Feira Gorda. E do jeito que a gente vai, estaremos enormes antes dessa história terminar. Cada uma resolve inventar uma coisa, uma entrada, um prato principal, uma sobremesa. A gente faz na casa de quem está servindo de anfitriã da vez. E conversamos. Conversamos sobre o que for. Às vezes é sério, muitas vezes não é. Hoje, por exemplo, rimos até quase arrebentar. Dentro de quinze dias a gente repete a dose. Nós podemos viver sem um companheiro ou filhos, mas não podemos viver sem amigos.

Uma nova ideia

No caminho para a Travessa hoje, no táxi, ouvi uma notícia na TV (é, o cara tinha uma daquelas telinhas de TV no carro)  que instantaneamente fez as rodinhas na minha cabeça começaram a girar. E disso veio uma ideia para um romance que me bateu com uma força tal que passei o dia todo pensando nela. E, de certo modo, é o projeto mais complexo a que já me propus. De tal modo que ainda preciso tomar uma série de decisões antes de poder começar a escrever qualquer coisa. Esse é um texto em que vou precisar de mais do que apenas um título, meia dúzia de nomes de personagens e uma ideia vaga de onde é que vou chegar antes de poder abrir um caderno e começar a escrever. Enquanto isso não acontece, vou seguir com os outros projetos. Andei um pouco mais com o novo romance em progresso. Ele pode acabar sendo muito interessante, mas sinto que vou ter de fazer algumas coisas de um jeito diferente do que estou acostumada. E isso pode ser muito bom.

sábado, 14 de abril de 2012

Maluquice

Pode parecer maluquice eu começar a escrever um novo romance quando ainda não fechei o segundo ou o terceiro. A explicação é simples. Minha cabeça não para. Não dá para digitar o romance em progresso 2 durante a hora do almoço e agora que comecei a escrever todo santo dia durante as refeições fica complicado parar de repente. São só 20 minutos, umas poucas linhas, mas muitas vezes aparecem umas coisas muito interessantes. Hoje também, sabendo que o trânsito para casa estaria um horror, eu passei em um café e passei uma hora escrevendo. Foi um jeito de relaxar depois de um dia super cansativo de trabalho. E claro que isso me deixou muito contente. O começo de um romance é sempre o início do processo de montar o personagem. Não me vejo inventando uma estrutura muito complicada neste texto. O desafio mesmo vai ser conseguir inventar eventos e detalhes suficientes para preencher um só dia, que é basicamente a duração do romance. Hoje vamos prosseguir com o romance em progresso e ver o que acontece.

domingo, 8 de abril de 2012

A melhor coisa do mundo

Escrever é a melhor coisa do mundo. Estou sentada na Travessa, digitando o romance em progresso. E sinceramente, não tem nada melhor que segurar um caderno contendo um romance inteiro e pensar em todos meses que dediquei a esse texto. Não tem nada melhor que essa paixão. Meus amigos não entendem porque eu ando por aí com meus cadernos para cima e para baixo, mesmo quando não vou escrever. Mas simplesmente não consigo me afastar das coisas que escrevo. Até agora, eu costumo carregar o texto do segundo romance por aí mesmo que eu não o leia. É algo que eu produzi de que tenho muito orgulho. E tem um pouco aquela dúvida meio eterna que é: de onde foi que veio tudo isso? Por que você nem sempre entende a origem do que você escreve. Às vezes eu prefiro quando não sei de onde as coisas estão vindo. Eu gosto disso. Amanhã voltamos à vaca fria. Trabalho, rotina, contas a pagar. Mas vou ter meu romance na minha mochila comigo e isso me conecta ao que faço todos os fins de semana. E eu gosto disso. Boa noite.

Home, sweet home

Eu não fui na Travessa na sexta. Me deu preguiça, mas também me deu vontade de ficar em casa um pouco. Tenho passado tanto tempo fora de casa, seja trabalhando, seja saindo com amigos que mal estou em casa. É basicamente o tempo para chegar em casa, jantar, trabalhar um pouquinho e dormir. Os meus cachorros, que andam um pouco carentes, gostaram da novidade. Mas hoje, sábado, eu fui lá para cumprir o meu horário. Eu tinha pensado em levar meu laptop e começar a digitar o texto do romance em progresso 2, mas em vez disso o que fiz foi começar a escrever o romance em progresso 3. Na prática, já tinha escrito umas cenas em outubro do ano passado, quando estava em São Paulo, trabalhando na Mostra. O que eu fiz hoje foi começar a juntar essas cenas dispersas em diferentes cadernos em um caderno só, que é onde vou escrever o romance para valer. Eu gostaria de continuar amanhã, mas isso vai depender da hora em que terminar o episódio que tenho de traduzir até o final do domingo. Vamos cruzar os dedos para que eu seja bem produtiva amanhã.

domingo, 1 de abril de 2012

Cena final

Terminei a segunda versão do romance em progresso. A última cena ainda vai exigir umas mexidas no confronto final entre os personagens, mas acho que o básico está feito. Esse é um daqueles diálogos que precisa ser construído aos poucos. Não tem jeito. É uma cena muito difícil e basicamente encerra a história e se eu não acertar, a coisa toda vai por água abaixo. O processo mecânico e chatinho começa agora. Digitar tudo. Pelo menos eu já vinha traduzindo tudo durante a passagem da primeira para a segunda versão. Só sobrou o material das cenas avulsas que está, em sua maioria, em inglês. Escrever num restaurante lotado durante meus almoços faz com que eu volte a um velho truque, escrever em inglês para que a pessoa na mesa ao lado não possa simplesmente olhar e entender o que estou escrevendo. E durante meus almoços vou ver se começo a pensar no próximo romance.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Pesado

Minha vida segue um pouco caótica. Literariamente as coisas vão bem. Devo terminar a segunda versão do romance em progresso este sábado. E domingo tenho um almoço com umas amigas. Estou precisando desses encontros com os amigos. Venho carregando um peso que infelizmente não posso botar no chão. Ainda tenho muito o que fazer nesse romance e vou tentar me concentrar nele nas próximas semanas para tentar aliviar as coisas. Começar a digitar tudo é o que vai me ajudar a me dar mais clareza. Sinto que ainda há muito por explorar. Tem dois personagens que eu mal explorei e tenho de preencher o passado do personagem principal com esses dois. E também quero inserir mais alguns fatos históricos em 1989 para dar um pouco do gosto dessas época. E também relembrar alguns de 2009. Tem tanta coisa para fazer e é uma das coisas que eu gosto nos romances. Ele não se esgota rapidamente. Tem sempre mais alguma coisa para se ver.

Estou super feliz que amanhã é sábado. Estou precisando.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Amigas

Um encontro entre amigas depois do trabalho. Na Travessa. Em geral eu não chamo as pessoas para a livraria, quero preservar aquele espaço só para mim. Mas essas são amigas especiais e quis que elas vissem o lugar onde moro aos sábados. Depois da rasteira, não podia haver uma noite melhor.

terça-feira, 13 de março de 2012

Rasteira

Às vezes a gente leva rasteiras que não esperava. O céu cai na tua cabeça e você não sabe o que fazer. E aí você começa a se mexer. Faz uma ligação, toma uma providência. Daí nada é tão pesado quanto era há poucos dias. O movimento nos salva.

domingo, 11 de março de 2012

Surpresa

Surpresa. O sábado foi feito de surpresas. Algumas não eram para mim. Ficaram sendo meio que por tabela. Tudo começou com surpresas na livraria, aquelas frases que aparecem no caderno e depois você se pergunta de onde vieram. Depois, de noite, teve o aniversário de uma amiga. Restaurante, cheio de gente, quilos e quilos de amigos. De repente, teve uma hora em que uma boa parte do pessoal foi embora. Fui ficando, fui ficando e, quando vi, estava indo para o apartamento da amiga, ostensivamente para chamar um táxi. Era tarde, já passava e muito da meia-noite. Pensei, por que não, é uma gentileza e sempre se deve aceitar uma gentileza. Chegamos no apartamento, e... Surpresa! O pessoal que tinha saído do restaurante foi para a casa da aniversariante preparar a surpresa. Claro que eles esperaram séculos porque também levamos séculos para sair do restaurante e eles acabaram com praticamente toda a cerveja que tinha na casa, mas foi divertido e ainda ficamos mais um tempo conversando até minha pilha pifar completamente. E só aí eu fui para casa.

sábado, 10 de março de 2012

Privilégio

Novo fim de semana. O fim de semana passado foi ótimo. No sábado passado escrevi para caramba e no domingo fui a um almoço na casa de umas amigas que foi absolutamente divino. Tudo bem que fui eu que fiz parte da comida, mas a parte divina tinha mais a ver com a companhia. Mas até mais do que tudo isso, o fim de semana foi fantástico para mim particularmente porque comecei a receber os primeiros retornos sobre o romance em progresso. Claro que é muito bom ouvir das pessoas que elas gostam do que você escreveu, mas o que efetivamente interessa é saber o que funciona e o que não funciona no texto. E não há dinheiro que pague ter as pessoas certas lendo o seu texto e podendo te dar uma opinião sincera e refletida. Já comecei a ver como posso mudar algumas coisas, já tomei uma decisão sobre como alterar uma narrativa de um personagem específico. Conseguir se distanciar daquilo que você escreve é extremamente difícil. São os leitores amigos que te ajudam a enxergar as besteiras. São os leitores amigos que vão te guiar na fase final de escrita do romance porque são eles que te dizem onde estão os buracos, os erros, as repetições. Encontrar gente que possa fazer isso por você é maravilhoso. E, para mim, é um privilégio ter pessoas tão legais lendo meu texto e me dizendo o que acharam.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Receita para escrever

Há vários anos eu não fazia ideia do que era ter disciplina para escrever. Eu escrevia aqui ou ali, apenas quando tinha uma ideia. Até podia passar longas temporadas sem produzir nada. Muitas pessoas me disseram que eu nunca teria uma grande produção se eu não tivesse disciplina. Eu dava uma risadinha, acreditando que nunca encontraria essa disciplina. E aí quando comecei meu romance, aos poucos, eu achei a fórmula da minha disciplina. Sair de casa, ir para a Travessa, me isolar do barulho em volta com os fones de um MP3 player, basicamente carregar meu escritório e tudo de que preciso na minha mochila.

Uma amiga minha que é escritora já andava se lamentando comigo há tempos de não conseguir achar tempo para escrever. Eu disse a ela o que eu tenho dito a outras pessoas (e que também ouvi de outros escritores): sem disciplina não vai dar certo. Todo mundo tem uma vida enrolada, cheia de eventos, reclama que não tem tempo. Ao iniciar minha rotina de trabalho na Travessa, eu percebi algumas coisas. É uma espécie de receita para achar tempo para escrever.

Primeiro, você tem que se dar esse tempo para escrever. Se ficar esperando o tempo aparecer, vai ficar esperando para sempre. Decrete um horário ou dia sagrado para escrever. E com sagrado, quero dizer sagrado mesmo. Qualquer intrusão no ritual da escrita tem de ser considerada como uma blasfêmia. Este é um tempo para você, só para você e ninguém pode invadi-lo. Pode ser mãe, pai, marido, filho, cachorro amado, não interessa. É uma droga, você tem que ser egoísta, chato, antissocial, mas é uma coisa que, no fim das contas, vai ser para o seu bem porque vai te reconectar com algo que é essencial na sua existência.

Segundo, elimine distrações. Sei que parece doideira, mas eu me concentro melhor na livraria do que em casa. Simplesmente, sair de casa me afasta das distrações de TV, computador, Internet, cachorro, barulho de vizinho. Eu uso o MP3 player não só para cortar o ruído externo, mas também para criar um clima com a música. E isso meio que cria um mundinho que só existe na sua cabeça, te distancia do resto, te deixa mais propício para a escrita. Se você precisa do seu micro para escrever, então desligue a internet, desligue o celular, bote um aviso de "Do Not Disturb" na porta, qualquer coisa para evitar interrupções. Mas se puder, saia de casa. Não há nada melhor que a velha fórmula de um caderno e uma caneta e um copo de seja lá o que for que você goste de beber. Só não recomendo se encher de cerveja ou vinho. Não vai dar muito certo. Se bater na parede, leia um livro, dê uma volta, olhe a vizinhança. Eu muitas vezes uso detalhes do que vejo em volta para dar um gostinho a mais na cena. 

Terceiro, não desista. Encontre as coisas que te deixam cheio de energia, com a cabeça a mil. Talvez leve um tempo para encontrar o encaixe certo de fatores. Mas uma bela hora tudo vai se acertar e você vai começar a escrever para valer. É que nem fazer exercício. Primeiro você fica ofegante depois de correr uma quadra, depois consegue correr três, quatro quadras, e quando vê está se inscrevendo na maratona. E quanto mais se escreve mais isso puxa outras ideias, como aqueles lenços amarrados que saem da cartola de mágico. Esse é que é o grande pulo do gato.

Quarto, divirta-se. Escrever deveria ser um prazer. Então mande ver e se divirta. Você vai ouvir críticas, vão te encher o saco, mas quem gosta de você vai entender. Então siga em frente e deixe os chatos falando sozinhos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fim de festa

Hoje era para passar um bloco em Ipanema. Eu não vi sinal de bloco. Ainda bem. Levei cinco segundos para achar um táxi, coisa não tão fácil semana passada. Já estou por aqui com essa história de carnaval e fico super feliz que ele só aconteça uma vez por ano. Ainda mais agora que eu descobri que os problemas de água do prédio são o resultado da Cedae desviando água para o Sambódromo.

Eu queria ter produzido mais hoje e tenho vontade de voltar amanhã. Não sei se vai dar. Pelo menos eu comecei uma cena explorando um aspecto do romance que estava faltando. Eu me toquei semana passada que precisava desenvolver melhor a relação do personagem principal com duas outras personagens coadjuvantes da história. Como esse romance veio originalmente de uma novela, só agora estou percebendo o quanto preciso preencher um passado que não estava presente na novela. Tenho de começar a pensar no que quero dizer sobre cada um desses personagens. As cenas não podem ser gratuitas. Encher linguiça nunca foi meu forte. Cada cena vai ter de iluminar um aspecto diferente da relação dos personagens. É isso o que interessa.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Amanhã não tem mais

Tem a famosa frase, "É hoje só, amanhã não tem mais", e hoje eu a entendo melhor do que nunca. Eu queria ter mais quatro dias para escrever na Travessa. Essa história de pouca água no prédio acabou atrapalhando minha concentração. Eu queria sair mais cedo para a livraria, mas não dava porque eu ficava vigiando o nível de água na cisterna. E também dormi mal nessas noites, preocupada com quanta água entrava e como era muito pouca. Mas agora que a coisa já está bem encaminhada para uma solução (ou pelo menos que torço que sim), vai dar para relaxar um pouco. 

Pelo menos eu consegui terminar a revisão do primeiro caderno e passar para o segundo, o que significa que já retrabalhei dois terços do romance. Ao menos terei mais um sábado dentro de quatro dias. Com sorte, o domingo também. Sempre fico ansiosa quando sinto que estou chegando na reta final. 

A terça teve outros prazeres já que a Travessa estava fechada. Uma tarde entre amigas, poder preparar uma refeição e oferecê-la como gesto de amizade. Daqui a dois domingos vamos repetir a dose. Tem sido uma troca muito interessante essa de oferecermos refeições umas às outras e, claro, muito gostosa.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Quero água

Domingo. Não foi um dia tão bom quanto ontem, ainda mais porque passei o dia preocupada com o problema de possível falta de água aqui no prédio. Pouca água entrando, cisterna quase vazia e o prédio cheio de mais gente que o normal. Com alguma sorte e um pouco de administração, vai dar para encher metade da cisterna esta noite e já vou ficar mais tranquila amanhã. O que eu tenho a ver com isso? Tanto a cisterna quanto a bomba que joga água para a caixa no telhado ficam no meu apartamento. A solução mais simples é desligar a bomba para deixar água acumular na cisterna durante a noite e usar o mínimo de água para não esvaziar a caixa. Como sou a única pessoa no prédio esta noite, isso vai ser mais fácil.

Apesar de tudo, deu para avançar um pouco e amanhã devo conseguir fechar o primeiro caderno e passar para o segundo. Eu tinha começado uma nova cena na sexta, mas vou deixar essa para continuar durante minha hora de almoço. Eu ainda sinto que tem uma outra cena para encaixar nessa reta final do romance, mas não sei direito o que é. Mais uma vez, é o velho processo de tatear o caminho para sentir o que falta, o que tem em excesso. Apesar da intromissão das preocupações cotidianas, estou conseguindo relaxar o suficiente para ter aquela sensação de que a sexta foi há séculos. E claro que vou dormir tudo o que puder esses dias para estar bem fresquinha na quarta quando volto ao trabalho. Estava super cansada essa semana que passou. Eu me lembro de estar na calçada central da Almirante Barroso, esperando para atravessar a caminho do trabalho e me baixou aquele cansaço às 8 da manhã. Essa foi uma semana difícil, correndo para terminar uma tradução enorme na sexta. Acabei chegando lá, mas foi complicado. 

Ontem eu tirei várias fotos na Travessa e pretendo repetir a dose amanhã. Quero fazer uma espécie de ensaio daquela área onde eu passo meus sábados, as pessoas que vejo toda semana, os vendedores, as garçonetes, a livraria em si. Acho que vai ficar legal. Quando estiver pronto, eu boto no ar. E amanhã tem mais, ainda bem.

Na folia

Carnaval. Na prática, meu carnaval meio que começou ontem quando, em vez de voltar diretamente para casa, o que provavelmente significaria uns dois séculos presa no trânsito porque minha volta para casa me leva direto pelo Sambódromo, eu fui para Ipanema. Já tinha feito isso uma vez, voltando para casa do Centro não sabendo que na sexta de noite tinha o desfile das escolas mirins e acabei tendo de fazer um desvio por Santa Teresa para conseguir chegar em casa porque o trânsito tinha dado um nó na área em volta da Sapucaí. E logo de cara, ao chegar em Ipanema, dei de cara com um bloco se concentrando na Praça General Osório, um verdadeiro mundo de gente. Acabei passando uma hora e tanto na Travessa, escrevendo. Fiz umas comprinhas que eu precisava para o almoço que vou preparar na terça para umas amigas e voltei para casa. Mas o sábado foi só para mim. Eu precisava deste dia como preciso do domingo, da segunda e de todos os dias que eu conseguir para escrever. Sinto-me cada vez mais empolgada com o texto porque estou chegando nos momentos críticos da história, quando tudo começa a dar errado para o personagem. É agora que preciso estar bem atenta para que tudo encaixe muito bem, inclusive porque eu sinto que preciso alongar umas coisas e acrescentar mais uma ou duas cenas. Eu adoro ficar tateando o caminho. Sei que parece maluquice ficar super contente quando estou escrevendo as cenas mais tristes do personagem, mas são essas cenas difíceis que eu gosto, especialmente quando sinto que estou conseguindo o efeito que quero. E, como sempre, tem aquele bendito filtro entre o que sinto e as emoções dos personagens ou eu passaria meus dias me debulhando em lágrimas e isso não seria nada produtivo. Então amanhã teremos mais um dia na livraria. Vou tentar chegar um pouco mais cedo. Hoje eles fecharam mais cedo com medo das multidões que estavam vindo da passagem dos blocos. Então pretendo aproveitar cada segundo que eu tiver lá amanhã e na segunda. Boa noite.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A parte divertida

Está complicado dormir, estou super remexida por dentro com tudo o que escrevi hoje. O que mais tenho curtido nesse romance é a criação desse personagem profundamente imperfeito que é o centro da história. Ele é fraco e covarde e inseguro e é isso o que eu adoro nele, que ele não saiba brigar pelas coisas que quer. No romance anterior todo mundo era razoavelmente normal. Mas este novo personagem vai meter os pés pelas mãos bonito e estou curtindo poder levá-lo por esse caminho. Sei que vou ter de alongar a conclusão para que não fique muito abrupta. Estou quase chegando no trecho em que a pressão em cima dele começa a ficar muito forte. E essa é a parte mais divertida. Quanto mais merda o cara faz, mais eu curto. Coisas de escritor.

Vontade de voltar

Num dia como hoje, quando consigo render bastante, minha vontade é de voltar na livraria no dia seguinte, continuar o trabalho. Não sei se vai dar. Tenho um compromisso amanhã, um encontro com umas amigas, mas penso que se eu puder dar uma fugida e escrever por algumas horas, farei isso. E tem a semana que vem, três dias na Travessa e a terça de Carnaval para fazer o que eu quiser. Mesmo que isso signifique ter de caçar táxis no meio da rua, eu vou lá. Sem falar que a livraria deve estar ainda mais louca do que o normal. Ultimamente, o pessoal do segundo andar anda muito festeiro e eu adoro isso. Sempre gosto de gente que se diverte no trabalho. E eu me divirto com eles também. Eu sacaneio eles, eles me sacaneam e é assim que a coisa rola.

Agora mais do que nunca preciso desse sábado sagrado para recarregar minhas baterias. Senti isso particularmente no fim de semana passada quando pude passar o fim de semana inteiro na Travessa. No domingo à noite eu estava muito relaxada, tranquila, descansada. Eu precisava disso. O legal foi chegar na página 100 do caderno e ver que em relação ao primeiro caderno, eu já acrescentei uma boa quantidade de texto e olha que ainda não acrescentei as cenas extras que venho escrevendo durante a semana. Eu sei que ainda há muito a explorar, estou tentando ver o que mais pode ser dito, tentar preencher os claros dessa história. Com alguma sorte, vai dar para terminar essa versão dentro de uns dois meses. E aí vamos passar para outra fase.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Chuva e greve

Eu tinha pensado em curtir um pouco o meu início de noite de sexta, ir a um café ali perto do trabalho, escrever por uma hora ou duas, deixar o trânsito melhorar um pouco. Ando levando uma hora para fazer um trajeto de 15 minutos por conta do engarrafamento. Mas juntou a chuva e o desfile do Bola Preta e o medo das pessoas por conta da greve da polícia e eu vi que não tinha muita opção a não ser ir para casa. Numa situação dessas, as pessoas adoram acreditar em boatos, histórias de horror. Eu sempre acho que ceder ao medo é uma besteira. É como um casal amigo que veio me visitar em Botafogo há vários anos. Eles estavam morrendo de medo que o carro fosse ser roubado, que a área onde eu morava não era segura. De onde eles tiraram essa ideia eu não sei. Nada acontecia naquela rua. Mas eles passaram o tempo inteiro da visita apreensivos e isso estragou tudo. Eles não chegariam nem na porta da minha casa aqui no Rio Comprido, antes ou mesmo depois das UPPs instaladas aqui em volta.

Hoje vou mais cedo para a Travessa para evitar o rolo dos blocos que vão desfilar hoje em Ipanema. E amanhã combinei um brunch com umas amigas na casa delas. Vai ser divertido. O romance em progresso vem avançando aos poucos e ando curtindo o resultado. O chato mesmo vai ser a próxima fase, ter de digitar tudo. Essa é a parte que eu sempre odeio. Mas se eu mesma tenho dificuldade para entender minha letra, não tem ninguém que possa fazer isso por mim. Mas isso vai ficar pelo menos para março ou abril.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Novos nomes

No ônibus, voltando para casa, reparei mais um vez que de uns tempos para cá, o álcool para carros não é mais álcool, é etanol. Há alguns anos, trocaram os nomes do sistema de ensino de primeiro e segundo graus para ensino fundamental e ensino médio. Nunca entendi que diferença essa mudança de nome fez porque, pelo que pude ver, nada efetivamente mudou no sistema. O ensino público continua uma droga. E em Brasília querem rebatizar o estádio que está reforma para a Copa. Não vai mudar nada, mas eles querem trocar o nome. Até tivemos a Nova República, que de nova mesmo só teve o fato de que a gente quase teve o presidente que queríamos. É engraçado como volta e meia no Brasil alguém resolve que é melhor mudar o nome das coisas e essa mudança é sempre tratada como se a coisa que o novo nome batiza também fosse renovada. Novos nomes, coisas velhas. Querem que o novo nome seja simbólico de uma transformação. Na prática é só como uma nova camada de tinta numa parede velha. Isso é tão típico da gente. Não somos mais um país em desenvolvimento. De repente, sem que a gente percebesse, viramos um país emergente. Nem tanto porque estamos andando para a frente, mas porque todo mundo está andando para trás nesses últimos tempos. Mas se você arranhar um pouco a superfície, você vê o mesmo país de sempre por baixo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Devorando tijolaços

Aos poucos tenho me acostumado com minha nova rotina, meu esquema de assalariada. Talvez a melhor coisa até agora seja a velocidade com que eu consigo ler livros. Andar de ônibus na ida e na volta de dá tempo para ler, assim como minha hora de almoço. Em pouquíssimo tempo consegui liquidar um tijolaço de 500 páginas e um livro de 150 páginas em menos de uma semana. De repente, liquidar os trinta mil livros da minha biblioteca parece factível novamente. No meu esquema anterior, eu só conseguia tempo para ler na livraria. E este fim de semana na Travessa foi super produtivo. Pude ir no sábado e no domingo e consegui relaxar de tal forma que no final do domingo, pouco antes de voltar para casa, eu pensei que a sexta feira já ia muito longe na minha lembrança. Dormi bem, relaxei bastante e comecei minha segunda com mais energia do que o habitual. As cenas novas seguem aparecendo e tenho gostado do que tem surgido. Acho que vou acabar usando a estrutura do Nixon ou algo perto disso, armando as cenas de acordo com a relação delas entre si, com um tema específico. Eu venho escrevendo as cenas de uma forma cronológica, mas vou ter que rearrumá-las depois de digitar tudo. Mas já para evitar a trabalheira que tive da última vez, ao trabalhar nas cenas da segunda versão, estou traduzindo tudo. Continuo estudando o filme do Nixon, continuo tentando ver como ele organiza certos trechos, especialmente como ele faz quando volta para a infância do personagem. Essa estrutura é que vai me dar um monte de soluções. Também preciso incorporar mais eventos históricos. Por enquanto não botei muita coisa. Mas também preciso lembrar onde foi que meti minha revista com a retrospectiva de 2009. Quase missão impossível na zona do meu escritório.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Amigos

Acabo de voltar de uma festa. Amigos de vinte anos festejando um aniversário. Quando eu comecei a escrever, muitos dos meus contos tinham a ver com amizade. Obviamente, sendo só uma adolescente, eu não tinha experiência para escrever sobre mais do que isso. Nos últimos dez anos eu me afastei do tema da amizade, mas ele ainda me fascina. Já tive outros encontros como este, comemorações de um tipo ou de outro, e eu me vi observando a nossa dinâmica, o que faz tudo funcionar, o que nos une e nos separa. Ultimamente, venho pensando que seria interessante voltar ao tema da amizade. Tenho uma ideia vaga de um romance sobre quatro amigos e traçar a história de sua amizade. Nada particularmente original, claro, ainda não achei o elemento que vai distinguir esse texto dos outros que já escrevi, mas a coisa já está fermentando aqui dentro da cachola e alguma hora as respostas vão começar a aparecer. Tenho um outro projeto de romance antes desse na fila, então não preciso me apressar.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Agitada

Mais um dia na Travessa. E como na semana passada, depois de um tempo, comecei a me sentir agitada, com um monte de emoções vindo à tona. Só que não estava claro o quanto as emoções eram minhas e o quanto eram dos personagens. Isso não é muito comum comigo. Geralmente tenho um filtro para me separar dos personagens e consigo me manter razoavelmente fria. O que costuma mexer comigo são as descobertas que faço sobre os personagens, sobre a estrutura. Acho que isso tem mais a ver com a grande mexida que dei na minha vida, deixando de lado minha independência e trabalhando em um escritório. Tem horas em que eu curto, mas tem momentos em que parece que eu voltei ao colégio e só estou esperando o sino tocar para voltar correndo para casa. Sempre achei um saco ter horários fixos e isso não vai mudar agora depois de passar 15 anos trabalhando em casa e sem horário para nada. Amanhã e domingo vou voltar para a livraria.. Estou precisando desse tempo para mim mesma. Ainda mais agora que estou cercada por gente durante a semana. E vai ser bom para o romance também. Tem um monte de coisas interessantes aparecendo e quero que continuem aparecendo. Até amanhã.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Um dia inteiro

Eu queria ter voltado para a livraria hoje, mas tenho que fechar um trabalho. Com sorte, posso passar o próximo fim de semana inteiro na Travessa. Mas já foi um alívio ter podido passar o dia inteiro em vez ir embora antes do sol se por como nos últimos dois fins de semana. Mas o fato de escrever durante a semana na hora do almoço meio que alivia minha frustração um pouco. Eu terminei ontem uma cena que eu comecei escrevendo durante meus almoços e iniciei outra ontem. Não deu para terminar, mas de repente posso trabalhar nela durante o almoço. Acho que o que eu mais gosto sobre esse romance em progresso é justamente o quanto o personagem central é imperfeito. Ele é inseguro e hesitante e incapaz de agir para conseguir o que quer. E adoro que eu possa criticar um personagem, coisa que eu faço na cena que estou escrevendo agora. Tenho uma tendência a defender meus personagens, mas no caso deste, eu não preciso. Acho que isso torna a história mais interessante. Sigo estudando Nixon, tentando ver como Oliver Stone arquiteta a estrutura de flashbacks. Estou começando a ver como a coisa funciona. E acho que vai ficar muito mais interessante no romance se eu usar uma estrutura mais solta para alternar presente e passado.